Sussurros do Mar Capítulo 5
MEMÓRIAS
Douglas e Suas Lembranças
Douglas acordou com a suave luz do sol matinal atravessando as janelas quebradas do quarto. A luz, filtrada por fragmentos de vidro, preenchia o ambiente com um brilho suave e acolhedor. Ele se levantou da cama, ainda sentindo o peso da noite passada, e caminhou lentamente até uma gaveta velha, ligeiramente deslocada no canto da sala.
Ao abrir a gaveta, suas mãos encontraram algo mais pesado do que esperava. Era uma foto envelhecida, amarelada pelo tempo, mostrando-o ainda jovem, ao lado de um homem de expressão firme e olhos cheios de bondade. Seu pai. Douglas tocou a foto com a ponta dos dedos, como se procurasse sentir a presença daquele que sempre o guiou com sabedoria.
“Meu pai sempre dizia que se você trabalhar com o que ama, o amor nunca te abandonará,” murmurou Douglas, sua voz quase um suspiro. “E, de certa forma, ele estava certo. Mas nunca imaginei que isso significaria lutar contra tempestades e seres místicos por amor.”
Sentado na beira da cama, com a foto ainda em suas mãos, seus pensamentos viajaram para os dias em que era apenas um jovem sonhador, acreditando que sua paixão pela biologia marinha era tudo o que ele precisava para ser feliz. Agora, depois das tempestades e dos desafios sobrenaturais que enfrentou, a vida se tornara algo mais complexo. Mas a sabedoria e o amor de seu pai ainda estavam com ele, como uma bússola, guiando-o de formas inesperadas.
Ele guardou a foto na gaveta e se dirigiu para a janela, observando o mar. O mar, que agora se tornava uma parte indissociável de sua vida, e ao mesmo tempo, representava tudo o que ele havia perdido e ganhado.
"O que será do futuro agora?" ponderou ele. "Será que o amor que sinto por Sirena pode superar qualquer obstáculo? A tempestade que nos separou... Será que nosso amor pode realmente resistir a isso?"
Douglas olhou ao redor do quarto, agora em ruínas. Uma nova determinação surgiu dentro dele. Se havia uma lição que ele aprendera, era que o amor verdadeiro era o que realmente importava, e ele estava disposto a lutar por isso, não importa o que viesse a seguir.
Sentado na beira do cais, seus pés balançando sobre o vazio, a alguns centímetros das águas agitadas, o mar se estendia diante dele. Suas ondas quebravam contra os pilares do cais, cada uma delas como uma lembrança de suas próprias lutas e vitórias.
"O que será do futuro agora?" ele se perguntava novamente.
"Será que o amor que sinto por Sirena pode superar qualquer obstáculo? A tempestade que nos separou... Será que nosso amor pode realmente resistir a isso?"
O silêncio do mar parecia conspirar com seus pensamentos, oferecendo uma pausa tranquila entre os ecos de suas memórias e as incertezas do amanhã. Douglas pensou na primeira vez que viu Sirena, sua beleza etérea e a inexplicável conexão que sentiram. Ele lembrou das conversas, dos momentos compartilhados, e da forma como ela o fez sentir algo que ele nunca havia experimentado antes.
O mar estava calmo agora, em contraste com a tempestade que havia devastado a ilha. Douglas sentia como se as marés também refletissem as marés de sua vida — a agitação seguida pela calma, a esperança renovada. Ele pensava em como seu amor por Sirena não era apenas uma paixão, mas algo mais profundo e transformador, algo que desafiava todas as suas expectativas sobre a vida e o destino.
"Se eu pudesse voltar no tempo, faria tudo novamente para estar ao lado dela," ele pensou, com uma determinação renovada. "Não importa o que aconteça, vou lutar por esse amor. Não há nada mais importante para mim agora."
Douglas se levantou, com um novo senso de propósito. Ele sabia que precisava fazer mais do que simplesmente esperar. Precisava agir, lutar e provar que o amor verdadeiro pode resistir às adversidades mais cruéis.
Com passos firmes, ele se afastou do cais, sua mente focada na próxima etapa de sua jornada. Ele sabia que estava se aproximando de uma nova era, onde o amor e a esperança estariam entrelaçados com a coragem e a determinação para enfrentar o que estava por vir.
