Uma Noite com o Mafioso Capítulo 5
O Passado de Enzo
A noite estava silenciosa na imponente mansão de Enzo, mas o ambiente carregava uma tensão quase palpável. Após os eventos daquela noite, Gabriel estava exausto, mas sua mente não parava.
Ele sentia a necessidade de entender mais sobre o homem à sua frente
— o mafioso que parecia carregar o peso do mundo em seus ombros.
Enzo serviu mais dois copos de uísque e se acomodou em uma poltrona de couro, frente a Gabriel. A luz suave de um abajur próximo fazia com que as feições de Enzo parecessem mais suaves, mas seus olhos, sempre intensos, ainda estavam alertas. Ele parecia lutar consigo mesmo, como se considerasse cuidadosamente o que estava prestes a dizer.
— Por que você assumiu tudo isso, Enzo? — Gabriel perguntou de repente, a voz carregada de curiosidade e preocupação. — Eu... eu não consigo imaginar que alguém escolha viver assim.
Enzo olhou para o líquido âmbar em seu copo, girando-o lentamente, antes de levantar os olhos para Gabriel. Havia uma vulnerabilidade rara ali, uma abertura que ele não mostrava com frequência.
— Ninguém escolhe isso, Gabriel. — Enzo começou, sua voz baixa e rouca. — A vida escolhe por você.
Gabriel permaneceu em silêncio, permitindo que Enzo continuasse.
— Meu pai era o chefe antes de mim. — Enzo começou, seu olhar perdido no passado. — Ele construiu o império Bellucci com suas próprias mãos. Era um homem rígido, mas justo, ao menos dentro das regras do nosso mundo. Ele acreditava que proteger a família era a única coisa que importava, e sempre dizia que o poder era uma arma, não um troféu.
Enzo fez uma pausa, tomando um gole do uísque.
— Eu não queria seguir os passos dele. — confessou, com um leve sorriso amargo. — Meu sonho era simples: abrir um restaurante. Cozinhar era o que me fazia feliz. Mas, quando meu pai foi morto... tudo mudou.
— Como aconteceu? — Gabriel perguntou, sentindo um aperto no peito ao ver a dor nos olhos de Enzo.
— Ele foi traído. — respondeu Enzo, com um tom que misturava raiva e tristeza. — Um dos homens em quem ele mais confiava o entregou para um inimigo. Eles o mataram em frente à minha mãe e ao meu irmão mais novo. Eu tinha 22 anos na época.
Gabriel engoliu em seco, a gravidade da história pesando no ar.
— Depois disso, o caos tomou conta. As famílias rivais tentaram dividir o território, roubar o que era nosso. Minha mãe estava em choque, meu irmão era apenas uma criança... Alguém precisava assumir o controle para evitar que eles fossem destruídos.
— E esse alguém foi você. — Gabriel completou, mais uma vez impressionado pela força que Enzo demonstrava, mesmo enquanto relembrava algo tão doloroso.
— Não tive escolha. — Enzo murmurou. — Nunca quis esse poder, Gabriel. Nunca quis essa vida. Mas, se eu não fizesse algo, perderia tudo e todos que amava.
Ele se levantou da poltrona, caminhando até a enorme janela que dava para o jardim iluminado pela lua.
— Assumi o controle do império com 22 anos. Passei anos consolidando o que meu pai construiu e limpando a sujeira que o traiçoeiro deixou para trás. Fiz coisas que não me orgulho. — Ele se virou para Gabriel, os olhos mais sombrios do que nunca. — Mas, no fim, minha mãe e meu irmão estão vivos, e isso é tudo o que importa.
Gabriel sentiu um nó na garganta. Ele via a dor e a responsabilidade que pesavam sobre Enzo, e sua empatia apenas crescia.
— Enzo... eu não consigo imaginar como deve ter sido para você. — Gabriel disse, levantando-se. Ele hesitou por um momento, mas, finalmente, deu alguns passos até estar mais perto. — Mas você não está sozinho agora.
Enzo o encarou, a intensidade de seus olhos queimando como fogo.
— É por isso que me preocupo. — Enzo respondeu. — Porque, quanto mais você estiver perto de mim, mais exposto estará a tudo isso.
Gabriel colocou uma mão sobre o ombro de Enzo, ignorando o aviso.
— Eu já estou aqui, Enzo. E, por mais complicado que isso pareça... eu quero estar aqui.
Antes que pudessem dizer mais, o som de um toque vibrante ecoou pela sala. Enzo pegou seu celular e franziu o cenho ao olhar a tela. Gabriel percebeu imediatamente que algo estava errado.
— O que aconteceu? — perguntou Gabriel, a voz cheia de preocupação.
Enzo atendeu a ligação, mas se afastou para o outro lado da sala enquanto falava. Gabriel não conseguia ouvir toda a conversa, mas algumas palavras se destacaram: ataque, armazém, feridos.
Quando Enzo desligou, seu rosto estava novamente fechado, o homem vulnerável de poucos minutos atrás substituído pelo líder frio e calculista.
— Preciso ir. — disse ele, pegando seu casaco.
— Ir para onde? O que aconteceu? — Gabriel perguntou, seguindo-o até a porta.
— Houve um ataque em um dos meus armazéns. Não é seguro para você me acompanhar.
— respondeu Enzo, virando-se para encará-lo. — Lorenzo vai levá-lo de volta para casa.
Gabriel balançou a cabeça. — Não! Não depois do que aconteceu hoje. Eu não posso simplesmente voltar para casa como se nada tivesse acontecido.
Enzo suspirou, sua expressão suavizando por um momento. Ele colocou as mãos nos ombros de Gabriel e o olhou nos olhos.
— Gabriel, confie em mim. Eu preciso lidar com isso sozinho.
Antes que Gabriel pudesse insistir, Lorenzo apareceu na entrada, pronto para escoltar Gabriel. Enzo lançou um último olhar para o advogado, e, naquele instante, Gabriel percebeu que, apesar do que sentiam um pelo outro, o mundo de Enzo sempre seria cercado de perigos que ele não podia controlar.
Enquanto era conduzido para fora da mansão, Gabriel olhou para trás e viu Enzo entrando em outro carro, já cercado por seus homens. Ele se sentiu dividido entre a raiva por não poder ajudar e a crescente certeza de que estava se apaixonando por um homem que carregava o peso de um mundo perigoso nas costas.
Quando o carro de Lorenzo acelerou pela estrada escura, Gabriel fechou os olhos, tentando processar tudo o que havia acontecido. Ele sabia que a vida ao lado de Enzo seria tudo, menos simples. Mas, apesar dos riscos, ele também sabia que já era tarde demais para voltar atrás.
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