Memento Mori Céu Profano Capítulo V
Quando perguntei para ele sobre esse dia em questão, Vincent tinha apenas falado por cima, sem entrar em tantos detalhes. Fiquei chocada, primeiro por ele achar que nossa família tinha algum problema. Desde que me lembrava, Vlad é quem sempre arrumava problemas para a família, seja na escola ou mesmo na nossa própria residência. Era comum eu escutar meus pais discutindo sobre o que fazer ou mesmo no que tinham errado na criação do meu irmão. Eu era criança demais para entender que meus falecidos pais se preocupavam muito com o futuro dele e não que os dois eram os vilões que eu achava que eram, já que queria sempre estar ao lado do meu “irmãozão”. Hoje, sinto nojo de mim mesma quando me lembro desses meus pensamentos. A segunda coisa que me surpreendeu foi o apego que Vlad ganhou com Vincent. Me perguntei por que meu irmão ficou tão apegado ao seu professor a ponto de ter coragem de matar um menino inocente e puro. Sempre que pensava no Matt, sentia certa tristeza. Era um menino tão jovial e cheio de vida, sua família deveria estar sentindo muita dor. Primeiro, o patriarca perdeu a esposa, e uns três dias depois perdeu seu único filho. Senti um desejo de ver o Sr. Scheidemann, mas creio que a visita da irmã do assassino de seu filho não iria o alegrar. Seja qual for a obsessão que meu irmão teve ou ainda tem com Vincent, é assustadoramente forte o bastante para que começasse a matar várias crianças inocentes somente para chamar a atenção.
— Visto tudo isso, não sei como meu pai pode achar que o senhor… que você seja um suspeito… — comento, me lembrando da discussão que tive com meu pai mais cedo. — Quero dizer, não tem nada, nenhuma pista ou qualquer coisa que o relacione como sendo o Assassino Anjo…
— Não ache que seu pai suspeite de mim, creio apenas que estava fazendo o certo, afinal fui a última pessoa que viu Noah antes de sumir — pontuou ele.
— Mas isso não justifica como ele o tratou… — murmuro, segurando minha indignação perante a fala de Vincent.
— Olha, ele é um detetive bastante ocupado e agora com esse caso todo, deve ter um peso enorme sobre seus ombros, sem contar com a expectativa do povo para o Grande Salvador. Lembre-se disso, não o coloque de forma tão cruel assim, Sebastian deve estar bem cansado…
— Porém, isso não justifica o jeito com o qual te tratou! — respondo, mais voltada para a discussão que tive com ele do que com a interrogação de Vincent.
— Se é o que você acredita, não há nada que possa fazer, mas de minha parte, não guardo rancor dele. — falou, se levantando e pegando a xícara gentilmente. Caminhou lentamente até a cozinha e, quando voltou, já não possuía mais nada em mãos. — Vamos mudar de assunto, que tal se utilizarmos esse tempo, do qual sabemos os dois, que não vamos usar para dormir, para revisar o caso do Assassino Anjo? O que me diz?
— Revisar o caso? — fico indecisa com essa proposta. Uma parte minha queria e muito, mas a parte racional e correta gritava dizendo que não.
— Olha, se não quiser, não tem problema, sei que não seria profissional da sua parte, só que te ver tão abalada assim me incomoda muito…
Fico alguns segundos encarando o belo rosto de Vincent, antes de finalmente voltar para a Terra. Por mais que estivesse pronta para dizer não e o agradecer pela gentil oferta, quando abro a boca para negar sua proposta, tudo que sai é um belo e simples: “Sim!”
Diante dos meus olhos, um homem de aparência mais velha se ilumina e se alegra como uma criancinha que acaba de ganhar o brinquedo que tanto pediu. Era engraçado vê-lo correndo de um lado para o outro do cômodo, arrumando, de maneira desleixada, a mesa de centro para que pudéssemos rever as pistas. Quando se deu por satisfeito, abriu a porta do quarto e voltou logo em seguida, segurando um bloquinho de notas e canetas. Vincent senta no sofá e espera animadamente que eu o siga.
Me criticando e xingando mentalmente, aproximo-me do sofá e sento ao seu lado. Escuto suas falas de forma alheia a tudo, ainda não consegui acreditar que tinha cometido mais um erro em menos de um dia. Quero dizer, era bom ter alguém em quem eu poderia desabafar e confiar, mas profissionalmente não deveria ter feito isso e agora aqui estava eu, conversando com um civil sobre o caso do momento. Ah, como eu adoraria me chutar e estapear até que voltasse à sanidade, porém como a merda já tinha sido feita, tudo que me restava fazer era continuar, afinal, o que é um peido para quem já está cagado? E o que mais me confortava, com toda certeza, era de que meu pai nunca saberia, já que não sairia dessas quatro paredes.
