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Crossverse: Os Lordes Implacáveis

Capítulos 10

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Crossverse: Os Lordes Implacáveis CAPÍTULO UM

UM DIA COMO QUALQUER OUTRO

Dia 25 de julho de 1986, Brasílius – Spiriktworld.
Era mais uma sexta-feira movimentada em Saint Paul City, a capital do estado de Saint Paul, a maior e mais agitada cidade de Brasílius, com seus quase dez milhões de habitantes naquela época. Saint Paul, assim como todas as cidades de Spirikworld, era subdividida em três grandes blocos, mais o centro: bairros neutros, bairros luminosos e bairros sombrios. Era a famigerada Segregação Suprema, e mais ninguém estava surpreso com aquele estilo de vida. Os luminosos, os servos de Cristo, cheios do Espírito Santo, possuíam livre acesso aos bairros neutros, com tanto que não libertassem ninguém “inocente” dentro da lei. Ou seja, os luminosos poderiam usar seus poderes sobrenaturais, que não feriam e muito menos matavam, para libertar bandidos ou pessoas perigosas, senão corriam o risco de serem presas pela polícia neutra. Os sombrios que eram o problema... Eles não eram bem-vindos em lugar nenhum, mas viviam dando trabalho e sendo vistos em locais inadequados. Os sombrios, aqueles que adoravam abertamente a Satanás e seus demônios, que eles chamavam de Hellman e os sentinelas das trevas, possuíam um estilo de vida extremamente controverso, totalmente oposto aos padrões de vida do cristianismo ou, até mesmo, de alguns neutros, que prezavam pela família. Os sombrios não apenas adoravam Hellman, mas praticavam tudo aquilo que seu senhor ordenava, como sacrificar pessoas em seu nome, ou usar drogas ilícitas, matar pessoas por mero prazer, raptar cidadãos inocentes e forçá-los a serem possessos por demônios, dentre outras coisas. Eram a favor do “sexo livre”, da prostituição legalizada, de toda e qualquer idade, bebiam, fumavam, praticavam tudo aquilo que um servo de Satã tem direito. Por conta disso, os luminosos e os sombrios viviam em pé de guerra, literalmente, sobrando sempre para os neutros. Logo, a segregação por bairros era necessária, pra manter as pessoas em segurança, para manter “a ordem aparente”.
Mas, o que acontecia quando um sombrio decidia sair de seu bairro, para visitar alguns amigos neutros, e no meio da conversa ele resolvia que era necessário deixar o demônio dentro de si tomar forma, se transformando em um possesso, que pode ser de diversas classes, como um lobisomem por exemplo? E se esse lobisomem ameaçasse as vidas das pessoas inocentes sem poderes? Quem iria resolver a situação, pelo sangue de Cristo?! Era nesse momento que entravam em ação os Defensores de Almas. Pessoas cheias da unção de Deus, capazes de proezas extraordinárias, dominadores de poderes elementais luminosos, usando armas ungidas e sobretudo branco. Os Defensores de Almas eram aptos para lutar contra lobisomens, raposomens e, até mesmo, contra vampiros. Eles eram aptos para enfrentar os temidos Agentes Sombrios, servos de Hellman, que também possuem poderes elementais, só que do mal. Então, quando surge um possesso ou
 
grupo de Agentes Sombrios, tentando invadir algum bairro, para raptar pessoas, ou para fortalecer o crime organizado naquela região, os Defensores de Almas entram em cena, para lutar contra o mal, em Nome de Cristo!
Contudo, como Mateus DiCristh bem sabia, a realidade era bem mais difícil do que em um anúncio da televisão. (Isso mesmo, o texto inicial deste capítulo era um anúncio de televisão de um canal cristão de Brasílius). Mateus sabia que os Defensores de Almas não eram invencíveis, que eram falhos, que poderiam morrer em combate. Ao ver aquele anúncio, pela centésima vez, Mateus ponderou e disse:

—    Eu amo o que eu faço, Jesus, mas o Senhor sabe o quanto estou frustrado com os Defensores! E como estou cansado de toda essa... Politicagem!

