A Arte da Guerra CAPÍTULO lII
DA ARTE DE VENCER SEM DESEMBAINHAR A ESPADA
Sun Tzu diz: Eis algumas máximas de que deves impregnar-te antes de pensar em sitiar cidades ou ganhar batalhas.
Conservar os domínios e todos os direitos do príncipe que serves deve ser o primeiro de teus cuidados. Só deves ampliá-Ios, usurpando o território inimigo, quando for imprescindível.
Deves ocupar-te principalmente em assegurar a tranqüilidade das cidades de teu próprio país. Perturbar as cidades inimigas deve ser a hipótese mais desfavorável.
Deves pensar em colocar ao abrigo todos os vilarejos amigos. Somente a necessidade pode arrastar-te a irromper nos vilarejos Inimigos.
Deves impedir que os vilarejos e as choças dos camponeses sofram qualquer dano. Só uma extrema penúria pode levar-te a saquear e a devastar as instalações agrícolas de teus inimigos.
Deves almejar como aquilo que há de mais perfeito, conservar intatos os domínios dos inimigos. Só deves destruí-Ias em caso de extrema necessidade. Se um general age assim, sua conduta ombreará com a dos mais virtuosos personagens. Ela se espelhará no Céu e na Terra, cujas obras buscam a produção e a conservação e não a destruição.
Se essas máximas estiverem bem gravadas em teu coração, garanto o teu sucesso.
Repito: a melhor política guerreira é tomar um Estado intato; uma política inferior consiste em arruiná-Io.
É preferível aprisionar a destruir o exército inimigo; é melhor tomar um batalhão intato do que fulminá-Io.
Cem combates tivesses que travar, cem vitórias seriam teu fruto.
Não procures vencer teus inimigos à custa de combates e de vitórias. Esse é um caso em que o "bom" é melhor do que o "excelente". Quanto mais te elevares acima do "bom", mais te aproximarás do "pernicioso" e do "ruim".
É preferível subjugar o inimigo sem travar combate. Nesse caso, quanto mais te elevares acima do bom, mais te aproximarás do incomparável e do excelente.
Os grandes generais vencem descobrindo todos os artifícios do inimigo, sabotando-Ihes os projetos, semeando a discórdia entre seus partidários, mantendo-o sempre acossado, interceptando reforços estrangeiros, e impedindo-o de tomar qualquer decisão mais vantajosa para ele.
Sun Tzu diz: é de suprema importância na guerra atacar a estratégia do inimigo.
Sobressai-se em resolver as dificuldades quem as resolve antes que apareçam.
Sobressai-se na conquista quem conquista o troféu antes que os temores de seu inimigo se concretizem.
Ataca a estratégia do adversário na raiz. Depois, rompe suas alianças. Em seguida, ataca seu exército.
A pior política consiste em atacar as cidades. Apenas consente nisso se não houver outra saída. Pensa no longo tempo necessário para preparar veículos, armas, equipamentos, e para construir rampas ao longo das muralhas.
Se fores obrigado a sitiar uma cidade e a destruí-Ia, dispõe de tal sorte teus veículos, escudos e todas as máquinas necessárias para o assalto, para que tudo esteja pronto quando chegar a hora de atacar.
Age para que a rendição não se prolongue por mais de três meses. Quando este prazo expirar, se ainda não tiveres atingido teus objetivos, certamente terás cometido alguns erros. Empenha-te em repará-Ios.
Partindo para o assalto, à frente de tuas tropas, redobra os esforços. Imita a vigilância, a diligência, o entusiasmo e a tenacidade das formigas.
Suponho que terás construído antecipadamente as trincheiras e outras obras necessárias, que terás edificado fortes para descobrir o que se passa no interior da cidade sitiada, e terás contornado todos os inconvenientes que tua prudência te recomenda. Apesar de todas essas precauções, se de três partes de teus soldados tiveres a infelicidade de perder uma, sem poderes alardear vitória, convence-te de que não atacaste bem.
Um hábil general jamais se encontrará reduzido a tais extremos. Ele conhece a arte de humilhar os seus inimigos sem travar batalhas.
Sem derramar uma gota de sangue, sem mesmo desembainhar a espada, consegue tomar as cidades.
Sem colocar os pés em reinos estrangeiros, descobre o meio de conquistá-Ios.
Sem operações prolongadas e sem perder um tempo considerável à testa de suas tropas, conquista uma glória imortal para seu príncipe, assegurando a felicidade de seus compatriotas e fazendo com que o universo lhe seja reconhecido pelo repouso e pela paz conquistados.
Esse é o alvo que todos os comandantes devem buscar incessantemente e sem jamais esmorecer.
O objetivo de um general hábil é apoderar-se do reino inimigo quando este está intato; assim suas tropas não se esgotarão e seu triunfo será completo. Esta é a arte da estratégia vitoriosa.
Há uma infinidade de situações diferentes em que podes te encontrar em relação ao inimigo. Nem todas poderiam ser previstas de antemão; logo, evito maiores detalhes. Tua clarividência e tua experiência te sugerirão o que deves fazer, à medida que as circunstâncias se apresentem. Entretanto, vou dar-te alguns conselhos gerais, que poderás usar, se necessário.
