Memento Mori Céu Profano Prólogo
— Mais uma criança morta foi encontrada. A vítima desta vez foi um menino de 12 anos que estava desaparecido desde quinta-feira. Seu nome é Bryan Miller. O menino foi visto pela última vez indo para a escola, algo que era rotineiro. No entanto, ele não chegou a entrar. Assim que os funcionários da escola notaram sua ausência, ligaram imediatamente para os pais. Estes, assustados — pois isso não condizia com o comportamento do filho —, acionaram as autoridades locais, que rapidamente iniciaram as buscas. Após dois dias desaparecido, seu corpo foi encontrado perto de uma lixeira nas proximidades da antiga escola da cidade. A vítima estava como todas as outras: mãos abertas segurando flores, um corte profundo na garganta e asas costuradas em suas costas. A polícia pede a todos que tomem cuidado com o Assassino Anjo. Em especial, pais de meninos com as seguintes características: cabelos loiros, olhos claros, pele branca e entre 12 e 15 anos. Estes devem ser devidamente protegidos e, sempre que saírem, acompanhados por um adulto. Também foi decretado estado de alerta e toque de recolher para que todas as crianças estejam em casa até às 18 horas!
Jogo com força o controle remoto da televisão no chão, que cai com um barulho seco. É frustrante saber que estamos andando em círculos. Parece que estamos à mercê daquele maníaco, seguindo exatamente os passos que ele planejou. É sufocante saber que outra criança teve sua vida ceifada, e que mais uma família foi destroçada. A cada dia que passa, sinto-me mais culpada. Nunca pensei que me envolveria tanto em um crime quanto neste. No começo, era algo corriqueiro, como disse um de meus novos colegas, mas agora se tornou pessoal, já que virei a "amiga" desse monstro.
Há horas, encaro aquele mapa. Tudo o que faço é reler os depoimentos, rever as evidências encontradas e reescrever tudo. Sinto-me presa em um loop sem fim, repetindo sempre as mesmas coisas e terminando como comecei: de mãos vazias. Como eu gostaria de gritar, mesmo sabendo que isso não mudaria nada. Talvez ajudasse a aliviar um pouco da frustração que me consome. Olho ao redor e percebo que, mais uma vez, serei uma das últimas a ir embora. Engraçado como essa situação se tornou comum.
Na minha mente, revivo como um filme a chegada dos pais de Bryan à delegacia para formalizar as papeladas do desaparecimento do filho e responder a mais perguntas. A cena rodava como um relato de terror. A Sra. Miller estava em prantos, mal conseguindo pronunciar palavras. Quem respondeu às perguntas foi o marido, que, embora abalado, tentava manter a calma. Foi excruciante ouvir a pergunta da Sra. Miller sobre se o filho teria sido pego pelo "Assassino Anjo" e ainda mais doloroso ouvir a confirmação do investigador. Ela saiu da delegacia em uma ambulância assim que ouviu a confirmação de Matthew.
Certo, vamos lá, respire, vá com calma, vou fazer tudo de novo mais uma vez antes de ir para a casa. A primeira vítima foi um menino de 12 anos, Gabriel Trevor, seu corpo foi encontrado perto de uma lata de lixo ao lado da antiga escola depois que seu desaparecimento completou uma semana, então o assassino ficou inativo por um ano até que retornou novamente à ativa. Sua segunda vítima foi Arthur Devis, assim como o primeiro e todas as outras vítimas, foi encontrado nos arredores da antiga escola, deixando claro que aquele era seu lugar de desova e depois ficou uns seis a dez meses inativo, voltando no dia 31 de outubro, matando e desovando Loís Cooler. A partir de então, o intervalo entre o desaparecimento de uma criança e o aparecimento de um corpo diminuiu drasticamente.
Paul Dixon foi raptado dois dias após o corpo de Cooler ser encontrado. E agora, com o desaparecimento de Bryan Miller antes mesmo de Dixon ser localizado, pergunto-me qual criança será a próxima. Passo noites em claro pensando nisso.
— Vamos lá Ayla, pense, pense… — fico sussurrando para mim mesma.
Escuto um barulho alto vindo da recepção da delegacia. Pego a arma que está sobre a mesa e caminho lentamente até o local. Já na porta, respiro fundo e pergunto:
— Quem está aí?
O silêncio permanece.
— Essa é uma área restrita. Se tiver alguma queixa, peço que vá a outra entrada, aqui fica o departamento de homicídio!
Com os batimentos ficando cada vez mais rápidos, vou adentrando a recepção.
— Vou perguntar pela última vez: quem está aí?
Sem resposta, pressiono o interruptor e acendo as luzes. Todo o cômodo é iluminado. Olho ao redor e tudo está calmo, sem nada fora do lugar. No entanto, sobre o balcão da recepção, está uma caixa de papelão. Aproximo-me dela e a pego. Reviro-a de todas as formas possíveis e, não encontrando nada suspeito, levo-a para dentro.
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