Crossverse: Os Lordes Implacáveis CAPÍTULO OITO
NA MANHÃ SEGUINTE
Mariane Sintra Rocha, a profetisa ruiva, de olhos dourados, despertou repentinamente, como se tivesse tendo um pesadelo. Seus olhos estavam vendados, por algum tipo de tecido médico, embebido com nitrato de luz. Suas vistas ainda estavam um pouco embaçadas, mas já voltavam ao normal. Ela levou as mãos aos olhos, retirando as vendas, esfregando o rosto, buscando focar melhor as vistas. Mariane ainda não sabia onde estava e nem como ela foi parar ali, naquele lugar de paredes brancas. Seria um hospital luminoso da ASL? De repente, uma mão tocou seu braço esquerdo, e uma voz doce e idosa conversou com ela, dizendo:
— A Paz do Senhor Jesus Cristo, minha filha! Você está bem? Está melhor?
Consegue me ver?
Mariane reconheceu aquela voz, aquele toque, e respondeu, dizendo:
— Mãe?! É a senhora? Nosso Deus! Ainda estou vendo um pouco turvo.
— Sim, minha filha, sou eu, sua mãe. – disse ela, dona Vanessa Sintra. – Falaram pra mim o que você e seus amigos fizeram, para ganhar a alma de seu pai para Jesus. Oh minha pequena de cabelos vermelhos! Que Jesus te abençoe sempre! Seu pai se converteu, para Cristo, depois de tantos anos?! Eu quase não acreditei quando falaram para mim!
— Falaram para a senhora? Como assim?! Onde está o pai? – disse Mariane, tentando se levantar da cama de hospital.
Naquele momento, ela enxergou um vulto dourado, que entrava na sala.
Parecia uma mulher, que disse-lhe:
— Calma, Mariane. Seu pai está bem, graças a Jesus! Ele foi levado para um Centro de Recuperação Luminoso especial e ultra secreto, junto de outros vilões, como o primo do Mateus DiCristh e o tal de Dhemas. Acho que a Catrina foi pra lá também. – aquela voz era muito familiar.
Mariane escutou aquilo e ficou confusa, até que ela recebeu algo, diretamente do Mundo Espiritual: “O Ataque dos Sombrios terminou, minha filha. Os sombrios foram derrotados, pelo Meu poder”. Portanto, ela disse:
— É você, não é, Roberta? Então eu dormi um bom tempo! Que horas são agora, meio-dia? Lady Catrina foi derrotada pelos Holyblesseds e a ASL?! Meu Deus! Então, Jesus venceu, mais uma vez.
— Graças a Deus que sim, sua profetisa ruiva meio sem noção! – disse Roberta, se aproximado mais da cama onde Mariane estava, ficando menos borrada. – Eu te avisei que você poderia ficar com cegueira temporária, não avisei?
— Ah minha filha sempre foi assim, meio teimosa! Acho que puxou pro pai. – disse Dona Vanessa.
— Eu tinha que fazer aquilo! – disse Mariane, tentando focar melhor as vistas. – E você, Cavaleira da Fé... Porque você não disse “Unção Sem Limites” e usou sua armadura divina dourada, hein?
— Ah então. – disse Roberta, um pouco pasma. – O Espírito Santo não me deixou fazer isso. Me perdoe! Ainda não era a hora.
Porém, mais alguém estava do lado de fora da sala e, ao escutar aquela conversa, entrou meio brava no quarto, dizendo:
— Por Yesu! Nós quase morremos lá! E você tinha uma arma secreta, por Kami?! – era Júlia Laiting, meio irritada.
— Eu sabia que ela estava “escondendo o jogo”, o tempo todo. – disse José, rindo. – A Paz do Senhor, ruiva de Jesus! Como você está?
— Então, você tinha um poder divino tremendo e não usou? Oras! E aquela conversa de acessar todo o nosso potencial, hein? – disse Mateus, de braços cruzados.
Roberta Anna Espiritual ficou vermelha de vergonha, tentando explicar que tudo aquilo foi uma ordenança de Deus. Vendo aquilo acontecer, bem diante de seus olhos, Mariane começou a rir, que chegou a chorar. José, Mateus e Laiting ficaram olhando para ela, com uma “cara” de que não estavam muito satisfeitos com aquela situação.
— Ela está rindo da gente? – disse Mateus.