Se fores dez vezes mais numeroso que o inimigo, cerca-o de todos os lados; não deixes nenhuma passagem livre; age de forma que ele não possa evadir-se para acampar em outra parte, nem receber qualquer socorro.
Se teu contingente for cinco vezes superior, dispõe teu exército de forma que ele possa atacar pelos quatro flancos simultaneamente, no momento oportuno.
Se tens o dobro da força do inimigo, contenta-te em dividir teu exército em dois.
Mas se, em ambas as partes, a quantidade de guerreiros é a mesma, só te resta aventurar-te ao combate.
Se fores inferior, fica alerta. O menor erro pode ser fatal. Tenta colocarte a salvo, e evita, se possível, entrar em choque com o adversário. A prudência e a firmeza de um punhado de pessoas pode conseguir extenuar e dominar mesmo um exército numeroso. Assim, és ao mesmo tempo capaz de te proteger e de obter uma vitória completa.
Quem está à testa dos exércitos é o sustentáculo do Estado. Se agir corretamente, o reino será próspero. Ao contrário, se o comandante não tiver as qualidades necessárias para desempenhar dignamente seu cargo, o reino sofrerá inelutavelmente as conseqüências e talvez fique à beira do abismo.
Um general só pode servir bem o Estado de um único modo, mas pode arruiná-Io de diversas maneiras.
É preciso muito esforço e uma conduta calcada na bravura e na prudência para ser vitorioso: um só passo em falso põe tudo a perder. Um general pode cometer muitos erros. Se engajar as tropas no momento errado, fará com que ataquem quando não convém. Se não tem um conhecimento exato dos lugares onde deve conduzi-Ias; se lhes impõe acampamentos desastrosos; se as cansa inutilmente; se ordena que retrocedam sem necessidade; se ignora as necessidades dos que integram seu exército; se desconhece a ocupação a que cada um se dedicava antes de se alistar, a fim de tirar partido do talento individual de cada um; se desconhece o ponto forte e o fraco de seus subordinados; se não conta com a fidelidade dos mesmos; se não impõe a mais estrita disciplina; se carece do talento de bem governar; se é irresoluto e vacilante nas ocasiões em que urge ter pulso firme; se não recompensa adequadamente seus soldados quando de direito; se permite que estes sejam humilhados sem motivo pelos oficiais; se não sabe impedir as dissensões entre os chefes, um general que cometer tais erros tornará o exército capenga, esgotará homens, víveres e o reino, e se tornará a vítima infame de sua própria imperícia.
Sun Tzu diz:
No comando dos exércitos há sete males cruciais:
I. Executar cegamente ordens tomadas na Corte, segundo o arbítrio do príncipe, sem se ater às circunstâncias.
II. Tornar os oficiais confusos, despachando emissários que ignoram os assuntos militares.
III. Misturar regras próprias à ordem civil e à ordem militar.
IV. Confundir o rigor necessário ao governo do Estado e a flexibilidade que o comando das tropas requer.
V. Dividir a responsabilidade.
VI. Disseminar a suspeita, que engendra a desordem: um exército confuso conduz à vitória do inimigo.
VII. Aguardar ordens em todas as circunstâncias. Isso equivale a esperar autorização de um superior para apagar o fogo: antes que a ordem chegue, as cinzas já estarão frias. No entanto, está escrito no código que se deve consultar o inspetor nesse assunto! É como se, ao edificar uma casa na beira de uma estrada, fôssemos pedir conselho aos passantes: o trabalho ainda não estaria terminado.
Este é o meu ensinamento.
Nomear um general é da alçada do soberano; decidir uma batalha cabe ao general. Um príncipe esclarecido deve escolher o homem que convém, revesti-Io de responsabilidades e aguardar os resultados.
Para vencer os inimigos, cinco circunstâncias são necessárias:
I. Saber quando combater e quando bater em retirada.
II. Saber lidar com o pouco e o muito, segundo as circunstâncias. III. Compor habilmente suas fileiras.
Mênsio diz: "O momento oportuno não é tão importante quanto as vantagens do terreno; e tudo isso não é tão relevante quanto a harmonia das relações humanas".
IV. Preparar-se, prudentemente, para afrontar o inimigo potencial.
Não prever, dando como pretexto a inferioridade do adversário, é o maior dos crimes. Estar preparado, independente de qualquer contingência, é a maior das virtudes.
V. Evitar as ingerências do soberano em tudo que executar, para a glória de seus exércitos.
Esses são os cinco caminhos da vitória.
- Conhece teu inimigo e conhece-te a ti mesmo; se tiveres cem combates a travar, cem vezes serás vitorioso.
- Se ignoras teu inimigo e conheces a ti mesmo, tuas chances de perder e de ganhar serão idênticas.
- Se ignoras ao mesmo tempo teu inimigo e a ti mesmo, só contarás teus combates por tuas derrotas.
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