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Auto da Barca do Inferno

Capítulos 9

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Auto da Barca do Inferno Cena 3

Vem Joane, o Parvo, e diz ao barqueiro do Inferno:

 

PARVO

 

Oh desta!

 

DIABO

 

Quem é?

 

PARVO

 

Eu sou.

 

É esta a nossa naviarra?

 

DIABO

 

De quem?

 

 

PARVO

 

Dos tolos.

 

 

DIABO

 

Ah! Vossa. Entra!

 

 

PARVO

 

De pulo ou de voo?

 

Oh! Pelo pesar do meu avô! (dor, choro)

 

Resumindo: Vim a adoecer E em má hora fui morrer,

E nela, para mim só. (E numa altura em que estava só)

  

 

DIABO

 

E de que morreste?

 

PARVO

 

De quê?

 

Acho que de caganeira.

 

 

DIABO

 

De quê!?

 

PARVO

 

De caga merdeira!

 

Que rabugem que te dê! (um insulto)

  

 

DIABO

 

Entra! Põe aqui o pé!

 

PARVO

 

Ó pá! Que não tombe o zambuco!(*) (a barcaça.)

 

[(*) Expressão do Parvo que quer dizer que o Diabo está a apressá-lo. Ou seja, “com tanta pressa, não vá a barcaça vira-se]

 

 

DIABO

 

Entra, tolo eunuco,

 

Que nos vai embora a maré!

 

 

PARVO

 

Aguardai, aguardai um pouco! E aonde havemos nós de ir ter?

 

DIABO

 

Ao porto de Lucifer.

 

PARVO

 

Ha-a-a...?

 

DIABO

 

Ao Inferno! Entra cá!

 

PARVO

 

Ao Inferno?... Espera lá....

 

Ui! Ui! É a Barca do cornudo!!! Pêro de Vinagre! Beiçudo, Lenhador de Alverca, uh, uh! SAPATEIRO da Candosa!

Entrecosto de carrapato! Ui! Ui! Caga no sapato,

Filho de uma grande aleivosa! (prostituta)

 

A tua mulher é tinhosa E há de parir um sapo,

Achatado num guardanapo! Neto de uma cagosa!

 

Ladrão de cebolas! Ui! Ui! Excomungado das igrejas! Burrelas, cornudo sejas!

Toma o pão que te caiu!(*) A mulher que te fugiu, Para Ilha da Madeira!

 

[(*) toma aquilo que mereces]

 

  

Cornudo até à mangueira, Toma o pão que te caiu!

Uh! Uh! Lanço-te uma pulha! (um manguito)

 

Toma, toma! Pica naquela! Hump! Hump! Caga na vela! Cabeça de grulha!

Perna de cigarra velha, Caganita de coelha,

 

Pelourinho da Pampulha!

 

Mija na agulha, mija na agulha!

 

Chega o Parvo ao batel do Anjo diz:

 

PARVO

 

Oh da barca!

 

 

ANJO

 

Que me queres?

 

 

PARVO

 

Queres-me passar além?

 

 

ANJO

 

Quem és tu?

 

PARVO

 

Talvez alguém.

 

ANJO

 

Tu passarás, se quiseres;

Porque em todas os teus afazeres, Por malícia não erraste.

Da tua simpleza te bastastes, Para gozar dos prazeres.

Espera no entanto aí, Veremos se vem mais alguém, Merecedor de tal bem,

Que deva entrar aqui.

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