— Ah acho que sim. – disse José.
— Com certeza ela está rindo de nós! – disse Laiting.
— É, ela está rindo de nós, pois ela “sonhou com esse momento”, não é verdade? – disse Roberta.
— É! Sim! Eu sonhei com esse momento! Jesus sabe! – disse Mariane, e começou a chorar, do nada.
— Ah não fica assim não, ruiva! Pode rir de mim, a vontade! – disse José, que decidiu dar-lhe um abraço.
— Ah muito obrigada, bonitão... Digo! Varão! Muito obrigada, varão! Eu disse varão, não bonitão. Deixe pra lá. – disse Mariane, mais vermelha que a bandeira do Japão.
Vendo aquilo, todos caíram numa gargalhada coletiva santa, sem pecado, sem malícia alguma. Mas, a situação ficou caótica mesmo quando Marcelo, Emanuelle, Ana Santos, Alberto Montanha e Capitã Diana apareceram no quarto de Mariane, para agradecer a ela pessoalmente pelo enorme feito, para a glória de Deus. Marcelo viu José abraçado a profetisa ruiva e disse:
— Ah como assim?! Eu também quero um abraço!
— Montanha, abraça ele! – disse Emanuelle.
— Pode deixar. – disse ele.
— Não, de você não! – disse Marcelo.
Todos riram, menos Capitã Diana, que meneou a cabeça, dizendo “Misericórdia Senhor”. Contudo, a festa acabou quando chegaram os médicos, enfermeiros e auxiliares de medicina no local, mandando todos deixarem aquele quarto, em silêncio, imediatamente. Então, um a um, de cabeça baixa, deixaram o local, dando um tchau para Mariane, que acenou de volta, feliz da vida, em Jesus Cristo.
— Obrigada, Senhor! Muito obrigada! – dizia ela, em seu espírito.
Sim, aquele era dia 26 de julho de 1986, Brasílius – Spiriktworld; um dia depois do famigerado Ataque dos Sombrios. Todos os agentes sombrios e ex-possessos que participaram do ataque, Saint Paul, Janeirópolis ou outros estados do país, foram presos pela ASL e pela polícia luminosa. Raul Rocha e seus comparsas, como Thiago DiCristh, foram levados para um CRL ultra secreto, junto de Lady Catrina e o ninja assassino detido por Tenente Calebe, Akatsu Otomo. A família estava bem e de volta em sua casa, recebendo os devidos tratamentos médicos em casa. Pouco a pouco, as coisas estavam se normalizando, mas a passos bem lentos. Mateus DiCristh reencontrou-se com seus pais, Santiago e Carolina, que ficaram felizes por saber que seu filho estava vivo, tristes pela morte do avô Moisés, que havia sido enterrado horas atrás, e chocados pela descoberta de que Thiago estava vivo e servindo ao mal. Sim, aquele foi um dia de luto, para os Defensores de Almas, que tiveram que enterrar muitos mortos, incluindo os Anciãos, mas também foi um dia
de luto para as famílias sombrias, que perderam seus entes quando a hipernave-mãe incinerou o prédio central do bairro sinistro. Ao menos, os servos de Cristo morreram com Deus, mas e os servos de Hellman, morreram com quem? Só Jesus sabia!
Por conta de alguns ferimentos leves, Mariane e Mateus foram levados para um hospital luminoso que pertencia aos Defensores de Almas em Saint Paul City e foram tratados feito heróis, ainda mais depois da notícia de que Lady Catrina havia sido derrotada, finalmente. (Leia mais sobre essa estória no livro “Crossverse Os Holyblesseds”, publicado em 2021). Mariane ainda estava se recuperando das vistas, por isso sua mãe foi ficar com ela, durante a internação, que durou apenas um dia. Mariane logo voltou a enxergar perfeitamente, graças a Deus. José, nesse meio, voou para sua casa e tranquilizou seus pais, que assistiam todas aquelas notícias pela televisão. Contudo, ele voou de volta, ao hospital, pois começava a sentir algo forte pela profetisa ruiva. Roberta Espiritual também recebeu a visita de seu pai, Sr. Samuel, que estava preocupado com sua filha caçula. Mas, quem mais ficou surpresa em receber uma visita, naquele hospital ungido, foi Júlia Laiting Yamatsu. Quando ela percebeu, seu pai, Nobiro Yamatsu, estava ao seu lado, no banco de visitantes, dando-lhe a Paz de Yesu. A jovem espadachim, que parecia ser feita de tanákhio e aço, quase transformou-se em lágrimas, ao ver e abraçar seu bondoso pai. E, por incrível que pareça, aquela foi uma excelente oportunidade para o pai de Laiting conhecer Mateus e para os pais de DiCristh conhecerem Júlia. A primeira coisa que Nobiro perguntou para Mateus foi a seguinte:
— Dansei! Venha cá. Você ora todos os dias a Yesu? Lê a Bíblia todos os dias? É batizado com o Seirei, no fogo de Kami? Olhe lá, hein! É homem de uma mulher só? Já foi casado antes? É virgem? Tem filho?
