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Evil Clown

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Evil Clown ONE SHOT

   “Nossa, amaria ter sua vida.” “Morar no circo deve ser legal. Imagina ser feliz todos os dias.” “Se eu pudesse, fugiria com o circo.” Todas as noites, todas as apresentações, todas as cidades. Sempre era isso que ouvia. Quão sortuda era, quão feliz, quanta inveja tinham.

 

   Eles não sabiam de nada. Não entendiam nada, não viam nada. Só sabiam e entendiam o que queriam que soubessem. Mas essa inveja toda para com nossa vida me irritava demais.

 

   Era minha obrigação ser feliz, afinal, sou a palhaça esquentadinha. Nasci, cresci e vivo no circo, então é óbvio que estou em constante felicidade. Quem tem a sorte de morar em um lugar de constante diversão? Bem, era isso que eu pensava, até entender que não era assim que a banda tocava.

 

   Não sei quem são meus pais. Desde meus anos primórdios, sempre estive no circo, sendo cuidada por qualquer um. Geralmente eram as mulheres quem estavam comigo, mas não era uma regra a ser seguida. Qualquer um passava o dia comigo.

 

   Desde pequena já fui treinada para ser o que precisassem que eu fosse. Atendente, ajudante, dançarina de bambolê, auxiliar de mágico, até que aos 12 anos fui fixada como palhaça esquentadinha.

 

   Era pela minha personalidade? Não. Foi apenas pelo maldito cabelo ruivo e aquele personagem animado, onde sua cor representa a raiva. Então, em meus shows, era uma participante que estava em constante raiva. Mas também, experimente ser humilhado o tempo todo, viveria em felicidade?

 

   Irônico, não? As pessoas me falarem que eu era feliz, sendo que interpretava alguém em estado enfurecido. E sabe o que também era irônico? O fato de ter entendido que não era feliz.

 

   Veja bem, todos os dias era obrigada a agradecer pela ‘benção’ de estar em um circo, onde a diversão ‘jamais morria’. O problema é que a tal cuja nunca existia. Bastasse alguém com olhar crítico em nós que percebia.

 

   O sorriso em nossa face era obrigatório o tempo todo na apresentação, mas quando o último carro saia de nosso acampamento, lágrimas banhavam nosso rosto. Ou melhor, o da maioria dos participantes dessa rotina.

 

   Se olhasse em nossos olhos, veriam o vazio. Nossos corpos magros demais, nosso semblante fadigado, nossos suspiros cansados. E sabe o pior? Não percebemos isso em nós mesmos.

 

   Lembro quando tinha 15 anos e percebi pela primeira vez o quão infeliz era. Minha imagem refletida no espelho do meu trailer, mostrando uma adolescente magra demais. O momento de insight foi ao me permitir ver meus olhos.

 

   Eles eram desprovidos de brilho, de vida, de qualquer sentimento positivo. Eles eram tão vazios quanto meu coração. E quando reparei, era tarde demais para entender que não era feliz. Tarde demais para mim, mas talvez não para os outros. E com esse pensamento, fui dormir disposta a mudar essa realidade.

 

   Por que apenas para mim? Um motivo simples: não tenho ninguém em minha vida. Não divido meu trailer com outra pessoa. Não conheço meus pais, não sei o que é amizade, desconheço a palavra amor.

 

   Mas aqui havia famílias. Pais, mães, filhos, irmãos. Pessoas que mereciam algo melhor do que a realidade que nos tomava. Agora você me pergunta: por que simplesmente não deixamos o circo? A resposta é: Adenor.

 

   Adenor é o dono do circo Alegria sem fim. Dono de um corpo de um metro e noventa, sua pele alva resplandecia quando saia de sua cabine e passeava pelo campo iluminado pelo Sol.

 

   Não era musculoso, não tinha uma cara assassina, apesar de sua barbicha ser pontuda abaixo do queixo. O seu poder vinha do dinheiro. Dinheiro esse que controlava seus capatazes. E esses, sim, eram ameaçadores.

 

   Adenor causava medo em todos. Nos fazia treinar 10 horas por dia, e nos dava apenas duas refeições. Às vezes, quando estava generoso, fazia um grande jantar de churrasco, e nunca era em dias de apresentação.

