Aquaman: Herança Perdida Capítulo 3
Abismo Profundo
A descida rumo à Fossa era como atravessar os portões de um pesadelo submerso. A luz azulada dos mares superiores logo se esvaía, dando lugar a um breu quase absoluto. Sombras se moviam em todas as direções, dissolvendo-se nas correntes geladas que serpenteavam pelo abismo. O silêncio era cortado apenas pelo zunido distante das criaturas, ecos de algo desconhecido aguardando na escuridão.
As formações rochosas ao redor pareciam ossos de titãs esquecidos, e entre os desfiladeiros submersos, fendas exalavam um brilho bioluminescente esverdeado, como olhos espreitando. Pequenas bolhas escapavam do solo, carregando um cheiro metálico que sugeria atividade vulcânica nas profundezas. Cada metro adiante, a pressão aumentava, fazendo os atlantes sentirem-se mais pesados, como se o próprio oceano tentasse engoli-los de volta.
Arthur nadava à frente, sua postura firme, mas seus olhos inquietos varriam a escuridão. Ele já enfrentara as criaturas da Fossa antes, mas algo ali parecia... diferente. Mais inteligente. Mais calculado.
Então, sem aviso, a escuridão rugiu
Então, veio o ataque.
Das sombras, criaturas da Fossa emergiram com uma precisão e organização alarmantes. Não era o caos primitivo esperado, mas um cerco calculado. As criaturas não apenas atacavam — elas coordenavam os golpes, empurravam os atlantes para posições desfavoráveis, separavam os mais fracos.
O combate foi imediato e impiedoso.
Arthur reagiu por instinto, seu tridente cortando a escuridão com raios dourados, mas o ambiente estreito reduzia sua mobilidade. Cada vez que girava para bloquear um ataque, um novo vinha de outro ângulo. Gritos abafados ecoavam no capacete enquanto seus guerreiros eram arrastados para o breu.
O vazio se tornou seu inimigo.
A escuridão sem fundo o cercava, apertava seu peito. O medo crescia, sufocante. Seu coração acelerou, a respiração falhou por um instante — e ele congelou. Não era Atlante. Não nascera nesse mundo de trevas. Seu corpo lembrava.
Uma garra o atingiu na lateral, lançando-o contra uma parede de rocha fria. O impacto o despertou da paralisia, mas não do medo. Com um grito, Arthur liberou uma onda de energia com o tridente, empurrando os inimigos para trás. Um breve momento de respiro. Tempo suficiente para recuar com os sobreviventes.
A batalha havia terminado, mas a derrota estava cravada em sua pele.
No retorno, um dos soldados, ferido e em estado de choque, sussurrou palavras desconexas sobre uma figura no meio das criaturas. Um comandante, um mestre na escuridão.
Arthur não precisou ouvir mais. O medo já havia se alojado em sua mente. O vazio não era apenas um espaço sem luz — era um adversário, e ele não sabia como derrotá-lo.
Ele lutou contra a sensação paralisante que rastejava por seu corpo. Ele era o Rei de Atlântida. Ele dominava os oceanos. Mas ali... ali ele era apenas mais um corpo à mercê do desconhecido.
Visões o assombraram. O espaço infinito. A ausência de qualquer luz. O nada absoluto. O medo cravou raízes em sua mente.
E então, algo se moveu dentro da escuridão – não apenas as criaturas.
Uma silhueta.
Algo que observava. Que controlava.
Arthur não teve tempo para compreender. Um golpe certeiro o lançou contra uma formação rochosa, e tudo se dissolveu em dor e confusão.
Horas depois, ou talvez apenas minutos, ele despertou. Os atlantes restantes estavam ao seu redor, exaustos e feridos. Mas o pior estava no olhar de um dos sobreviventes.
O homem tremia, os olhos arregalados como se ainda visse algo além da realidade. E então sussurrou, entre soluços:
— Ele... controla... a Fossa...
Vulko foi o primeiro a segurar Arthur pelos ombros, sentindo a tensão em seu corpo. Ele percebeu algo diferente em seu rei. Não era apenas cansaço ou dor. Era medo.
Arthur olhou para cima, para o abismo que os engolira e os cuspira de volta.
Mas sabia que da próxima vez... ele poderia não voltar.
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