— Pai?! – disse Laiting, pasma. Mateus, um pouco pasmo, respondeu:
— Eu nunca fiz nada de errado com mulher nenhuma, senhor Nobiro, pode ter certeza disso! E nunca fui casado, nem tive filhos, ainda. E busco a Deus, o máximo que posso, e sempre leio a Bíblia, pois esse é o dever de todo Defensor de Almas. Ah sim, sou batizado no Espírito Santo. Ufa! – ele estava ofegante. – Qualquer coisa, pode conversar com a minha mãe, dona Carolina, ou meu pai, capitão Santiago.
Nobiro ainda estava um pouco desconfiado mas, quando olhou para os olhos do garoto e, depois, viu que faltava um braço em senhor Santiago, ele baixou a cabeça e disse:
— Vocês são uma família de guerreiros de Kami, assim como a minha. Meu pai morreu, em 1920, quando nós fugíamos do Japão. Ele era um grande Bushi, samurai, mas aceitou a Yesu e foi chamado de traidor. Eu me sinto muito honrado em fazer parte dessa nobre família! – disse ele e curvou-se.
Laiting estava segurando as lágrimas, e Mateus decidiu mostrar seu respeito imenso que sentia pelo seu sogro, à sua maneira, dando-lhe um forte abraço. Depois, no entanto, o soltou, pedindo perdão. Todos riram e depois fizeram silêncio, pois uma das enfermeiras estava meio irritada. Por fim, senhor Nobiro e senhor Santiago viraram grandes amigos e estariam presentes no futuro casamento dos filhos.
— Ah verdade! Quando você pretende se casar com a minha filha, senhor Mateus? – disse Nobiro, com um olhar medonho.
— Pai?! – disse Laiting.
— Hoje, se o senhor deixar! – disse Mateus, com uma seriedade que assustou a todos.
— Não brinca com essas coisas, pai, é sério! – disse Júlia. Nobiro recuou um pouco e disse:
— Hum! Se ele te ama, minha kodomo, ele vai casar com você logo, pode ter certeza. Pelo contrário, não dou três meses e isso acaba!
Do nada, Mariane gritou, lá de seu quarto:
— Esse homem aí é profeta!
— Amém! – disse Mateus. – Então, até novembro, eu e a sua filha estaremos casados, na lei de Deus e na lei do Homem, amém? Pode ser?
— Hei! Vocês dois! Eu estou bem aqui, viu! Vou libertar todos vocês, isso sim! – disse Júlia Laiting e seus olhos soltavam faíscas, literalmente.
Ao ver aquilo, senhor Nobiro cochichou nos ouvidos de Mateus DiCristh:
— Ela é toda sua! – e saiu a correr.
Todos riram, mas com as mãos tapando a boca, para não fazerem barulho. Júlia estava muito irada, mas ficou mais calma, com um beijo rápido de seu amado Mateus. Os pais do garoto viram aquilo e disseram:
— Hei! Vá com calma aí, rapaz! Guarde isso para o casamento!
— Amém! – disseram os dois e ergueram as mãos, em sinal de rendição aos pais e sogros.
E, assim, os dias passaram.