 

   Se você desobedecesse Adenor, levava uma surra de chicote na frente de todos. Quem errasse, ficava dois dias sem comida. E se você fugisse, bem, digamos que ele sabia descartar um corpo.

 

   Mas, Freen, por que você decidiu findar com isso? Bem simples: além de ser só, todos me odeiam. Tenho privilégios, os quais não entendia o porquê de merecimento. De ganhar mais refeições às vezes, de nunca ter apanhado e de morar com mais ninguém.

 

   Então tramo há dois anos em acabar com isso. Em conseguir a liberdade de todos, em dar um motivo para que eles possam ser felizes. Para que, finalmente, sua felicidade não fosse obrigatória.

 

   Então é por isso que agora estou pronta para o fim. Seja de minha vida, de Adenor, do circo ou fim da minha luta. Algo hoje terminará, apenas não sei o que.

 

   Respiro fundo e pego minha bolsa. Ao longo do tempo, fui pegando os itens de modo que ninguém percebesse, então estava bem abastecida dos itens necessários. Coloco uma roupa preta, para me camuflar com a escuridão e saio furtivamente de meu veículo.

 

   Olho ao redor e vejo os capangas de Adenor espalhados pelo acampamento. Suas espingardas estavam sempre prontas para atirar em quem ousasse fugir. Cerro os dentes em contragosto e começo meu plano.

 

   Retiro a corda e abro a garrafa de querosene e mergulho ela inteira dentro. Espero com o coração batendo na boca o líquido ser absorvido pelos fios de cânhamo.Sigo minha próxima etapa indo até o depósito de alimentos e encharco o local com querosene e ateio fogo.

 

   Saio correndo furtivamente e observo eles se deslocarem até o local. Ouço os chamados pelo rádio e permaneço na penumbra. Como o depósito é grande e possuí outros inflamáveis como álcool, algodão, óleo e etc, aumenta as chamas rapidamente.

 

   Escuto o capataz chefe ordenar que acorde a todos para que eles os ajudem a apagar as chamas. Aproveito e vou atrás das lonas e outros apetrechos usados para montar o circo.        

Retirando os fios da garrafa, pego a corda e começo a fazer um caminho com elas, envolvendo todo o campo. Com pequenas estacas, os amarrava e pregava as estacas no chão. Suor escorria de meu rosto, mas a determinação fazia com que os movimentos repetitivos fossem eficientes. A ideia é fazer o fogo correr por entre os fios, até que atinjam a área final.

 

   Minha intenção não é explodir nada, então quando o caminho encontra o seu fim, nos maquinários e a extensa lona, derramo uma quantidade suficiente para o apenas incendiar o local. 

 

   Olho para a direção do depósito e consigo ver uma grande concentração de pessoas. Vejo alguns capangas voltarem aos seus lugares e o início a próxima etapa de meu plano.

 

   Concentro em andar lentamente e me aproximo por trás do primeiro homem. Pança, como era conhecido, era o mais pesado dos capangas, então comecei com ele. Com uma faca afiada, cortei sua garganta.

 

   Sangue viscoso se espalhou pelo chão, sua roupa e em mim. Antes que ele pudesse falar algo, empalo seu pescoço e o faço ficar engasgado com seu próprio líquido rubro. Seus olhos azuis estavam abertos, demonstrando surpresa.

 

   Espero seus espasmos corporais pararem, então pego seu rádio comunicador e jogo em qualquer direção. Expiro fortemente e me flexiono para pegar seu corpo rechonchudo e levar até a área da lona.

 

   Escolhi Pança primeiro, pois seu perímetro era perto da área a ser carbonizada e também porque cansaria mais meu corpo com o esforço de carregá-lo. Cerro os dentes e finalmente consigo arrastar e cobrir ele por completo.

 

   Corro para o segundo alvo: Gonçalez. Esse é o meu maior desafio, pois ele é o mais forte e traiçoeiro. Braço direito de Adenor, era o mais cruel de todos, sem falar que violava o corpo de várias mulheres.

 

   Seus olhos eram atentos, então vou de encontro com a sombra e rastejo até seu local. Vejo seu olhar para o depósito e aproveito a distração chegando o mais perto que consigo. Em minha boca estava uma adaga afiada e em meu bolso uma echarpe, que irão me auxiliar.

