Fogo e Lua no Sonhar Epílogo: Quando a Lua Voltar
A lua não brilhava naquela noite.
Acima da Cidade de Prata, o céu permanecia coberto por nuvens espessas, como um manto que escondia verdades antigas. Nenhum luar escapava pelas frestas. Era como se a própria noite tivesse prendido a respiração, temendo o que ainda poderia acontecer.
Lá embaixo, nas muralhas restauradas pela magia dos curandeiros de Freyr, tudo parecia tranquilo. Mas não havia paz. Apenas silêncio.
Joe permanecia à beira da varanda do pavilhão central, observando a cidade iluminada por globos de energia lunar. Seu olhar estava fixo no horizonte, como se esperasse que algo surgisse da escuridão. Seu corpo estava ali, mas sua mente ainda vagava pelos corredores da mente de Loki. Algo não se encerrara naquela conexão. Aquele nome antigo... Azathoth... ainda ressoava em suas memórias como um eco ás avessas.
Dentro do palácio, Hannah vigiava o quarto onde Peter descansava. Os curandeiros disseram que ele estava estável, mas o brilho de sua marca lunar havia enfraquecido. Era como se parte dele ainda estivesse entre os mundos, retido em algum fragmento de sonho mal resolvido. Ela segurava sua mão, esperando que ele apertasse de volta. Ele não apertava.
Arthur e David, por outro lado, ajudavam os elfos na reconstrução do templo das Runas. Martelos batiam em sincronia com o ritmo de seus corações: firmes, determinados, tentando encontrar sentido na rotina após o caos.
Na Sala das Pedras, Magda experimentava, pela primeira vez, o peso do silêncio político. O trono ainda não lhe pertencia, mas todos os olhares já repousavam sobre ela. Lena, a Rainha Succubus, havia desaparecido temporariamente, deixando para a filha a responsabilidade de ouvir, observar e decidir.
Jasper e Anna estavam juntos, novamente. Mas não como antes. Algo havia mudado neles. O cristal encontrado no cofre ainda repousava sobre uma mesa coberta de runas. Ele agora estava opaco, como se sua função tivesse se encerrado. Jasper, mesmo envolto pelos cuidados dos elfos, ainda sentia o peso da sala de espelhos. E Anna... ela sonhava. Todas as noites, com uma voz feminina que cantava do outro lado das muralhas do mundo.
Longe dali, no ponto mais oculto do castelo, Loki dormia. Preso em um casulo prateado, suspenso entre o Sonhar e a vigília. Seu peito subia e descia lentamente. Mas em sua testa, uma rachadura brilhava como um fio dourado prestes a se partir. De vez em quando, ele murmurava. Mas ninguém compreendia.
Nem mesmo Odin.
O Pai de Todos já havia partido. Seu papel, por ora, estava cumprido. Mas os corvos... esses ainda rondavam os telhados da Cidade de Prata, trazendo mensagens que ainda não haviam sido lidas.
E então...
... a lua rompeu as nuvens.
Não com explendor. Nem com promessa. Apenas um brilho tímido, pálido, quase como um olho que se abre após um longo sono.
Em algum lugar, abaixo das fundações da cidade, uma raiz antiga se moveu. Yggdrasil sentiu.
E do outro lado do mundo, onde o Sonhar ainda se emaranhava em realidades partidas, uma gargalhada ecoou por um instante. Nem masculina. Nem feminina. Apenas... antiga.
O cristal sobre a mesa emitiu um único pulso de luz.
E então, como se nada tivesse acontecido, tudo voltou ao silêncio.
Por enquanto.
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