O rapaz suspirou e voltou a almoçar, um prato de arroz e feijão, com um pedaço de carne frita. Mateus DiCristh era um rapaz negro de dezoito anos de idade e era Defensor de Almas desde os treze anos. Seus pais eram Defensores, e seus avós também, sendo alguns dos fundadores dos Defensores de Almas em Brasílius, junto do lendário Baltiste. Estava no sangue da família ser um Defensor de Almas, era quase automático, bastava nascer com pelo menos três poderes elementares e pronto. Um teste de unção era realizado e o jovem poderia iniciar como estagiário à partir dos treze anos de idade, assim como Mateus o fez. O sonho do rapaz era trazer justiça para a cidade de Saint Paul, ganhando almas para Jesus, usando seus poderes luminosos: dominação de metais ungidos, dominação de eletricidade e a raríssima dominação de diamantes e cristais sobrenaturais. Além disso, Mateus DiCristh era portador de super habilidades, que era a capacidade de fazer tudo melhor que os demais, como saltar mais longe ou ter uma resistência acima do comum. (Lembrando que era extremamente normal ter super poderes em Spiriktworld, diga-se de passagem). Já não bastasse, Mateus era um gênio da mecânica e da eletrônica, sabendo como ninguém conectar fios e consertar veículos motorizados. Mateus DiCristh seria de grande valia para os Defensores de Almas, uma verdadeira lenda para a glória de Deus! Mas, não foi bem isso que ocorreu…

—    Tá comendo ou tá dormindo, oh sonhador? Hehe! – disse um dos amigos de Mateus, Marcelo Durval, o “Elementar”. Um defensor de almas de uns vinte e três anos de idade, magro, branco e hábil dominador de fogo, eletricidade e água – e portador de uma língua ardilosa, só pelo Sangue de Jesus!

—    Não me venha com suas piadas sem graça, oh Marcelo! Deixe eu comer em paz... – disse Mateus DiCristh, que parecia estar bem chateado, comendo uma garfada de cada vez.

—    Oh que isso DiCristh? Calma aí, meu irmão... Não quis ofender! – disse Marcelo, colocando o prato sobre a mesa e retirando o sobretudo branco, típico dos Defensores de Almas, para poder almoçar com mais liberdade.
 
—    Eles nunca me escutam, Marcelo! – disse Mateus, irado. – Aqueles anciãos, da Base dos Defensores, nunca me escutam e nem vão me escutar! Culpa daquele senhor Tobias, dono daquela escola de “mauricinhos” metidos a ricos! Que Jesus me perdoe por isso... – levou mais um garfo com comida à boca.

Marcelo escutava e mastigava, até que chegou no bife frito, e resmungou:

—    Hum... Aê? Gente! pela misericórdia de Deus, quem foi que fritou esse bife aqui? Tá mais duro do que tanákhio bruto! Que o Senhor me livre!

De repente, alguém gritou, de dentro da cozinha, dizendo:

—    Tá melhor que aquele seu frango refogado da semana passada, seu mal agradecido!

Ao reconhecer aquela voz feminina forte, Marcelo quase engasgou e disse, arrependido:

—    Oh Deus! Ah! É... Emanuelle? Ah, foi você quem cozinhou hoje? Ah me perdoe, Manu, pensei que fosse o “Montanha”. Hehe... Perdão! A comida tá ótima, minha querida! Eu que tô com a boca ruim mesmo, sei lá.

—    Aham, sei... Mentir é pecado viu, seu atribulado! – gritou Emanuelle, uma moça negra e forte, hábil dominadora de água, vento e tanákhio, além de ser super veloz e possuir chakrans ungidos.

—    Alguém falou comigo? – disse Alberto “Montanha”, que estava deitado no sofá, do outro lado do refeitório. Ele era chamado assim por conta de seus poderes: super força, quase invulnerável, dominador de rochas, areia e água.

—    O Marcelo disse que você não sabe cozinhar, oh Montanha. – disse uma jovem, que passava pelo refeitório, chamada Ana Santos, a Piloto. (Ela literalmente pilotava a hipernave da equipe, além de dominar metal, eletricidade e fogo ungidos).

