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Fogo e Lua no Sonhar

Capítulos 10

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Fogo e Lua no Sonhar Capítulo 2

O Encontro nos Campos de Folkvang

Folkvang brilhava sob a luz calma da lua cheia. Os campos, amplos e silenciosos, abrigavam as almas de guerreiros caídos, adormecidas sob a proteção eterna de Freya. Era um lugar sagrado, onde o tempo parecia suspenso, como uma pintura que respirava.

Mas naquela noite, algo mudou.

Uma presença antiga cruzava os campos — com passos leves e intenções nunca óbvias. Loki se aproximava. Filho do caos. Senhor das trapaças. E mesmo os ventos pareciam hesitar diante de sua chegada.

Freya, atenta no alto de seu trono, estreitou os olhos ao vê-lo. Helheim murmurava histórias dele — e da filha que ela perdera para as sombras. Loki nunca trazia respostas simples. Mas sempre trazia movimento. E isso bastava para preocupar os deuses.

Com o charme de sempre, Loki pediu hidromel. Um gesto pequeno, mas simbólico — ele queria ser recebido. E ao tomar o cálice das mãos de Odin, o Pai de Todos, selava ali algo mais do que cortesia: selava sua entrada no centro da conversa.

— Estive... passeando — disse Loki, sorrindo com a tranquilidade de quem carrega segredos no bolso.

Mas Odin não mordeu a isca.

— Corte os rodeios. Por que está aqui, Loki?

O deus do fogo inclinou a cabeça, os olhos faiscando ironia.

— Para falar dos nossos filhos. Aqueles que não estão tão perdidos assim.

A Revelação de Loki

Odin não escondeu a surpresa, embora logo retomasse sua postura imperturbável. Loki começou a contar — com aquela voz que sempre soava como memória viva — sobre a queda do panteão grego e os Scions aprisionados. Odin ouviu em silêncio. Sabia que Loki nunca dizia tudo.

Enquanto preparava sua fala, Loki puxou os fios do inesperado.

— Morfeu — disse, com a voz grave pela primeira vez naquela noite. — Corrompido. Traiu os próprios irmãos. Criou uma prisão de sonhos. E nela, prendeu os filhos dos deuses.

O salão ficou mais quieto.

— Recebi uma mensagem das Nornas — continuou —, e fui até Helheim. Estou disposto a ir mais fundo, se for preciso. Mesmo que isso me aproxime de feridas... antigas.

A menção a Balder ficou no ar como fumaça. Ninguém responderia sobre o tema.

Odin o fitava, tentando ver além das palavras.

— E por que você, Loki, se importa tanto? O que as Nornas disseram?

Loki apenas sorriu, sem dar nada de graça.

— Ah, Odin... algumas coisas precisam ficar nas sombras. Por enquanto.

Ele se inclinou levemente, como quem revela só metade do segredo.

— Mas posso garantir: se não fizermos nada, perderemos mais do que filhos. Perderemos tudo.

Revelações nas Sombras

Com uma piscadela sarcástica, Loki citou uma velha conhecida — Dís. Alguns dos deuses trocaram olhares. Sabiam que as Dísir eram perigosas, silenciosas e muito antigas.

Mas Loki logo voltou ao centro da discussão.

Explicou como Morfeu, agora aprisionado na Coroa das Trevas, usava sonhos para manipular a realidade. Revelou que entre os prisioneiros estava o próprio filho de Odin.

Foi um golpe direto.

— O destino não espera — disse Loki, com a voz agora mais firme. — E não tem piedade dos que hesitam.

O silêncio no salão pesava.

— Talvez ele esteja certo — disse Odin, por fim. — Se Morfeu corrompeu o Sonhar, e se nossos filhos estão presos lá dentro... precisamos agir.

Freya, com a voz calma, ponderou:

— Agir sem pensar é tão perigoso quanto não agir. Um passo em falso pode nos arruinar.

Thor bateu o punho sobre a mesa.

— Chega de dúvidas. Vamos tirá-los de lá. Agora.

