A Jornada do Último Guerreiro Capítulo 7
O Despertar
O uivo dos lobos foi interrompido por um silêncio denso, como se a própria noite tivesse prendido a respiração. Tao ficou parado ao lado da mãe, o coração batendo forte no peito. Lá fora, a escuridão parecia viva, pulsando com uma energia oculta, como se algo estivesse à espreita, apenas esperando o momento certo para atacar. Ele forçava os olhos, tentando ver além das sombras, mas o vilarejo estava imóvel, quieto demais para seu gosto. O ar, antes calmo, agora parecia mais pesado, como se a atmosfera estivesse saturada com algo que ele não podia entender. A sensação de perigo iminente crescia com cada segundo que passava.
— Precisamos fazer alguma coisa, — disse tao finalmente, quebrando o silêncio sufocante. — Não posso simplesmente ficar aqui esperando que algo aconteça.
Sua voz parecia ecoar pela casa, mas, ao mesmo tempo, se perder no vazio da noite. Mei, sua mãe, permaneceu sentada por um momento, olhando para ele com um misto de compreensão e tristeza, como se já soubesse que o filho estaria em conflito naquela noite, lutando contra a incerteza que pairava sobre eles.
— Às vezes, não há nada que possamos fazer além de esperar, — disse ela suavemente, mas sua voz tinha uma seriedade que Tao raramente ouvia. — Há forças além do nosso controle, meu filho. E nem sempre estamos preparados para enfrentá-las.
Aquelas palavras caíram sobre ele como uma pedra, mas Wang não conseguia aceitar aquilo. Algo dentro dele se recusava a ficar parado. Ele sentia que a mudança que tanto temia estava à espreita, e sabia que não poderia simplesmente ignorá-la. A sensação era visceral, algo que ele não conseguia explicar, mas que gritava em sua mente, exigindo ação.
— Eu não consigo esperar, mãe, — disse ele, a frustração evidente em sua voz. — Se alguma coisa está vindo, eu preciso estar pronto. Shen me disse que o desconhecido é onde encontramos quem realmente somos. Talvez seja isso. Talvez essa noite que vai me mostrar o caminho.
Mei suspirou profundamente, levantando-se da cadeira com uma lentidão ponderada. Sua expressão era de uma mãe que lutava contra seus próprios instintos de proteger o filho, sabendo que não poderia impedir o que estava por vir. O destino já havia começado a mover suas engrenagens, e ela, mais do que ninguém, parecia entender isso.
— Tao, eu sei que você quer estar pronto. Mas algumas coisas... — ela parou, hesitando, como se as palavras pesassem em sua língua. — Algumas coisas não podem ser previstas ou evitadas.
Ele olhou para ela, seus olhos escuros refletindo a angústia e determinação que cresciam dentro de si. Sabia que sua mãe estava certa, em parte, mas também sentia que essa noite era diferente. Era como se o destino estivesse à porta, e ele sabia que não podia ignorá-lo.
O silêncio que seguiu foi quebrado por um som profundo, vindo das entranhas da terra. Não era o uivo dos lobos desta vez. Era algo mais ressonante, quase como o eco de um trovão distante, reverberando pelo chão sob os pés de Tao. Por um breve momento, o chão pareceu vibrar sobre seus pés, como se algo estivesse se mexendo, lá nas profundezas.
— O que foi isso? — perguntou ele, a voz baixa, mas cheia de alerta.
Mei franziu o cenho, seu corpo imediatamente ficando rígido, como se seu instinto a tivesse posto em alerta máximo.
— Não sei, — respondeu ela, claramente apreensiva. — Mas isso não é bom.
Outro tremor, desta vez mais forte, sacudiu o chão. As tábuas de madeira da casa rangeram sobre o impacto, e os pratos sobre a mesa tilintaram como sinos abafados. A atmosfera, que antes estava apenas pesada, agora estava carregada com uma tensão palpável. Algo estava prestes a acontecer, algo grande.
Tao deu um passo em direção à porta, seu coração acelerado martelando em seus ouvidos. Ele não podia mais ignorar aquele chamado interior.