—    Ah, qual é gente! Eu só tava brincando. – disse Marcelo, tentando salvar a própria pele. – Vai Mateus, me ajuda aí, me defende cara!

—    O que? Eu?! Te defender? Me deixe fora disso. – disse Mateus, com a boca cheia.

Quando a situação estava para virar uma discussão acalorada, a capitã Diana Moraes chegou no recinto, dando uma pisada no chão, usando seus poderes elementares, causando um pequenino tremor de terra no refeitório, fazendo todos ficarem em silêncio, repentinamente. Diana era uma mulher decidida, de quase trinta anos de idade, cabelos castanhos e dominadora de vento, terra e fogo, além
 
de ter o “dom da liderança” e super habilidades. Enfim, ela virou-se para Marcelo e disse:

—    Discutindo por causa de besteira de novo, Marcelo? Essa é a, deixe-me ver, milésima vez, só nessa semana? Vou ter que te deixar de castigo, no turno da noite?

Marcelo Elementar quase engasgou e depois respondeu “Não senhora, perdão capitã”. Todos os demais estavam com as cabeças baixas, um pouco constrangidos. Emanuelle queria rir, mas conteve o riso. Mateus era o único que continuava a comer, sem se importar com a presença da Capitã Diana. Por conseguinte, Diana foi até sua mesa, sentou-se de frente para ele e disse:

—    Ah eu sinto muito, DiCristh, que não tenha dado certo sua audiência com o Conselho de Anciãos dos Defensores de Almas. A gente já sabia que eles nunca iriam aceitar as ideias de um membro dos DESP (Defensores Especiais de Saint Paul). Nós somos vistos apenas como um “grupinho” de sonhadores, e você sabe disso!

—    É Mateus! Não fica assim não! Pelo menos você ainda pode usar suas invenções aqui, em nosso quartel general e em nossas armas ungidas. É melhor do que nada! – disse Ana Santos, que estava sentada em uma mesa ao lado.

—    E pelo menos você não é feio, como o Montanha! – disse Marcelo.

—    O que você disse?! – disse Alberto Montanha, irado.

—    Parem vocês dois! É sério! – disse Capitã Diana.

—    Imaturos... – sussurrou Emanuelle.

Mateus, contudo, não esboçava reação, apenas terminava de almoçar e de tomar um gole de suco natural de laranja. A capitã continuava a encarar DiCristh, que resolveu dizer algo, apenas para quebrar o clima tenso:

—    Eu estou bem, capitã. Sério! Só estou um pouco triste, só isso. É uma pena que eles, os anciãos, não enxerguem que a situação é crítica e que nós precisamos da tecnologia ungida para nos auxiliar a enfrentar os sombrios. Eu não tiro completamente a razão deles. Afinal, se eu tivesse tanta fé e unção em Deus como, por exemplo, Lorde Tobias, também não iria precisar de um “fútil e mundano campo de força laser”. Até porque, os Defensores de Almas estão cheios de unção, todos os dias, o tempo todo! – Ele estava muito frustrado.

Ao ouvirem aquilo, os amigos de Mateus ficaram cabisbaixos e muito tristes, assim como o jovem defensor de almas. Capitã Diana, porém, disse:
 
—    Os Anciãos defensores de almas, por terem muitos poderes elementais e anos de experiência com Deus, acreditam que são imbatíveis. Eles acreditam que um Defensor de Almas não precisa de tecnologias, ou de armas tecnológicas. Alguns até mesmo repudiam o uso de armas e veículos, pois prezam pelo uso constante dos super poderes elementais. Acham que estão protegidos, pois podem usar as técnicas secretas de “corpo elementar intangível”, que os tornam virtualmente imortais por alguns minutos. Tolos! Eles perderam a fé em Cristo e passaram a confiar em si mesmos, isso sim! Mas, eu não os culpo... Afinal, tudo que é novo e desconhecido nos assusta.

