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Another me

Capítulos 6

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Another me CAPÍTULO 1

2024
 
A chuva cai violentamente contra as janelas do apartamento luxuoso, abafando os risos e conversas indecentes. Na sala principal, o ar está pesado com a fumaça de charutos e o cheiro de whisky envelhecido. Homens de ternos caros estão sentados no sofá, rodeados de garotas de programa que lhes proporcionam prazer.
 
Victor Moretti, a figura mais poderosa presente no local, está no centro de tudo, com um charuto na boca e uma garota de programa totalmente nua em seu colo. Ele ri alto, aproveitando cada momento, enquanto os outros homens, embriagados, jogam notas de dinheiro ao ar, fazendo com que as prostitutas se apressassem a recolhê-las.
 
Victor Moretti é um homem de 62 anos, com uma barriga proeminente que escapa do paletó de grife, deixando os botões do colete prestes a estourar. Os dedos curtos e gordos ostentam anéis de ouro, e uma corrente em seu pescoço repousa sobre uma camada de pelos brancos visíveis pela camisa aberta. Seu cheiro é uma mistura enjoativa de tabaco, perfume caro e suor. Moretti tem o hábito de  fumar  charutos  grossos,  e  cada  tragada  é acompanhada por um olhar lascivo e satisfeito, como se o mundo estivesse aos seus pés.
 
 
Victor Moretti reclinou-se no sofá de couro, segurando um copo de whisky em uma mão e um charuto na outra. A fumaça espessa do tabaco envolvia sua figura como uma névoa, enquanto ele observava os outros homens com um olhar de superioridade. Ao seu redor, os políticos e empresários corruptos riam alto, embriagados pelo poder e pela impunidade.
 
— Então, Moretti — começou um dos homens, um político de meia-idade com um terno caro, mas mal ajustado ao corpo gordo. — Quando você vai nos mostrar como se faz dinheiro de verdade? Esses contratos públicos estão rendendo migalhas.
 
Victor soltou uma risada gutural, sacudindo a cinza do charuto em um cinzeiro de cristal.
 
— Migalhas, você diz? — respondeu, com um sorriso sarcástico. — Se você soubesse o que eu sei, não estaria reclamando. Mas é claro, nem todos têm a visão que eu tenho.
 
Outro homem, mais jovem e com um ar de quem ainda tentava provar seu valor, inclinou-se para frente, interessado.
 
— E o que você sabe, Moretti? Compartilhe com a gente. Afinal, estamos todos no mesmo barco, não é?
 
— Victor olhou para ele com desdém, como se estivesse diante de uma criança ingênua.
 
— O barco é meu, garoto — respondeu, com uma risada seca. — Vocês estão aqui porque eu permito. E se quiserem continuar desfrutando dos benefícios, é melhor aprenderem a nadar nas águas que eu escolher.
 
Os homens riram, alguns por nervosismo, outros por pura subserviência. A garota de programa no colo de Victor riu junto, mas seu sorriso era tenso, como se ela soubesse que estava em um jogo perigoso.
 
— Falando em águas — interveio outro político, um homem mais velho com um sotaque carregado.
 
— E aquela investigação da polícia federal? Você acha que eles vão conseguir alguma coisa?
 
Victor deu uma tragada longa no charuto, soltando a fumaça lentamente antes de responder.
 
— Investigação? — ele riu, com um tom de desprezo. — Eles não têm nada. Nada além de suspeitas e teorias. E, mesmo que tivessem, eu tenho amigos em lugares que eles nem sonham. A polícia federal pode latir o quanto quiser, mas eles não vão morder.
 
Os homens riram novamente, mas havia uma tensão no ar. Apesar da confiança de Victor, todos sabiam que o jogo era perigoso. Ainda assim, ninguém ousava questioná-lo abertamente. Eles dependiam dele, e ele sabia disso.
 
Enquanto bebem, fumam e fazem coisas profanas, subitamente as lâmpadas do local começam a oscilar, fazendo com que todos os risos se esvaiam.
 
— Deve ser a tempestade — murmurou um dos homens.
 
Victor estreita os olhos, desconfiado, e a garota em seu colo dá uma risada nervosa, achando que era apenas um contratempo passageiro. Mas, de repente, as luzes se apagam de vez, mergulhando o local numa completa escuridão.
 
O silêncio dentro da sala é palpável, contrastado pelo barulho da chuva que cai lá fora.
 
