Na Trilha dos Lobos Uivantes Prólogo
A vastidão de Arcadian se estendia em uma luz dourada infinita onde o tempo não existia e o próprio ar vibrava com uma serenidade intocável. No coração desse reino celestial, erguia-se um grande salão de mármore celestial cujas colunas cintilavam. No centro, um trono feito de luz refletia a essência daquele que o ocupava: Criador, o princípio de todas as coisas.
Diante dele, ajoelhado sobre um chão translúcido estava Lucian. Seu semblante outrora radiante, agora era marcado pela ira e orgulho ferido. Seus olhos agora eram brasas ardentes de desafio. As asas antes imaculadas estavam escuras em suas extremidades, como se começassem a ser consumidas por um fogo negro.
O Criador o observava em silêncio, sua expressão marcada não pela ira, mas pela tristeza, até que decidiu falar.
— Eu lhe dei tudo, Lucian. O dom da criação, o poder da luz e um lugar ao meu lado. Mas tu escolheste cruzar um limite que não poderia ser rompido, desafiando a ordem estabelecida. — A voz do Criador ecoou pelo salão como um trovão carregado de pesar.
Lucian ergueu a cabeça, seus cabelos prateados contrastando com o brilho ao redor.
— E ainda assim, me negaste a liberdade! — sua voz era afiada. — Por que devo seguir cegamente suas leis enquanto Johan, seu primogênito, sempre será o escolhido para governar ao seu lado? — Ele riu, mas sua risada era amarga. — A escravidão de nossas vontades, é isso que chamas de ordem? Por que devemos curvar-nos a ti, quando temos o poder de criar nossos próprios caminhos?
O Criador o observou por um instante, sua expressão permanecendo inalterada.
— O amor que lhe dei era o mesmo. A escolha foi sua. Você não buscou equilíbrio, mas poder. A liberdade sem propósito leva à ruína. Tu desejaste governar sobre os mundos sem compreender o peso de tal fardo.
Lucian se levantou, suas asas abrindo-se em um impulso de desafio. As correntes invisíveis ao seu redor começando a brilhar em resposta à fúria que crescia dentro dele.
— E qual o propósito de me conceder poder, se não posso usá-lo? Qual seria o problema em desejar mais? Em querer criar algo além do que você estabeleceu?
O Criador caminhou lentamente até ele, seu olhar transbordando um peso insondável.
— Porque sua criação não era guiada pelo amor, mas pelo desejo de se sobrepor. — O criador suspira pesadamente.
— Tu foste meu filho, Lucian. Meu segundo filho... — Sua voz, ainda que firme, carregava uma dor infinita. — Mas agora te despojo de teu direito de existir em Arcadian. A partir deste momento, estarás aprisionado em Fallen, junto aos que compartilharam tua ambição.
Lucian arregalou os olhos, um lampejo de incredulidade cruzando seu semblante.
— Pai, não!
Mas já era tarde. O Criador ergueu a mão, e um vórtice negro se abriu sob Lucian. Ele tentou resistir, suas asas tremularam contra a força que o sugava, mas não havia escapatória. Seu corpo foi engolido pela escuridão e com um último grito de fúria, ele desapareceu.
O silêncio tomou conta do grande salão. Arcadian parecia sussurrar em lamento.
Um terceiro ser, que até então observava a cena em silêncio, aproximou-se. Johan, o primogênito do Criador, aquele cujo brilho era ainda mais intenso que o do próprio sol, inclinou a cabeça em respeito. Suas asas eram vastas e seu olhar sereno trazia a calma de quem compreendia as engrenagens do destino.
— Pai, foi a única escolha?
O Criador não respondeu. Em vez disso, seus olhos voltaram-se para o alto onde flutuava uma esfera cintilante. Ela pulsava suavemente como um coração adormecido.
Johan acompanhou o olhar de seu pai e franziu o cenho.
— E sobre ela?
A luz do Criador pareceu vacilar por um instante, uma hesitação rara naquele que era o princípio de todas as coisas.
— Ela permanecerá assim. — Sua voz, apesar de firme, carregava um peso indescritível. — Eu não posso perdê-la também.
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Milênios se passaram e no mesmo trono de luz, o Criador permanecia em contemplação, observando as galáxias. O brilho da criação dançava em sua superfície, revelando fragmentos do passado, presente e futuro.
Passos firmes ecoaram pelo salão, e uma figura imponente se aproximou... Johan.
— Pai, sabemos que Lucian está quebrando as correntes de Fallen liberando os demônios. O terceiro mundo está em desespero com a onda de tragédias e é só uma questão de tempo até o segundo mundo sentir os efeitos disso. Está mais do que óbvio que ele declarará guerra. O que devemos fazer?
O Criador permaneceu em silêncio por um momento, seus olhos fixos na esfera cintilante que sempre o acompanhara.
Ele deu um passo à frente, a luz ao seu redor pulsando suavemente.
— Então, teremos que enviar uma escolhida.
Johan permaneceu imóvel, observando enquanto a esfera pulsava em resposta às palavras do
Criador..
— Ela poderá ser a chave para resolver esse caos.
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