As Aventuras de Robin Hood Capítulo 03
A PEQUENA CARAVANA AVANÇOU, de início em silêncio. O cavaleiro e a jovem pensavam ainda no perigo a que tinham estado expostos, e na cabeça do nosso jovem arqueiro, por outro lado, um mundo de novas ideias emergia: pela primeira vez ele admirava a beleza feminina.
Orgulhoso por instinto de raça, tanto quanto por personalidade própria, ele não queria parecer inferior a quem lhe devia a vida, e procurava manter, enquanto os guiava, uma aparência de altiva rudeza: sabia perfeitamente que aquelas pessoas pertenciam à nobreza, apesar de modestamente vestidas e viajando sem escolta, mas, na floresta de Sherwood, sentia-se em pé de igualdade, ou até num nível superior, diante, por exemplo, de uma emboscada assassina.
A maior ambição de Robin era que o vissem como hábil arqueiro e audacioso caçador. Fazia por merecer o primeiro título, mas lhe recusavam ainda o segundo, inclusive desmentido por sua aparência juvenil.
A todos os seus atributos naturais, acrescentava-se ainda o encanto de uma voz melodiosa. Consciente disso, ele cantava onde quer que lhe desse vontade e resolveu, então, brindar os viajantes com uma demonstração, dispondo-se a entoar uma bem-humorada e alegre balada. Mas, à primeira palavra, uma emoção extraordinária paralisou sua voz e lhe trancou os lábios, que tremiam. Tentou outra vez e o resultado foi o mesmo. Veio apenas um profundo suspiro. Nova tentativa, com o mesmo suspiro e ainda a mesma emoção.
Eram já os primeiros acanhamentos do amor que se revelavam ao inexperiente rapazote. Mesmo sem saber, ele adorava a imagem da bela desconhecida que cavalgava pouco atrás e deixava em segundo plano as canções, sonhando com aqueles belos olhos negros.
Mas acabou descobrindo as causas da estranha perturbação e pensou, recuperando o sangue-frio:
— Paciência, logo mais vou vê-la sem o capuz. O cavaleiro fez perguntas a Robin sobre seus gostos, hábitos e ocupações, procurando ser cordial, mas recebeu respostas um tanto distantes e que só mudaram de tom no momento em que o amor-próprio do rapaz se sentiu questionado: — Não teve medo — era o que perguntava o desconhecido — de que o miserável fora da lei se vingasse do fracasso indo contra você?
— Não vejo como! Seria impossível algo assim.
— Impossível?
— Com certeza, estou habituado às situações mais difíceis.
Havia tanta boa-fé e grandeza de sentimentos nas respostas de Robin que o desconhecido não quis ironizar e perguntou:
— Seria habilidoso a ponto de flechar a cinquenta passos o que normalmente se consegue a quinze?
— Sem dúvida. Mas espero — acrescentou o rapaz, ele sim com tom de ironia — que não considere tão grande demonstração de habilidade a lição que dei ao bandido.
— Por que não?
— Foi um lance bobo, que nada prova.
— E qual melhor prova poderia me dar?
— Que a ocasião se apresente e verá.
Fez-se silêncio por alguns minutos e a caravana chegou a uma grande clareira, que o caminho cortava em diagonal. Assustando-se com o barulho dos cavalos, uma grande ave de rapina alçou voo e uma pequena corça saiu do matagal próximo, buscando se esconder do outro lado.
— Escolha! — disse Robin com uma flecha entre os dentes e colocando outra no arco. — O que prefere, caça com penas ou com pelos? Pode escolher.
Antes, porém, que o cavaleiro respondesse, a corça caiu morta e o pássaro despencou das alturas, rodopiando até a clareira.
— Já que não escolheu enquanto estavam vivos, escolherá quando estiverem assados, à noite
— Formidável! — exclamou o cavaleiro.
— Incrível! — admirou-se a jovem.
— Basta a Suas Senhorias que sigam em linha reta e, logo depois das árvores, verão a casa do meu pai. Até lá! Tomo a dianteira para avisar minha mãe e pedir que nosso velho criado recolha a caça.
E Robin desapareceu correndo.
— Parece um ótimo rapaz, não acha, Marian? — perguntou o cavaleiro a sua acompanhante. — O mais agradável e simpático forasteiro inglês que já encontrei.
— É bem moço ainda — ela respondeu.
