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Fogo e Lua no Sonhar

Capítulos 13

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Fogo e Lua no Sonhar Capítulo 1

O Labirinto das Possibilidades

Loki zumbia pela mente de Joe — não como um deus, mas como uma abelha dourada, pequena e veloz, deslizando entre memórias como quem percorre corredores de vidro rachado. As lembranças do jovem Scion eram caóticas, espelhadas em versões múltiplas de si mesmo: homem, mulher, velho, criança, mortal, divino. Cada fragmento refletia uma possibilidade — nenhuma inteira, todas reais.

As imagens se sobrepunham como véus: Joe criança observando a lua da janela; Joe adolescente correndo por um campo de cinzas; Joe com lágrimas nos olhos, enfrentando uma figura encapuzada. Loki ziguezagueava entre elas, atento, não em busca de nostalgia, mas de uma fissura — um ponto onde a verdade estivesse exposta, vulnerável.

De repente, uma lembrança o prendeu.

Já em sua forma humana, Loki se via sentado diante do garoto. A luz era fraca, como de uma vela trêmula. A conversa fluía como vinho forte: quente, provocadora, cheia de tensão e dúvida.

— Veja bem, Joe… — Loki disse, apoiando o queixo sobre os dedos entrelaçados. — A moralidade é um teatro. Os cenários mudam, os atores trocam de roupa, mas no fundo, todos estão interpretando o que esperam que você seja.

Joe, pensativo, inclinou a cabeça.

— Se tudo é relativo… como decidimos o caminho certo?

Loki sorriu, quase afetuoso.

— Às vezes, você não decide. Você apenas anda — e torce para que o caminho te transforme no que é necessário ser.

A troca não era apenas filosófica. Era íntima. Joe não era apenas um aprendiz. Ele era um reflexo de algo que Loki já fora — ou que nunca teve coragem de ser. Por trás das provocações, havia respeito. E, quem sabe, até admiração.

Mas o tempo era curto. Loki precisava ir mais fundo. Joe escondia algo — e o deus queria encontrá-lo antes que outros o fizessem.

A Batalha da Lua

No campo de batalha, a escuridão parecia mais viva a cada segundo. Máni permanecia de pé entre as sombras dançantes, o brilho prateado de seus olhos iluminando formas que vinham se aproximando: mariposas gigantes, com asas como pergaminhos rasgados, zumbindo ameaçadoras.

O lobisomem — feroz e selvagem — dilacerava as criaturas com garras e presas, um redemoinho de violência indomável. Mas os ataques não cessavam. O inimigo era insistente, interminável.

Máni apertou os punhos. Os olhos voltaram-se a Peter, seu filho, ainda preso nas ilusões. E, mesmo com o conflito desenfreado ao redor, um nome ecoava em sua mente: Anna.

Sua filha.

Ausente.

Fora de alcance.

Sem hesitar, Máni ergueu as mãos e chamou os Lunos, espíritos lunares que atendiam apenas ao seu comando. Pequenas luzes surgiram do céu, como vagalumes prateados com asas de seda. Dançavam em espirais, girando ao redor do deus com graciosidade e precisão.

— Procurem — sussurrou Máni, e as criaturas partiram, rasgando a escuridão com suas trilhas cintilantes.

O coração do deus pulsava acelerado. Peter estava diante dele, mas era Anna quem estava sumindo. A desordem do ambiente era insuportável, mas uma faísca de esperança começava a brilhar. Ele não deixaria seus filhos sozinhos — nem aqui, nem em qualquer mundo.

A Dança do Caos

Loki chegou ao campo de batalha em silêncio, como fumaça se insinuando por uma fresta. Os olhos percorriam tudo com atenção: as chamas, o sangue, as ilusões despedaçadas.

Joe estava lá — e não era mais o mesmo.

Agora, ele comandava.
Dava ordens.
Manipulava.

Seus aliados se moviam conforme sua estratégia. Seus inimigos caíam em armadilhas cuidadosamente montadas. Loki observava, encantado. O garoto aprendera rápido. Talvez rápido demais.

Em um instante, Joe criou uma ilusão sutil — uma centelha de poder diante de um aliado ambicioso, uma sombra ameaçadora diante de um inimigo vacilante. O campo virou-se ao seu favor.

Loki cruzou os braços.

— Bravo… — murmurou, sem que ninguém escutasse.

Mas o orgulho era seguido por cautela. A ousadia de Joe era como uma lâmina afiada — brilhante, bela, e perigosa. Se o jovem não tomasse cuidado, acabaria cortando a si mesmo.

Loki permaneceu nas sombras. Ainda não era hora de intervir. O jogo estava em andamento — e o deus do fogo adorava ver como os peões se moviam antes de virar o tabuleiro.

A Busca pelos Legados

No meio da ruína iminente, Máni sentiu falta de algo. Algo sagrado.

Os legados dos Scions — os artefatos dados pelos deuses aos seus filhos — haviam desaparecido.

Aquilo não era casual. Havia uma mão inimiga por trás. E ele sabia exatamente quais panteões seriam capazes de sequestrar poder sagrado para corrompê-lo.

Máni se ajoelhou, tocando o solo frio. O suor escorria pelas têmporas, mas seus olhos estavam calmos.

— Vá — sussurrou.

E de um feixe de luz lunar, surgiu uma figura etérea: a fada da lua. Asas como vitrais, corpo leve como névoa. Ela flutuou diante de Máni e fez uma reverência silenciosa.

— Encontre-os. Antes que o mal os use.

A criatura desapareceu na escuridão com um sopro. E o deus da lua, mesmo cercado por esse turbilhão de incertezas, sentiu a ansiedade dar lugar à determinação. Havia esperança. E ele faria tudo o que fosse necessário para proteger seus filhos — e os filhos dos outros.

A Dança Noturna

As mariposas atacavam com selvageria.

As asas gigantes cortavam o ar com estalos secos, como chicotes. Suas bocas dentadas rangiam. E mesmo assim, o lobisomem se mantinha de pé — um furacão de músculos, garras e pura raiva ancestral.

Máni sabia que precisava de mais.

Ergueu o braço, e da névoa do sonho surgiram os anuros — as rãs lunares. Criaturas antigas, com pele cintilante e olhos como poços de sabedoria. Ao saltarem para o campo de batalha, deixavam um rastro de veneno que derretia a matéria dos pesadelos.

O cenário mudou.
O som dos coaxos ecoava como um cântico de guerra.

O lobisomem rugiu, e os monstros recuaram por um instante. Era o suficiente.

Juntos, homem e fera, deus e criatura, enfrentavam a noite como uma orquestra de conflito sob a maestria da lua. A dança da guerra continuava. E ali, naquele cenário de entropia dos sonhos, a única certeza era: sobreviver.

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