—    O que me assusta são aquelas bombas de unção que o Mateus guarda no dormitório dele! Meu Deus! Se aquelas coisas explodirem, vão libertar a cidade inteira! BOOM! – disse Marcelo, repentinamente.

Os demais tentaram segurar o riso, mas foi uma tarefa árdua. Emanuelle, contudo, disparou uma rajada de vento das mãos, para deixar Marcelo envergonhado. Mateus viu aquilo e soltou um sorriso, o que deixou sua capitã menos preocupada com o jovem rapaz. Naquele exato momento, quando todos estava rindo, vendo Marcelo e Emanuelle discutindo, mais alguém surgiu no refeitório.

—    Perdão pelo atraso! Mas eu estava almoçando com meus pais, como manda a tradição. – disse uma jovem descendente de japoneses, de uns dezenove anos de idade, com a pele levemente morena e lindos cabelos negros e lisos. Ela também usava o sobretudo branco, o que indicava que era uma Defensora de Almas, além de possuir uma espada japonesa na bainha.

Quando Mateus DiCristh a viu entrando pela porta do refeitório, seus olhos brilharam e seus lábios pronunciaram, quase que automaticamente:

—    Laiting!

—    A Paz do Senhor, Mateus! Tudo bem com você? – disse ela, Júlia Laiting Yamatsu, a Defensora “Japonesa”.

Ao vê-la, Capitã Diana exultou e disse:

—    Ah graças a Jesus você chegou, senhorita Yamatsu! E fique em paz, eu sei que você precisa almoçar com sua família, sempre que pode. Aqui não é um quartel do exército, então, aproveite as regalias, enquanto pode!

—    Porque “enquanto pode”? O que houve, em minha ausência? – disse Laiting, confusa.
 
—    Rejeitaram o meu projeto, Júlia. – disse Mateus, levantando-se da mesa, segurando seu prato sujo nas mãos. – E disseram que os DESP são uma perda de tempo e de recursos e que pretendem nos fechar, em breve.

—    E nos chamaram de “um grupo de jovens frívolos”, sei lá o que essa palavra signifique... – disse Ana Santos, que por ser descendente de nativos indígenas, sentia-se como uma irmã de Laiting. – Ah nosso! Amei as suas franjas, meio estilo anime gospel! – salientou ela.

—    Oh misericórdia! – disse Júlia Laiting. – Ah, sim, valeu Ana! Eu odeio esse negócio de ficar “mexendo” em minha aparência, mas minhas tias insistiram.

Marcelo, que notou um clima meio diferente no recinto, decidiu pegar seu prato, por comer, e disse, ao se retirar:

—    Ah, eu acho que o Isaque quer conversar com a Rebeca... Então, falou! Tô indo nessa! Ah, e uma outra coisa, oh, “Lighting”... “iluminando” em inglês... Seu nome é japonês ou chinês, ou é inglês mesmo, tô confuso?

—    Tô logo atrás de você, Marcelo! – disse Alberto Montanha, levantando-se do
sofá.

—    Verdade! Me lembrei que preciso ir no banheiro... Vamos lá, Ana! – disse Emanuelle e puxou a amiga pelos braços.

—    Eita! Tô indo! Falou Laiting! – disse Ana, ao sair.

Júlia e Mateus viram aquilo e riram de canto. Contudo, Laiting não iria deixar o comentário de Marcelo passar desapercebido e respondeu-lhe:

—    Meu nome é Lai-Ting, e sim, é um nome de uma ancestral chinesa de minha família, que foi negada por gerações, até chegar na linhagem de meu pai, senhor Marcelo. E eu sei que “Lighting” é mais legal de se escrever, mas é só um apelido de escola! Respondi à sua pergunta?

Constrangido, mas ainda relutante, Marcelo coçou seus cabelos loiros e seu bigode, virou-se de costas e disse, resmungando, ao sair do refeitório:

—    Que seja, Lai-Ting! Você venceu... Mas Lighting é muito mais legal hehe!

—    Eu vou te dar uma espadada ungido, isso sim! – disse Laiting, e Marcelo saiu a correr.

