A Jornada do Último Guerreiro Capítulo 10
O Sussurro na Escuridão
O ar rarefeito das montanhas apertava o peito de Tao e Shen enquanto eles avançavam lentamente em direção à caverna. O silêncio da noite, perturbado apenas pelo som de suas botas esmagando pedras, parecia conspirar contra eles. O céu escuro, carregado de nuvens espessas, ocultava qualquer sinal de esperança, de luz. Aquele lugar emanava algo maligno, e Tao podia sentir o peso daquela energia se infiltrando em seus ossos.
A caverna, uma abertura sinistra entre as rochas esculpidas pelo tempo, parecia respirar. Era uma respiração lenta, perturbadora, como se algo imenso e adormecido estivesse esperando lá dentro, à espreita. O frio que subia pela espinha de Tao não era apenas o gelo das montanhas, mas o pressentimento do que os aguardava além da entrada.
— É aqui, — murmurou Shen, sua voz quase engolida pelo vento que uivava ao redor deles. Havia uma seriedade, uma sombra de arrependimento em suas palavras que Wang não pôde ignorar.
— O selo… e a entidade aprisionada? — Wang perguntou, tentando manter a voz firme. Mas o nervosismo estava presente, manifestando-se na maneira como ele segurava sua espada, mais forte do que o necessário.
Shen olhou para ele por um longo momento antes de responder, como se pesasse cada palavra que diria a seguir.
— Sim, — ele disse por fim, a voz baixa, carregada de um peso antigo. — O selo está enfraquecendo, mais rápido do que esperávamos. E se não o reforçarmos… bem, tudo o que enfrentamos até agora vai parecer brincadeira de criança.
A advertência pendurou-se no ar como uma ameaça velada, aumentando a tensão já sufocante. Tao engoliu em seco e se forçou a dar o primeiro passo para dentro da caverna.
O ar mudou assim que cruzaram a entrada. Não era apenas a umidade ou o cheiro de mofo que parecia agarrar suas roupas, mas algo mais profundo, mais perturbador. A própria caverna parecia viva. As paredes cobertas de musgo úmido pareciam pulsar levemente, um brilho fraco e intermitente emanava das profundezas. O silêncio ali era absoluto, quebrado apenas pelo som dos próprios passos e pela respiração pesada dos dois.
— Este lugar... — murmurou Tao, tentando ignorar a sensação incômoda de que estava sendo observado. — Está tudo errado aqui.
Shen ergueu a lanterna que trazia consigo, revelando o caminho irregular à frente. Rochas afiadas, formações bizarras de estalactites e estalagmites pareciam criar figuras distorcidas nas sombras. Tudo dentro da caverna contribuía para a sensação de estar atravessando o limiar de um mundo que não deveria existir.
— Continue atento, — alertou Shen, sua voz carregada de preocupação. — Este lugar está vivo... e não gosta da nossa presença.
As palavras de Shen ecoaram pela caverna, reverberando de forma estranha nas paredes. Tao olhou para ele, sentindo um calafrio que não tinha nada a ver com o frio da caverna. A desconfiança em seu peito aumentava a cada passo.
Conforme avançavam, os corredores da caverna se tornavam mais estreitos, mais opressivos. Tao apertava o cabo da espada com mais força do que gostaria de admitir, os olhos constantemente vasculhando as sombras ao redor. O som abafado de algo pesado sendo arrastado pelo chão, seguido de um grunhido profundo e ameaçador, rompeu o silêncio.
— Eles estão vindo, — murmurou Shen, como se já esperasse o inevitável. Ele manteve o olhar fixo à frente, sem qualquer hesitação.
De repente, das sombras das paredes, surgiram mais sentinelas. Criaturas grotescas, ainda maiores e mais imponentes do que aquelas que já haviam enfrentado, emergiram como predadores famintos.
Seus olhos brilhavam com um ódio incontrolável, e as garras afiadas raspavam o chão, criando um som metálico e perturbador.
— Prepara-te! — gritou Shen, puxando sua lâmina e assumindo uma postura defensiva.