Mas Odin, ainda sereno, balançou a cabeça.

— Precisamos de estratégia, não só de coragem. E Loki… não veio aqui à toa.

Heimdall, sempre observador, falou com suavidade:

— Escutemos. Até os sons mais distantes revelam verdades.

Frigg, gentil como o luar, apenas completou:

— A pressa não deve vencer a sabedoria.

E então, Tyr:

— Qual o plano?

Todos olharam para Loki.

Ele, claro, sorriu.

— O plano ainda está se desenhando. Mas uma coisa é certa: não estamos mais no controle do tabuleiro. E se quisermos proteger os nossos, teremos que arriscar as peças.

O Chamado da Lua

Loki então olhou para Odin. O rosto carregava aquele brilho travesso... mas havia algo mais ali. Uma sombra de urgência.

— O freixo e o olmo são necessários — disse. E Odin entendeu. Referia-se à criação dos primeiros humanos. À base de tudo.

— Eu e Máni começaremos a jornada dentro de trinta dias — anunciou. — Só nós dois. Enquanto isso, os outros devem manter o mundo funcionando. E as aparências também.

A lua parecia brilhar mais forte. Banhou o campo com uma luz firme, como um sinal.

Loki virou-se. Caminhou até a beirada da colina, onde a claridade o alcançava. Acenou aos deuses com um gesto despreocupado. Mas seus olhos diziam o contrário.

Ele ia se encontrar com o deus da lua.

E juntos, talvez fossem capazes de reverter o que estava por vir.

O Pacto Lunar

Loki atravessou os portões de prata do palácio de Máni, envolto pelo brilho silencioso da lua cheia. O ar era mais denso ali — limpo, mas carregado de significado. Máni já o aguardava, parado como uma estátua entre colunas etéreas, sua presença refletida nas superfícies cintilantes ao redor.

— Sabia que viria — disse o deus da lua, a voz suave como o próprio luar. — Esta noite é especial. A lua está cheia, e os véus entre os mundos estão mais finos.

Loki se aproximou com um sorriso leve, mas o olhar carregava cansaço.

— Nós dois temos mais a perder do que os outros. Você tem dois filhos presos. Eu, só um. E mesmo ele… ainda não é uma lenda. Não como os outros.

Máni manteve o olhar fixo. Sabia que aquele era o único momento certo para agir. Se esperassem, o Sonhar engoliria tudo — até mesmo os deuses.

Loki continuou:

— Odin nos ajudará. Mas você o conhece. Ele hesita. Ele observa. As Nornas não tecem um destino seguro nem para ele.

E então, ali, sob a luz da lua, os dois selaram o pacto. Sem fogos, sem juramentos em voz alta. Apenas um olhar, um gesto. E uma promessa silenciosa de que caminhariam até o fim — mesmo que o fim fosse o próprio abismo.

No futuro… 30 dias depois.

A poeira da batalha ainda pairava no ar quando Loki reapareceu, sorrindo com o canto dos lábios. O campo, devastado, ecoava o fim recente de um confronto feroz. E ali estava Joe, vestindo o manto de seu panteão original — um símbolo da escolha que havia feito, da identidade que começava a aceitar.

A poucos metros, uma mulher elegante observava. Trajava um terninho verde-escuro, cabelos presos com um laço dourado. Era refinada, serena. E impossível de ignorar.

Joe sentiu um aperto no peito. O tempo desacelerou.

Como se alguma parte dele — instintiva, esquecida — reconhecesse algo ali.

Aproximou-se, sem entender por quê.

Os olhos dela encontraram os dele, e naquele instante, tudo silenciou.

Ele se desvencilhou de Jasper, ainda cambaleante. Os ossos doíam. As feridas pesavam. Mas a dor parecia... secundária.

— Por que você está aqui?! — disparou, os olhos arregalados de surpresa. Algo naquela mulher incomodava. Era estranhamente familiar.

Loki, ainda sob o disfarce, inclinou a cabeça com graça contida.

