A Jornada do Último Guerreiro Capítulo 15
O Pacto
O ar dentro da caverna parecia congelado, como se o tempo estivesse suspenso naquele momento. Tao respirava fundo, tentando controlar o turbilhão de emoções dentro de si. Shen, ao seu lado, observava com desconfiança e preocupação, claramente dividido entre tentar impedir o pacto e apoiar seu companheiro.
A entidade flutuava diante de Tao, sua forma espectral ondulando no ar como uma fumaça inquieta.
Seus olhos brilhavam com um poder antigo, algo que era ao mesmo tempo aterrorizante e hipnotizante. A figura parecia ansiosa, como se o momento que esperava há séculos estivesse finalmente prestes a acontecer.
— Se você está realmente decidido, — a entidade disse, com sua voz ecoando suavemente pelo salão, — tudo o que precisa fazer é abrir sua mente... e seu coração. Permita que eu entre, e juntos, seremos mais fortes do que qualquer ameaça que possa vir.
Tao hesitou, seus dedos apertando o punho de sua espada como se buscasse força no aço. Ele olhou uma última vez para Shen, esperando algum tipo de sinal ou conselho. O olhar de Shen, porém, era de resignação amarga. Não havia mais palavras a serem ditas.
— Você realmente quer fazer isso, Tao? — Shen perguntou, a voz tensa. — Uma vez feito, não haverá volta. Você estará para sempre ligado a essa coisa.
Tao apertou os lábios e assentiu, determinado.
— Não temos escolha, Shen. Se isso for o que precisa ser feito para salvar a vila, então eu farei.
A entidade se aproximou, pairando à frente de Tao, a poucos centímetros de seu rosto. O espírito parecia quase humano, exceto pelos olhos — os olhos eram os de um predador, uma criatura acostumada à escuridão e a eternidade. Tao podia ver a si mesmo refletido naquela entidade, uma versão mais velha, marcada por experiências que ele ainda não havia vivido.
— Está pronto? — a entidade perguntou, sua voz agora grave.
Wang não respondeu com palavras, apenas fechou os olhos e respirou fundo, abrindo-se para o inevitável. Ele sentia seu coração acelerar, a adrenalina correndo por suas veias, e então... o toque da entidade.
Quando a entidade se moveu para dentro dele, não foi como ele havia imaginado. Não houve uma invasão física ou dor imediata. Em vez disso, foi uma sensação de frio, como se uma brisa gélida tivesse passado por seu corpo, mas sem nunca tocar sua pele. O espírito se infiltrava em sua mente, como uma neblina densa que lentamente cobria todos os cantos de sua consciência. Tao lutou contra o impulso de resistir, forçando-se a relaxar enquanto a presença da entidade crescia dentro dele.
Seu corpo começou a tremer, involuntariamente. Ele podia sentir a energia da entidade se fundindo à sua, uma força quase esmagadora que fazia cada célula em seu corpo vibrar. Sua respiração ficou irregular, e ele caiu de joelhos, cravando a espada no chão para se sustentar.
— Tao! — gritou Shen, dando um passo à frente.
Mas antes que Shen pudesse fazer algo, um brilho intenso emanou de Tao, e o guerreiro foi envolvido por uma luz fantasmagórica. O chão tremeu levemente, e o ar ao redor deles ficou pesado, como se a própria caverna estivesse reagindo ao pacto. A conexão entre Tao e a entidade estava sendo selada.
Dentro da mente de Tao, era como se ele estivesse flutuando no vazio. Ele viu flashes de memórias — memórias que não eram dele, mas que pareciam de alguma forma familiares. Visões de batalhas antigas, de mundos esquecidos, de criaturas sombrias e entidades poderosas, tudo passando diante de seus olhos em questão de segundos. Ele viu a entidade, em seu auge, comandando um exército de sombras contra forças que Tao mal podia compreender.
E então, a voz da entidade ecoou em sua mente.
— Você sente isso, Tao? Essa é a verdadeira extensão do nosso poder. Juntos, somos imparáveis.
Não há nada que possa nos deter.
Wang sentiu uma onda de força percorrer seu corpo. Seus músculos ficaram mais tensos, sua mente mais afiada. Mas junto com essa força, havia uma escuridão sutil, algo que sussurrava nos recantos de sua consciência, tentando atraí-lo para o abismo. Ele lutou contra isso, mantendo o controle, mantendo-se fiel a quem era.
De volta ao mundo físico, a luz que envolvia Tao começou a diminuir, e ele lentamente voltou a si.
Seus olhos se abriram, mas eles agora brilhavam com uma intensidade que antes não estava ali. Ele se levantou, mais firme, mais seguro — mas algo nele havia mudado. Ele não era mais o mesmo Tao que entrou naquela caverna.
Shen o observava com cautela, segurando a empunhadura de sua espada, preparado para o pior.
— Tao? — Shen chamou, a voz cheia de desconfiança. — Você está... bem? Tao respirou fundo e olhou para Shen, com um leve sorriso.
— Estou, — respondeu Tao, sua voz mais firme do que antes. — Eu consigo sentir a presença dela... dentro de mim. É estranho, mas... parece que agora estou mais forte. Mais focado. Mas... — Ele hesitou, sua expressão ficando séria. — Também sinto que preciso tomar cuidado. Ela não é só uma aliada. É uma força que pode tentar me controlar se eu der espaço.
A entidade falou diretamente dentro da mente de Tao, como uma voz que ele não podia ignorar.
— Eu não tomarei o controle, Tao, — a entidade prometeu. — Pelo menos, não sem a sua permissão. Estamos juntos nessa, como iguais. Mas lembre-se, quanto mais você usar o meu poder, mais perto estaremos de nos tornar um só.
Tao cerrou os dentes. “Essa era a verdadeira questão”, ele pensou. O quanto poderia confiar na entidade? E o quanto poderia confiar em si mesmo para não se perder nesse processo?
— Agora que o pacto foi feito, — Tao disse em voz alta, voltando sua atenção para a situação em questão, — como saímos daqui? E o que faremos para salvar a vila?
A entidade riu suavemente, sua presença ainda presente dentro da mente de Tao.
— Sair daqui será fácil agora, — disse a entidade, sua voz reverberando na mente de Tao como um eco distante. — Eu posso te guiar pelos caminhos ocultos desta caverna. Mas salvar a vila... isso será a parte mais difícil. O mal que está vindo é mais poderoso do que qualquer coisa que você já enfrentou. E a única maneira de derrotá-lo é com o nosso poder combinado.
Shen, que observava tudo de longe, se aproximou com cautela, ainda desconfiado.
— E o que exatamente está vindo? — perguntou Shen, olhando diretamente para Tao, mas sua pergunta claramente era para a entidade. — Que tipo de mal?
A entidade hesitou por um momento, como se ponderasse sobre o quanto deveria revelar.
— Uma força antiga, semelhante a mim, mas muito mais cruel. Uma entidade que não foi aprisionada, mas banida... e agora está retornando. Ela trará a destruição não só para a vila, mas para todos os lugares por onde passar.
O coração de Tao se apertou ao ouvir aquelas palavras. Mais uma vez, ele se encontrava em uma encruzilhada — uma luta não apenas por seu povo, mas pelo próprio mundo.
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