Começamos com o início de tudo, Matt Scheidemann, assim como estava escrito na última carta que tinha recebido. A morte dele tinha sido um acidente. Afinal, Vlad não planejava matá-lo, e sim assustá-lo, porém esse foi um ato que saiu de seu controle. Vlad não podia ter controlado a forma como seu melhor amigo iria reagir. O seu único erro naquele dia foi ter tentado fazer Vincent ficar ao seu lado, o que resultou na tentativa de matá-lo, e como consequência, o homem ganhou uma longa e assustadora cicatriz. Porém, uma pergunta ainda insistia em permanecer: por que, mesmo sabendo de tudo isso, o detetive Sebastian não o tinha prendido? Uma alternativa seria falta de provas, mas com o testemunho do professor, teria condições fortes e suficientes para ser feito algo com o suspeito. Bom, só saberia o porquê dessa escolha de deixá-lo livre se eu questionasse meu pai adotivo.
Então, depois de Matt, voltamos nossa atenção à segunda vítima, Gabriel Trevor, e assim que revisamos minuciosamente o caso dele, fomos para o terceiro e assim por diante, até chegarmos no seu alvo mais recente: Noah Stillys. A criança tinha desaparecido a uma quadra de sua casa, tinha acabado de sair de uma aula de reforço com Vincent, o que levou o professor a ser cogitado como suspeito. Contudo, seu álibi era bem sólido. Se Vlad seguir com seu modus operandi, o jovem teria no máximo 3 dias de vida.
— DROGA! — grito frustrada. — Não importa o quanto revisemos o caso, nem sequer existe uma pista da localização de Vlad. Parece que ele está em todos os lugares e ao mesmo tempo em nenhum! — Era tão desanimador ficar horas e horas lendo, relendo, refazendo os passos, e toda vez ser levada a lugar algum.
— Hum… vamos com calma, talvez estejamos deixando algo importante passar… — concluiu Vincent diligentemente. — Vamos dar uma parada e respirar.
Concordo a contragosto. Faço menção de levantar, só que não contava que minhas pernas teriam dormido pelo longo tempo parada na mesma posição, e caio em cima de Vincent. Não sei quem começou, se foi ele ou eu, mas que estamos agora num belo beijo, isso era evidente. Sinto Vincent pedir permissão para adentrar minha boca, ao qual cedo sem pestanejar. Suas mãos começaram a descer por minha coluna, produzindo uma sensação estranha e que nunca tinha sentido. Quando o ar se fez faltar, nos separamos e, com o rosto vermelho, ficamos olhando um para o outro com a respiração descompassada.
— Olha e… — mas com o pouco de coragem que ainda restava em mim, impedi que ele continuasse com sua desculpa com outro longo beijo. Neste momento, sinto ser levantada e percebo que Vincent estava me levando ao seu quarto. — Agora será tarde demais para voltar atrás, senhorita Taylor — escuto-o sussurrar em meu ouvido, me deixando muito excitada.
— Só… Ahh!! Só vá devagar, AH! — Aquela seria minha primeira vez e tinha medo de doer muito.
— Não me diga que eu serei seu primeiro? — O tom de surpresa prevaleceu em sua voz.
— Sim… — sussurro envergonhada, não pela surpresa dele, mas sim pelo fato de nunca ter feito o ato em si e por ser justamente com o Vincent. — É que nunca foi meu interesse em fazer sexo, tudo que queria desde criança era prender meu irmão — digo, após perceber o distanciamento dele. Não queria que ele parasse ou que fizesse isso por culpa. — Olha, se não quis… — Antes que eu terminasse de pronunciar o que queria, Vincent me interrompe com um longo e necessitado beijo.
— Apenas fiquei surpreso — começou a dizer. — Não se preocupe, serei o mais gentil possível.
