A Jornada do Último Guerreiro Capítulo 14
Informações
Tao respirava fundo, tentando processar tudo o que estava acontecendo. A presença da entidade, aquela figura fantasmagórica que parecia um reflexo dele mesmo, o desestabilizava mais do que ele gostaria de admitir. Mas agora, com a ameaça à vila pairando sobre eles, ele sentia que precisava agir
— mesmo que fosse contra o seu instinto.
Ele olhou para a entidade, ainda cauteloso.
— Como... como faremos para sair daqui? — perguntou Tao, com a voz ligeiramente trêmula. — E como vamos levar você conosco?
A entidade, que até então mantinha uma postura calma e enigmática, deixou escapar um leve sorriso, um sorriso que fez os pelos da nuca de Tao se eriçarem. Era um sorriso que indicava que a resposta que viria a seguir não seria agradável.
— Ah, isso é bastante simples, na verdade, — respondeu a entidade, sua voz suave e quase divertida. — Eu não posso existir no mundo exterior em minha forma atual. Para sair daqui, para caminhar entre os vivos... eu teria que, digamos... entrar em você.
O queixo de Tao caiu, seus olhos arregalados de surpresa e horror.
— O quê?! — ele exclamou, dando um passo atrás, como se tentar se afastar da entidade pudesse afastar também a proposta perturbadora.
— Possuí-lo, para ser mais direto, — continuou a entidade, com um tom despreocupado. — Eu me tornaria uma parte de você, compartilhando seu corpo e mente. Claro, ainda seria você no controle... na maior parte do tempo. Mas seria a única maneira de eu sair deste lugar e ajudá-los.
O rosto de Tao empalideceu. A ideia de compartilhar seu corpo com aquela entidade — uma força que ele mal compreendia — era algo que ele nunca poderia ter imaginado. Sua mente rodava com o conceito, o medo tomando conta de seus pensamentos. Como poderia ele permitir que algo tão poderoso e desconhecido entrasse nele?
— Isso... isso não pode ser sério! — disse Tao, sua voz trêmula. — Eu não posso fazer isso! Você... você está me pedindo para me deixar ser possuído por você? Isso vai contra tudo o que sou!
Antes que a entidade pudesse responder, Shen, que até então observava a conversa com expressão amarga, interveio com um tom sarcástico e aliviado.
— Finalmente, Tao, você caiu na real! — disse Shen, quase rindo de nervoso. — Era óbvio que essa criatura ia tentar te enganar! E você quase acreditou nas palavras dela. Isso é uma loucura! Você não pode deixar essa coisa entrar em você!
A entidade suspirou, como se estivesse lidando com crianças assustadas. Sua expressão se tornou mais séria, mas ainda havia uma leveza nela, como se já esperasse aquela reação.
— Entendo que isso possa parecer extremo, — disse a entidade, com uma voz firme, porém calma.
— Mas vocês precisam entender que, se não fizermos isso, a vila será destruída. O mal que está vindo é muito maior do que vocês podem imaginar. E a única maneira de enfrentá-lo é com o poder que eu carrego... o poder que está ligado a você Tao.
Tao apertou os punhos, seu corpo tremendo de tensão e incerteza. Ele olhou para Shen, esperando encontrar algum sinal de orientação, mas Shen apenas balançou a cabeça negativamente, como se dissesse "Nem pense nisso."
— Tao, — continuou Shen, com os dentes cerrados. — Não podemos confiar nela. Essa entidade foi aprisionada por uma razão. Não importa o que ela diga, ela só quer usar você para sair daqui. Você não pode permitir isso!
A mente de Tao estava uma tempestade de pensamentos conflitantes. Ele sabia que Shen tinha razão, que não era prudente confiar em uma entidade que estava selada por séculos. Mas, ao mesmo tempo, o medo pela vila, por aqueles que ele amava, pesava sobre seus ombros. E, mais perturbador, ele sentia que havia uma verdade nas palavras da entidade — uma conexão com algo maior, algo que ele mal podia compreender, mas que estava profundamente entrelaçado com seu próprio destino.
— Se não fizermos isso, não restará nada da vila, — a entidade advertiu, sua voz agora cheia de uma urgência sombria. — Eles morrerão, todos eles. E então, o que será de você, Tao? O que será de tudo o que você lutou para proteger? Você quer que suas mãos estejam limpas de sangue, mas se não fizer nada... o sangue de todos estará sobre você.
Essas palavras pesaram em seu peito como uma rocha. Ele pensou em todas as pessoas da vila, aqueles que confiavam nele. A imagem de suas casas, suas vidas destruídas, passou por sua mente.
Tao cerrou os dentes e olhou para o chão, sua mente em conflito.
— Eu... — começou ele, mas as palavras ficaram presas em sua garganta. Shen deu um passo à frente, sua voz agora carregada de autoridade.
— Tao, olhe para mim! — ele disse, com firmeza. — Nós vamos achar outra maneira. Sempre existe outra solução. Não precisamos recorrer a isso. Eu já vi isso antes — entidades oferecendo poder, mas sempre com um preço. Um preço que ninguém quer pagar. Você é mais forte do que isso.
Mas, enquanto Tao ouvia as palavras de Shen, ele também sentia o chamado da entidade. A conexão entre eles era inegável, como se seus destinos estivessem inextricavelmente ligados desde o início.
Ele sabia que estava em um caminho sem volta, e, por mais que quisesse acreditar em Shen, algo dentro dele o empurrava para outra direção.
Tao levantou a cabeça e encarou a entidade, seus olhos cheios de dúvida e medo.
— E se eu permitir isso, — ele perguntou lentamente, cada palavra carregada de peso.
— O que acontecerá comigo? Eu ainda serei... eu mesmo?
A entidade sorriu, um sorriso que não era nem amigável nem malévolo, mas misterioso.
— Você continuará sendo você, — disse ela, com uma voz suave. — Mas com uma parte de mim.
Eu não tomarei o controle, Tao. Eu serei sua força, seu guia... Mas, no final, as escolhas sempre serão suas. Se quiser salvar sua vila, se quiser proteger aqueles que ama, esta é a única maneira.
O silêncio se prolongou enquanto Wang ponderava sobre suas opções. Shen observava com preocupação crescente, mas sabia que a decisão final seria de Tao.
Finalmente, com uma mistura de determinação e medo, Tao respirou fundo e deu um pequeno aceno.
— Eu farei isso, — disse ele, com a voz rouca. — Mas saiba disso... — Ele olhou diretamente para a entidade. — Se eu sentir que você está tentando me controlar, eu lutarei contra você com tudo o que tenho.
A entidade assentiu lentamente, o sorriso de satisfação nunca saindo de seu rosto.
— Claro, Tao. Este é um pacto entre nós. Agora, prepare-se…
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