Ele se dirigiu de volta à casa, onde Sirena o esperava.
O oceano estava calmo naquele recanto escondido, a luz do sol filtrando-se em tons dourados e verdes pelas águas, criando um cenário sereno e tranquilo. Sirena nadava com uma graça etérea, seus movimentos suaves e fluidos, como se fosse uma extensão do próprio mar. Ela encontrou um pequeno espaço entre corais coloridos, onde tudo ao seu redor parecia estar em perfeita harmonia com seus pensamentos.
Ela se acomodou no fundo arenoso, observando as bolhas de ar que subiam lentamente até a superfície. As lembranças de sua vida, de sua mãe e do desejo profundo de se tornar humana, inundavam sua mente. Ela se recordava das histórias de sua infância, dos sonhos que a levaram a fazer o pacto com a entidade do mar e da esperança de uma liberdade que parecia sempre fora de alcance.
Com um suspiro profundo, ela começou a cantar uma melodia suave. Sua canção ecoava pelo oceano, uma expressão de esperança e amor que ressoava entre os corais e nas profundezas do mar. A música fluía como um reflexo de sua alma, espalhando ondas de tranquilidade por toda parte.
"Liberdade, oh doce liberdade,
No mar ou na terra, onde quer que eu vá,
Meu coração anseia, meu espírito clama,
Por um amor que não pode ser apagado."
A melodia carregava a essência de seus sentimentos por Douglas, uma mistura de esperança por um futuro juntos e a dor da separação. Cada nota era um desejo profundo, uma promessa de que, apesar de tudo, o amor que ela sentia por ele continuaria a brilhar como uma luz nas profundezas escuras do oceano.
Enquanto cantava, Sirena sentia a presença de sua mãe, o peso das regras e da tradição que a cercavam. Porém, em meio a isso, também sentia a força do amor que nutria por Douglas, um amor que a desafiava a lutar contra tudo o que lhe fora imposto.
Ela parou de cantar e olhou para o horizonte, onde o oceano se estendia até onde a vista podia alcançar. A beleza do mar refletia seus próprios desejos — a esperança de que o futuro pudesse trazer uma solução para seus dilemas. Sirena sabia que precisava encontrar uma maneira de superar as barreiras impostas e fazer com que seu amor por Douglas fosse aceito e, quem sabe, celebrado.
Com um último olhar para o horizonte, ela nadou em direção ao fundo do mar, onde novos desafios e aventuras a aguardavam. Sua determinação era inabalável. Sirena estava pronta para lutar por seu amor, não importando o que fosse necessário.
Mergulhando pelas águas cristalinas, seu coração estava pesado com a responsabilidade que carregava. A caverna onde sua mãe residia emanava uma luz etérea, com paredes adornadas por corais ancestrais e pérolas luminosas que criavam um ambiente de sabedoria e poder. Sirena se aproximou, pronta para enfrentar a mãe e tomar as rédeas de seu destino, buscando um caminho que permitisse a ela viver seu amor com Douglas, sem mais restrições.
A Mãe de Sirena aguardava, envolta em uma aura intensa que fazia o espaço ao seu redor vibrar com uma energia ancestral. Sua forma era imponente, com uma coroa de corais que refletia a luz de maneira etérea, e sua presença exalava autoridade, como a força imutável das águas profundas.
Sirena se aproximou, seus olhos firmes, mas cheios de incerteza. Ela sabia que este momento seria crucial, tanto para ela quanto para seu destino. Falando com um tom grave, disse:
Sirena: “Mãe, eu vim buscar sua orientação. Não apenas sobre Douglas, mas sobre o que isso significa para mim, para nós, para o nosso povo.”
A Mãe de Sirena a observou com um olhar penetrante, um olhar que parecia pesar cada palavra com séculos de sabedoria. Sua voz, quando falou, ressoou no ambiente, carregada de melancolia e uma sabedoria profunda, como se a própria essência do oceano estivesse falando através dela.
Mãe de Sirena: “Você se enredou em um dilema profundo, minha filha. A confiança em um humano é uma questão que desafia nossas tradições. Humanos são conhecidos por sua fragilidade e, muitas vezes, por sua natureza traiçoeira. O que você vê em Douglas que faz você ignorar os avisos que lhe foram dados?”
