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Memento Mori

Capítulos 6

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Memento Mori Céu Profano Capítulo VI

Respiro fundo, sabendo o que me aguardava no momento em que ficasse a sós com meu pai adotivo. O lado bom é que Sebastian era profissional demais, o que me garantiria o restante do plantão livre dos sermões e perguntas dele. Contudo, eu fiquei nessa maldita dúvida de que seria melhor tomar as broncas agora do que deixar para depois. Passei praticamente o dia todo tentando evitá-lo, o que ficou bem aparente, tanto para os meus colegas quanto para meu irmão mais velho Damon, que sempre que me via arrumava um tempinho para me irritar.

— Não estou com paciência para mais uma de suas piadas sem graça! — digo assim que o vejo indo em minha direção. Volto minha atenção ao que estava lendo e nem reparo que Damon parecia incomodado com algo.

— O que caralhos pensa que está fazendo? — Damon fala baixo quando chega próximo de mim.

Eu o olho sem entender nada.

— Como? — indago, perdida.

— Papai me contou que você está saindo com aquele tal professor — sinto uma pontada de nojo na voz dele, o que me surpreende, já que Damon quase nunca usava esse tom.

— E o que isso tem a ver com você? — levanto, tentando manter a voz controlada. — É sério, qual o problema? — Era o dia de tirar uma com a minha cara? Primeiro, aquele chefe idiota e agora meu próprio irmão? Esse dia não tinha como piorar.

— Quero que fique longe dele! — ordena Damon.

— Primeiro de tudo, eu sou maior de idade, segundo, por qual motivo? — olho fuzilando-o. — Se for por causa da idade, eu vou mandar você tomar no cu!

— Você sabe que ele é um provável suspeito no seu caso, né? — vejo que as pessoas começaram a prestar atenção na nossa pequena discussão.

— Cara, o papai já não comprovou o álibi dele? — faço uma pergunta retórica. — E isso não vem ao caso! Quero que me dê um motivo plausível! — exijo.

— E qual motivo é mais plausível do que ele ser suspeito de ser um assassino em série?

— Você não o conhece como eu o conheço! — cruzo os braços, igual uma criança fazendo birra. — O papai e você estão taxando-o de monstro antes mesmo de o conhecer!

— Eu não quero conhecer um…

— UM O QUÊ? — grito, perdendo a paciência.

Damon ficou me encarando, eu conseguia ver a cólera subindo por cada veia presente no corpo dele. Mas, mesmo sabendo daquela ira toda, seus olhos brancos ainda continuavam passando aquela mesma sensação de paz de sempre.

— Só, por favor, fique longe dele. — pediu suplicantemente e, antes que eu pudesse sequer perguntar, Damon dá as costas e sai.

Não vi mais nem meu pai, e muito menos Damon, o dia inteiro depois daquela briga. Foi a primeira vez que vi ele desesperado, sabia que estava escondendo algo, mas o que seria? Pela centésima vez, suspiro, tinha coisas mais importantes para fazer.

O dia tinha chegado ao fim rápido, talvez a algazarra que tinha se formado no final da tarde tenha passado essa impressão. Agora, como não bastava um desaparecido, tínhamos mais um para nos preocupar, Dália Freeman. Como, em tese, não era um caso de extrema urgência, de acordo com o que Jafferson disse, um detetive novato ficou a cargo do desaparecimento. Como já estava cheia desse dia, simplesmente deixei para lá. Queria ou não, seria um caso que jamais conseguiria ser de ajuda, pois minha atenção se voltava a outra coisa e, por mais idiota que meu chefe possa ser, se ele estava naquele cargo, significava que era ou já foi bom em alguma coisa. Sem fazer mais alarde, saí do prédio.

Não via a hora de chegar em casa e tomar um longo e relaxante banho. Me sentia tão exausta que nem estava me importando com o fato de que iria ver meu pai e sua interrogação irritante. Tudo que queria era relaxar e tirar uma boa soneca. Pelo visto, essas noites mal dormidas estavam agora cobrando seu preço.

Resolvo pegar um atalho pelo parque. Sempre me surpreendia ao olhar para as árvores, era estranho pensar que cada uma delas era mais velha do que a soma de todos os habitantes da cidade. Fecho os olhos para sentir a leve brisa que começou a brincar com as folhas, o cheiro de terra molhada invade meu nariz, me fazendo ficar mais alguns segundos com os olhos fechados. O lugar estava anormalmente vazio, porém eu não me importei, as pessoas deveriam estar com muito medo de sair pelas ruas e ninguém estava com ânimo para apreciar a beleza da vida quando a sombra da morte paira por sobre cada cidadão.