— Talvez ainda mais do que parece, pela compleição e pelo vigor que demonstra. Não pode imaginar, Marian, como a vida ao ar livre ajuda a desenvolver a força e faz bem à saúde. Não é como em nossas cidades sufocantes — acrescentou o cavaleiro, com um suspiro.
— Tenho a impressão, sr. Allan Clare — observou a jovem com leve sorriso —, de que seus suspiros se devem menos às verdes árvores da floresta de Sherwood do que à sua bela feudatária, a nobre filha do barão de Nottingham.
— Tem toda razão, querida irmã. Confesso que preferiria, se dependesse de mim, passar os dias a perambular pela floresta, morando numa casa de yeoman e tendo Christabel como esposa, do que me sentar num trono.
— A imagem é bonita, meu irmão, mas um tanto romanesca. Aliás, acha mesmo que Christabel vá trocar sua vida de princesa pela mesquinha existência que descreve? Ah! Querido Allan, não alimente tão loucas esperanças, pois não vejo com tanta certeza o barão lhe dar a mão da filha.
A expressão do rapaz ficou sombria, mas rapidamente ele afastou essa nuvem de tristeza e respondeu em tom calmo:
— Mas já a ouvi falar com entusiasmo das vantagens da vida no campo.
— É verdade, Allan, confesso. Meus gostos são às vezes estranhos, mas não acho que Christabel seja assim.
— Se ela realmente me amar, vai gostar da minha casa, onde for. Acha mesmo que o barão vai recusar? No entanto, se eu quiser, uma só palavra minha basta para que o orgulhoso e irascível Fitz-Alwine tenha que aceitar meu pedido, sob pena de ser proscrito e ver o castelo de Nottingham reduzido a pó.
— Psiu! Chegamos — interrompeu Marian. — A mãe do jovem nos aguarda à porta. Tem de fato uma aparência muito simpática.
— O menino saiu à mãe — observou Allan com um sorriso.
— Oh! Não é mais um menino! — reagiu ela com súbito rubor.
Mas quando a jovem apeou, ajudada pelo irmão, e quando o capuz, caindo para trás, deixou que se visse melhor o seu rosto, o rubor já cedera lugar à coloração rosada e Robin, ao lado da mãe, admirou com ardente surpresa a primeira mulher a fazer seu coração bater mais rápido. A emoção era tão intensa e verdadeira que o jovem arqueiro exclamou, sem se dar conta das próprias palavras:
— Ah, tinha certeza de que olhos tão bonitos só podiam iluminar um belo rosto!
Estranhando a ousadia do filho, Marguerite o repreendeu, quase zangada. Allan riu e a bela Marian ficou tão vermelha que Robin, na verdade querendo esconder o próprio embaraço e vergonha, abraçou a mãe. Mas não deixou de dar uma olhada um tanto atrevida para a moça, sem notar qualquer aborrecimento. Pelo contrário, um sorriso cordial, que ela provavelmente achava passar despercebido de quem o causara, iluminava o seu rosto, e o causador de tudo aquilo, acreditando estar desculpado, arriscou timidamente erguer os olhos para a sua nova adoração.
Uma hora depois, Gilbert Head chegou em casa, trazendo na garupa do cavalo um homem ferido que ele havia encontrado na estrada. Desmontou o estranho com infinito cuidado e levou-o para a sala, pedindo ajuda a Marguerite, que acomodava os convidados nos quartos do primeiro andar.
Ouvindo Gilbert chamar, Maggie foi até ele.
— Veja, mulher, esse pobre sujeito precisa dos seus cuidados. Algum brincalhão de mau gosto teve a péssima ideia de pregar com uma flecha a mão dele no arco, no momento em que ele visava um pequeno corço. Vamos, boa Maggie, não podemos perder tempo, o homem perdeu muito sangue. Como está se sentindo, companheiro? — acrescentou o velho, se dirigindo ao ferido. — Coragem, logo estará curado. Vamos, erga um pouco a cabeça, não se deixe abater desse modo; ânimo, homem! Ninguém morre por causa de uma ponta de ferro na mão.
Encurvado e com a cabeça baixa e enterrada nos ombros, o desconhecido parecia querer evitar que os anfitriões vissem o seu rosto.
Robin entrava em casa nesse momento e foi logo até o pai, querendo ajudá-lo com o ferido. Mas assim que o viu se afastou e fez sinal para que o velho Gilbert fosse falar com ele.
