Uma Noite com o Mafioso Capítulo 4
A Primeira Ameaça
A semana parecia ter se arrastado para Gabriel, mas ele fazia o possível para manter a rotina e ignorar as lembranças constantes de Enzo. Desde o reencontro no evento beneficente, ele não conseguia afastar a intensidade daquele beijo, nem as palavras de alerta que o mafioso havia deixado. Cada vez que fechava os olhos, o rosto de Enzo invadia sua mente, e as dúvidas o consumiam. Ele estava dividido entre o desejo e a racionalidade, mas algo dentro dele dizia que as escolhas mais importantes da vida não eram feitas com lógica.
Naquela sexta-feira, Gabriel saiu do trabalho mais tarde que o habitual. O céu de São Paulo já escurecia, e o ar fresco da noite trazia um certo alívio após um dia estressante. Caminhando em direção ao estacionamento, ele sentiu um desconforto que não sabia explicar. Era como se estivesse sendo observado, uma sensação persistente que o fazia olhar por cima do ombro a cada passo.
Quando entrou na rua menos movimentada que levava até seu carro, o desconforto se intensificou.
Ele ouvia passos atrás de si, ritmados e deliberados. Gabriel tentou manter a calma, apressando discretamente o passo, mas os passos atrás dele fizeram o mesmo. O coração começou a acelerar, e ele sentiu a adrenalina tomar conta de seu corpo.
— Ei, advogado. — uma voz grossa soou atrás dele, carregada de ameaça.
Gabriel congelou no lugar. Antes que pudesse reagir, dois homens surgiram das sombras, bloqueando sua passagem. Ambos eram altos, com expressões duras e roupas escuras que os faziam parecer ainda mais intimidadoras.
— O que vocês querem? — perguntou Gabriel, tentando manter a voz firme, mas o tremor na última palavra o traiu.
— Só um aviso. — disse o homem maior, um sorriso cruel surgindo em seus lábios. — Fique longe de Enzo Bellucci. Ele não é o tipo de pessoa com quem alguém como você deve se envolver.
Gabriel deu um passo para trás, tentando criar alguma distância, mas o outro homem avançou, segurando-o pelo colarinho e o empurrando contra a parede.
— Achou que podia brincar com fogo sem se queimar, garoto? — rosnou ele. — Gente como você é descartável para caras como ele.
O medo tomou conta de Gabriel, e ele tentou lutar, mas os homens eram fortes demais. Sua mente disparou em um turbilhão de pensamentos, e ele já começava a aceitar que não sairia daquela situação sem se machucar. Até que uma voz gelada ecoou pela rua.
— Soltem ele. Agora.
Os dois homens pararam, a tensão no ar mudando instantaneamente. Gabriel virou a cabeça e viu Enzo parado a alguns metros, sua presença dominando a cena como se fosse uma força da natureza.
Ele estava impecavelmente vestido, mas seus olhos estavam sombrios, e sua postura irradiava perigo.
— Quem diabos é você para nos dar ordens? — perguntou um dos homens, embora sua voz já carregasse uma ponta de hesitação.
— Alguém que você não quer desafiar. — respondeu Enzo, com uma calma assustadora. — Eu vou dar uma última chance para vocês saírem daqui andando. Se não aceitarem, não sairão andando.
O homem que segurava Gabriel hesitou por um momento, mas seu ego o fez cometer um erro. Ele soltou Gabriel apenas para avançar em direção a Enzo, puxando uma faca do bolso. Antes que pudesse completar o movimento, Enzo foi mais rápido. Em um piscar de olhos, ele desviou, agarrou o braço do homem e o torceu em um ângulo impossível, fazendo-o gritar de dor. Com um movimento rápido, Enzo desarmou o agressor e o derrubou no chão com uma precisão letal.