Antes que pudesse abrir meus olhos, sinto uma força me puxando para trás.
 Abro meus olhos assustada, mas um pano é posto sobre meu nariz, fazendo-me inalar alguma substância que estava me deixando mais e mais fraca. Quando consigo me libertar do abraço de quem quer que fosse, caio no chão com a minha visão embaçada.

— Bons sonhos, Flor de Cerejeira!

E bem ao fundo consigo escutar a voz de Vincent me chamando.

Tudo que consigo pensar antes de apagar era apenas uma palavra: Vlad!

Sinto minha cabeça doer fortemente e, quando faço força para me levantar, percebo que estou presa. Levanto meu rosto para olhar onde me encontro. Era, com certeza, uma construção abandonada, pois havia lixo ao meu redor. Lentamente, minha visão foi clareando e vi camas velhas, com lençóis que outrora foram brancos. As cortinas que separavam cada cama eram quase inexistentes. Havia alguns armários sem portas, outros com os vidros quebrados, e o conteúdo médico que deveria estar ali certamente já foi roubado há muitos anos por pessoas viciadas em busca de mais drogas ou de algum jeito de conseguir dinheiro para comprar mais. Algumas janelas estavam quebradas e com tábuas pregadas, fazendo pequenos feixes de luz entrarem, mas que não eram suficientes para iluminar o local. De certo modo, sabia onde me encontrava, não precisava ser um gênio para notar que era a enfermaria da escola onde Vlad tinha estudado.

— Bem-vinda de volta, Bela Adormecida — uma voz masculina disse atrás de mim — Pensei que não ia acordar mais, ficou um dia toda desacordada, perdeu até a diversão — falou rindo.

Volto meu olhar para uma parte mais escura e percebo sangue escorrendo e pingando de uma das camas. Prendo a respiração, pobre criança! Seguro o choro, não tinha tempo para desabar agora, precisava me soltar, e só depois que tivesse pego aquele monstro é que me daria o devido tempo para lamentar sua morte, assim como as das outras crianças.

— Seu monstro! Era só uma criança! — tudo que ouço em resposta é outra risada histérica. — Mas quem disse que o matei? — indagou o assassino. — De quem mais seria o sangue? — Hum… — foi sua brilhante resposta. — Se vai me matar, faça isso agora, antes que eu acabe com a sua raça! — digo, fazendo força para me libertar. É mais do que óbvio meu medo, estava apavorada, me sentia novamente aquela criancinha que vivia assustada com medo de Vlad voltar e matar todos que amava, e aqui estava eu, encarando o meu maior pesadelo. — Não, ainda não, isso vai depender dele — o triunfo era quase palpável em sua voz. Vlad tinha certeza que havia ganhado, e isso era perturbador — Nossa visita especial ainda não deu o ar das graças. — O QUE FEZ COM VINCENT? — grito, preocupada. — Ele está bem, por enquanto — então escuto sua voz saindo de algum tipo de aparelho eletrônico.

Não sabia há quantos dias estava amarrada àquela cama, nem mesmo sabia se ainda era o mesmo dia, tudo o que sabia era que tinha ficado muito tempo sozinha naquela construção esquecida. O medo tinha passado a ser minha companhia neste tempo, ele me seguia em qualquer pensamento. Tinha medo do que Vlad ia fazer comigo, medo dele machucar Vincent e, acima de tudo, um pavor incontrolável de que ele fosse voltar seu ódio para minha família. Mesmo com todos esses sentimentos ruins aflorando e crescendo mais à medida que o tempo ia passando, ainda conseguia manter uma pequena e fraca luz de esperança. Não iria desistir tão fácil assim da minha liberdade, se Vlad quisesse me matar, teria que lutar muito. Ouço passos vindo do corredor, queria muito que esse som significasse salvação. Como eu daria tudo no mundo só para ver os rostos de meu pai e meu irmão. Os sons começaram a chegar mais perto da porta da enfermaria, conforme aumentava o barulho, os meus batimentos aceleraram. As chances de ser ajuda eram mínimas, mas ainda existia a probabilidade. Lentamente a porta se abre, um homem alto e de cabelos longos adentra a enfermaria. Eu poderia dizer que não sabia quem era, mas aqueles tristes olhos prateados já o entregavam. Por mais que seu olhar fosse o mesmo, conseguia notar uma minúscula fagulha de… o que poderia ser? Felicidade? Não, não era algo assim, acho que poderia chamar de esperança, talvez? Ainda assim, não parecia ser a palavra adequada a esse sentimento misterioso. Seus cabelos negros continuavam longos, mas pareciam mais arrumados e cuidados do que eram antigamente, pois, apesar de absorverem toda a luz que caía sobre eles, ainda assim tinham um brilho. Certamente havia começado a malhar, mesmo debaixo das roupas, seus músculos continuavam sendo visíveis. Em suas mãos, luvas negras as cobriam, deixando somente a área do pescoço e rosto visíveis. Queria me distanciar à medida que ele andava, mas, por conta das amarras, não poderia ir longe. Era amedrontador encarar seu pior pesadelo. Quando seu olhar recaiu sobre mim, senti um calafrio que me percorreu por inteira. Eu tinha imaginado tantas vezes esse reencontro, mas neles eu estava confiante e forte, não como um gatinho assustado como agora. Tudo que eu imaginei fazer, conseguia ver agora que não passava de sonhos bobos. A justiça que almejava conseguir para minha família morta se esvaiu assim que aqueles brilhantes olhos prateados repousaram sobre mim.