Ele voltou a me beijar, e não demorou muito para que suas carícias começassem a descer pelo meu corpo. Sinto sua mão adentrando minha camisa, em busca dos meus seios. Escuto ele perguntando se poderia tirar minha blusa, o que fracamente afirmo. Era vergonhoso estar seminua na frente de um homem, ver seu olhar lascivo olhando demoradamente cada pedacinho descoberto de meu corpo, bem como imaginar as partes ainda cobertas. Vincent então retira sua camisa, revelando um corpo definido e com músculos proeminentes, me fazendo prender a respiração. Novamente, volta com seus beijos, só que dessa vez seguia em direção aos meus seios, onde ele se demorou por alguns momentos, me fazendo sentir um prazer que ainda não havia experimentado. Vincent seguiu as carícias sob minha intimidade, beijou-a ainda quando estava usando a calcinha antes de a retirar.
— Olhe para mim! — escuto ele sussurrar em meus ouvidos. — Quero ver esses lindos olhos prateados focados em mim, perdidos em um mar de deleite, esses belos lábios gemendo de prazer e chamando pelo meu nome.
Ainda com os olhos fechados, sinto Vincent introduzir um de seus dedos dentro de mim, me fazendo arfar com um misto de sensação. Abro meus olhos e o encontro me encarando de forma faminta. Antes mesmo que eu conseguisse me acostumar com ele dentro de minha intimidade, o sinto introduzir um segundo dedo, fazendo com que eu sentisse uma pequena pontada de dor. Porém, não demorou muito para que meus gemidos de dor fossem substituídos por gritos de prazer. Contudo, o prazer não durou muito, pois sinto Vincent retirar seus dedos e, antes que eu pudesse dar qualquer sinal de indignação, senti uma pressão e logo em seguida uma sensação dolorosa me preenche mais uma vez. Ele foi paciente e esperou que eu ficasse pronta antes que voltasse a se mover. No começo foi esquisito, mas então um êxtase indescritível tomou conta de cada parte do meu ser. E logo, entre meus gemidos de prazer, saiu o pedido para que aumentasse as estocadas. Com o prazer de nós dois gradativamente tomando um grau mais intenso, escuto Vincent pronunciando palavras que eu não conseguia entender, pois não consigo pensar em nada a não ser naquele deleite todo. Sentia que estava chegando ao ápice, com uma estocada mais forte, acabo gozando e percebo que meu companheiro também chegou ao clímax deitando ao meu lado, com a respiração tão descompassada como a minha.
Tinham se passado cinco dias desde o desaparecimento de Noah, o que me deixava alerta. Parecia que o Modus Operandi do Assassino Anjo tinha mudado, e isso era o que me fazia ter ainda mais dúvidas sobre as minhas conclusões.
Olho para os colegas de trabalho discutindo justamente essa mudança, se questionando o que o faria mudar. Matthew, um detetive alto, cabelos negros e olhos castanhos, sugeriu que isso tinha acontecido justamente pelo fato de que sua zona de desova estava sob a vigia da polícia. Pensei comigo que, de certa forma, poderia estar correto, mas algo dentro de mim insistia que não era tão simples assim. Jonnathan, outro detetive de pele mais escura, acreditava fielmente que o toque de recolher foi o grande obstáculo, já que seria quase impossível o suspeito sair de noite e fugir das viaturas e câmeras de segurança dispostas por toda a extensão da cidade, só que essa era a teoria mais fraca, visto que ele tinha sequestrado Noah Stillys sem ser pego por qualquer carro de patrulha e vídeos de segurança. Jafferson gritava com cada um dos agentes que insistiam em mostrar suas ideias e justificativas, até que ele se vira em minha direção e solta a maldita pergunta para mim:
— E a senhorita, Taylor, o que tem como justificativa dessa mudança drástica? — Eu sabia o que ele queria com essa questão, que era nada mais, nada menos, que me ridicularizar na frente de cada companheiro de trabalho.
Respiro fundo e o respondo:
— Sinto muito, Sr. Bullger, não consigo pensar em nada no momento — sussurro entre dentes, segurando a minha raiva. Minha resposta foi seguida de risos dos outros na mesa, o que só piorou minha irritação.
— Ah, deveria estar mais tempo focada no caso do que no que o Sr. Foster tem entre as pernas! — A fala dele é seguida de inúmeros risinhos. Sinto meu rosto esquentar, não tinha necessidade de fazer tal piada sem graça.
— Ora, chefe, se anda tendo tempo para fazer piadas tão sem graça, deve ter bem pouco trabalho! — Sebastian o repreendeu, fazendo a cara de Jafferson tomar um tom de vermelho forte. — Não acha que temos coisas mais importantes para nos preocuparmos do que a vida privada de nossa colega? — Nesse momento, os olhos castanhos de Sebastian pousaram demoradamente em mim, eu sabia o que aquele olhar silencioso significava.
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