Depois daquela cena, Capitã Diana meneou a cabeça, em sinal de reprovação, e disse:
 
—    Talvez eles tenham razão: Nós somos um bando de jovens tolos e frívolos!

—    Eu não sou frívola, capitã! Pode ter certeza disso. – disse Laiting, com convicção e fé.

—    Eu sei, Yamatsu, eu sei e Jesus também. Mas, tá bom... Podem conversar, mas de forma santa! Pelo amor de Deus. Eu espero vocês para a ronda da tarde. A Paz do Senhor! – disse a capitã Diana e se retirou.

—    Amém, capitã! – disseram ambos, Mateus e Laiting.

Enfim, os dois estavam a sós, apenas eles e Deus, no refeitório do quartel general dos Defensores Especiais de Saint Paul, que ficava na extremidade sul do bairro dos Defensores de Almas, próximo ao centro da cidade. Os dois se entre olharam e disseram:

—    Vamos para o terraço? Vamos!

Desta maneira, Mateus DiCristh e Júlia Laiting subiram ao teto do quartel general, que era uma espécie de pequeno prédio, quase um bloco de condomínio. De lá, eles conseguiam avistar a maior parte do bairro e até mesmo dos prédios ao longe, do centro de Saint Paul. Era um dia agradável do mês de julho, ventava pouco, mas também não estava quente. A cidade parecia estar tranquila, mais do que o habitual. Ambos se sentaram num banco improvisado, feito de metal ungido, ou tanákhio, e começaram a conversar, sobre o ocorrido.

—    Eu deveria ter ido com você, Mateus! Eu sabia que aqueles “anciãos” iriam esmagar você e sua tese. Eu sinto muito! – disse Laiting, tentando confortar o rapaz.

—    Ah não, que isso Júlia! Fica em paz! Você tinha um compromisso com a sua família, com seus pais. E, além do mais, não iria adiantar muita coisa você ter ido lá hoje... Só iria passar raiva e ficar “na carne”. – disse Mateus, um pouco triste.

—    E eu iria mesmo! Você é um gênio, Mateus, e um servo de Yesu talentoso! Não merecia ser tratado dessa maneira. Sua tecnologia de acumulo de unção em frascos e diamantes é genial! E seus campos de força não perdem em nada para as tecnologias da ASL (Agência Supervisora Luminosa). Seus veículos aprimorados são excelentes e conseguem ter mais êxito do que três defensores de almas comuns juntos! – Laiting estava empolgada em seu discurso, mas ela não estava exagerando.

—    E para piorar, ainda disseram que vão nos fechar, em um ano ou menos! Os DESP são uma perda de tempo e de dinheiro para os Anciãos. Certamente, meus projetos serão jogados no lixo, e terei de ir trabalhar com um Defensor de Almas comum, assim como meus pais foram. – disse Mateus, desolado.
 
Ao ver aquela situação, Júlia Laiting sentiu-se indignada. Logo, levou suas mãos ao rosto de Mateus DiCristh, trazendo-o para perto, fixando seus olhos puxados nos olhos negros e tristes do jovem inventor. Em seguida, Laiting disse, com força e unção:

—    Não se deixe menosprezar por esses religiosos da velha-guarda, meu Defensor de Diamante! Você não é qualquer um! Deus não te chamou para ser mais um! O Espírito Santo te deu dons especiais, uma mente genial e ideias brilhantes para ganhar almas ao Seu Reino na Terra! Então, não perca sua fé e muito menos deixe sua unção se esvair, Mateus DiCristh! Você é muito mais do que um mero defensor de almas comum, meu amor! Você é um herói luminoso, um verdadeiro Lorde Ungido. Então, levante a sua cabeça, enxugue suas lágrimas, dê glória a Yesu Kirizutu e siga em frente, rumo ao alvo!

Ao terminar aquele discurso caloroso e poderoso, Laiting não resistiu e deu-lhe um beijo, que quase durou um minuto inteiro, tamanha era a intensidade do momento. Ao se afastar, Mateus perguntou:

—    Quer casar comigo, Laiting?

