Sussurros do Mar Capítulo 2
Sirena nadava pelas águas geladas, completamente imersa em seus pensamentos, incapaz de afastar a imagem de Douglas. Sua mente o perseguia, perdido e desolado, e uma culpa crescente a consumia. Ela se perguntava, mais e mais, se sua canção, por acaso, teria sido a responsável por aquele estado. Ela precisava entender, precisava saber a verdade.
Naquela manhã, Sirena se aproximou discretamente da praia onde Douglas costumava estar. Escondeu-se entre as rochas, observando-o. Ele estava ali, como sempre, sentado com o olhar fixo no horizonte. Mas algo estava diferente. Seu rosto estava pálido, e uma sombra de tristeza obscurecia seus olhos, algo que não estava ali antes.
Decidida a entender o que acontecia com ele, Sirena se aproximou mais. Dessa vez, ela não hesitou em se revelar. Douglas, imerso em seus próprios pensamentos, não reagiu de imediato. Mas quando seus olhos se encontraram, a surpresa e a confusão tomaram conta de seu olhar.
"Você... você é real," ele murmurou, a voz rouca e fraca. "Eu pensei que fosse apenas um sonho."
Sirena sentiu um aperto no peito ao ouvir suas palavras. A canção, sua própria canção, havia penetrado tão fundo em sua mente, tornando-se uma obsessão que ele não podia mais afastar. "Eu sou real," ela respondeu suavemente, a culpa permeando sua voz. "E sinto muito. Não sabia que minha canção te afetaria assim."
Douglas fechou os olhos, como se a dor interna o consumisse. "Desde aquele dia," ele começou, "não consigo pensar em outra coisa. É como se o mar me chamasse, constantemente. Não consigo trabalhar, não consigo dormir... estou sendo consumido por isso."
A gravidade da situação atingiu Sirena em cheio. Ela sabia que precisava agir. "Eu vou encontrar uma maneira de consertar isso," prometeu, sua voz carregada de determinação. "Vou procurar ajuda no fundo do mar. Alguém deve saber como reverter o efeito da minha canção."
Douglas apenas acenou com a cabeça, muito exausto para responder. Sem perder tempo, Sirena mergulhou de volta nas profundezas, determinada a encontrar uma solução. Ela sabia que no fundo do oceano, existiam seres místicos que podiam ajudá-la. E faria o necessário para salvar Douglas da maldição que ele agora carregava.
Com um impulso renovado, Sirena nadou com precisão e força, seus movimentos cortando as águas com determinação. Ela sabia exatamente onde ir. No fundo do mar, existiam seres que guardavam os segredos das canções e encantamentos, e ela precisava da ajuda deles para salvar Douglas.
A viagem era longa e as águas ao redor de Sirena se tornavam cada vez mais escuras e frias. No entanto, ela não hesitou. Ela sabia que precisava chegar até Thalassius, o sábio dos mares, um ser místico de poder incomparável que poderia ajudá-la a reverter o efeito de sua canção.
Quando ela finalmente chegou à caverna oculta nas profundezas, uma sensação de reverência tomou conta dela. Thalassius, o antigo sábio do oceano, estava lá, aguardando-a. Sua presença era tangível, um equilíbrio entre serenidade e poder. De sua sombra, a figura do sábio emergiu, envolto por uma capa de algas e corais.
"Sirena," a voz profunda de Thalassius ecoou pela caverna. "Eu sabia que você viria."
Ela se curvou, como um sinal de respeito. "Thalassius, preciso da sua ajuda. Minha canção... afetou um humano de uma maneira que não consigo reverter. Ele está sendo consumido por ela."
Thalassius assentiu, os olhos brancos e profundos brilhando com compreensão. "As canções das sereias são poderosas. Elas podem curar ou amaldiçoar. Este humano, Douglas, está preso entre dois mundos. Seduzido pelo chamado do mar, ele não consegue encontrar paz em terra."
Sirena sentiu um nó se formar em sua garganta. "O que posso fazer para ajudá-lo?"
Thalassius se aproximou, suas mãos enrugadas estendendo-se para segurar as dela. "Há uma maneira," ele disse com uma voz suave, mas firme. "No entanto, não será fácil. Você precisará de ingredientes raros, místicos, encontrados apenas nas partes mais secretas do oceano."
Sirena se endireitou, sua determinação firme. "Quais são esses ingredientes?"
Thalassius recuou, suas mãos gesticulando no ar enquanto ele recitava os itens necessários: "Uma lágrima de peixe-dragão, uma pétala de coral fluorescente e a essência de uma pérola negra das profundezas."