— Ayla — ao escutar meu nome ser pronunciado pela sua voz, sinto uma repulsa muito grande. — Vejo que cresceu forte e bem — o mais assustador nisso tudo era que não sentia ódio e nem nenhum tipo de sentimento ruim de sua parte. — Isso com certeza não se deve a você! — digo ríspida — Vai me soltar agora? — Não! — uma voz se manifesta.

Um homem encapuzado se coloca entre mim e Vlad. Olho de um para o outro, tentando entender o que estava acontecendo, se Vlad não era o Assassino Anjo, então quem era? Poderia ser realmente o Viktor? Talvez aquele lado emocional fosse apenas fachada? Acho que eu fiquei confiante demais, só pelo passado do meu irmão, já coloquei a culpa nele. Meu pai estava certo, deveria ter sido mais racional, talvez se eu tivesse sido, não estaria nessa enrascada e condenado uma investigação inteira à falha. Só que Vlad era o único que se encaixava nas descrições, era ele quem sabia meu apelido, meu brinquedo preferido, os meninos com as características de Matt, como poderia ter chegado a qualquer outra conclusão? Queria me bater loucamente e me xingar de estúpida, agora esse assassino de merda iria se livrar e tudo por minha e unicamente minha culpa. Mas não poderia me dar ao luxo de chorar, tinha crianças para vingar e o assassino da minha família, dois lixos humanos num lugar só, tudo que preciso fazer é me soltar e então… e então o que? Sou só uma mulher contra dois homens, que merda posso fazer? Vlad faz ameaça de se mover, mas para quando o outro homem pronunciar rapidamente:

— Acredito que não seria a coisa mais sábia a se fazer! Eu não o teria trazido aqui se não tivesse um plano de contenção — ele então retira do bolso dois frasquinhos, um continha uma bebida em tons dourados, parecia ser mais espessa do que a outra. O segundo recipiente tinha tons mais escuros, não dando para ver o seu conteúdo. — Em minhas mãos eu possuo uma deliciosa droga feita especialmente para pessoas como você, a darei para que beba…

E porque ele faria isso? Penso.

— Certo, e porque o faria? — me surpreendendo, tínhamos pensado a mesma coisa. — Eu ainda não terminei de falar! — disse, começando a ficar irritado — Quero ainda que fale para seus amiguinhos não o procurarem por meios inconvenientes, se é que me entende — paro de tentar me libertar com essas palavras sem pé nem cabeça, meios inconvenientes? O que seriam esses meios? Que amigos? Mas pelo visto, era somente eu que não tinha entendido o que o assassino quis dizer, pois vejo Vlad se mexer desconfortavelmente — Realmente achou que eu não tinha feito meu dever de casa? — novamente começou a rir, ele já estava me tirando do sério — Não foi um plano nada fácil, contudo, aqui está você, do jeitinho que eles tinham me falado — eles? Eles quem? Porque eu tinha de ser a única por fora dessas conversas. — Me responda então, porque eu iria beber o que quer que seja? — Simples, se você não beber, sua amada irmãzinha irá morrer! — então foi a minha vez de começar a rir histericamente — O que deveria ser tão engraçado? — Ele vai se drogar para me salvar? Não seja tolo! — Ah, como ainda é tão bobinha, creio que jamais entenderá o que tanto se passa na cabeça de seu odiado irmão. — SEU… — sinto meu rosto arder, ele tinha me dado um tapa? Ah, mas quando eu saísse daqui, iria socar tanto a cara dele que só pararia quando alguém me tirasse de cima.