A defensora japonesa riu e respondeu:

—    A gente tá namorando faz só dois meses e você já está falando em casar?!
Meu Kami... Deve estar muito desesperado mesmo!

—    Desesperado não, Júlia! – disse Mateus, de forma séria. – Eu estou apaixonado, de verdade! Por Cristo! Se pudesse, eu me casava com você agora mesmo!

—    Calma aí tigre da montanha! Vai na paz... – disse Laiting. – Nada de tomar decisões precipitadas. Você está triste e decepcionado, precisa descansar e deixar Jesus te consolar. Depois a gente fala sobre casamento!

—    Depois quando? Hein? Depois que eu ficar desempregado? Ou depois que eu ficar totalmente desacreditado, uma vergonha para minha família? Talvez seja melhor mesmo a gente não falar sobre isso... Só Jesus sabe se isso vai dar certo! – disse Mateus, triste, mais uma vez. – Você nem sequer me deixou visitar seus pais ainda!

—    Eu já falei o motivo, Mateus. – disse ela, irada. – Eles são muito tradicionais, principalmente meu pai, Nobiro San. É preciso esperar o momento oportuno, quando nosso relacionamento estiver mais maduro. E quando você estiver preparado para o peso da responsabilidade.
 
—    Quando eu estiver pronto para o “peso da responsabilidade”? Como assim, Laiting? – disse Mateus, confuso. – Você acha que eu sou imaturo, é isso? Que eu não posso arcar com as responsabilidades de ter uma família, de ser pai? Eu posso ser jovem, mas já sou bem vivido, tá legal! Fala sério!

Ao dizer isso, Mateus levantou-se, irado, e foi para a beira do edifício. Júlia Laiting também estava um pouco irritada com aquela conversa, mas tentou conter-se. Depois de alguns minutos constrangedores, Laiting decidiu levantar-se e pensou em ir embora. Todavia, sua personalidade forte e sua fé em Yesu (Jesus) a impeliu a chegar perto de Mateus, na beirada do prédio e dizer mais uma coisa:

—    Eu te amo, Mateus, e quero que saiba disso! Mas você não compreende o risco real de ficar perto de mim! – sussurrou. – Talvez seja melhor eu ir agora. Vou deixar você refletir um pouco... Antes da ronda.

A jovem nipônica estava prestes a descer do telhado do prédio, quando Mateus virou-se, a abraçando e dizendo “me perdoe”. Naquele exato momento, Marcelo chegou no local e disse:

—    Ah aqui estão vocês dois! Seus pombinhos ungidos! Mas tá bom, chega dessas “frivolidades” juvenis! Vamos! Antes que vocês acabem pecando!

—    Ah sim, Marcelo, é verdade... – Disse Laiting. – Eu corro o risco de cair em pecado... Tacando minha espada em sua cabeça! – disse ela, ameaçando saltar pra cima de Marcelo.

—    Ai Jesus! – disse Marcelo e saiu a correr.

Mateus riu como uma criança, faltou chorar. Depois, ele segurou o rosto de Laiting e disse:

—    É por isso que eu te amo! – e deu-lhe mais um beijo, antes de partir.

—    Afe! Se acha que vai casar comigo com esse romantismo barato de filmes da sessão gospel, você pode tirar seu “jokubo” da chuva! – disse Laiting.

—    Ah tá bom! Glória a Deus! – disse Mateus. – O que é “Jokubo” mesmo?

—    Ah, ocidentais! Não sabem de nada. – disse Laiting e saltou, usando seus poderes, pousando na sacada, no andar de baixo.

Mateus sorriu e agradeceu a Deus por Laiting existir em sua vida, e a seguiu, mas com menos estilo e destreza.