— Vou até Shen, — disse ele rapidamente, suas mãos já abrindo a porta. — Talvez ele saiba o que está acontecendo.
Mei hesitou por um momento, seus olhos cheios de preocupação. Ela sabia que não adiantaria tentar segurá-lo, mas ainda assim, o instinto de protegê-lo prevalecia.
— Tome cuidado, Tao, — disse ela, com um tom de advertência. — O que quer que esteja vindo... não vá ao encontro dele despreparado.
Ele saiu pela porta antes que pudesse responder, sentindo o ar gelado da noite envolver seu corpo. O frio cortante era mais do que o esperado para aquela época do ano, como se a própria natureza estivesse se preparando para algo grande, algo além da compreensão humana. Enquanto caminhava pelas ruas silenciosas do vilarejo, as casas ao redor pareciam adormecidas, inconscientes da tensão que se acumulava.
O vilarejo estava calmo, mas Tao sabia que essa tranquilidade era enganosa.
“Estou só imaginando coisas?” Ele pensava, seus sentidos em alerta máximo. Não.
Havia algo ali, algo que ele podia sentir no ar, uma presença invisível, mas palpável.
De repente, o som de passos pesados ecoou ao longe, fazendo-o parar. Seu coração disparou, e ele olhou ao redor rapidamente, tentando identificar a fonte do som. Nada. O vilarejo estava deserto, mas aquela sensação de ser observado, perseguido, não o deixava.
Tao apertou o passo, movendo-se rapidamente em direção à casa de Shen, o velho viajante que, para ele, sempre parecia saber mais do que dizia. Quando finalmente chegou, bateu na porta com urgência, o som ecoando pela noite silenciosa. Demorou alguns instantes, mas a porta se abriu, revelando Shen, com os olhos ainda meio fechados de sono, mas imediatamente alerta ao ver a expressão de Tao.
— O que foi, rapaz? — perguntou Shen, sua voz rouca pela idade, mas com uma autoridade que sempre parecia acalmar Wang em outros momentos. Não agora, porém.
— Algo está acontecendo, — disse Tao, ofegante. — Você sentiu o tremor? Há algo errado essa noite. Minha mãe também está preocupada. O ar está estranho, Shen. Como se... como se algo estivesse vindo.
Shen franziu o cenho, ponderando as palavras de Tao por um momento. Ele saiu pela porta, olhando ao redor como se tentasse sentir o que Tao estava descrevendo. Seus olhos se estreitaram, e por um momento, ele permaneceu em silêncio, como se estivesse escutando algo que só ele podia ouvir.
— Sim... — murmurou Shen, com um ar sombrio. — Sim, há algo no ar esta noite.
Uma mudança... uma ruptura. O equilíbrio foi quebrado.
Tao olhou para ele, ansioso e confuso.
— O que significa? O que está acontecendo?
Shen olhou profundamente nos olhos de Tao, sua expressão agora grave.
— Não sei exatamente o que está vindo, mas posso te dizer uma coisa, rapaz. É melhor você estar preparado. Isso não é uma simples tempestade. Algo maior está se movendo, e pode mudar tudo.
Antes que Wang pudesse responder, um som muito mais alto e profundo ecoou pelo vilarejo. O chão tremeu novamente, desta vez com mais força, e as janelas de algumas casas começaram a vibrar. O som reverberou pelo ar, como um rugido distante, mas poderoso, algo que abalou as fundações do vilarejo. O silêncio que se seguiu foi quase ensurdecedor.
— O que é isso? — Tao perguntou, seu coração batendo forte no peito.
Shen deu um passo à frente, os olhos fixos nas montanhas distantes. Ele ficou em silêncio por um momento, sua expressão dura, antes de falar novamente, sua voz baixa, mas cheia de convicção.
— O despertar.
Tao sentiu um arrepio percorrer sua espinha. “O que quer que estivesse vindo, não era natural.”
Ele sentiu, naquele momento, que sua vida e o mundo ao seu redor estavam prestes a mudar para sempre.
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