Vlad continuava parado no lugar, não tinha mexido nenhum único músculo, parecia estático no lugar como se estivesse colado.

— Então, fez o que mandei fazer? — o assassino voltou sua atenção para o outro.

— Sim, eles não vão interferir de “maneira inconveniente”.

— Agora, como um bom menino, pegue e beba essa bebida — o homem lança o frasco dourado no ar e Vlad o pega com perfeição, sem enrolação abre a tampa e, num único gole, bebe o seu conteúdo todo — Viu, fez o que disse para fazer, agora, vou cumprir minha parte nesse acordo — ainda com o capuz sob o rosto, ele se aproxima de mim e, erguendo meu rosto com força, puxa meus cabelos e me força a beber do outro recipiente.

Antes que eu perdesse novamente a consciência, consigo ver Vlad se contorcendo de dor, o que quer que fosse aquela droga, já havia começado a fazer efeito. Contudo, mesmo estando naquele estado, não consegui ouvir nem um único grito de dor vindo dele.

Acordo depois de um certo tempo e, por mais que estivesse desejando que aquilo tudo não passasse de um terrível pesadelo, a realidade me deu um belo soco na boca do estômago, deixando mais claro do que nunca a verdade. Viro meu rosto para todas as direções, procurando os outros dois. Olho para a esquerda e não vejo nenhum vestígio dos dois homens, mas quando meu olhar volta para a direita, em cima de uma das camas da enfermaria, vejo meu irmão desacordado e sendo segurado pelo Assassino Anjo. Seus cabelos negros estavam soltos e alguns botões de sua camisa estavam desabotoados.

Foquei em tentar me soltar, mas aquelas algemas eram mais fortes do que imaginava, na televisão parecia bem mais fácil.

— Vejo que já acordou, Draculinha, espero que esteja bem disposto para podermos brincar — escuto a voz do assassino preencher todo aquele local, fazendo com que eu pare de tentar me soltar e olhe na direção deles — Vamos terminar o que começamos há anos atrás?

Vejo Vlad tentando lutar contra o homem, mas não tendo quase nada de sucesso. O que quer que ele tenha feito meu irmão beber deveria ser bem forte, porque Vlad parecia ter a força de uma criança pequena. Em um dado momento, aquele monstro asqueroso deve ter perdido a paciência, pois percebo que tinha começado a agredir meu irmão e a gritar.

— FIQUE QUIETO OU ELA MORRE! — nesse momento, a insistência de Vlad se esvai — Seja um bom garoto e me obedeça!

Por que ele está obedecendo tudo que o Assassino Anjo? Então, uma ideia, mesmo que impossível, se forma dentro de mim, ele me ama? Era tudo que vinha à minha mente, mas não podia ser verdade, porque não faria sentido ele ter matado nossa família toda, nossos pais o amavam tanto quanto me amavam e ao nosso outro irmão. Não, simplesmente não poderia ser esta a verdade, talvez tenha algo que queira fazer, amor não poderia ser, não depois do que ele fez.

— Ah! Faz anos que venho sonhando com esse momento — falou ele com a voz embargada de felicidade e desejo — Sabe o quanto desejei e idealizei isso? É um êxtase tão imenso tê-lo sobre meu domínio.

Observo o suspeito começar a desabotoar ainda mais sua camisa, com um terror já se apoderando de mim, comecei a entender seu ato. Então, o vejo pressionar seus lábios nos dele. A cada momento que ficava parada ali, vendo aquele ser nojento se forçando e se esfregando no corpo de Vlad, um ódio descomunal crescia dentro de mim. Posso até não gostar do meu irmão, mas jamais desejei isso a ele, e o que mais me torturava era saber que era por minha causa. Uma de suas mãos começa a explorar toda a extensão do tronco de Vlad. Queria gritar para parar, mas, neste momento, tinha que me focar em sair das algemas, só assim conseguiria o ajudar. Depois que me libertasse, iria ajudar meu irmão a espancar esse lixo de ser humano até nós dois não aguentarmos mais.