Aquele dia acabou sendo extremamente banal, tirando a turbulenta reunião de manhã cedo. A equipe da Capitã Diana foi fazer a ronda diária da tarde, rumando
 
para os bairros neutros e o centro da cidade, mas não tiveram nenhum encontro sinistro, com inimigo algum. A cidade estava calma, estava tranquila, estava pacífica, até demais. Para fazer a ronda diária da tarde, a piloto Ana Santos utilizava uma hiper nave especial, adaptada por Mateus DiCristh para suportar o peso de Alberto Montanha, um hábil dominador de rochas, areia e água, que também era super forte. Capitã Diana usava uma motocicleta tecnológica, e os demais, Emanuelle, Marcelo e Mateus usavam um veículo especial, um tipo de carro aprimorado com campos de força. Júlia Laiting gostava de usar sua dominação de vento, para sobrevoar a cidade, sem o auxílio de tecnologias. Ela também era uma hábil dominadora de fogo e metal, além de ser uma mestra espadachim em diversas artes de combate orientais. Os DESP, juntos, eram imbatíveis, e os agentes sombrios sabiam disso. Por fim, por volta das seis horas da tarde, a ronda terminou, sem nenhuma batalha ou confronto. Enfim, todos rumaram de volta para o quartel general. Mateus DiCristh dirigia seu veículo aprimorado, tranquilamente, quando, de repente, uma mulher de cabelos vermelhos surgiu em sua frente!

—    Meu Jesus! Que isso?! – gritou ele e freou bruscamente o “super carro”.

Marcelo, ao ver aquela cena, fico irado, saiu de dentro do veículo, e disse para a mulher ruiva misteriosa:

—    Oh minha senhora! Tá tudo bem? A senhora queria se matar é? Sinto muito avisar que esse veículo é luminoso! Tá bom! O máximo que iria acontecer é a senhora ficar caída no chão, chorando e pedindo perdão a Deus, liberta! Não tem mais o que fazer não?

—    Marcelo, seu maluco! Pode ser uma emboscada dos sombrios! – disse Emanuelle.

—    Entra de volta no carro, Marcelo! – disse Mateus.

—    Não! Esperem! Vocês precisam me escutar! Todos vocês correm risco de vida! – disse a moça de cabelos vermelhos, repentinamente.

—    O que? A gente, correr risco de vida? Não, que isso... – disse Marcelo. – A gente é defensor de alma, minha filha! A gente come o risco de vida no almoço!

Contudo, de forma inusitada e inesperada, a jovem ruiva aproximou-se do veículo e fixou seus olhos em Mateus, que estava ao volante. Emanuelle e Marcelo, pasmos, ficaram em prontidão, para atacá-la e libertá-la. Logo, ela focou em Mateus e disse-lhe:

—    Vocês não tem muito tempo! Um ataque visceral está vindo aí! Um ataque repentino e grandioso, que irá matar todos vocês, se não me derem ouvidos!

—    E quando será esse ataque, me diga? – disse Mateus.
 
—    Hoje mesmo! Daqui a pouco na verdade... Nós não temos tempo! – disse aquela jovem ruiva, com seriedade.

—    E como você sabe disso, hein? – disse Marcelo.

—    Porque meu pai é, simplesmente, o capitão da guarda sombria de Lorde Valentino, Raul Rocha, o segundo no comando dos sombrios dessa cidade, junto de Dhemas, o mestre dos Empedrados. E eu sou Mariane Sintra Rocha, profetiza do Senhor Deus, portadora do dom de discernimento de espírito, senhor Marcelo Durval! Homem de pouca fé... – disse ela, irada.

Ao ouvirem aquilo, ambos ficaram pasmados e trêmulos. Mais do que depressa, Mateus DiCristh acionou um mecanismo, abrindo a porta de trás de seu carro, dizendo:

—    Entre aí, agora mesmo, minha cara! Precisamos avisar a capitã Diana, antes que seja tarde demais!

—    Que assim seja! – disse ela e obedeceu.

Marcelo voltou ao seu lugar, no banco da frente do veículo, dizendo:

—    Eu não sou homem de pouca fé!

—    Ah Marcelo! Conta outra vai! – disse Emanuelle. – Mateus, pisa fundo! Que Jesus nos ajude!

—    Amém! – disse Mateus e dirigiu, rumo ao quartel general dos DESP.

Mas, afinal, quem era aquela garota ruiva? Ela estaria falando a verdade? Aquele seria um ataque de qual magnitude? Apenas saberemos no próximo capítulo.

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