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Aquaman: Herança Perdida

Capítulos 12

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Aquaman: Herança Perdida Capítulo 1

Que Rei Sou Eu?

Atlântida — um misto de tecnologia avançada e beleza ancestral. Torres bioluminescentes, correntes de energia líquida e criaturas marinhas usadas como transporte, tudo pulsando com uma estética de ficção científica subaquática.

 

Diversos servos nadam de forma rápida um atrás do outro, até esbarram em peixes palhaços dentro da sala do trono, um deles se aproxima de Mera e faz uma expressão de dúvida de onde estaria Arthur Curry.

 

Arthur está… atrasado.

 

A taverna é um amontoado de corais ocos, ânforas antigas servindo de mesas e bancos esculpidos em ossos de criaturas marinhas. Bolhas de ar encapsuladas flutuam aqui e ali, criando pequenos “pontos secos” onde alguns clientes preferem beber. Peixes bioluminescentes iluminam o ambiente com tons de azul e verde, enquanto medusas-penduradas fazem o papel de lustres flutuantes.

 

No centro, Arthur encara um tritão gigantesco chamado Korr, com escamas prateadas e guelras pulsantes. O tritão tem três metros de pura imponência e um olhar que poderia assustar um tubarão-martelo.

 

Entre eles, uma mesa de pedra e duas conchas gigantes servindo como canecas, cheias de uma substância turva e esverdeada que solta bolhas contínuas.

 

— “Última rodada, rei da superfície.” — grunhe Korr, sua voz grave ecoando na água, com pequenas correntes vibrando ao redor.

 

Arthur dá um sorrisinho preguiçoso, ajeitando o cinto com o tridente preso casualmente.

— "Vamos lá, grandão. Não é o tamanho da concha que importa."

 

A multidão de atlantes, tritões e até alguns crustáceos gigantes domesticados assistem em polvorosa, fazendo apostas com pérolas, dentes de kraken e até um pequeno navio em miniatura.

 

O desafio começa.

 

Korr bebe com a disciplina de um soldado, engolindo o líquido viscoso com eficiência. Arthur, por outro lado, tenta parecer descolado — mas claramente está sofrendo. Ele dá uma golada, e uma parte do líquido escapa pelas laterais da boca, flutuando em bolhas irregulares ao redor dele.

 

Korr termina primeiro, soltando um rugido triunfante… mas com um detalhe: seus olhos giram por um segundo antes de desmaiar lentamente, caindo em câmera lenta, flutuando até bater com um “thump” abafado no coral do chão.

 

Arthur, arfando e meio tonto, levanta a concha vazia com um sorriso torto:

— "O segredo é: nunca desafie um cara que cresceu bebendo cerveja de cais… e que sabe fingir estar bem melhor do que está."

 

A taverna explode em gritos e aplausos, bolhas subindo em todas as direções. Um caranguejo gigante, aparentemente um mascote da taverna, levanta uma garra em comemoração.

 

De repente, Mera surge, com sua postura impecável, atravessando a multidão com um olhar que poderia congelar o oceano. Ela não precisa gritar. Arthur sabe que está encrencado.

 

— "Arthur. O Conselho está esperando. Há duas horas."

— "Ah, veja bem… tecnicamente, eu estava… criando diplomacia com o povo."

— "Diplomacia? Você apostou o seu tridente em um jogo de bebida!"

— "Eu ganhei, não ganhei?" — ele sorri, mas Mera não está para brincadeiras.

 

Corte para Arthur, agora vestido com sua armadura cerimonial atlante (claramente desconfortável), caminhando ao lado de Mera em um corredor feito de vidro e corais vivos. Ela segura um cronograma holográfico que lista tarefas absurdamente tediosas:

 

Audiência com o Conselho

Revisão de tratados comerciais com Xebel

Cerimônia de bênção das correntes ancestrais

Arthur faz caretas a cada item.

 

— "Eu literalmente derrotei um exército de guerreiros armados montado em um tubarão. Preciso mesmo revisar… impostos de pesca?"

— "Ser rei não é só lutar, Arthur. É construir algo que dure mais do que você." — responde Mera, sem perder o ritmo.

 

O salão do Conselho é um anfiteatro imponente, com hologramas girando em torno de figuras da nobreza atlante, todos olhando para Arthur com desdém. Comentários sussurrados sobre ele ser um "meio-sangue da superfície" ecoam pelo salão.

 

Vulko, tenta suavizar a situação:

 

— "Lembrem-se, ele salvou Atlântida."

— "Uma vez. Sorte de principiante." — retruca um dos conselheiros.