— Pai — disse em voz baixa —, é preciso esconder dos hóspedes que se encontram lá em cima a presença desse homem na nossa casa. Logo mais digo por quê. Mas tome cuidado.
— E qual sentimento, além da compaixão, poderia despertar nos hóspedes a presença desse pobre lenhador banhado no próprio sangue?
— À noite, lhe contarei. Por enquanto, siga o meu conselho.
— Logo mais, eu saberei à noite... — repetiu Gilbert irritado. — Pois saiba que quero respostas agora mesmo. É bem estranho que um menino venha me dar conselhos de prudência. Diga, que relação pode haver entre o lenhador e Suas Senhorias?
— Por favor, espere um pouco. Conto assim que estivermos sozinhos.
O velho voltou para junto do ferido que, pouco depois, deu um longo grito de dor.
— Sr. Robin, mais uma das suas obras-primas! — zangou-se Gilbert, indo atrás do filho e segurando-o pelo braço no momento em que deixava o cômodo. — Hoje mesmo pela manhã proibi que testasse a habilidade à custa dos seus semelhantes. Foi muito obediente e como prova disso temos esse pobre lenhador!
— Como assim? — respondeu o rapaz com respeitosa indignação. — Acha então...
— Perfeitamente, acho que foi você que pregou a mão desse sujeito no próprio arco. É o único na floresta a ter tanta perícia. Além do que, a ponta da flecha não deixa dúvida, é das nossas... Não vai negar que tem culpa, espero.
E Gilbert mostrou a ponta da flecha recém-extraída do ferimento.
— Fui eu mesmo que feri esse homem, pai! — admitiu Robin com frieza.
O velho guarda-florestal ficou sério.
— Fez uma coisa horrível e criminosa, meu rapaz. Não se envergonha de ter ferido com perigo, por pura fanfarrice, alguém que não lhe fez mal algum?
— Não me envergonho nem me arrependo — respondeu Robin com firmeza. — Vergonha e arrependimento deve ter quem atacava de emboscada viajantes inofensivos e indefesos.
— A quem se refere?
— A este que você generosamente trouxe para casa — e Robin contou ao pai todos os detalhes do que havia acontecido.
— O miserável o viu? — perguntou Gilbert preocupado.
— Não, pois fugiu como louco, achando que o diabo o atacava.
— Desculpe minha injustiça — disse o velho, apertando com carinho as mãos do filho. — Admiro a sua perícia. Precisamos então estar atentos aos arredores da casa. O ferimento do patife logo vai estar bom e, agradecendo a hospitalidade, ele é bem capaz de voltar com gente da mesma laia e pôr tudo aqui de cabeça para baixo. Me parece — acrescentou Gilbert, após pensar um momento — que a fisionomia desse sujeito não me é estranha. Mas não consigo me lembrar de onde nem como se chama. Deve ter mudado muito. Quando o conheci, não tinha no rosto essa expressão vil de desregramento e crime.
A conversa foi interrompida pela chegada de Allan e Marian, aos quais o dono da casa cordialmente deu as boas-vindas.
A casa do guarda-florestal esteve bem animada naquela noite: Gilbert, Marguerite, Lincoln e Robin — Robin principalmente — demonstravam nítida agitação com a mudança e perturbação provocadas em sua tranquila existência doméstica pela chegada dos hóspedes. O dono da casa se mantinha atento ao ferido e sua mulher preparava o jantar. Lincoln, depois de se ocupar dos cavalos, tomava conta, do lado de fora. Apenas Robin parecia desocupado, mas seu coração batia rápido. Ver a bela Marian despertava sensações até então desconhecidas, deixando-o meio parvo, imerso em muda admiração. Ruborizava, empalidecia, estremecia sempre que a jovem se movia, falava ou simplesmente olhava em volta.
Nunca, nas festas de Mansfieldwoohaus, tinha visto beleza igual. Ele dançava, ria e conversava com as moças da cidade, tendo chegado inclusive a murmurar, ao ouvido de algumas, banais palavras de amor, que eram, no entanto, esquecidas no dia seguinte, assim que ele voltava a caçar na floresta. Agora, porém, morria de medo diante da possibilidade de ter que dizer alguma coisa à nobre amazona que lhe devia a vida. Sabia que nunca mais a esqueceria.
