Minhas mãos ainda tremem quando recolho o papel da mesa e o amasso, jogando-o rapidamente no lixo ao lado da minha estação. Meus olhos vasculham discretamente ao redor, tentando entender quem poderia ter deixado aquele bilhete macabro ali. Mas nada parece fora do lugar. Todos trabalham alheios ao meu tormento interno.
A respiração acelera novamente, mas tento disfarçar o pânico que me domina. Preciso de ar, preciso sair daqui. Levanto-me quase sem perceber e caminho rapidamente até a copa do escritório. É um lugar pequeno, apertado, onde geralmente ninguém fica por muito tempo. Hoje, porém, encontro um rosto conhecido, inclinado sobre uma xícara fumegante de chá de ervas. É Clarice, a cartomante do setor financeiro.
Clarice é uma mulher de pouco mais de cinquenta anos, cabelos curtos pintados de ruivo intenso, olhar penetrante e voz sempre calma, quase sussurrante. Ela é uma figura peculiar, respeitada por alguns por sua sabedoria mística e alvo de piadas silenciosas por outros que não acreditam nas suas "previsões".
Ela ergue os olhos lentamente ao notar minha chegada.
— Bom dia, Sofia. Você parece perturbada.
Engulo em seco, sentindo-me exposta.
— Eu... não dormi bem — respondo, tentando soar casual. Mas algo em seu olhar diz que ela já percebeu muito mais.
Clarice observa-me atentamente e convida com um gesto a sentar na cadeira à sua frente.
— Quer falar sobre isso? Talvez eu possa ajudar.
Hesito por um instante, mas sinto um desespero crescente que supera minha habitual descrença.
— Eu não sei se você pode ajudar com isso. Acho que estou ficando louca — admito, a voz saindo fraca, quase envergonhada.
Ela sorri levemente, com compreensão e paciência infinitas.
— Conte o que está acontecendo. Já vi muita coisa estranha nessa vida, Sofia.
Respiro fundo, as palavras saindo mais rápidas e entrecortadas do que gostaria.
— Estou tendo pesadelos. Horríveis. Eles são tão reais... Uma espécie de realidade alternativa, não sei como explicar. Um lugar chamado Sete Além. Mas agora não é só à noite. Isso está acontecendo também quando estou acordada.
Clarice estreita os olhos, uma expressão séria tomando seu rosto.
— Você disse Sete Além?
Meu coração acelera ainda mais ao ver que o nome é familiar para ela.
— Você já ouviu falar disso?
— Sim, já ouvi falar muito bem disso. E não são boas histórias, Sofia. Não é um simples pesadelo. — Sua voz soa firme e preocupada. — O Sete Além não é um lugar que você visita por acidente ou coincidência.
— Como assim? — pergunto, quase implorando por uma explicação lógica.
Ela hesita por um momento antes de continuar.
— É uma dimensão paralela, um reflexo distorcido da nossa realidade. Poucas pessoas têm o azar ou a sina de encontrar uma passagem para lá. E menos ainda retornam sem consequências.
— Mas isso não faz sentido, Clarice. — Tento rir nervosamente. — Dimensão paralela? Parece coisa de filme ruim.
Ela não sorri comigo. Pelo contrário, parece ainda mais séria.
— Sofia, você viu algo? Alguém veio atrás de você?
Engulo seco, a garganta apertada demais para falar, mas aceno lentamente com a cabeça.
— Um homem alto. Horrível, com cheiro de morte. E mulheres vestidas de branco, flutuando. Elas disseram que eu pertenço a elas agora.
Clarice empalidece visivelmente. Ela se reclina na cadeira, as mãos cruzadas sobre a mesa tremendo ligeiramente.
— Isso não é bom. Não é bom mesmo. Você está marcada, Sofia.
— Marcada? O que isso significa? — minha voz treme visivelmente agora, mal contendo o pânico.
Clarice respira fundo e lentamente retira um pequeno baralho da bolsa ao seu lado, colocando-o cuidadosamente na mesa. São cartas antigas, desgastadas pelo tempo e pelo uso.
— Preciso consultar as cartas, Sofia. Você me permite?
Hesito, a descrença brigando com o medo dentro de mim. Finalmente, aceno em consentimento. Clarice embaralha lentamente as cartas, em silêncio, o som das cartas deslizando umas sobre as outras é quase hipnótico.
— Pense em tudo o que você viu, nas sensações que teve. Não esconda nada, mesmo que doa.
Fecho os olhos e lembro-me claramente do frio cortante, da luz vermelha, do homem grotesco e das vozes sinistras. Cada detalhe vivido ressurge com uma força brutal, como se estivesse acontecendo novamente naquele exato instante.
Clarice começa a dispor as cartas na mesa, seu rosto cada vez mais sombrio a cada nova carta virada.
— O que você está vendo? — pergunto, com medo da resposta.
— Você abriu uma porta, Sofia. Uma porta que não deveria ter sido aberta. — Ela toca cuidadosamente uma carta escura, com uma figura sinistra. — O Diabo. Não literalmente, claro, mas simbolicamente. Indica que você se ligou a algo obscuro. Muito obscuro.
— Mas como eu fecho essa porta?
Ela olha novamente as cartas e engole em seco antes de responder.
— A porta não se fecha facilmente, Sofia. Você precisa descobrir por que o Sete Além escolheu você. Eles não escolhem aleatoriamente. Existe algo em você que eles querem. Ou precisam.
— Isso é impossível. Sou só uma pessoa comum, Clarice.
Ela balança a cabeça lentamente, olhando fundo nos meus olhos.
— Ninguém é tão comum quanto imagina. Existe algo em você, talvez um trauma não resolvido, uma culpa profunda ou até mesmo uma ligação ancestral. Algo abriu essa porta e eles aproveitaram.
— Como assim, ancestral?
— Sua família, Sofia. Algo pode estar enterrado profundamente na história da sua família. O Sete Além é um lugar de reflexos, um espelho distorcido que amplifica aquilo que queremos esconder. Aquilo que nunca enfrentamos de verdade.
— Isso é loucura — minha voz treme, quase num sussurro desesperado.
— Não é, Sofia. Precisa acreditar nisso. Se não enfrentar o que está por trás disso tudo, eles continuarão voltando. E cada vez mais fortes.
Meu coração dispara violentamente enquanto olho as cartas espalhadas sobre a mesa. Sinto como se elas também me observassem, julgando minhas escolhas, minhas falhas, meus segredos.
— Como eu faço isso, Clarice? Como enfrento algo que eu nem sei o que é?
Ela junta cuidadosamente as cartas, seus olhos agora repletos de uma tristeza profunda.
— Você precisa mergulhar fundo em si mesma, Sofia. Precisa aceitar que o que está acontecendo é real. Até lá, não posso garantir que você fique segura.
Nosso olhar se mantém fixo por um longo tempo, o silêncio denso preenchendo a pequena copa, tão sufocante quanto o corredor sombrio do meu pesadelo. Finalmente, ela se levanta lentamente, recolhe sua bolsa e as cartas, e se aproxima da porta.
— Se precisar de mim, sabe onde me encontrar.
Fico sozinha novamente, as palavras de Clarice reverberando intensamente na minha mente. Ao sair lentamente da copa, uma certeza perturbadora me domina:
Aquilo que pensei ser apenas um pesadelo talvez nunca tenha sido apenas um sonho. Talvez eu já esteja vivendo no Sete Além, apenas esperando o momento em que ele decidirá me reivindicar de uma vez por todas.