"Esses itens são difíceis de encontrar, e o tempo não está ao seu favor. Mas se conseguir trazê-los até mim, eu poderei criar o antídoto que libertará Douglas dessa maldição."
Sirena, agradecendo a Thalassius, sentiu uma nova onda de esperança. "Eu vou conseguir," ela afirmou, antes de partir em busca dos ingredientes místicos, com a missão de salvar Douglas e corrigir o erro que ela causou.
A jornada de Sirena estava apenas começando, e ela sabia que seria longa e perigosa. No entanto, com a lágrima do peixe-dragão como seu primeiro item em mãos, ela nadava firme, determinada, rumo à próxima etapa de sua missão.
Após horas nadando pelas águas profundas, Sirena avistou uma caverna oculta, protegida por recifes de corais. Ela se aproximou com cautela, seus movimentos cuidadosos para não perturbar o delicado ecossistema ao redor. Dentro da caverna, encontrou um peixe-dragão repousando sobre uma cama de algas, sua presença serena irradiando poder. Suas escamas brilhavam com um tom prateado, refletindo as luzes suaves do fundo do mar, enquanto seus olhos, grandes e expressivos, pareciam carregar toda a sabedoria do oceano.
Com respeito, Sirena se aproximou lentamente, mantendo-se atenta ao comportamento do ser místico. "Grande peixe-dragão, venho em busca de sua ajuda," disse ela, sua voz cheia de reverência. "Preciso de uma de suas lágrimas para salvar um humano que foi afetado por minha canção."
O peixe-dragão abriu lentamente os olhos, fixando-os em Sirena. Havia uma tristeza profunda em seu olhar, e sua voz, suave e melodiosa, reverberou no fundo da caverna. "As lágrimas de um peixe-dragão são preciosas, nascidas da dor e da tristeza," ele respondeu. "O que te faz pensar que posso te conceder uma delas?"
A gravidade da missão de Sirena pesava sobre ela, mas ela não hesitou. "O humano, Douglas, está sofrendo por minha causa. Minha canção o enfeitiçou, e ele está preso em um tormento sem fim. Eu preciso corrigir meu erro, ajudar esse homem. Por favor, peço sua ajuda para salvá-lo."
O peixe-dragão a observou em silêncio por um longo momento, como se avaliando suas palavras e sua sinceridade. Finalmente, ele inclinou a cabeça, como se compreendesse sua dor. "Eu sinto sua sinceridade e seu arrependimento," disse ele, a voz ainda cheia de uma tranquilidade imutável. "Eu lhe darei uma lágrima. Mas lembre-se, Sirena, com grande poder, vem grande responsabilidade. Use-a com sabedoria."
Com essas palavras, o peixe-dragão fechou os olhos lentamente, e de seus olhos surgiu uma única lágrima cintilante, deslizando suavemente pelo seu rosto e caindo na palma de Sirena. Ela agradeceu com uma reverência profunda, segurando a preciosa gota com todo o cuidado que ela merecia.
Agora, com o primeiro ingrediente de sua missão completo, Sirena deixou a caverna do peixe-dragão. Seu coração se sentia mais leve, mas ela sabia que sua jornada estava longe de ser concluída. A busca por mais dois ingredientes ainda estava pela frente, e o peso da missão continuava a pesar sobre seus ombros.
Com a lágrima do peixe-dragão guardada com segurança, Sirena partiu em direção à próxima etapa da jornada: a busca pela pétala de coral fluorescente. Esse coral raro só podia ser encontrado nas regiões mais profundas e sombrias do oceano, onde poucas criaturas ousavam aventurar-se.
As horas passaram enquanto ela nadava cada vez mais fundo, a água ao seu redor se tornando mais fria e impenetrável. Mas, finalmente, ela avistou o que procurava: um campo de corais fluorescentes, suas luzes pulsando suavemente como estrelas nas profundezas do mar. Sirena soubera que havia chegado ao lugar certo.
Aproximando-se com extrema cautela, Sirena começou a examinar os corais, procurando pela espécie que produzia as pétalas brilhantes que ela precisava. A tarefa não seria fácil, pois o campo estava repleto de criaturas marinhas que protegiam ferozmente seu habitat. Pequenos peixes luminosos nadavam ao redor dos corais, criando padrões hipnotizantes de luz que tornavam o ambiente ainda mais encantador.
Finalmente, Sirena avistou o coral que procurava. Suas pétalas eram de um azul profundo, irradiando uma luz suave e etérea. No entanto, ela sabia que, para colher uma pétala sem prejudicar o coral, seria necessário um toque delicado e preciso. O coral fluorescente possuía defesas naturais poderosas, liberando toxinas prejudiciais se fosse perturbado.