Deixara de ser menino.
Enquanto Robin, sentado num canto da sala, se mantinha em silenciosa adoração de Marian, Allan cumprimentava Gilbert pela coragem e pontaria do jovem arqueiro, e felicitava o velho pelo filho que tinha. Gilbert, por sua vez, sempre na expectativa de conseguir eventuais informações sobre as origens de Robin, nunca deixava de dizer que ele era seu filho adotivo e contava sempre como e a que época um desconhecido o havia trazido.
Com surpresa, então, Allan soube que Robin não era filho de Gilbert, com este último informando ainda que o protetor desconhecido do órfão provavelmente viera de Huntingdon, pois o xerife dessa localidade pagava anualmente a pensão do menino. Ao que o rapaz respondeu:
— Marian e eu somos de Huntingdon e saímos de lá há poucos dias. Essa história sobre Robin poderia até ser verdadeira, mas não creio. Fidalgo nenhum de Huntingdon morreu na Normandia à época do nascimento desse jovem, e não ouvi falar de membro algum de família nobre que tivesse se ligado a uma francesa pobre e plebeia. Além disso, por que teria trazido a criança para tão longe de Huntingdon? Pelo bem dela, como disse, já que o seu parente Ritson os indicou como pessoas de bom coração? Não seria antes por querer ocultar a existência do recém-nascido, abandonando-o já que não tinha coragem de fazê-lo desaparecer? O fato de, desde então, não terem voltado a ver o seu cunhado só confirma essas suspeitas. Quando voltar a Huntingdon, vou procurar minuciosamente me informar e tentar descobrir a família de Robin. Minha irmã e eu lhe devemos a vida; queira então o céu que possamos ter êxito e de certa maneira pagar a dívida sagrada da nossa eterna gratidão!
Pouco a pouco os elogios de Allan e as meigas e gentis palavras de Marian devolveram o bom humor e a desenvoltura habituais de Robin, fazendo com que logo a mais verdadeira, franca e cordial alegria reinasse na casa do guarda-florestal.
— Ao atravessar a floresta de Sherwood, a caminho de Nottingham, nos perdemos — explicou Allan Clare. — Espero então retomar a estrada amanhã de manhã. Não quer me servir de guia, prezado Robin? Minha irmã poderia ficar aqui, aos cuidados da sua mãe, e voltamos à noite. A qual distância estamos da cidade?
— Cerca de doze milhas — respondeu Gilbert. — Um bom cavalo faz a viagem em menos de duas horas. Devo uma visita ao xerife, a quem não vejo há um ano, e posso acompanhá-lo, sr. Allan.
— Ótimo, seremos três! — exclamou Robin.
— Nada disso! — reagiu Marguerite, acrescentando em voz baixa ao ouvido do marido. — Não se dá conta? Deixar duas mulheres sozinhas na casa, com esse bandido?
— Sozinhas? — respondeu Gilbert rindo. — Não leva minimamente em consideração nosso velho Lincoln e meu fiel cachorro Lance, que arrancaria com os dentes o coração de quem quer que se atrevesse a erguer a mão contra você?
Marguerite lançou um olhar súplice à jovem visitante e Marian categoricamente declarou que acompanharia o irmão, se Gilbert não desistisse da viagem.
Ele acabou cedendo e ficou combinado que ao despontar do dia Allan e Robin partiriam a caminho de Notthingham.
Com a noite chegando e as portas fechadas, nossos personagens se puseram à mesa e louvaram os talentos culinários da boa Marguerite. O prato principal era um assado de corço; Robin estava radiante de alegria, pois ele é que o havia caçado e ela achou a carne deliciosa!
Sentados lado a lado, todos conversavam como conversam velhos conhecidos. Allan, de sua parte, ouvia com prazer histórias sobre a floresta, e Maggie cuidava para que nada faltasse à mesa. A sala do guarda-florestal poderia servir de modelo, naquele momento, a um daqueles quadros de interior, da escola holandesa, em que o artista poetiza o realismo da vida doméstica.
Um longo assobio, porém, vindo do quarto ocupado pelo doente, subitamente chamou a atenção de todos, que ao mesmo tempo olharam para a escada que levava ao andar superior. Mal o assobio se desfez no ar, ouviu-se uma resposta no mesmo tom, a pouca distância na floresta. Um arrepio percorreu nossos cinco personagens à mesa e um dos cães de guarda, do lado de fora, deu alguns latidos inquietos. O mais absoluto silêncio voltou, entretanto, a reinar nos arredores e em frente à casa do guarda-florestal.
