Sussurros do Mar Capítulo 3
Sirena preparou o antídoto com precisão, seus dedos se movendo com agilidade enquanto misturava os ingredientes místicos sob a orientação de Thalassius. O líquido resultante brilhava suavemente, emitindo uma luz tênue, pulsando como se estivesse vivo, quase respirando em sua mão. Cada gota parecia carregar uma energia ancestral, e Sirena sentiu o peso da responsabilidade em suas costas. Ela sabia que aquela mistura poderia ser a última chance de Douglas, a única maneira de libertá-lo da maldição que o consumia.
Com esperança renovada, ela se dirigiu ao local onde Douglas estava deitado. Ele ainda estava fraco, inconsciente, sua respiração irregular. Sirena se aproximou dele com cuidado, a mistura em suas mãos. Sentiu o coração bater mais forte ao ver seu rosto, marcado pela dor e pelo tormento, mas agora aliviado pela promessa de recuperação. Com muito cuidado, ela administrou o antídoto, observando cada movimento do corpo de Douglas enquanto a essência mágica penetrava em sua pele.
A transformação foi lenta, quase imperceptível à primeira vista. A cor da pele de Douglas começou a retornar ao normal, e seu ritmo respiratório se estabilizou gradualmente. Sirena se manteve ao seu lado, esperando pacientemente que ele despertasse, mas também ciente de que ainda havia um longo caminho pela frente. Embora os sinais de recuperação fossem evidentes, ele ainda estava fraco, vulnerável, e Sirena sabia que o processo de cura não terminaria ali.
Nos dias que se seguiram, ela permaneceu ao lado dele, cuidando de suas necessidades com uma dedicação silenciosa. As horas passaram tranquilamente, preenchidas com pequenos gestos de cuidado e compaixão. Sirena passou a explorar a casa de Douglas, observando seus livros, suas coleções e as pequenas coisas que ele tinha. A paixão de Douglas pela ciência a fascinava, e ela se encantava com a maneira como ele colecionava as coisas simples da vida. Cada objeto, cada livro, parecia conter um pedaço de sua alma.
Foi nesse ambiente tranquilo e silencioso que Sirena começou a perceber algo novo dentro de si. O sentimento que surgia, tênue no começo, foi crescendo aos poucos. Não era apenas uma atração superficial pela aparência de Douglas, mas algo mais profundo. Ela se via atraída não apenas por sua beleza física, mas pela mente curiosa que ele possuía, pela chama de determinação que brilhava em seus olhos. O espírito indomável de Douglas a cativava de uma maneira que ela não conseguia explicar. A conexão entre eles começou a se fortalecer, e Sirena sentia sua presença como algo que preenchia um vazio que ela não sabia que existia.
A cada dia, ela passava mais tempo ao lado de Douglas, lendo os livros que ele deixava, refletindo sobre os pensamentos e interesses que ele compartilhava. Mesmo em silêncio, ela se sentia mais próxima dele. Cada pequena interação entre eles se tornava um vínculo mais forte, e, aos poucos, o sentimento de amor que crescia dentro dela a envolvia por completo.
Finalmente, depois de alguns dias, Douglas despertou. Seus olhos se abriram lentamente, como se estivesse voltando de um longo sono. Ele se encontrou em uma cama que não reconhecia, o ambiente ao seu redor estranho e distante. Confuso, ele tentou se levantar, mas sentiu uma fraqueza nas pernas, um cansaço profundo que parecia tomar conta de seu corpo. Ele olhou em volta, tentando entender onde estava, e então seu olhar se fixou em Sirena, que estava ao seu lado. A visão dela, com seus cabelos brilhando suavemente à luz, fez seu coração acelerar, mas também o assustou.
Sirena percebeu que ele estava acordado e se aproximou com um sorriso suave. "Douglas, você está acordado," ela disse, sua voz tranquila e acolhedora, um toque de alívio na tonalidade.
Douglas, ainda atordoado e fraco, olhou para ela com uma mistura de surpresa e desconfiança. "Quem... quem é você?" A voz dele estava rouca e fraca, quase irreconhecível.
"Eu sou Sirena," respondeu ela com suavidade, segurando sua mão com gentileza, buscando transmitir confiança e calma. "Eu cuidei de você enquanto estava adoeceu. Você estava muito fraco e eu fiz tudo o que pude para ajudar."
Enquanto ele ouvia sua voz, uma sensação estranha de familiaridade tomou conta de Douglas. Era como se aquela voz, suave e melodiosa, o conectasse diretamente à canção que ele tinha ouvido em seus sonhos, aquela melodia que o atormentava e o atraía sem que ele soubesse por quê. Ele estava confuso, mas também encantado pela presença dela. Algo dentro de si o atraía para ela de uma maneira que ele não conseguia explicar.
"Você... você é real," ele murmurou, a dúvida ainda evidente em seus olhos. "Eu pensei que fosse apenas um sonho."
Sirena sentiu um aperto no coração ao ouvir suas palavras. Sua canção, algo que ela pensava ser uma simples expressão de sua essência, agora tinha causado um impacto tão profundo em Douglas que ele o considerava um sonho. Ela não sabia ao certo como se sentia sobre isso — mas o arrependimento era inegável. Mesmo assim, ela permaneceu calma e respondeu com sinceridade. "Eu sou real," disse ela suavemente, sua voz carregada de remorso. "E sinto muito. Não sabia que minha canção te afetaria assim."