 

Arthur tenta intervir, mas sua abordagem casual só piora as coisas:

 

— "Olha, se o problema é eu ser meio humano, vamos economizar tempo: sim, sou. E também sou o cara que impediu que Atlântida fosse destruída. Querem discutir genética ou resultados?"

 

O salão fica em silêncio. Vulko esconde um sorriso. Mera revira os olhos.

 

Em meio à discussão, surge uma menção sutil, quase um sussurro:

— "Se ele tivesse lidado com Orm de forma mais… definitiva, talvez estivéssemos mais seguros."

 

Arthur congela por um instante. O nome de Orm paira no ar, mas ninguém explica o que aconteceu. Só se sente o peso de algo mal resolvido.

 

Arthur se afasta da sala do trono com movimentos bruscos, nadando com força através dos amplos corredores do palácio de Atlântida. As paredes translúcidas feitas de coral endurecido e metal orgânico refletem a luz suave das algas bioluminescentes, que flutuam em delicadas espirais, mas ele mal percebe. Cada batida de sua cauda de natação improvisada — um movimento mais rude do que elegante — revela a frustração de um rei que nunca quis ser rei.

 

Ele atravessa uma abertura arqueada que dá para uma varanda suspensa, esculpida na lateral do palácio. Não há portas, apenas correntes de água flutuando em redemoinhos suaves que marcam a transição para o espaço aberto. Arthur paira ali, flutuando no vazio azul, com o vasto oceano à sua frente. O palácio se ergue atrás dele como uma joia colossal incrustada nas profundezas, mas ele só vê o abismo à frente — um reino que nunca pediu, mas agora carrega nos ombros.

 

Seu tridente está cravado em um pedestal de pedra coralina, mas ele o ignora.

 

Arthur solta um suspiro, as bolhas subindo lentamente enquanto ele murmura, a voz abafada pela densidade da água:

— "Rei... que piada."

 

O som é quase engolido pelo silêncio abissal ao redor, exceto pelo eco distante das correntes marítimas e o estalar sutil das criaturas minúsculas que habitam o recife próximo.

 

Então, uma figura se aproxima, deslizando com graça e precisão — Vulko, movendo-se com a naturalidade de quem pertence à água tanto quanto ao próprio ar. Ele para ao lado de Arthur, as mãos cruzadas atrás das costas, o olhar voltado para o mesmo vazio infinito.

 

— "A coroa nunca se encaixa bem no começo." — diz Vulko, sua voz soando como um sussurro grave, amplificado de forma peculiar pela acústica natural da água. — "Mas é o que você faz com ela que importa."

 

— "Fugir das suas obrigações não faz de você menos rei, Arthur. Só faz de você um rei ausente."

 

Arthur solta um suspiro pesado, liberando uma trilha de bolhas que sobem lentamente. Ele não se vira.

 

— "Eu não pedi nada disso, Vulko. Nunca pedi para ser rei." — sua voz é abafada, mas o tom carrega um peso que nem a densidade da água consegue dissolver.

 

Vulko se aproxima mais, a expressão endurecendo:

— "E o oceano também não pediu para ter um líder que prefere se esconder em vez de governar."

 

Mera intervém, a voz mais suave, mas com uma firmeza que corta tanto quanto o tridente de Arthur:

— "Não é sobre o que você quer, Arthur. É sobre o que o seu povo precisa."

 

Arthur finalmente se vira, o rosto marcado pela frustração.

— "O meu povo? Eles me olham como um estranho. Um meio-sangue. Um intruso com uma coroa que pesa mais do que o trono onde sento."

 

O silêncio que se segue é tenso, quebrado apenas pelo eco distante de algo… diferente.

 

Um tremor sutil percorre o palácio. Primeiro fraco, depois crescente. O chão de pedra viva vibra sob seus pés, e um estrondo abafado ecoa pela água, vindo da ala norte de Atlântida.

 

Vulko e Mera trocam olhares rápidos antes de Arthur pegar o tridente com um movimento brusco.

— "Finalmente, algo que eu entendo." — ele rosna, impulsionando-se com força, nadando como um míssil em direção à origem do caos.

 

O cenário é de pura devastação. Estruturas de cristal e coral foram esmagadas, colapsando em nuvens de detritos que obscurecem a visibilidade. Guardas atlantes tentam, em vão, conter uma criatura colossal, uma aberração marinha que lembra um Tarrasque subaquático, com carapaças irregulares, dentes como lâminas de obsidiana e olhos que ardem com fúria cega.