Sem hesitar, Tao avançou. A primeira criatura, com um rugido gutural, lançou-se contra ele. Tao desviou para o lado, girando sua lâmina com precisão mortal. A espada cortou o flanco da criatura, que soltou um grito agonizante, mas antes que ele pudesse recuar, outra sentinela o atacou pela lateral. O impacto das garras contra sua lâmina foi tão forte que ele sentiu seus braços tremerem.
— Essas coisas não param! — gritou Tao, enquanto lutava para manter o equilíbrio e contra-atacar.
Shen estava ao seu lado, cortando e esquivando-se com uma agilidade surpreendente para sua idade. Mas o número de criaturas era esmagador, e elas pareciam não ter fim.
Mais uma vez, uma das sentinelas avançou, mas antes que pudesse cravar suas garras em Tao, ele deslizou por baixo dela, girando sua espada e cravando-a profundamente no ventre da criatura. O sangue escuro e espesso jorrou, tingindo as pedras sobre seus pés, e o monstro caiu com um grito abafado.
Ofegante, sentindo seus músculos arderem de cansaço, Tao sabia que não podiam baixar a guarda.
As sentinelas restantes continuavam a avançar, implacáveis, movidas por uma determinação cegante de proteger o que quer que estivesse selado dentro da caverna.
— Cuidado! — gritou Shen, quando outra criatura desceu com suas garras em direção a Tao. Ele se abaixou por pouco, girando para trás e golpeando o monstro nas pernas. Com um movimento rápido, Shen terminou o ataque, cortando a cabeça da criatura.
Finalmente, quando a última sentinela caiu, um silêncio mortal recaiu sobre a caverna. O único som era a respiração pesada dos dois guerreiros, exaustos pela batalha. Wang limpou o suor da testa e olhou para Shen.
— Elas não vão parar, não é? — perguntou, sabendo a resposta antes mesmo de ouvi-la.
— Não, — disse Shen, sua voz tensa. — Elas estão aqui para proteger o selo. E enquanto ele estiver enfraquecido, mais delas virão.
Tao assentiu, ainda recuperando o fôlego, mas antes que pudesse reagir, algo inesperado aconteceu.
Um sussurro. Suave, tênue, quase inaudível, percorreu o ar ao redor de Tao.
— Tao...
Ele congelou. O som era inconfundível, e por um momento, o pavor o dominou. Ele olhou ao redor, os olhos arregalados, tentando entender de onde vinha aquela voz.
— O que foi? — perguntou Shen, percebendo a expressão tensa de Tao.
— Nada, — murmurou ele, balançando a cabeça. “Estou alucinando?” Ele tentou afastar o pensamento, mas o desconforto permanecia.
Continuaram a avançar, mas então o sussurro voltou, desta vez mais claro, mais próximo.
— Tao...
Dessa vez, ele parou no meio do caminho, o corpo inteiro tenso, os olhos fixos em um ponto vazio à sua frente.
— Você ouviu isso? — sua voz mal era um sussurro, cheia de incredulidade. Shen parou e olhou para Tao, os olhos estreitados de preocupação.
— O que você ouviu? — perguntou Shen, claramente cauteloso.
Tao olhou diretamente para ele, a mente girando em confusão. Ele não sabia se deveria contar a verdade, mas algo dentro dele o forçou a falar.
— Alguém… alguém está me chamando. Eu ouvi meu nome. Duas vezes.
O silêncio que se seguiu foi opressor. Shen franziu o cenho, o rosto endurecendo. Seu semblante mudou de preocupação para algo muito mais sombrio.
— Isso é ruim, muito ruim, — murmurou ele, quase inaudível, mas Tao ouviu o suficiente para sentir o frio correr por sua espinha.
— Por quê? — perguntou Tao, sentindo o medo se enraizar ainda mais em seu peito.
Shen hesitou por um momento, o olhar fixo nos olhos de Tao, como se estivesse avaliando algo profundamente. Quando finalmente falou, sua voz estava carregada de arrependimento.
— Eu cometi um erro ao trazê-lo aqui. Um grande erro.
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