Sussurros do Mar Capítulo 4
Douglas despertou entre os escombros, sua visão ainda turva, tentando processar a devastação ao seu redor. A cidade, antes vibrante, agora era um cenário de caos e destruição, vítima da fúria da tempestade e do mar implacável. As ondas haviam levado tudo, deixando um rastro de ruínas. Mas, por algum motivo, o peso do luto que o consumia estava começando a se dissipar. Seus olhos, antes cegos pela dor e pela perda de Sirena, agora estavam focados, vendo as coisas de maneira diferente, com uma clareza inesperada.
Ele sabia que precisava recuperar Sirena. O amor que sentia por ela o impulsionava a fazer o que fosse necessário, a buscar respostas, a encontrar uma maneira de reverter o que tinha acontecido. Enquanto percorria os destroços, seus pensamentos se voltaram para os livros antigos que tinha encontrado, aqueles que falavam de rituais esquecidos e sabedoria ancestral. Além disso, havia as orientações do velho eremita da ilha, que lhe dissera sobre a Entidade do Mar — uma força antiga que governava os mares e que, talvez, pudesse ajudar a reverter o destino trágico que havia separado Sirena e ele.
Com esses fragmentos de conhecimento, Douglas se lançou em uma busca implacável por respostas. Depois de estudar incansavelmente, ele descobriu um ritual ancestral para invocar a Entidade do Mar, um feitiço de enorme poder que, se realizado corretamente, poderia trazer à tona uma força capaz de mudar o curso dos acontecimentos. Armado com a coragem renovada e com uma vontade inquebrantável, ele se preparou para realizar o ritual, decidido a recuperar a mulher que amava e corrigir os erros do passado.
A cerimônia foi marcada para uma praia deserta, o cenário ideal para a invocação. Douglas desenhou símbolos antigos na areia com uma precisão reverente, lembrando-se das instruções que lera nos livros. Ele reuniu os itens necessários para o ritual — conchas raras, essências do mar e a energia que ainda restava em seu coração. Ele sabia que não podia falhar. Sua mente estava focada em um único objetivo: trazer Sirena de volta.
Enquanto o sol começava a se pôr, a água do mar ao redor começou a se agitar. As ondas, que antes estavam calmas, começaram a se mexer como se respondessem à energia que ele havia invocado. O vento uivava ao seu redor, e, de repente, uma figura líquida começou a se formar diante dele, uma silhueta feminina emergindo das águas. Ela estava vestida com uma coroa de corais, refletindo a luz do sol com um brilho etéreo, enquanto sua forma ondulava como se fosse feita de pura água.
A Entidade do Mar olhou para Douglas com uma expressão de calma imperturbável. Seus olhos, feitos da mesma água cintilante, observavam-no com uma serenidade ameaçadora. Ela falou em um tom profundo e ressonante, como se sua voz fosse a própria força do mar: "Você ousa me desafiar, humano?"
Douglas, sentindo um arrepio ao ser confrontado por aquela presença de poder imensurável, respondeu com uma determinação feroz, sem hesitar: "Sim! Eu desafio você a um desafio de amor! Faça o que for necessário, mas me deixe ter a chance de lutar por ela, por Sirena!"
A Entidade o observou em silêncio por um momento, seu corpo líquido ondulando como se estivesse considerando suas palavras. Então, com um movimento lento, ela aceitou o desafio. Seus olhos brilharam com uma luz enigmática, refletindo um misto de curiosidade e aviso. "Então, que comece a luta, humano."
Com um gesto amplo, a Entidade invocou uma prisão de água ao redor de Sirena, que apareceu imediatamente, visivelmente perturbada. Ela estava em sua verdadeira forma, com escamas cintilantes, a beleza do mar em sua essência. A dor foi imediata para Douglas. Ver Sirena ali, prisioneira da água, fez seu coração se apertar, mas sua determinação só cresceu. Ele a amava e, pela primeira vez, viu claramente o quanto ela significava para ele. Sua luta seria pela liberdade dela, pela sua vida ao lado dela.
"Por favor, mãe, não faça isso!" Sirena gritou, suas palavras misturando-se com o som das ondas. Ela estava desesperada, mas sabia que não poderia se libertar sozinha. A angústia de vê-la em sofrimento só aumentou o peso da responsabilidade de Douglas. A luta agora era mais do que um desafio: era uma batalha pelo amor que compartilhavam.