 

O monstro ruge — um som distorcido e ensurdecedor na água — e gira o corpo massivo, destruindo uma torre com um golpe de sua cauda serrilhada.

 

Arthur surge em um borrão dourado e verde, propulsionado pelas correntes, o tridente girando em suas mãos como uma extensão do próprio corpo. Sem hesitar, ele mergulha direto na direção da criatura, um grito abafado de guerra vibrando na água.

 

Ele ataca com precisão, o tridente cravando entre as escamas grossas do monstro. O Tarrasque responde com um rugido ensurdecedor, girando o corpo e atingindo Arthur com uma pata gigantesca. O impacto o lança contra uma torre submersa, rachando a estrutura e deixando um rastro de destroços.

 

Arthur cai, atordoado, mas a adrenalina não o deixa parar. Ele se impulsiona novamente, mais rápido, mais feroz, os músculos tensionados enquanto a fúria explode em cada golpe.

 

Mas o monstro é mais do que apenas força bruta. Ele aprende rápido.

Em vez de tentar esmagar Arthur diretamente, o Tarrasque muda de tática: agarra uma das colunas de sustentação de uma passarela onde dezenas de civis atlantes tentam escapar. Com um puxão violento, a estrutura desaba, ameaçando soterrar todos.

 

Arthur percebe o perigo no último segundo. Em vez de atacar, ele fecha os olhos por um instante, estendendo sua consciência para o oceano ao redor.

 

— "Agora, é agora!" — ele sussurra para si mesmo.

 

Em resposta ao seu chamado mental, um enxame de criaturas marinhas surge. Tubarões-martelo, arraias gigantes, e até um grupo de baleias-piloto nadam em sincronia perfeita, formando uma barreira viva para amparar os destroços e criar uma passagem segura para os civis. Polvos gigantes usam seus tentáculos para puxar sobreviventes para fora dos escombros, enquanto cardumes densos distraem o Tarrasque, obscurecendo sua visão.

 

Arthur usa o caos a seu favor. Ele se move por entre os destroços e criaturas, deslizando pelas correntes que ele mesmo manipula, até se posicionar acima do monstro. Com um grito de raiva contida, mergulha em queda livre, o tridente apontado para baixo, e crava a arma com toda a força no ponto fraco entre as placas da criatura, bem na base do pescoço.

 

O Tarrasque ruge, convulsiona, tentando se livrar do tridente, mas Arthur segura firme, usando o próprio peso e a correnteza para manter a lâmina cravada.

 

Mera e Vulko chegam, observando de longe.

O rosto de Vulko é uma máscara de preocupação, mas suas palavras saem em um sussurro grave:

— "Ele foge da coroa, mas nunca da batalha."

 

Mera, o olhar fixo em Arthur, vê além da fúria:

— "Porque a batalha não o obriga a sentir." — sua voz carrega uma mistura de tristeza e admiração.

 

O monstro finalmente cede, tombando em um colapso lento, criando um redemoinho de poeira e destroços. Arthur permanece sobre o corpo da criatura, o tridente ainda cravado, o peito arfando. O sangue do Tarrasque se mistura à água, tingindo-a de vermelho escuro, enquanto o olhar de Arthur permanece vazio, perdido em algo mais profundo do que o próprio oceano.

 

Só o som do próprio coração batendo — o de um rei que pode vencer qualquer monstro, exceto o que carrega dentro de si.

 

Enquanto o corpo do Tarrasque repousa inerte no fundo, o sangue escuro ainda se dispersando em redemoinhos, Arthur finalmente solta o tridente. Ele respira fundo, o olhar vazio fixo na criatura derrotada — mas não há satisfação, apenas um cansaço que pesa mais do que a própria coroa.

 

Ele se vira para partir, mas algo chama sua atenção. Cravado entre as escamas da criatura, parcialmente escondido pelo sangue coagulado, há um fragmento metálico estranho. Não é natural, nem parte do monstro.

 

Arthur se aproxima, hesitante, e puxa o objeto. É um pedaço de metal negro com inscrições atlantes corroídas, mas o mais perturbador não é o que está escrito — é o fato de que aquilo claramente não pertence a Atlântida.

 

Ele franze a testa, virando o fragmento entre os dedos, quando percebe um símbolo gravado de forma rudimentar: um tridente invertido, riscado por uma linha diagonal — um símbolo de negação, rejeição.

 

Arthur não entende o que significa.

Mas algo dentro dele diz que deveria.

 

Ele guarda o fragmento em silêncio, o olhar voltando para o vazio do oceano.

O perigo pode ter passado, mas as correntes ainda estão mudando.

 

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

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