— Vejo que já não é mais aquele menininho franzino e tímido que era antes — as mãos asquerosas continuavam a explorar de forma demorada o tronco de meu irmão, até que retirou a camisa que usava, mostrando assim o belo corpo que possuía — Olha só, essa tatuagem é o resultado daquele dia? — perguntou o criminoso — Vejo que suas cicatrizes aumentaram, me pergunto quem poderia ter marcado seu belo corpo antes de mim, isso me deixa tão irado, era eu quem deveria ter te marcado! — retruca o assassino como se fosse uma criança fazendo birra.

Conforme aquelas mãos bobas andavam por todo o seu corpo, eu ficava mais e mais desesperada. Quando dou por mim que, se eu não deslocasse meus dois dedos, não conseguiria sair, então, juntando toda coragem e desespero que tinha, posicionei minhas mãos na posição correta e abaixei-as para baixo. Uma dor se apoderou de meu ser, mas não soltei um único grito sequer, tinha que pegá-lo de surpresa. Consegui remover as algemas e saí correndo em direção aos dois, de qualquer forma, tinha que salvar meu irmão.
 

Senti meu corpo se chocar com o dele e nós dois cairmos no chão. Sem esperar que ele se recuperasse, comecei a socar seu rosto, até que sinto meus pulsos serem segurados. Droga, ele se recuperou super rápido, olhei para Vlad e ele mal conseguia se mover, não daria tempo, aquela escória iria escapar, tinha que mudar os planos. Deixando o assassino no chão, corro para tentar ajudar Vlad, mas sinto-me sem gravidade. Merda! Ele tinha conseguido me alcançar, fecho os olhos, apenas esperando o impacto que não tardou a acontecer.

— Que garotinha mais irritante! — exclamou, começando a andar em minha direção.

— N… não, não pode s… ser! — olho para o rosto do Assassino Anjo, que estava ensanguentado e com marcas dos socos que lhe dei, em completo choque.

“Olhe para mim! Quero ver esses lindos olhos prateados focados em mim…” De todos os suspeitos, porque tinha que ser justamente ele? Queria que meus olhos estivessem me enganando, mas aqui estava a fria, cruel e irrefutável verdade. Bem à minha frente, segurando um pequeno canivete na minha garganta, estava o homem para quem me entreguei na minha primeira vez. Seus olhos castanhos, que antes me olhavam com desejo e carinho, agora me encaravam com raiva e apatia, sem nenhum sentimento de culpa ou remorso.

— Surpresa, Flor de Cerejeira? — comecei a sentir nojo de mim mesma. Me odiei ainda mais por me lembrar de ter amado seus toques e carícias, de me deixar ser possuída por um estuprador de merda.

— Vincent? — queria arrancar cada pedaço de minha pele na qual ele havia tocado.

— Tão sentimental e tão inocente, porém ainda mais irritante do que Matt! — pronunciou ele — O que devemos fazer com ela, querido? Que tal matá-la de uma vez, assim como fiz com Matt?

— NÃO! VOCÊ… você prometeu que não a machucaria! — nunca pensei que escutaria a voz suplicante de Vlad, e, mesmo que quisesse ouvir, queria que o sentimento dentro de mim fosse de justiça feita e não que fosse tão sufocante como estava sendo.

— Ora, promessas são facilmente quebradas e você não amaria ver esses lindos olhos prateados, iguaizinhos aos seus, perdendo o brilho da vida? — sinto o objeto cortante afundar levemente em minha pele, o líquido quente começa a escorrer pelo meu pescoço

— Não! — posso notar o quão difícil era para meu irmão se manter ereto — Só, por favor, não a machuque, já tem o que queria, então deixe-a em paz, eu lhe suplico!

Vincent começa a rir loucamente.

— Se me pedir como da última vez, talvez eu não a machuque… não muito! — vejo Vlad se ajeitar na cama e se curvar, com certa dificuldade, e implorar por minha vida.

— A mim! É isso que você quer, não é? Eu deixo você fazer o que quiser comigo, mas por favor, não a machuque — eu achava que não poderia ficar mais assustada ou em choque, mas obviamente, estava errada.

— Veja, não foi tão difícil, né? — Vincent me joga no chão e, com um pedaço de pano, me amarra com força enquanto começo a gritar loucamente para ele parar — Fique quietinha aí, se não respeitar essa única regra, te mato na hora, compreendeu? — olho atônita para ele, sem saber o que fazer e sem forças para lutar por minha vida e a de meu irmão — Aproveite o show, porque será apenas uma prévia do grande espetáculo que demorei anos para construir e organizar, minha flor de cerejeira!

 

 

Continua…

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