— Que diabos está acontecendo? Por que os empregados ainda não fizeram nada para restabelecer a energia? — Victor gritou, empurrando a mulher em seu colo para longe e sacando a pistola do coldre.
 
Então, um raio iluminou o ambiente, e foi aí que eles viram a figura de uma mulher alta parada próximo da janela. O clarão durou apenas alguns segundos, deixando a sala em total escuridão novamente.
 
A imagem da mulher assustou a todos, e as garotas de programa começaram a correr dispersas pelo local. Por estar escuro, muitas delas caem e esbarram em objetos. Quanto aos homens corruptos, o cenário não é muito diferente. Embora muitos tentem demonstrar valentia, por dentro estão todos cheios de medo, porque a cena diante de seus olhos parece ter acabado de sair de um filme de terror.
 
Os segundos seguintes foram um caos. Gritos de pavor ecoavam pelo local, seguidos por sons metálicos de facas perfurando carne e o impacto dos corpos caindo no chão.
 
Um dos homens tentou correr, mas foi interrompido pelo som de seus ossos se partindo, encontrando sua morte naquele instante. A carnificina se desenrolava no escuro implacável.
 
Victor, tremendo e com a respiração irregular, aponta a arma para a escuridão e efetua disparos até a última bala. O som dos tiros reverberou pelo local, mas ele não acertou nada além do vazio.
 
— Quem está aí? — Ele gritou, o pavor estampado em sua voz, mas não obteve resposta.
 
Victor sentiu um impacto na lateral da cabeça e caiu, desabando de joelhos no chão. Ao abrir os olhos, ele estava tonto e desorientado, mas antes que pudesse se pôr em pé novamente, as luzes voltaram, tornando o local iluminado outra vez.
 
Victor olhou com horror para a cena diante de si. Corpos jogados no chão e sangue por todo lado. O cheiro metálico e nauseante de sangue fez ele vomitar. Assim que levantou o rosto, ele a viu. Uma mulher vestindo roupas justas de couro preto e botas de cano longo. Seus cabelos lisos e escuros caem sobre os ombros, e seu olhar é penetrante.
 
— Quem... Quem é você? — ele gaguejou, sem conseguir esconder o medo que estava sentindo.
 
A mulher, por sua vez, inclinou levemente a cabeça para o lado, e o sorriso maligno em seus lábios se alargou ainda mais.
 
— Eu sou a morte — ela respondeu.
 
Sem esperar uma resposta ou reação da parte de Victor, ela ergueu sua arma e, com precisão, disparou no meio da testa do homem. O corpo dele caiu pesado no chão, os olhos abertos, mas sem vida.
 
A mulher observou a cena diante de si. Ao total, dezessete corpos espalhados pelo chão, entre eles líderes corruptos, garotas de programa e até mesmo os serventes que tiveram o azar de estar ali nessa noite.
 
Ela pega o buquê de rosas brancas que havia preparado e, com delicadeza, se abaixa e pousa uma rosa sobre cada um dos dezessete corpos dispostos no chão.
 
Assim que termina, em passos lentos e despreocupados, ela colhe um pouco de sangue de uma das suas vítimas e escreve seu nome na parede em letras maiúsculas: NEMESIS ROTHWELL. Ela olha para as letras com admiração, como se estivesse observando uma obra de arte.
 
Quando Nemesis finalmente decide ir embora, ela atravessa o local passando por cima dos cadáveres jogados no chão. Ela olha para todos eles e sua expressão é indecifrável.
 
O barulho de seus saltos contra a madeira ecoa pelo local, sendo abafado aos poucos pelo som da chuva.
 
*****
 
A chuva ainda cai intensamente quando o som do telefone quebra o silêncio, fazendo Matteo Sano despertar de imediato.
 
Com um suspiro pesado, ele estica o braço até a mesa de cabeceira e pega o celular, apertando o botão para atender.
 
— Alô? — sua voz sai grave e rouca de sono. — Matteo, onde você está? O chefe pediu para nos reunirmos aqui na unidade. Tentamos ligar para Genesis, mas ela não atende — é a voz preocupada de Amin, a analista de tecnologia.
 
Matteo virou a cabeça para o lado e encontrou Genesis dormindo serenamente ao seu lado, os longos cílios imóveis, a respiração lenta e tranquila. Ele lançou seu olhar para o celular dela pousado na outra mesa de cabeceira e viu a tela iluminar-se.
 