   Com um movimento preciso e rápido, corto seus tendões dos pés, fazendo-o cair para a frente. Aproveito sua surpresa e monto em suas costas, já amarrando o pano em sua boca. Quando ele estava prestes a tentar me pegar, levando rapidamente e chuto sua cara com meu coturno.

 

   Atordoado, Gonçalez não consegue levantar, aproveito e chuto mais sua cabeça, até que ele desmaie. Viro seu corpo para cima e corto os tendões de suas mãos, deixando-o a mercê de suas habilidades.

 

    Amarro suas mãos no tronco que há perto de sua vigília, e mantenho sua boca firmemente amordaçada. Olho para o canto e vejo que as chamas estão sendo controladas, e Adenor ainda não saiu de seu trailer majestoso. 

 

   Acabo sorrindo diabolicamente, meu plano estava correndo muito bem. Escuto uns resmungos e olho para o diabo em minha frente. Com seus tendões cortados, ele não tem mobilidade, agilidade e força.

— Vejo que a princesa acordou.

   Sinto a perversidade tomar meu ser, enquanto olho o inútil tentar se soltar e ficar em pé.

— Idiota, nos atormentou por anos. — Dei-lhe um chute. — Agora está na hora de você sofrer.

 

   Dito isso, pego o chicote que havia ali, um lembrete da dor. Com determinação, golpeio 15 vezes em seu corpo, fazendo-o urrar de dor. Me deleito com seu sofrimento e abro a mochila, pegando uma tesoura.

 

   Seu corpo já estava suando, ele tentava em vão se soltar e gritar. Mas eu havia feito um ótimo trabalho, então nada conseguia. Meu sorriso só aumenta quando uso a tesoura e corto sua camiseta, deixando seu peito nu, marcado pelos novos machucados.

 

   Abro uma garrafa de querosene e lanço pelo seu corpo, o fazendo agonizar de dor. Faço uma trilha do líquido até a tenda, o que dá uns bons metros e jogo fora a garrafa vazia, indo ao encontro de matar todos os capatazes.

 

   Quando as chamas estão apagadas, escuto o chamar de dois deles para com os outros torturadores. Como estão mortos, duvido que responderão. Permaneço ocultada até ver que um deles saiu para checar os seus colegas. 

 

   As famílias estão todas reunidas ali, com um único capataz, o novato Borges. Ele empunha a espingarda tremendo, querendo passar coragem e força. Me esgueirei e entrei na visão das pessoas. Algumas abriram os olhos, fazendo-o tentar olhar para trás. Mas antes que ele terminasse a ação, minha adaga já está enfiada no crânio.

 

   Pessoas gritam apavorada e quando notam minhas roupas ensanguentadas, ficam ainda mais alarmados

 — Escutem. — Gritei. — Vocês estão livres. VÃO EMBORA!

 

   Dei um tiro para cima, com a espingarda, fazendo eles logo saírem em tremenda confusão. Respiro profundamente quando sinto um chute em minha costela: o último deles havia chego.

   Caio de cara no chão atordoada. Não recuperada ainda, sinto mais um chute em minhas costelas. Giro para o lado, ficando com o corpo virado para cima, tendo a visão do maldito agressor.

— Puta, eu vou te matar.

 

   Quando Martins estava prestes a pisar no meu peito, consegui sacar a faca que escondi na minha cintura e sem hesitação, cravo a lâmina no seu pé com toda a minha força. Antes que ele possa registrar o que aconteceu, dou uma rasteira nele, aproveitando sua falta de apoio.

 

   Ignoro as dores e levanto com um movimento. Martins saca sua arma e dispara em mim ao mesmo tempo que me jogo em cima de seu corpo. Uma dor aguda atinge meu ombro, e perco um pouco da consciência.

 

   Com a visão turva, saio de cima do corpo morto de Martins e tento respirar. O cansaço toma posse do meu corpo e minhas pálpebras pesam. Porém, não posso dormir, preciso terminar essa merda hoje.

 

   Quando estava perto de ver tudo escuro, um cheiro forte entra pelas minhas narinas. O odor forte me faz tossir e sinto meu tronco sendo elevado. Após minha crise, olho e percebo a outra palhaça da equipe. Alguém que fazia meu coração balançar, apesar de sempre negar.