A Base dos Defensores de Almas de Saint Paul foi reconstruída e memoriais foram feitos, em praças locais, para que ninguém esquecesse aqueles que caíram em batalha. A escola luminosa de Defensores de Almas Lorde Tobias recebeu um memorial especial, em homenagem de seu falecido fundador. Os Defensores Especiais de Saint Paul, após esses eventos, receberam o respeito e o status que mereciam, passando a serem respeitados por todos, até mesmo pela ASL, essa que deu total apoio aos projetos de Mateus DiCristh. Essa parceria tornou-se tão forte que Mateus recebeu uma visita de uma pessoa inesperada: um renomado cientista cristão, que era o inventor da maioria das máquinas, armas e naves da Agência de Supervisão Luminosa, Jackssom Holyblessed. O encontro ocorreu em meados do mês de agosto de 1986, no próprio quartel general dos DESP, que havia recebido uma belíssima reforma pela família de José, o Super Crente, com pintura, ar condicionado e tudo mais. Mateus pensava que iria ser preso, por conta daquilo que ele estava fazendo: utilizando engenharia reversa nas tecnologias de Jackssom para criar seus veículos aprimorados e tudo mais. Contudo, quando Jackssom o avistou, ficou extremamente feliz, pois havia encontrado mais alguém para conversar sobre Jesus, Bíblia, nerdices e tecnologias avançadas complexas.
— Então, o senhor não está bravo? – disse Mateus DiCristh, pasmo.
— Eu? Bravo?! Oh não, meu amigo! Por Deus! Eu estou é surpreso: como você conseguiu fazer engenharia reversa nas naves da ASL e no meu sistema de campo de força? Meu Jesus! Você deve ser um gênio e nem sequer tem noção disso, meu amigo! – disse Jackssom, empolgadíssimo. – E vejam só! Você fundiu seus poderes de dominação de diamantes e criou uma nova tecnologia de acúmulo de unção bruta, criando um novo elemento químico: o plasma-unção. Uau! Por Jesus! Isso é incrível! Suas tecnologias aprimoradas com plasma-unção e com os seus diamantes ungidos são três vezes mais resistentes que as minhas invenções! E olhe que eu sou super inteligente, dominador de metais e eletricidade, sério. Glória a Deus!
— Ah amém! – disse Mateus, muito pasmado.
— Eu disse que você era um gênio, Mateus! – disse Laiting. – Ah Jackssom, a Paz! Há quanto tempo. Como vai a família? – disse ela, acenando.
— Oh Lighting! Digo, Laiting! A Paz do Senhor! Há quanto tempo mesmo! Estamos bem nos recuperando do susto. – disse Jackssom, que havia sido colega de classe de Júlia, há anos atrás.
— Ah vocês se conhecem?! – disse Mateus, surpreso e com um pouco de ciúmes.
— Ah sim! Ela é incrível, sempre tirava as melhores notas em Educação Física, salvando a minha pele! Bons tempos. – disse Jackssom. – Meu Deus, quem diria? O mundo é realmente pequeno.
— Pois é! Glória a Yesu! A gente aparece lá, na festa de final de ano. Ah, verdade: pegue aqui um convite! – disse Laiting.
Quando Jackssom pegou o convite e leu o enunciado, quase caiu da cadeira.
— Ah, então vocês vão... É isso mesmo? – disse ele.
— Sim! Em Novembro, desse ano! Em Nome de Jesus! – disse Mateus.
— Bem, vou deixar vocês dois conversando. Aposto que, agora, terão muito mais o que conversar! Hum! – disse Júlia e retirou-se.
Depois que Laiting saiu da sala, Mateus chegou em Jackssom e perguntou:
— Então, meu amigo! Vamos conversar um pouco mais... Como exatamente funciona o seu sistema de campo de força? E, como você e a Laiting se conheceram?
E aquela conversa durou quase o dia inteiro.
Depois de tudo acertado, Jackssom levou os projetos tecnológicos aprimorados para a ASL e foi do agrado deles que todos fossem patenteados em nome de Mateus DiCristh, com base nos trabalhos de Jackssom Holyblessed. Com tudo documentado, Mateus pôde levar seus projetos para o novo Conselho Temporário de Defensores de Almas, que decidiram, por unanimidade, aceitar usar parte da tecnologia de DiCristh. Campos de força reforçados com cristais de plasma-unção foram instalados em todos os bairros e bases de Defensores de Almas, em todo o país. Daquele dia em diante seria muito difícil que os sombrios tentassem atacá-los novamente, ainda mais com os canhões laser ungidos apontados vinte e quatro horas por dia aos céus, prevenindo futuros ataques aéreos.
