A Jornada do Último Guerreiro Capítulo 12
O Predestinado - Parte 2
O silêncio no salão não era comum. Ele parecia vivo, pulsando com uma energia latente, sufocando qualquer ruído, qualquer som que pudesse escapar dos lábios de Tao. Até mesmo o sutil tilintar da espada presa à cintura dele parecia ser engolido por aquela atmosfera, como se a própria caverna se recusasse a permitir a entrada de qualquer interrupção. Cada passo que Tao dava em direção ao sarcófago era um novo mergulho na escuridão, uma sombra profunda que, de alguma forma, parecia familiar.
A proximidade com o sarcófago trazia consigo uma sensação inquietante. Tao mal podia explicar o que era, mas parecia como uma espécie de déjà vu, uma conexão inescapável que ressoava em sua mente e corpo. A familiaridade era tão profunda que ele quase sentia que o sarcófago o estava chamando. Algo ali, além do que seus olhos poderiam captar, estava esperando por ele. “Por que essa sensação?” Ele se perguntava repetidamente.
Shen, parado apenas a alguns passos de distância, permanecia em silêncio, mas Tao podia sentir a tensão emanando do guerreiro experiente. Shen sempre fora uma figura de autoridade, calma e controlada em situações perigosas, mas agora parecia inquieto, como se soubesse mais do que revelava. Tao sentia esse peso sobre si — a suspeita crescente de que Shen estava ocultando algo importante.
— Você disse que eu sou o predestinado, — Tao falou de repente, quebrando o silêncio opressor.
Sua voz saiu baixa e rouca, mas firme, com os olhos fixos no sarcófago. — Mas o que isso realmente significa? Eu não entendo... Se estou destinado a libertar essa entidade, por que sinto que também devo detê-la?
Shen, com uma expressão carregada de pesar, deu um passo à frente. Era como se as palavras de Tao ecoassem seus próprios temores. Ele hesitou antes de falar, como se estivesse escolhendo cuidadosamente o que dizer.
— A lenda fala de um guerreiro, — começou ele, a voz grave e cautelosa. — Alguém que carregaria a marca da entidade e seria atraído até este lugar... para libertá-la. — Shen parou, os olhos analisando o rosto de Tao, procurando alguma reação. — Mas essa marca, Tao... — Shen suspirou profundamente, como se a revelação pesasse sobre ele. — Ela não é apenas uma maldição. É uma ligação. Aqueles que carregam essa marca não só têm a capacidade de libertar a entidade, mas também têm a força para decidir seu destino.
As palavras de Shen pairaram no ar como um fardo invisível. “Uma ligação?” Tao pensou. A ideia de estar conectado àquela entidade não o surpreendia tanto quanto deveria, mas ainda assim o perturbava profundamente. Ser predestinado a libertar algo tão terrível e ao mesmo tempo ter a responsabilidade de decidir seu destino — essa dualidade era inquietante. Ele sentiu um nó apertar em seu estômago.
— Então, eu posso impedir isso? — Tao interrompeu, seus pensamentos correndo em círculos. A ideia de poder deter a entidade acendeu uma fagulha de esperança, uma saída possível para o medo crescente em seu peito. — Posso manter a entidade aprisionada?
Shen olhou para ele por um longo momento antes de responder, seus olhos se estreitando como se estivesse considerando todas as implicações.
— Isso é o que todos esperam... — admitiu Shen, a incerteza escorrendo por sua voz.
— Mas ninguém sabe ao certo. A entidade é antiga, poderosa. O selo que a mantém presa foi enfraquecido por séculos de negligência. Quando você ouviu seu nome sendo sussurrado, ela estava tentando estabelecer contato. Tentando atrair você. Agora que estamos aqui, ela pode tentar manipular seus sentimentos, usar seus medos e desejos contra você.
Tao desviou o olhar do sarcófago e fixou os olhos em Shen. Ele sentiu um frio subir pela espinha. A ideia de ter seus pensamentos e emoções manipulados pela entidade fazia o perigo parecer ainda mais real e imediato.
— Manipular meus medos e desejos? — Tao ecoou, com a mandíbula tensa. “Que tipo de criatura tem esse poder?” A ideia de algo poder sondar sua mente, explorar suas fraquezas, causou um arrepio. — E como eu posso me proteger disso?
Shen apertou os punhos ao lado do corpo, os músculos em seu maxilar tensionando-se enquanto lutava para encontrar uma resposta.
— É por isso que fui contra você vir até aqui, — ele finalmente disse. — Eu sabia que a ligação entre você e a entidade tornaria tudo mais perigoso. Mas, agora que estamos aqui, não há como voltar atrás. A única proteção que você tem é sua própria força de vontade. Mantenha-se firme, Tao.
