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Na Trilha dos Lobos Uivantes

Capítulos 24

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Na Trilha dos Lobos Uivantes Prólogo

A vastidão de Arcadian se estendia em uma luz dourada infinita onde o tempo não existia e o próprio ar vibrava com uma serenidade intocável. No coração desse reino celestial, erguia-se um grande salão de mármore celestial cujas colunas cintilavam. No centro, um trono feito de luz refletia a essência daquele que o ocupava: Criador, o princípio de todas as coisas.

Diante dele, ajoelhado sobre um chão translúcido estava Lucian. Seu semblante outrora radiante, agora era marcado pela ira e orgulho ferido. Seus olhos agora eram brasas ardentes de desafio. As asas antes imaculadas estavam escuras em suas extremidades, como se começassem a ser consumidas por um fogo negro.  

O Criador o observava em silêncio, sua expressão marcada não pela ira, mas pela tristeza, até que decidiu falar. 

— Eu lhe dei tudo, Lucian. O dom da criação, o poder da luz e um lugar ao meu lado. Mas tu escolheste  cruzar um limite que não poderia ser rompido,  desafiando a ordem estabelecida. — A voz do Criador ecoou pelo salão como um trovão carregado de pesar.

Lucian ergueu a cabeça, seus cabelos prateados contrastando com o brilho ao redor.

— E ainda assim, me negaste a liberdade! — sua voz era afiada. — Por que devo seguir cegamente suas leis enquanto Johan, seu primogênito, sempre será o escolhido para governar ao seu lado? — Ele riu, mas sua risada era amarga. — A escravidão de nossas vontades, é isso que chamas de ordem? Por que devemos curvar-nos a ti, quando temos o poder de criar nossos próprios caminhos?

O Criador o observou por um instante, sua expressão permanecendo inalterada.

— O amor que lhe dei era o mesmo. A escolha foi sua. Você não buscou equilíbrio, mas poder. A liberdade sem propósito leva à ruína. Tu desejaste governar sobre os mundos sem compreender o peso de tal fardo.

Lucian se levantou, suas asas abrindo-se em um impulso de desafio. As correntes invisíveis ao seu redor começando a brilhar em resposta à fúria que crescia dentro dele.

— E qual o propósito de me conceder poder, se não posso usá-lo? Qual seria o problema em desejar mais? Em querer criar algo além do que você estabeleceu?

O Criador caminhou lentamente até ele, seu olhar transbordando um peso insondável.

— Porque sua criação não era guiada pelo amor, mas pelo desejo de se sobrepor. — O criador suspira pesadamente.

—  Tu foste meu filho, Lucian. Meu segundo filho... — Sua voz, ainda que firme, carregava uma dor infinita. — Mas agora te despojo de teu direito de existir em Arcadian. A partir deste momento, estarás aprisionado em Fallen, junto aos que compartilharam tua ambição.

Lucian arregalou os olhos, um lampejo de incredulidade cruzando seu semblante.

— Pai, não!

Mas já era tarde. O Criador ergueu a mão, e um vórtice negro se abriu sob Lucian. Ele tentou resistir, suas asas tremularam contra a força que o sugava, mas não havia escapatória. Seu corpo foi engolido pela escuridão e com um último grito de fúria, ele desapareceu.

O silêncio tomou conta do grande salão. Arcadian parecia sussurrar em lamento.

Um terceiro ser, que até então observava a cena em silêncio, aproximou-se. Johan, o primogênito do Criador, aquele cujo brilho era ainda mais intenso que o do próprio sol, inclinou a cabeça em respeito. Suas asas eram vastas e seu olhar sereno trazia a calma de quem compreendia as engrenagens do destino.

— Pai, foi a única escolha?

O Criador não respondeu. Em vez disso, seus olhos voltaram-se para o alto onde flutuava uma esfera cintilante. Ela pulsava suavemente como um coração adormecido.

Johan acompanhou o olhar de seu pai e franziu o cenho.

— E sobre ela?

A luz do Criador pareceu vacilar por um instante, uma hesitação rara naquele que era o princípio de todas as coisas.

— Ela permanecerá assim. — Sua voz, apesar de firme, carregava um peso indescritível. — Eu não posso perdê-la também.

███████████████████████

Milênios se passaram e no mesmo trono de luz, o Criador permanecia em contemplação, observando as galáxias. O brilho da criação dançava em sua superfície, revelando fragmentos do passado, presente e futuro.

Passos firmes ecoaram pelo salão, e uma figura imponente se aproximou... Johan.

— Pai,  sabemos que Lucian está quebrando as correntes de Fallen liberando os demônios. O  terceiro mundo está em desespero com a onda de tragédias e é só uma questão de tempo até o segundo mundo sentir os efeitos disso. Está mais do que óbvio que ele declarará guerra. O que devemos fazer?

O Criador permaneceu em silêncio por um momento, seus olhos fixos na esfera cintilante que sempre o acompanhara. 

Ele deu um passo à frente, a luz ao seu redor pulsando suavemente.

— Então, teremos que enviar uma escolhida.

Johan permaneceu imóvel, observando enquanto a esfera pulsava em resposta às palavras do

Criador..

 

— Ela poderá ser a chave para resolver esse caos.

 

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