Sirena sentiu um peso no coração, mas sua voz permaneceu firme, apesar da dúvida. Ela não podia negar a conexão que sentia com Douglas, nem as esperanças que ela alimentava.
Sirena: “Eu vejo nele algo que não é como os outros humanos. Ele me mostrou bondade e um coração puro. Mas eu estou dividida entre a proteção das tradições e o amor que sinto por ele. É o amor verdadeiro ou apenas uma ilusão passageira?”
A Mãe de Sirena se manteve em silêncio por um momento, refletindo, como se o dilema de sua filha fosse um espelho de questões antigas, que reverberavam desde os tempos imemoriais. As ondas do mar sussurravam ao fundo, como se a própria natureza estivesse aguardando uma resposta.
Mãe de Sirena: “A confiança é uma moeda rara entre os humanos e os seres de nosso mundo. Eles têm seus próprios conflitos, seus próprios dilemas, que muitas vezes são opostos aos nossos. A tradição que você desafiou serve para proteger, não só nossos corações, mas também a harmonia de nosso mundo. Se você escolhe amar um humano, está também desafiando essas regras e colocando em risco o equilíbrio que mantemos.”
O peso das palavras da mãe de Sirena pairou no ar, como as correntes traiçoeiras que existiam nas profundezas do oceano. A escolha de Sirena não afetava apenas a ela, mas também tudo o que ela conhecia.
Sirena: “Mas o amor... Não deve ele ser capaz de transcender essas regras? Não é a verdadeira essência do amor aquilo que nos leva a desafiar o que conhecemos, a buscar o que é mais profundo e mais verdadeiro?”
A Mãe de Sirena olhou para sua filha, seus olhos refletindo a complexidade da situação. O silêncio tomou conta do espaço, e por um longo momento, nenhuma das duas falou. A água ao redor parecia suspensa, esperando por palavras que poderiam mudar o destino de todos.
Mãe de Sirena: “O amor é uma força poderosa, mas também pode ser um caminho para a dor e a desilusão. Nossos ancestrais criaram essas regras para evitar que corações fossem partidos e para proteger a integridade de nossa existência. Seu amor por Douglas é genuíno, mas você deve ponderar se está disposta a desafiar toda uma tradição para seguir seu coração.”
Sirena ouviu as palavras de sua mãe, mas algo dentro dela estava mais forte que qualquer advertência. Ela sabia que a verdadeira luta não era contra as regras de seu povo, mas contra os próprios limites do que acreditava ser possível.
Sirena: “Eu estou disposta. Eu só preciso entender se esse amor é forte o suficiente para enfrentar os desafios que virão.”
A Mãe de Sirena olhou para ela, a ternura em seus olhos misturada com uma tristeza profunda. Era como se soubesse que essa era a decisão mais difícil de todas, e que não havia retorno após ela ser tomada.
Mãe de Sirena: “Se você escolher seguir esse caminho, saiba que a jornada será repleta de dificuldades. Sua decisão refletirá não apenas em você, mas em todos ao seu redor. A escolha é sua, e você deve estar preparada para as consequências.”
Com um último olhar, a Mãe de Sirena desapareceu nas profundezas do oceano, sua presença se dissolvendo nas sombras das águas. Sirena ficou ali, sozinha, mas com uma nova compreensão do dilema que enfrentava. Ela sabia que, independentemente da escolha que tomasse, as implicações seriam profundas e duradouras.
Com seu coração fortalecido pela decisão, Sirena se afastou da caverna, determinada a enfrentar os desafios que viriam. Seu amor por Douglas era inabalável, e ela sabia que suas escolhas moldariam o futuro de todos ao seu redor. Mas uma coisa estava clara: ela faria de tudo para viver esse amor, enfrentando as adversidades com coragem e esperança renovada.
A lareira queimava suavemente, seu crepitar suave preenchendo a caverna com um calor acolhedor. Sirena estava sentada em um tapete de algas marinhas, as pernas cruzadas e os olhos fixos nas chamas dançantes. O calor da lareira contrastava com a frieza das águas que ela conhecia tão bem, criando uma sensação de aconchego que parecia desarmar sua alma.
À sua frente, a Mãe de Sirena estava sentada de forma majestosa, sua figura ondulante refletindo a luz suave da chama. Sua postura exalava autoridade, mas havia uma suavidade em sua presença que parecia denotar uma abertura rara.