Douglas fechou os olhos, como se estivesse lutando contra uma dor interna. A melodia ainda ecoava em sua mente, assim como a atração irresistível pelo mar. Ele não sabia como isso tudo se encaixava, mas o que ele sabia era que Sirena era agora parte desse estranho e intenso turbilhão em sua vida.
Os dias seguintes foram marcados por uma crescente conexão entre Douglas e Sirena. A recuperação de Douglas foi notável, e com isso, os sentimentos que ele nutria por Sirena se intensificaram a cada momento que passavam juntos. Ele se maravilhava com a gentileza e a beleza dela, sua presença parecia curar as feridas profundas de sua alma. Sirena, por sua vez, se via atraída não apenas pelo aspecto físico de Douglas, mas pela complexidade de seu espírito e pela curiosidade genuína que ele tinha pelo mundo, algo que ela achava fascinante. A cada dia, o vínculo entre os dois se aprofundava, tornando-se algo mais forte, mais real.
Entretanto, o tempo, que até então parecia acompanhar o ritmo tranquilo da vida na ilha, começou a mudar. O céu que antes estava claro e convidativo, agora se tornava gradualmente sombrio. Nuvens pesadas e carregadas começaram a se formar no horizonte, obscurecendo a luz do sol. A atmosfera parecia carregada de uma tensão invisível, como se o mundo ao redor se preparasse para algo grande, algo inevitável.
Sirena e Douglas estavam sentados perto da janela, conversando sobre os mistérios do mar, quando, de repente, o vento uivou com força, interrompendo o fluxo tranquilo de suas palavras. O som das ondas, que antes eram reconfortantes, agora se tornava ameaçador. As primeiras gotas de chuva caíram, seguidas de uma rajada de vento que balançou as árvores. O que começou como um simples vento se transformou em uma tempestade feroz.
Douglas levantou-se rapidamente, tentando fechar as janelas, mas a tempestade piorava a cada segundo. O mar, antes calmo, se agitou violentamente, batendo contra as rochas da costa com uma força imensa. As ondas cresciam, tornando-se cada vez mais altas, como se o próprio oceano tivesse se tornado uma entidade enfurecida. A tempestade parecia ter vida própria.
Sirena, tentando manter a calma, se aproximou de Douglas. Eles se olharam por um momento, sentindo o medo e a urgência da situação. Ela tentou proteger Douglas, usando sua força para afastá-lo das janelas, enquanto o mar avançava, invadindo a casa. A água se acumulava rapidamente, e as ondas se chocavam contra as paredes, como se quisessem destruir tudo que encontravam pela frente.
Douglas tentou manter-se firme, agarrando Sirena com força enquanto o mar parecia invadir a terra, uma força incontrolável e implacável. A casa, que antes parecia segura, agora se tornava um ponto vulnerável diante da violência da natureza. Sirena tentou protegê-lo, mas a força do mar não cedia.
Então, em um instante de pânico, uma onda gigantesca se formou. Ela estourou contra a casa, fazendo as paredes tremerem e a água invadir tudo ao redor. Sirena foi arrastada para longe, puxada com força pela correnteza furiosa. Ela lutou contra o peso da água, tentando se manter próxima a Douglas, mas as correntes a puxavam para o fundo, cada vez mais distante.
Douglas gritou seu nome, estendendo os braços desesperados na direção dela, mas foi em vão. Sirena foi engolida pela tempestade, desaparecendo nas profundezas do mar com uma rapidez assustadora. Ele ficou paralisado, incapaz de fazer nada enquanto ela era arrastada para longe. A tempestade parecia ter uma vontade própria, como se estivesse decidida a separar os dois, a afastar aquilo que se unira de maneira tão intensa.
À medida que a tempestade começava a diminuir, o mar lentamente se acalmava. A água que antes invadia tudo foi se retirando, mas a casa de Douglas estava em ruínas. O vento cessou, e o silêncio tomou conta da ilha. A fúria do mar havia passado, mas a dor e o vazio que ele deixou atrás de si eram profundos e insuportáveis.
Douglas, exausto e atordoado, correu para o exterior, seus olhos vasculhando a praia e as águas, procurando desesperadamente por Sirena. Ele chamou seu nome, mas não havia resposta. A dor em seu peito era esmagadora, e ele se sentiu completamente perdido. A conexão que ele havia formado com ela, tão real e intensa, parecia ter sido arrancada de sua vida com uma violência inexplicável.
A ilha estava calma novamente, mas a perda de Sirena era palpável. Douglas, desolado, sentou-se na praia, seus olhos fixos no horizonte. Ele sabia que algo maior estava por trás da tempestade, que havia forças invisíveis controlando o destino deles. Ele sentiu que não seria o último a ser afetado por essas forças. Algo mais profundo e misterioso estava em jogo, algo que ainda não entendia.
Com o coração partido e a casa destruída, Douglas se levantou lentamente. Ele não sabia o que o futuro reservava, mas sabia que sua vida jamais seria a mesma sem Sirena. A perda dela o deixou marcado, mas ele também sabia que, de alguma forma, o destino deles ainda não havia sido selado. A busca por respostas apenas começava, e ele estava determinado a descobrir o que mais o universo tinha reservado para ele, para Sirena, e para o misterioso laço que os unia.
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