Com um movimento grandioso, a Entidade do Mar criou um monstro marinho colossal, uma criatura que mais parecia uma sombra do próprio oceano, com tentáculos enormes e dentes afiados como lâminas. O monstro avançou em direção a Douglas, que se preparou para enfrentá-lo com todas as forças que ainda tinha.
A batalha foi brutal. Douglas, um simples humano, estava em desvantagem, mas sua coragem e amor por Sirena o tornaram imbatíveis, mesmo diante da monstruosidade diante dele. Ele lutou com uma fúria cega, tentando se defender dos golpes impiedosos da criatura, mas a batalha estava longe de ser justa.
Sirena, presa na sua prisão de água, observava com desespero. Ela via a dor e o cansaço estampados no rosto de Douglas, seus movimentos ficando cada vez mais lentos. O monstro marinho parecia imbatível, e a luta entre eles se arrastava, deixando Douglas cada vez mais exausto.
Em um momento de fraqueza, a criatura acertou um golpe fatal, derrubando Douglas. Ele se levantou com dificuldade, o corpo sangrando e a mente em desespero. A visão de Sirena, aprisionada e sofrendo, era o que o mantinha de pé. Ele sabia que tinha que vencer, que a única maneira de libertá-la era derrotando aquele monstro, não importava o preço que tivesse que pagar.
A luta parecia interminável. Cada golpe do monstro marinho parecia mais devastador do que o anterior. Douglas estava ferido e exausto, suas forças diminuindo a cada segundo. Mas ele não podia desistir. Sirena estava lá, ao alcance de sua mão, e ele sabia que sua única chance de libertá-la era derrotar aquele ser monstruoso.
Finalmente, após um golpe brutal, Douglas caiu de joelhos na areia, seu corpo completamente exausto e coberto de ferimentos. O monstro recuou por um momento, dando-lhe uma breve pausa. Com esforço, ele se arrastou até onde Sirena estava presa na sua prisão de água. A visão dela, aprisionada e sofrendo, foi o que o manteve em movimento, mesmo quando seu corpo estava prestes a ceder.
Sirena, embora visivelmente fraca, olhou para ele com olhos cheios de dor e desespero. Quando seus olhares se cruzaram, Douglas, com a voz fraca e ofegante, finalmente conseguiu expressar o que sentia. "Eu faria tudo novamente para te salvar," ele disse, sua voz carregada de sinceridade e devoção. "Eu te amo, Sirena."
Essas palavras, simples e cheias de emoção, foram mais poderosas do que qualquer encantamento. A Entidade do Mar, que até então havia observado com impassibilidade, parecia vacilar. A sinceridade do amor de Douglas tocou algo profundo dentro dela. Ela olhou para a cena diante dela com uma mistura de indignação e reflexão, o que era incomum para uma criatura que costumava governar as águas com tamanha frieza.
Sirena, ainda aprisionada, sentiu a onda de emoção provocada pelas palavras de Douglas. O amor dele era inegável, e a dor que ele estava disposto a suportar por ela não poderia mais ser ignorada.
Após um momento de silêncio pesado, a Entidade do Mar se moveu, sua forma líquida ondulando como se estivesse processando as palavras que acabara de ouvir. Em um gesto inesperado, ela se aproximou e, com uma voz autoritária, mas suavizada por um toque de compaixão, falou: "Eu concederei uma chance para que o sorriso de Sirena seja restaurado," ela disse, sua voz ecoando com poder. "Mas, para validar seu amor, Sirena deverá passar um tempo proporcional no mar e na terra."
O ar pareceu pesar com essas palavras. Douglas e Sirena, que por tanto tempo estiveram separados, finalmente teriam a oportunidade de estar juntos, mas não sem sacrifícios. O destino de Sirena e sua conexão com o mar ainda seriam parte da história, mas agora, a chance de um futuro juntos parecia real.
Sirena foi libertada de sua prisão, e o olhar de alívio que trocou com Douglas fez seu coração se acelerar. O mar e a terra, agora interligados, formavam a base de uma nova jornada para eles. Mas o amor entre eles não era mais simples; era mais profundo e, de alguma forma, mais belo por causa dos desafios que haviam enfrentado.
E assim, o conto de amor entre Douglas e Sirena se encerra, não com um fim, mas com uma promessa. A promessa de que, apesar dos desafios que enfrentaram, o amor deles continuaria a florescer, independentemente de onde estivessem.
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