Depois daquele dia fatídico, os heróis luminosos voltaram a ser temidos e respeitados pelos sombrios e pelos criminosos, de todo o país, de todo o mundo de Spiriktworld. Lady Espiritual passou a ser uma heroína patrulheira das noites de Saint Paul, caçando e libertando possessos e traficantes de menores, em bairros neutros da cidade. Júlia “Lighting” Yamatsu, como passou a ser chamada pelos fãs, tornou-se a Defensora de Almas das noites dos bairros mais distantes da cidade, protegendo os mais pobres. José, o Super Crente, precisou aceitar o seu codinome pomposo, pois todos passaram a conhecê-lo dessa maneira, ainda mais depois que ele resgatou pessoas de acidentes de avião, pela terceira vez. Mariane e sua mãe mudaram-se do limiar do bairro sombrio e foram morar próximos do bairro pobre onde José residia. Não era segredo nenhum que aqueles dois, Mariane e José, iriam
acabar namorando e noivando. Mariane também se inscreveu no programa da ASL de heróis luminosos, tornando-se conhecida como “Olhos Dourados” pelos marginais da região. Capitã Diana e sua equipe, juntos de Mateus, tornaram-se um fenômeno na cidade, recebendo estagiários e cadetes de todos os cantos do estado, ou até de fora dele. A piloto Ana Santos ganhou uma hipernave nova e Marcelo tornou-se instrutor de uma galerinha brava, chamados por ele de “Clube da Espada”.
— Thomas! Lídia! Martinha! Benn e Dito! E Sakura! Parem de brigar, pelo amor de Deus! – dizia ele, todos os dias.
Emanuelle e Alberto Montanha viam aquilo e “rachavam” de rir. Capitã Diana continuava meneando a cabeça, como sempre. Isso até ela conhecer um forte e ungido Defensor de Almas de Janeirópolis, chamado Capitão Paulo Dantas, que decidiu fortalecer as relações entre as equipes interestaduais.
— Ah não! Todo mundo tá arranjando casamento, menos eu? Fala sério! Só pode ser castigo de Deus! – dizia Marcelo, vendo aquilo tudo.
E, assim, os meses passaram, até que chegou novembro de 1986, que foi quando Mateus e Laiting se casaram, pra valer. De verdade, aquele foi o maior evento que Saint Paul City jamais havia visto. O bairro dos Defensores de Almas fechou-se, parecia um evento internacional, tipo o Oscar ou coisa assim. Todos os defensores foram ao casamento, que ocorreu no Templo Central dos Defensores de Almas, em Saint Paul City, que ainda estava passando por reformas estruturais, por conta dos bombardeios. José, Mariane, Roberta, a família de Laiting, de DiCristh, até mesmo líderes da ASL, como a própria Lady Eternit, e a família Holyblessed, estavam naquele evento de gala ungida. Billy Holyblessed, que era chamado por aí de “Billy Bastão”, foi um dos primeiros a ficar pasmado e a parabenizar Mateus pela sua imensa conquista. Então, chegou o momento. Todos estavam em silêncio, apreensivos. Mateus parecia que iria se desfragmentar em micro diamantes, diante do pastor da cerimônia, orando a Jesus para dar-lhe coragem. Até que, então, ela surgiu, lá ao longe, atrás de uma forte luz, na porta do templo. “A mulher mais linda do universo”, como dizia Mateus. Júlia Laiting Yamatsu, a “Lighting”, usando o mais belíssimo e caro vestido de noiva de Spiriktworld, uma mistura de costuras brasileiras, europeias e japonesas, criando um look estupendo. Além da excelente maquiagem e do trabalho dos demais profissionais da beleza, que deixaram Laiting ainda mais belíssima. Mateus quase não acreditava naquilo que seus olhos estavam vendo, era como um sonho para ele.
Enfim, seu Nobiro entregou sua preciosa filha para Mateus, piscando um dos olhos, em sinal de aprovação. Laiting viu aquilo mas ignorou. Diante do pastor-mor dos Defensores de Almas, Mateus e Júlia fizeram seus votos matrimoniais, como de costume. Por fim, cada um, em sua vez, disse a famosa frase “Eu aceito”. Portanto, depois de ambos trocarem as alianças, o pastor-mor declarou:
— Aquilo que Deus uniu, não separe o Homem! Eles declararam diante de todos que estarão prontos a lutarem juntos, pelo Evangelho, e estão prontos para sofrer um pelo outro, em amor verdadeiro e ágape! Agora, vocês são testemunhas deste momento histórico! Portanto, eu aviso: se tiver alguém contrário a esse matrimônio santo, é bom que se manifeste logo de uma vez! E, por favor, libertem o infeliz que o fizer, pelo amor de Deus!