Com paciência, Sirena estendeu a mão, movendo-se lentamente para não assustar o coral. Com um gesto firme e cuidadoso, ela cortou uma única pétala com uma concha afiada, garantindo que a estrutura do coral fosse preservada. Assim que a pétala foi removida, o coral se fechou, suas luzes diminuindo, como se o próprio mar estivesse guardando o segredo que ela havia extraído.
Com a pétala de coral fluorescente agora segura em suas mãos, Sirena guardou o precioso item, ciente de que ela estava um passo mais perto de completar sua missão. Mas ainda restava a parte mais difícil e perigosa da jornada: encontrar a essência da pérola negra das profundezas.
Sirena guardou a pétala de coral fluorescente com o mesmo cuidado que teve com a lágrima do peixe-dragão. Um alívio percorreu seu corpo ao saber que dois dos ingredientes estavam agora sob sua posse. Mas ainda restava a parte mais difícil da missão: a essência da pérola negra das profundezas. Era o ingrediente mais raro e perigoso, e ela sabia que a busca por ele exigiria toda a sua força e coragem.
Com a pétala guardada com segurança, Sirena se lançou na jornada para encontrar a pérola negra. Ela sabia que a missão não seria fácil, mas a imagem de Douglas, perdido em sua obsessão e tormento, a impulsionava a seguir. Cada braçada era guiada pela esperança de libertá-lo.
As águas estavam se tornando cada vez mais escuras à medida que ela se aprofundava. O sol não conseguia mais penetrar, e a pressão ao seu redor aumentava com cada metro descido. Mas Sirena não se deixou abalar. Chegou a um abismo no fundo do oceano, onde os antigos diziam que as pérolas negras eram formadas. Ali, ela se manteve alerta, ciente de que essa seria a parte mais arriscada de sua busca.
Nadando entre rochas escarpadas e correntes traiçoeiras, Sirena avistou uma ostra gigante, de onde emanava uma luz suave e misteriosa. Ela sabia que aquele seria o local que buscava. A ostra, com suas formas majestosas, escondia o tesouro mais valioso do oceano.
Aproximando-se com cautela, Sirena sentiu uma mudança no ambiente. Algo estava se movendo nas sombras. De repente, criaturas marinhas com dentes afiados e olhos brilhantes emergiram, prontas para defender seu território. Sirena recuou, sabendo que uma luta direta seria fatal. A solução estava em sua música.
Com serenidade, ela começou a cantar uma melodia suave, que se espalhou pelas águas ao seu redor. Sua canção era de paz, uma melodia que acalmava a alma. As criaturas marinhas, enfeitiçadas pela harmonia, começaram a se afastar lentamente, suas hostilidades dissipadas pela beleza da música.
Com o caminho agora livre, Sirena se aproximou da ostra com cuidado. Ela a abriu com uma delicadeza única, revelando dentro dela uma pérola negra que irradiava uma luz etérea. Sirena sentiu o peso de sua tarefa e, com um suspiro de alívio, extraiu a essência da pérola: uma gota de líquido negro que continha poderes profundos e antigos. Agora, todos os ingredientes estavam em suas mãos.
Com sua missão quase completa, Sirena começou a nadar de volta à caverna de Thalassius. Cada braçada era pesada com a responsabilidade que carregava. Ela sabia que estava mais perto de salvar Douglas, mas também ciente de que o tempo não estava ao seu favor.
Enquanto isso, Douglas lutava contra a maldição. Sua mente estava sendo consumida por visões do mar. A atração pelas águas se tornara irresistível, e ele sentia que sua saúde física e mental estava se deteriorando a cada dia. Ele passava horas no mar, perdido em pensamentos e devaneios, sem conseguir se concentrar em nada. Suas refeições se tornaram esporádicas, e seu corpo começava a mostrar os sinais do desgaste.
Os colegas de Douglas começaram a perceber sua ausência e seu comportamento errático. Sua pesquisa estava interrompida constantemente pelos sussurros do oceano, e sua incapacidade de focar no trabalho tornava-se mais evidente. Ele se tornava uma sombra do homem que fora, afundando cada vez mais sob o peso da maldição que o consumia.
Sirena nadava com determinação, o tempo sendo seu inimigo. Cada segundo contava, e ela sabia que sua missão estava perto de um fim. Ela faria de tudo para corrigir seu erro e libertar Douglas do tormento em que ele estava preso. O destino deles agora estava entrelaçado, e Sirena não descansaria até que ele fosse livre.
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