   Minhas interações com ela eram limitadas, mas sempre sentia seu olhar em mim. Suas fracassadas tentativas em socializar comigo nunca a desencorajavam, apenas aumenta sua insistência.

 

— O que faz aqui, Rebecca?

— Vim te salvar, idiota. — Ela me segurava com delicadeza. — O que você está fazendo?

— Libertando vocês e a mim.

— Por que não pediu ajuda? — Seus olhos marejavam. — Você ganhou um tiro, poderia ter morrido, Freen, te perdido para sempre.

 

   Sinto suas lágrimas caindo em mim, e meu coração bateu rapidamente. Olho para Rebecca e coloco minha mão suja em seu rosto, deixando um rastro de sangue. De quem? De todos que matei e o meu.

 

— É meu destino, Rebecca. — Olho para ela. — É meu fardo.

— Seu destino é comigo, idiota. — Rebecca fechou os olhos e se inclinou para minha mão.— Me deixe te ajudar. Por favor, Freen, me deixa entrar em sua vida.

 

   Fecho meus olhos com força, sinto dores pelo meu corpo. Meu ombro lateja, minhas costelas me impedem de respirar fortemente e o cansaço de carregar corpos deixou meus músculos tremendo. Mas ainda precisava do Gran Finale.

— Se quer me ajudar, Rebecca, vá atrás do meu trailer e coloque fogo no fio que tem lá. —      Umedeço meus lábios e continuo. — Depois vai no centro dos castigos e coloque fogo no corpo de Gonçalez.

— Certo, mas e você? — Ela me pergunta.
— Vou terminar o que comecei. — Sentenciei. 

 

   Seus olhos marrons me encaravam. Seus dedos passaram em meu rosto e limparam os vestígios de sangue e fuligem. Sua cabeça se inclinou e seus lábios tocaram os meus. Fecho meus olhos e me entrego no momento. Minhas mãos puxaram sua nuca, instigando seu corpo para mais perto.

   Permito aquele pequeno momento de liberdade emocional. Sua língua brinca com a minha, explorando tudo que tinha a oferecer. Um suspiro escapa de mim, algo quebra em minha mente.

 

   Finalizo o beijo e a olho. Sinto meu sorriso mais verdadeiro aparecer e enxugo suas lágrimas. Olho ao redor e sinto que está mais do que na hora de matar Adenor e fazer o demônio pagar por seus pecados.

 

   Me desvinculo de Rebecca, e levanto com muito trabalho. Foco em ignorar todas as dores e viro em direção ao caminhão que está estacionado longe. Sei que Adenor nem se deu o trabalho de acordar, estava acostumado com bagunça e acreditava no seu poder.

 

   Antes que eu pudesse dar um passo, sinto a mão de Rebecca me segurar e me puxar para um abraço. Dói para caralho, mas sigo fingindo força. Inspiro seu cheiro e meu coração erra as batidas.

 

— Eu te amo, Freen. — Ela olha em meus olhos. — Sempre te amei e fui apaixonada por você. Por favor, volte para mim. 

 

   Seu fungar foi ouvido por mim. Sorrio e afirmo com a cabeça, incapaz de vocalizar. Beijo sua testa e me solto, caminhando com dificuldade. Pego minha mochila, jogo o isqueiro para ela e sigo para meu dever.

 

   Finalmente chego em meu destino: o caminhão de Adenor. Tiro a cópia da chave que havia feito e me esgueiro para dentro. Silêncio é o meu aliado, enquanto caminho pela extensão de seu trailer gigante.

 

   Paro em frente a cabide de seu quarto e fecho meus olhos. Permito que lágrimas caiam de meu rosto e com muita delicadeza, abro sua porta e entro no lugar escuro. Escuto seu ronco, então tiro clorofórmio e encharco um pano, cobrindo sua boca.

 

   Adenor tenta se livrar, me empurrando, porém, tenho uma obrigação a cumprir. Cerro meus dentes e pressiono com mais força, o fazendo ceder gradualmente. Quando ele para seus movimentos, espero mais um pouco e enfim o solto.

 

   Pego uma cadeira e levo para o corpo. Pego o seu, com muita dor sendo ignorada, e coloco nela, prendendo seus braços e mãos com algemas. Quando acho que está pronto, dou batidas em seu rosto para despertá-lo.