O segundo homem tentou atacar, mas Enzo já estava preparado. Ele o derrubou com um golpe preciso, e, antes que o sujeito pudesse reagir, Enzo se abaixou ao lado dele, murmurando algo que Gabriel não conseguiu ouvir. O homem imediatamente empalideceu, balançou a cabeça em um gesto de concordância frenética e, junto com seu comparsa, fugiu o mais rápido que pôde.
Enzo virou-se para Gabriel, que ainda estava encostado na parede, respirando com dificuldade. Ele parecia uma mistura de alívio e choque, incapaz de acreditar no que havia acabado de presenciar.
— Você está bem? — perguntou Enzo, aproximando-se com um tom mais suave do que Gabriel esperava.
Gabriel assentiu, embora suas mãos ainda tremessem. — Você... Como sabia que eu estava em perigo?
Enzo deu de ombros. — Tenho meus meios. — Ele o estudou por um momento antes de continuar. — Vamos. Você não pode ficar sozinho esta noite. Eles podem voltar.
Antes que Gabriel pudesse protestar, Enzo o guiou até um carro preto que o aguardava no fim da rua. Lorenzo, o homem que Gabriel reconheceu como o braço direito de Enzo, estava ao volante, mas não disse nada enquanto Enzo e Gabriel entravam no veículo.
A viagem foi silenciosa, mas Gabriel não conseguia tirar os olhos de Enzo. Ele queria perguntar tantas coisas, mas não sabia por onde começar. Quando finalmente chegaram ao destino, Gabriel ficou sem palavras.
A mansão de Enzo era imensa e imponente, com uma fachada clássica que exalava poder e sofisticação. Dentro, o luxo era quase opressor. Lustres brilhavam sobre móveis de madeira nobre e tapetes persas. Tudo parecia cuidadosamente escolhido para impressionar e intimidar.
— É aqui que você vive? — perguntou Gabriel, ainda atordoado.
— É onde durmo, quando posso. — respondeu Enzo, com um meio sorriso, enquanto tirava o paletó e o jogava sobre o sofá. — Sente-se. Você precisa se acalmar.
Gabriel obedeceu, embora sua mente estivesse em um turbilhão. Quando Enzo voltou com dois copos de uísque, ele finalmente decidiu quebrar o silêncio.
— Quem eram aqueles homens? — perguntou, aceitando o copo.
Enzo suspirou, passando uma mão pelos cabelos. — Rivais. Pessoas que acham que podem me atingir através de você.
— Por quê? Eu não sou ninguém no seu mundo. — insistiu Gabriel.
Enzo o encarou, sua expressão mais séria do que nunca. — É exatamente por isso que você é um alvo fácil. Eles acham que podem me desestabilizar te ameaçando.
Gabriel sentiu o peso das palavras de Enzo, mas, antes que pudesse responder, Enzo continuou.
— Eu disse que você deveria ficar longe de mim. — Enzo desviou o olhar, como se estivesse lutando com seus próprios pensamentos. — Mas, ao mesmo tempo... Não consigo me afastar de você.
Gabriel sentiu o coração acelerar novamente, mas dessa vez não era apenas pelo medo. Havia algo mais profundo nos olhos de Enzo, algo que parecia quebrar a fachada do mafioso frio e perigoso. Por trás da máscara, ele enxergou dor, arrependimento e uma vulnerabilidade que ninguém mais parecia ver.
— Talvez eu também não queira me afastar. — Gabriel disse, surpreendendo a si mesmo com sua coragem.
Enzo o observou por um longo momento, como se estivesse avaliando as consequências daquelas palavras. Então, ele colocou o copo de uísque sobre a mesa e se aproximou de Gabriel, sentado ao seu lado no sofá.
— Você não sabe no que está se metendo, Gabriel. — disse Enzo, sua voz baixa. — Mas, se for ficar... Precisa estar preparado para tudo.
Gabriel segurou o olhar de Enzo, sua determinação crescendo. — Eu não sei o que vai acontecer, mas... Acho que vale a pena descobrir.
E, naquele momento, ambos sabiam que não havia mais volta.
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