— Algo estranho está acontecendo — disse Gilbert. — Não me surpreenderia a presença, entre as árvores, de pessoas que não têm o menor constrangimento de mexer em bolsos que não são seus.
— Teme a visita de ladrões? — perguntou Allan. — Pode acontecer. — Achei que respeitassem a propriedade de um honesto homem da floresta, que em geral é modesta. E que tivessem o bom senso de atacar apenas os ricos.
— Não são muitos os ricos e nossos respeitáveis vadios têm que se contentar com pão, quando não encontram carne. Acredite, os fora da lei de forma alguma se incomodam de roubar um pedaço de pão de um pobre. Deviam, no entanto, respeitar a mim, aos meus e à minha casa, pois mais de uma vez deixei que se aquecessem no meu fogo e comessem à minha mesa, nos meses de inverno e de penúria.
— Os bandidos desconhecem a gratidão.
— Tanto é que várias vezes quiseram entrar aqui à força.
Ouvindo isso, Marian estremeceu de medo e instintivamente se aproximou de Robin, que quis tranquilizá-la. Mas, outra vez, a emoção deixou-o mudo e Gilbert, percebendo a insegurança da jovem, retomou sorrindo:
— Esteja sossegada, nobre senhorita, tem a seu dispor homens corajosos e bons arcos. Se os fora da lei ousarem aparecer, serão escorraçados como tantas vezes já foram, levando como trunfo apenas uma flecha espetada abaixo do gibão.
— Obrigada — disse Marian que, em seguida, com um olhar significativo para o irmão, acrescentou:
— A vida na floresta não deixa então de ter inconvenientes e perigos? Robin se enganou quanto ao sentido da frase, achando que se dirigia a ele, sem compreender que a moça fazia alusão ao gosto que o irmão dizia ter pela vida no campo. De forma que exclamou com entusiasmo:
— Vejo na vida aqui apenas prazer e felicidade. Passo às vezes dias inteiros nos vilarejos próximos, e retorno à bela floresta com alegria inexprimível, convencido de que preferiria a morte ao suplício de estar encerrado entre os muros de uma cidade.
E já ia continuar no mesmo tom quando uma pancada forte sacudiu a porta de entrada. A casa inteira estremeceu, os cães deitados à frente da lareira deram um pulo latindo. Gilbert, Allan e Robin correram à porta, enquanto Marian se refugiava nos braços de Marguerite.
— Quem é o mal-educado que se atreve a bater dessa maneira à minha porta? — gritou o guarda.
A resposta foi outra pancada, mais violenta ainda. Gilbert repetiu a pergunta, mas os latidos furiosos dos cachorros tornaram impossível qualquer diálogo. Com muita dificuldade ouviu-se afinal uma voz sobrepondo-se ao tumulto e pronunciando essa frase sacramentada:
— Abra, pelo amor de Deus!
— Quem são vocês?
— Dois frades da ordem de são Bento.
— De onde vêm e para onde vão?
— Estamos vindo da nossa abadia de Laiton e nos dirigimos a Mansfieldwoohaus.
— E o que querem?
— Um abrigo para a noite e algo para comer; nos perdemos na floresta e estamos mortos de fome.
— Essa maneira de falar não parece a de um moribundo; como posso ter certeza de que diz a verdade?
— Por Deus! Abrindo a porta e olhando para nós — respondeu a mesma voz, com um tom de impaciência que a tornava menos humilde. — Vamos, lenhador teimoso, abra! Nossas pernas tremem e nossos estômagos gritam.
Gilbert olhou hesitante para os hóspedes, mas outra voz, de um velho, de maneira tímida e suplicante pediu:
— Pelo amor de Deus, abra, bom lenhador! Juro pelas relíquias de nosso santo padroeiro que meu irmão diz a verdade!
— De qualquer forma — comentou Gilbert, forte o bastante para ser ouvido de fora —, somos quatro homens aqui e, com a ajuda também dos cachorros, podemos perfeitamente dar conta dessa gente, seja quem for. Vou abrir. Robin e Lincoln, contenham um pouco os cachorros, e soltem-nos se formos atacados por bandidos.
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