Foi então que percebeu o motivo de Genesis não atender as chamadas: seu celular estava no modo silencioso.
 
— Não se preocupe, Amin. Eu e Genesis estaremos aí em breve — Matteo encerra a ligação e, respirando fundo, passa a mão pelos cabelos negros e bagunçados. Seus olhos azuis observam os raios através da janela.
 
Por um momento, ele permanece imóvel, observando-a dormir. Algo na serenidade de Genesis faz seu mundo parecer mais leve. Cuidadosamente, ele desliza para fora da cama, tentando não fazer barulho.
 
Pegou o jarro de água na mesa de cabeceira, mas está totalmente vazio. Então, ele saiu do quarto e desceu as escadas em busca de água.
 
Sano mantém as luzes apagadas, permitindo apenas que a iluminação de fora se reflita no interior da casa.
 
Na cozinha, ele enche um copo com água diretamente da torneira e começa a beber. Assim que termina e vira para voltar ao quarto, o vulto de uma mulher iluminado pelos raios da tempestade fazem-no tomar um susto, e ele larga o copo. O som do vidro se espatifando no chão reverbera pelo local.
 
Marie Connor, a governanta da casa, se apressa em acender as luzes. Ela é uma mulher de aparentemente 60 e poucos anos. Seus cabelos são curtos, ondulados e grisalhos, seus lábios finos e enrugados, o corpo robusto.
 
— Desculpe, senhor Sano. Eu ouvi barulhos vindo da cozinha, então decidi vir verificar o que estava acontecendo.
 
— Tudo bem, Marie, não foi nada demais.
 
Nesse instante, passos apressados soam pelas escadas, e Matteo olha para a porta da cozinha.
 
— O que aconteceu? — Genesis pergunta, a preocupação evidente em sua voz.
 
— Está tudo bem, Baby. Foi só um copo que se quebrou.
 
Marie pede licença para se retirar da cozinha, e Genesis concede. Ela se aproximou de Matteo, o olhar de preocupação suavizando ao vê-lo ali. Ela toca seus braços fortes e desliza lentamente seus dedos sobre ele.
 
— Você me deixou sozinha. Senti sua falta — ela fala com a voz suave, carregada de provocação.
Matteo a segura pela cintura, puxando-a para mais perto de si. Em um movimento rápido, ele a ergue e a coloca sobre a ilha da cozinha. Seus lábios se encontram em um beijo intenso e urgente. As mãos dele exploram o corpo de Genesis, enquanto ela o envolve com suas longas pernas, aproximando-os ainda mais.
 
Os dois ficam assim alguns instantes, perdidos um no outro, até Matteo afastar-se ofegante e com um sorriso preguiçoso nos lábios. Antes que o clima pudesse se elevar ainda mais, Matteo se desvencilha de Genesis e diz:
— Blake está nos esperando. Precisamos ir à unidade de serviço.
 
*****
 
Enquanto Matteo e Genesis se preparam para sair, a tensão no ar é palpável. Genesis, ainda envolta no calor do momento, olha para Matteo com um misto de desejo e preocupação.
 
— Você acha que é algo grave? — ela pergunta, enquanto veste uma jaqueta de couro sobre a camiseta justa.
 
— Com Blake, sempre é — responde Matteo, ajustando o coldre sob o casaco. — Mas não se preocupe. Estamos juntos nisso.
 
Genesis sorri, mas o sorriso não alcança seus olhos. Ela sabe que, no mundo em que vivem, cada chamado pode ser o último. Ainda assim, ela confia em Matteo, e isso a mantém firme.
 
Enquanto dirigem pela cidade sob a chuva torrencial, Matteo mantém os olhos na estrada, mas sua mente está longe. Ele pensa na ligação de Amin, na urgência em sua voz. Algo grande está acontecendo, e ele não gosta de ser pego desprevenido.
 
— Você acha que tem algo a ver com o caso da semana passada? — Genesis quebra o silêncio, referindo-se a uma operação que quase deu errado.
 
— Pode ser — Matteo responde, apertando o volante com mais força. — Mas não vamos especular. Precisamos manter a cabeça fria.
 
Genesis concorda com um aceno, mas a tensão entre eles é evidente. Ambos sabem que, no mundo em que vivem, um erro pode custar caro. E, às vezes, até mesmo os melhores planos podem falhar.
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