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A Jornada do Último Guerreiro - Livro 01

Capítulos 36

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A Jornada do Último Guerreiro Capítulo 13

O Reflexo

O salão escureceu ainda mais, como se a própria luz estivesse sendo sugada para dentro do sarcófago. Tao e Shen permaneciam imóveis, seus corações disparados, enquanto o som suave do sussurro da entidade ainda ecoava em suas mentes.

De repente, o ar ficou gélido. Um vento inesperado soprou de dentro da caverna, apesar de não haver saída visível. Um brilho sinistro emergiu das runas no sarcófago, pulsando como se respondesse à presença de Tao. O chão começou a tremer, mais forte desta vez, e uma fissura atravessou a tampa de pedra com um som alto e agudo, quebrando o silêncio.

Tao deu um passo atrás instintivamente, os olhos arregalados, mas não podia desviar o olhar do sarcófago. Shen, ao seu lado, ergueu a espada, seus músculos tensos, prontos para qualquer ataque.

Eles sabiam que algo estava prestes a acontecer, mas nada poderia prepará-los para o que veio a seguir.

Com um som baixo e ressoante, a tampa do sarcófago se moveu lentamente. Uma neblina escura começou a sair pelas brechas, ondulando como fumaça viva, enroscando-se pelo ar. Dentro daquele vapor sombrio, uma figura começou a tomar forma. Uma silhueta humana, esculpida por sombras e luzes fracas, começou a se levantar, erguendo-se do interior do sarcófago.

Tao engoliu em seco. A figura, embora composta de uma substância etérea, parecia incrivelmente sólida, como um espírito materializado. Mas o que o chocou profundamente, mais do que a própria entidade, foi sua aparência. O rosto que olhava para ele era incrivelmente familiar, quase idêntico ao seu próprio — mas mais velho, mais marcado pelo tempo. O olhar da entidade estava cheio de uma sabedoria ancestral, mas também de uma dor que Tao não conseguia entender.

—    O que... o que é isso? — murmurou Tao, incapaz de desviar os olhos daquele reflexo distorcido de si mesmo.

A entidade pairava no ar, sua forma translúcida oscilando como se estivesse presa entre o mundo dos vivos e o dos mortos. Quando abriu a boca, sua voz ecoou pelo salão, profunda e reverberante.

—    Tao... — a entidade sussurrou, sua voz uma mistura de familiaridade e estranheza.

—    Você finalmente chegou. Sempre soube que esse dia chegaria... o dia em que você me libertaria.
 
Wang sentiu o estômago revirar. “Libertar?” Ele não queria libertar a entidade, não assim, mas algo naqueles olhos — os olhos que poderiam ser os seus — o impedia de rejeitar as palavras imediatamente.

Shen, no entanto, não compartilhava a hesitação de Tao. Ele avançou um passo, brandindo a espada, seu rosto endurecido pela desconfiança.

—    Isso é uma armadilha, Tao! — gritou Shen, sem desviar o olhar da entidade. — Você acha que podemos confiar nisso? Uma entidade aprisionada por séculos? Tudo o que ela deseja é liberdade, e isso será nossa ruína!

A entidade voltou seu olhar para Shen, sua expressão tranquila, quase compassiva.

—    Ah, Shen... sempre tão desconfiado. Mas não estou aqui para destruir vocês. — A voz da entidade soava paciente, até mesmo sábia, o que apenas fez Shen apertar ainda mais o punho ao redor de sua espada.

—    Não venha com essas palavras suaves, criatura! — Shen cuspiu. — Sei o que você é.

Sei o tipo de poder que carrega. Nós não estamos aqui para escutar suas mentiras.

A entidade inclinou a cabeça ligeiramente, e seus olhos voltaram-se novamente para Tao, ignorando a hostilidade de Shen.

—    Não estou aqui para mentir, Tao, — disse a entidade calmamente. — Vim avisá-los. Há algo muito maior, algo maligno à espreita nas sombras, ameaçando a vila que você tanto ama. Algo que não pode ser detido sem a minha ajuda.

Tao franziu o cenho, confuso e ao mesmo tempo intrigado. “Uma ameaça à vila?” Ele sempre soubera que havia perigos além do que ele conhecia, mas o modo como a entidade falava despertou algo em sua alma. Como se ela soubesse mais do que ele poderia imaginar.

Shen balançou a cabeça, a incredulidade estampada em seu rosto.

—    Isso é uma piada? — ele disse, a voz carregada de desprezo. — Você acha que vamos acreditar em suas palavras? Você quer nos usar. Não vamos cair nesse truque!

Tao, no entanto, hesitou. Seus olhos estavam fixos na entidade, sentindo a verdade oculta em suas palavras. Ele queria acreditar, e essa vontade o assustava. Shen sempre fora seu mentor, sua rocha em tempos de incerteza, mas agora... agora Tao se via questionando as palavras de Shen pela primeira vez.

—    Espere, Shen, — Tao interrompeu, sem tirar os olhos da entidade. — E se ela estiver dizendo a verdade? E se realmente houver algo maior por vir? Algo que não podemos enfrentar sozinhos?

Shen olhou para Tao, os olhos arregalados de surpresa e desapontamento.

—    Tao, você não pode estar falando sério. Esta entidade foi selada por uma razão. Ela só quer ser libertada. Não podemos confiar nela.
 
—    Eu sei... — Tao murmurou, ainda incerto. — Mas eu sinto... que o que ela está dizendo é verdade. Não sei explicar, mas sinto que ela está conectada a algo maior. Algo que realmente precisamos enfrentar.

A entidade assentiu, quase como se estivesse orgulhosa da percepção de Tao.

—    Exatamente, — disse a entidade suavemente. — Há um mal maior à espreita nas sombras, algo que nem mesmo o poder desta caverna pode conter. Se não trabalharmos juntos, será a destruição de tudo o que você conhece. Eu posso ajudar. Eu fui aprisionada aqui, não porque sou um monstro, mas porque os que me selaram sabiam que um dia este momento chegaria. Sabiam que precisariam de mim... e de você, Tao.

Tao sentiu o peso dessas palavras, um fardo que parecia impossível de suportar, mas ao mesmo tempo, inevitável. Ele olhou para Shen, tentando entender sua desconfiança, mas algo dentro dele já havia tomado a decisão.

—    Se o que você diz é verdade, — Tao começou, agora falando diretamente à entidade.

—    O que devemos fazer? Como podemos impedir esse mal de alcançar a vila?


Shen fez um som de descrença, mas permaneceu em silêncio, esperando a resposta da entidade. O espírito flutuou levemente no ar, como se estivesse ponderando antes de responder.

—    A primeira coisa que vocês precisam entender, — começou a entidade, sua voz mais grave agora. — É que essa ameaça... essa força que se aproxima, não é algo que pode ser vencido com espadas ou força física. Ela devora almas, corrompe mentes e se fortalece com o caos. Precisamos de mais do que armas. Precisamos de sabedoria, de estratégia... e de uma aliança improvável.

Tao trocou um olhar com Shen, que ainda parecia incrédulo. Mas ele sentia no fundo de sua alma que aquela entidade estava dizendo a verdade, e que, de alguma forma, ele fazia parte de um destino maior do que jamais poderia ter imaginado.

—    Então, nos guie, — disse Tao, sua voz cheia de determinação. — Diga-nos o que
fazer.

A entidade sorriu ligeiramente, um sorriso que era ao mesmo tempo reconfortante e
aterrorizante.

—    Tudo a seu tempo, Tao. Primeiro, devemos sair daqui... e nos preparar.

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