— Porque é aqui que eu deveria estar. Você pode não lembrar de mim, Joe. Mas nos cruzamos antes... de outras formas.

Joe franziu o cenho. Havia algo se agitando dentro dele. Fragmentos de memória, quebrados e embaralhados, emergiam. Um orfanato. Um rosto desconhecido, mas reconfortante. A sensação de que alguém o observava — o guiava.

— Quem é você? — perguntou, a voz mais baixa, quase suplicante. — E o que... o que está fazendo comigo?

Loki escolheu as palavras com o cuidado de quem lida com uma faísca prestes a virar incêndio.

— Sou alguém que veio ajudar. O que você sente, essa ligação… vai além da lógica. E sim, você sente, não adianta negar. Mas não é hora de revelar tudo. Ainda não.

Joe olhou para o chão, respirando com dificuldade. O peso de tudo o que já havia enfrentado o esmagava, e mesmo assim… havia algo reconfortante naquela presença.

— Foda-se... — disse enfim. — Só me explica isso quando der. Mas se for mais uma armadilha do destino, vou descobrir. E vou lembrar disso.

Lentamente, ele aceitou com a mão estendida.

Não confiava. Mas precisava seguir.

Joe se sentiu puxado por dentro, como se uma maré emocional o arrastasse. Ao tocar na mão de Loki, uma lembrança explodiu:

O orfanato. Escuro, abafado, cheio de silêncio e medo. E entre aquelas sombras, uma presença observava. A mesma mulher. Sempre ali. Como se estivesse esperando o momento certo.

A gratidão por ter saído daquele lugar se misturava ao desconforto da dúvida. Quem era ela — ele — aquilo?

Nada era por acaso. Tudo estava entrelaçado.

Quando voltou ao presente, Joe sentiu um arrepio. Mas não era medo. Era clareza. Uma sensação de que, mesmo sem entender, algo havia mudado.

E que, finalmente, ele estava pronto para descobrir o porquê.

A Confrontação e a Jornada à Frente

Joe soltou a mão de Loki com um movimento firme. Os dedos ainda tremiam, como se ecoassem algo que o corpo não conseguia explicar. Seu rosto estava tenso — entre a raiva e a gratidão, entre o cansaço e a dúvida.

Por dentro, tudo girava. O passado recém-revelado. As memórias que não pediram para voltar. A sensação de que tinha sido jogado num jogo que nunca quis jogar.

Ele quis falar. Gritar. Jurar. Acusar. Mas o que isso mudaria?

Deuses não se movem por gritos. E Loki… Loki era o rei das entrelinhas.

Joe apenas o encarou, os olhos queimando de tudo o que não disse.

— Não tenho tempo pra te odiar — falou, num tom seco, porém carregado. — Então vamos, papai.

Loki riu. Não alto. Não debochado. Foi um riso cansado. Quase... sincero.

— É hora de buscar a prole da lua — respondeu, e sorriu com aquele brilho antigo nos olhos.

E então aconteceu.

Em um piscar de realidade, os dois foram engolidos por uma estrutura cósmica — um espaço que não era lugar. A matéria tremeluzia ao redor como vidro líquido. Janelas pairavam no ar, girando lentamente, e cada uma revelava um Joe diferente: criança, guerreiro, traidor, mártir. Versões perdidas em sonhos, presas nas teias do deus do sono.

No centro de tudo, Máni os esperava.

Seu olhar não era de boas-vindas — era de alerta. De urgência.

Loki assentiu de longe. Máni retribuiu com um gesto curto. A jornada começava ali.

Joe sentiu o corpo se dissolver. Era como perder o peso da carne e assumir o da alma. Como se o espectro que o espreitava desde a infância finalmente tomasse forma.

O mundo à sua volta se esticava, vibrava, se partia. E, ainda assim, ele permanecia inteiro.

Não havia mais volta.

Era hora de enfrentar Morfeu. De atravessar o labirinto. De salvar Peter.

E, talvez, finalmente entender quem ele era dentro daquele sonho — ou fora dele.

 

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