A entidade vai tentar quebrar você, vai se alimentar das suas dúvidas e fraquezas. Mas você é o único que pode decidir o resultado disso.
Tao sentiu o peso das palavras de Shen como uma âncora puxando-o para o fundo de um abismo de responsabilidades. Não havia mais fuga. Ele estava ligado a essa entidade de uma maneira que mal começava a compreender. Mas ele não deixaria isso o paralisar. “Não agora.”
— Não temos escolha, então, — Tao disse, sua determinação crescendo. — Não importa o que aconteça, não podemos deixá-la sair.
Shen assentiu, sua expressão séria.
— Sim, mas devemos ser cuidadosos. Cada passo aqui está cheio de perigos que nem conseguimos ver ainda.
Ambos trocaram um olhar pesado, uma compreensão silenciosa se formando entre eles. Tao sabia que o destino havia o trazido até ali, e mesmo com o medo crescendo em seu peito, ele não poderia recuar agora. Ele sentiu o peso da responsabilidade sobre seus ombros, mas também algo a mais.
Algo que vinha de dentro dele, como se uma parte adormecida de sua alma estivesse finalmente acordando para o que realmente era.
Eles começaram a avançar pelo salão novamente, os passos ecoando na caverna enquanto a escuridão ao redor parecia se fechar, mais densa e sufocante a cada metro. Tao segurava sua espada com firmeza, seus olhos varrendo cada detalhe das paredes e do chão. Ele estava em alerta, mas algo em seu coração pulsava com uma certeza crescente de que ele estava exatamente onde deveria estar.
As inscrições gravadas nas paredes pareciam vivas, brilhando fracamente à medida que eles passavam. Tao não sabia o que significavam, mas sentia algo profundo nelas. “Essas palavras... por que parecem tão familiares?” Era como se estivessem gravadas em sua mente desde o nascimento, escondidas, esperando para serem despertadas.
O salão parecia interminável, e as sombras pareciam alongar-se, como se estivessem à espreita. Finalmente, eles chegaram ao centro, onde o sarcófago imponente os aguardava. Tao agachou-se, observando a estrutura. Era feito de uma pedra escura, fria, com uma leve cintilação nas runas que o cobriam. A energia que emanava do sarcófago era quase palpável, uma força antiga que parecia observar os dois guerreiros.
— Isso... parece familiar, — Tao murmurou, sentindo um arrepio correr por sua espinha. Era assustador, sim, mas ao mesmo tempo havia algo inexplicavelmente reconfortante naquela familiaridade, como se ele estivesse retornando a algo que sempre fizera parte dele.
Shen, aproximando-se lentamente, ficou ao lado de Tao, os olhos cravados na tumba.
— Está ligado a você, — disse ele, a voz mais baixa, quase um sussurro. — Esse sarcófago é o receptáculo da entidade. Ela foi aprisionada aqui há séculos, mas sua presença permeia cada centímetro deste lugar. E de alguma forma... — Shen hesitou. — De alguma forma, você está conectado a isso.
Tao estendeu a mão instintivamente, como se algo o atraísse. A sensação de déjà vu era esmagadora, e ele quase tocou a superfície fria da pedra. Mas, no último segundo, hesitou. “Será que estou pronto para isso?” O que estava prestes a fazer?
— Não toque nisso, — a voz de Shen cortou o ar, urgente e grave. — Não sabemos o que pode acontecer.
Tao recolheu a mão, sentindo o coração acelerar. A tensão no ar era sufocante. Ele deu um passo para trás, tentando se distanciar daquele poder terrível.
De repente, um som profundo ecoou pelo salão, como se algo gigantesco estivesse se movendo abaixo deles. O chão tremeu levemente, e o ar ao redor deles pareceu ficar pesado, carregado com uma energia sombria.
Shen olhou para Tao com olhos arregalados.
— O selo está se rompendo... — disse ele, cheio de apreensão.
E então, vindo do interior do sarcófago, um som suave, quase imperceptível, emergiu.
Um sussurro.
— Tao... — A voz, melíflua e sombria, arrepiou cada fio de cabelo em seu corpo.
Wang sentiu o sangue gelar. A voz era suave, quase sedutora, mas carregava consigo uma promessa sombria, como se estivesse o chamando para um destino ao qual ele não poderia escapar. “Ela está vindo.”
Shen apertou a espada com mais força, sua expressão mais sombria do que nunca.
— A verdadeira luta... está começando agora, — murmurou ele.
E Tao soube, sem sombra de dúvida, que aquele era apenas o começo do que estava por vir.
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