A Jornada do Último Guerreiro Capítulo 11
O Predestinado
Tao Wang sentiu o peso das palavras de Shen reverberar em sua mente como o eco de um trovão distante. “Eu cometi um erro ao trazê-lo aqui.” A declaração rodava na sua cabeça, plantando um misto de confusão e medo que ele não conseguia ignorar. Ele parou, o peito ainda arfando da batalha anterior, mas agora tomado por uma ansiedade que parecia se agarrar às sombras ao redor.
— Por quê? — Tao quebrou o silêncio, sua voz rouca. Ele encarou Shen, seus olhos queimando com a urgência de respostas. — O que você quer dizer com "erro"?
Shen, que sempre aparentava ser inabalável, hesitou. Seus olhos não encontraram os de Tao de imediato. O velho guerreiro parecia lutar contra algo dentro de si, algo que até agora ele havia tentado suprimir. Quando finalmente falou, sua voz estava mais grave, quase resignada.
— A entidade... — começou Shen, enquanto sua mão segurava o cabo de sua espada com força. —
Se ela consegue se comunicar com você, Tao, isso só significa uma coisa. Você... você é o predestinado a libertá-la.
As palavras de Shen ressoaram como um golpe. Tao arregalou os olhos, recuando instintivamente. O ar parecia ter sido arrancado de seus pulmões, e por um momento, ele não conseguiu pensar em nada, apenas na terrível implicação daquela revelação.
— O quê? — Tao sussurrou, tentando processar. — Não, isso não faz sentido. Eu não...
— Ele balançou a cabeça, os olhos buscando algo no rosto de Shen que provasse que aquilo era apenas um mal-entendido.
Mas Shen manteve-se firme. Seu semblante sombrio e as rugas profundas em sua testa contavam outra história. Ele sabia do que estava falando, e Tao sabia, em seu íntimo, que não havia erro.
— Estávamos condenados desde o início, então? — A incredulidade na voz de Tao foi substituída por uma determinação feroz. Ele deu um passo à frente, como se confrontasse o próprio destino que
Shen acabara de lhe impor. — Se estamos aqui e eu sou essa pessoa… não há como voltar atrás. Temos que impedir que essa entidade seja libertada.
Shen suspirou profundamente, observando o jovem à sua frente, reconhecendo a coragem que, apesar de sua juventude, Tao começava a mostrar. Ele assentiu em silêncio, compreendendo que as cartas já estavam lançadas.
— Eu gostaria de ter outra escolha. — A voz de Shen era baixa, quase um lamento. — Mas o que foi iniciado não pode ser revertido. Você está certo. Devemos seguir em frente... e encontrar uma maneira de reforçar o selo.
Com isso, ambos começaram a caminhar, o silêncio entre eles tão pesado quanto o ar da caverna. A escuridão ao redor parecia se aprofundar com cada passo, e o ambiente ficava mais sufocante. A lamparina de Shen emitia uma luz vacilante, mal iluminando o caminho à frente, mas eles continuaram sem desviar. Cada som, cada farfalhar de vento parecia carregado de malícia, como se a própria caverna estivesse sussurrando seus segredos para aqueles que ousavam pisar em seu solo proibido.
À medida que se aprofundavam, o ar ficava mais frio, quase gelado, e a sensação de estarem sendo observados se intensificava. Tao não disse uma palavra, mas seus pensamentos corriam soltos. “Por que eu?” A ideia de ser predestinado a libertar uma entidade maligna parecia absurda, mas ao mesmo tempo, algo nele, algo profundo e enterrado, fazia sentido. Era como se uma parte de sua alma reconhecesse aquela caverna, aquelas sombras.
Finalmente, após o que pareceu uma eternidade, eles chegaram a uma ampla abertura dentro da caverna, uma espécie de salão colossal esculpido na rocha. Tao parou na entrada, seus olhos percorrendo o ambiente. O salão estava imerso em uma escuridão pesada, exceto pelas poucas tochas antigas que tremeluziam ao redor, lançando sombras distorcidas nas paredes.
Mas o que chamou a atenção de Tao foram os inúmeros escritos que cobriam as paredes daquele salão. Palavras antigas, símbolos e marcas que ele não reconhecia conscientemente, mas que despertavam algo profundo em seu ser. Ele caminhou mais para perto, examinando os símbolos de perto.
— O que é isso? — murmurou Wang, a voz quase inaudível enquanto seus dedos traçavam o contorno de um dos símbolos esculpidos na rocha. Ele não sabia o que estava escrito ali, mas algo o perturbava. Era familiar, de uma maneira estranha e inquietante.
Shen se aproximou, mantendo-se a uma distância respeitosa, mas observando atentamente a reação de Tao.
— Esses escritos... eles fazem parte do antigo selo, — disse Shen, sua voz carregada de gravidade.
— Mas eles também estão conectados a você, de alguma forma. A lenda diz que o predestinado teria uma ligação profunda com a entidade. Esses símbolos... eles estão te chamando, Tao.
Tao fechou os olhos por um momento, tentando afastar a crescente sensação de que estava perdendo o controle. Mas quando abriu os olhos novamente, viu algo no centro do salão. Algo que não havia notado antes. No meio do salão, envolto por uma estranha luz pálida, havia um sarcófago.
Tao franziu o cenho, intrigado e ao mesmo tempo assustado. O sarcófago era antigo, coberto de musgo e pedras, e emanava uma energia tão pesada que o ar ao redor parecia vibrar. No entanto, o que mais o perturbava era o fato de que, apesar de nunca ter estado ali antes, ele sentia que conhecia aquele objeto.
Ele se aproximou com cautela, o coração batendo forte no peito. Havia algo naquele sarcófago que o atraía, como se estivesse predestinado a tocá-lo, a interagir com ele de alguma maneira.
— Isso... — Tao disse, com a voz trêmula. — Eu conheço isso, mas… eu não deveria.
Ele parou a poucos passos do sarcófago, os olhos fixos na tampa de pedra esculpida com runas antigas. Shen se aproximou, mantendo a distância, mas com o olhar atento.
— O que é isso? — perguntou Tao, mal conseguindo controlar a inquietação em sua voz.
Shen, sem saber como responder de imediato, permaneceu em silêncio. Mas Tao sabia.
Mesmo sem respostas claras, algo dentro dele gritava que aquela câmara e aquele sarcófago estavam de alguma forma ligados a seu destino.
E isso o apavorava.
-
Na Literaz, a leitura gratuita é possível graças à exibição de anúncios.
-
Ao continuar lendo, você apoia os autores e a literatura independente.
-
Obrigado por fazer parte dessa jornada!