 

— Vamos, Bela Adormecida. Hora de acordar.

   Adenor recupera a consciência aos poucos. Vejo seus olhos arregalaram e ele tenta se soltar, sem sucesso. 

— O que você fez, Freen? Me solte antes que eu chame meus homens.

 

   Uma gargalhada sombria escapa de meus lábios. Chuto seu peito, fazendo com que a cadeira caia para trás. Meus olhos era pura perversão, o gosto da vingança era doce e escorria pela minha garganta.

 

— Aqueles que matei? — Gargalho mais. — Acho que fantasmas não ajudam os vivos.

Levanto sua cadeira e posiciono para a janela.

— Olhe seu precioso circo, Adenor. — Ele começou a berrar e se agitar, então bati em sua cabeça com uma garrafa que havia pegado na cozinha e amordaço sua boca. — Cala boca, seu merda.

 

   Arrasto a cadeira e pego uma faca. Começo a cortar dedo por dedo, empapando suas roupas e as minhas de sangue. Me lembro de uma música e começo a assobiar. Adenor se remexia, mas acertando um chute em seu saco, faço parar.

 

   Arranco sua camiseta, como posso, e corto seu peito, esfaqueando com uma faca de serrinha. Sangue, suor, urina, tudo se misturava ao chão da cadeira. Olho para minha arte e sorrio, fascinada com meu feito.

 

   Pego querosene e jogo por seu corpo. Adenor tentava berrar, mas não permitia, às vezes murmúrios são suficientes para aplacar minha sede. Quando acho que ele está machucado suficiente, retiro a mordaça e ele respira com dificuldade e cospe sangue em mim.

 

— SUA FILHA DA PUTA! — Ele berrava. — EU VOU TE MATAR!

   Dou de ombros e pego uma cadeira sentando em sua frente. Pego um maço de cigarro, escolhendo um e acendendo com outro isqueiro. Trago e sinto a nicotina aliviar um pouco minhas dores.

— Por quê? — Perguntei.

Seus olhos ficaram confusos, tentando entender minha pergunta.

— Por que o quê, sua puta?

— Por que sou diferente? — Trago mais fumaça e fecho meus olhos, deliciando o momento. — O que tenho de especial?

   Sua risada fraca saio de seus lábios. Adenor estava morto, ele já sabia. A promessa de me matar era vazia, tanto quanto eu era. 

— Sabe, conheci sua mãe em um show. — Olho-o atentamente.— Ela era uma boneca, sabe? Branca, bonita e pura. — O escárnio estava em seu rosto. — Você é igual a Denusa Roux.

 

Então ele sabe de onde eu venho. Sabe quem são meus pais.

— Quando fodi com ela, foi tão gostoso que você surgiu. — Seu olhar traiçoeiro mirava a mim. — Ela não podia ficar com a criança, então peguei você para mim. O que vejo que foi uma péssima ideia.

Lágrimas banhavam meu rosto.

— Você é uma péssima artista. 

— Vá se foder.

 

   Dou um soco em seu rosto e trago uma última vez. Jogo a bituca do cigarro nele. Seu corpo pegou fogo na hora, mas o maldito gargalhou. Lágrimas transbordam em meus olhos, me cegando. Com as imagens borradas, tento fugir, mas tropeço em algo, caindo no chão e batendo a cabeça. Um último suspiro sofrego escapa de mim, antes de ceder para a escuridão.

 

   O bip faz meus olhos abrirem, e percebo um lugar branco. Tento me levantar, mas não tenho forças, acabo caindo na cama novamente. Logo passos são ouvidos e tento focalizar na figura em meu lado. Arfo quando vejo Rebecca, seu rosto continha lágrimas, mas ela sorria para mim. 

 

— Onde estou? — Minha voz saí rouca. Umedeço meus lábios secos e sinto sua mão pegar a minha.

— No começo.

— Que começo? — Pergunto, confusa com sua resposta.

— Começo de nossas vidas.

 

   Ao ouvi-lá, fecho meus olhos e me permito descansar. Lágrimas escorrem de meu rosto, mas pela primeira vez são de felicidade. Não sou tão vazia, afinal. Agora irei voltar a viver.

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