Sirena: “Mãe, tenho refletido muito sobre o que discutimos. Às vezes, sinto como se estivesse dividida entre dois mundos, entre o que sou e o que desejo ser.”
A Mãe de Sirena olhou para sua filha com olhos penetrantes, sua voz profunda e repleta de sabedoria ao responder.
Mãe de Sirena: “A divisão entre o que somos e o que desejamos ser é uma parte do crescimento, minha filha. As tradições e os valores que seguimos têm uma razão de ser, e muitas vezes, elas nos orientam, mesmo quando o coração deseja algo diferente.”
Sirena suspirou, sentindo o peso de suas palavras. Ela estava em um ponto de inflexão, um momento que a faria repensar tudo o que acreditava e queria para o futuro.
Sirena: “Eu vejo isso agora, mais claramente. As regras que seguimos foram criadas para nos proteger, mas às vezes, sinto que elas também nos prendem. Meu amor por Douglas desafia essas regras, e eu me pergunto se estou cometendo um erro ou se estou apenas encontrando uma nova forma de seguir o caminho que deve ser traçado.”
A Mãe de Sirena sorriu de maneira serena, seu sorriso refletindo uma compreensão profunda. Ela se levantou lentamente, suas movimentações suaves como se fosse parte do mar, e começou a andar pela caverna. Cada passo dela parecia fluir com a água.
Mãe de Sirena: “O amor é uma força que pode transcender muitas barreiras. Mas lembre-se, minha filha, que desafiar as tradições não significa necessariamente rejeitá-las. Pode ser uma forma de reinterpretá-las, de encontrar um novo equilíbrio.”
Sirena permaneceu em silêncio por um momento, absorvendo as palavras de sua mãe. A dúvida ainda persistia, mas havia algo de libertador na maneira como sua mãe falava sobre as escolhas.
Sirena: “Então, o que eu devo fazer? Devo seguir meu coração, mesmo que isso signifique ir contra tudo o que conhecemos?”
A Mãe de Sirena se virou para ela, seus olhos refletindo a imensidão do oceano e uma sabedoria ancestral.
Mãe de Sirena: “Você deve seguir o que acredita ser o caminho certo para você. Não há uma resposta única para todos, e cada escolha traz consigo suas próprias consequências. O importante é que você esteja em paz com sua decisão e pronta para enfrentar o que vier.”
Sirena olhou para a lareira, a luz do fogo projetando sombras dançantes nas paredes, e sentiu que, mesmo com o futuro ainda incerto, sua mente começava a clarear. As palavras de sua mãe haviam trazido um senso de propósito renovado, mas a estrada à frente ainda era desconhecida.
Sirena: “Eu sinto que estou começando a entender. O que quer que aconteça, farei o que eu sentir ser certo, e enfrentarei as consequências com coragem.”
A Mãe de Sirena se aproximou, sua presença como um farol de estabilidade, e colocou uma mão suave sobre o ombro de sua filha. O gesto transmitia apoio silencioso, uma promessa de que, independentemente do caminho, Sirena sempre teria uma base firme sobre a qual se apoiar.
Mãe de Sirena: “Então, siga em frente com o coração aberto e a mente focada. Lembre-se de que, independentemente das escolhas que você faz, você sempre terá uma parte de nós com você.”
Sirena: “Obrigado, mãe. Sua sabedoria sempre me guia, mesmo quando eu não a entendo completamente.”
Com essas palavras, a conversa chegou ao fim. A luz da lareira continuou a lançar seu brilho suave sobre a caverna, criando um momento de tranquilidade que parecia imune ao turbilhão de sentimentos dentro de Sirena. Ela sabia que, ao deixar aquele refúgio de conselhos e sabedoria, ela voltaria à realidade das dificuldades que ainda teria que enfrentar. Mas, de alguma forma, agora estava mais preparada para seguir em frente.
Ela se levantou, mais confiante, com a mente cheia de resoluções. O amor, a sabedoria, e o desafio aguardavam-no à frente. E com coragem renovada, ela estava pronta para lutar pelo futuro que desejava.
-
Na Literaz, a leitura gratuita é possível graças à exibição de anúncios.
-
Ao continuar lendo, você apoia os autores e a literatura independente.
-
Obrigado por fazer parte dessa jornada!