Todos riram, em uníssono.
— Mas, é sério gente: tem alguém contra essa união? Diga agora ou cale-se, pela eternidade! – salientou o pastor.
De repente, Marcelo Elementar se levantou, no meio da multidão e disse:
— Eu tenho uma coisa para dizer, sim, pastor!
— Oh! – fizeram todos, pasmos.
— Ah Jesus! Eu mereço! – disse Mateus.
— Ah, eu vou libertar ele, umas mil vezes! – sussurrou Laiting.
— Diga, meu jovem: o que os impede de se unirem, em matrimônio? – indagou o pastor.
— Na verdade, nada, pastor! – disse Marcelo. – Eu só queria saber se, agora que o DiCristh vai se casar... Sei lá! Será que eu poderia ficar com o quarto dele, lá no nosso QG? O meu quarto é tão feio e apertado, e o dele é tão largo, sabe. Só isso mesmo!
— Oh céus! Que Deus tenha piedade de sua alma, meu jovem! – disse o pastor, meneando a cabeça.
Na verdade, todos menearam a cabeça, menos a Capitã Diana, que o pegou pela orelha e o colocou pra fora do templo, com uma fúria digna de um arcanjo. Após aquele show, o pastor olhou para a multidão e para os dois, ali parados em sua frente e disse-lhes:
— Pelo amor de Jesus Cristo, rapaz! Eu vos declaro marido e mulher, pode beijar a noiva!
— Amém! – disseram ambos e deram o selo supremo, daquela união abençoada, que iria durar até o dia em que Spiriktworld fosse roubada por alienígenas. Opa, falei demais!
E todos deram glória a Deus, jogando fagulhas de tanákhio em pó ao ar, criando um cenário maravilhoso de brilho e unção. Durante a festa, que se seguiu, todos declararam o seu afeto pelo casal, dando-lhes presentes úteis para o dia-a-dia que estava por vir. Billy e José não saíram de perto de Mateus, o mesmo valia para Roberta, Mariane e Liu Chan, que não saiam de perto de Laiting. Então, na hora de jogar o tal buquê no ar, descubra quem o segurou?
— Oh meu Deus! Oh meu Jesus! Eu sou a próxima! Eu sou a próxima! Uhu! Eu sabia! – disse Mariane, eufórica. – José! Meu amor! Nós somos os próximos!
Quando José viu aquilo, paralisou-se e quase desmaiou, precisando ser acudido por Billy e Mateus. Todos riram muito e deram glórias a Deus.
— Eu acho que prefiro enfrentar lordes das trevas e ganhar almas para Jesus. – disse José, meio tonto.
— Eu também, José, eu também! – disse Billy.
— Pois é, Billy! É bom, então, você colocar sua barba de molho. – disse Mateus, apontando com o olhar para Lady Espiritual que estava deslumbrante naquela noite.
— Você acha mesmo?! – disse Billy, pasmo. – Ela é mais dura do que tanákhio de ouro!
— Vai orando, meu amigo, vai orando! Tanákhio de ouro derrete com lava ardente divina, você sabia? Não desista de orar! – disse Mateus, sorrindo para sua amada Laiting.
— Amém! Valeu, meu amigo! – disse Billy.
E, desta maneira, a noite prosseguiu, até que Laiting e Mateus partiram para sua lua de mel, em algum lugar reservado pela ASL, em sigilo total. Alguns dias depois, eles foram vistos morando em uma casa muito bem construída, no bairro dos dominadores de luz. (Sim, existe um bairro minúsculo de dominadores de luz, em Saint Paul City, onde eles trabalham, dia e noite, para hospitais, criando nitrato de luz). A casa não era simples, mas também não era uma mansão, mas era digna de dois heróis luminosos recém casados. E, daquele dia em diante, as suas vidas nunca mais foram as mesmas.
— Eu te amo, Júlia Laiting Yamatsu! – dizia Mateus, todas as manhãs.
— Pode me chamar de Lighting, meu defensor ungido! – dizia Júlia, em resposta, sempre que podia.
Por conseguinte, o ano de 1986 chegou ao fim, com as festas de final de ano.
Saint Paul City estava em paz com Deus, como nunca jamais esteve.
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