Fogo e Lua no Sonhar Capítulo 7
O Estilhaço Cósmico
O espaço ao redor de Hannah, Joe e Alec começou a vibrar e rachar, como se o próprio cosmo estivesse se despedaçando. As fissuras brilhavam intensamente, revelando um vazio profundo e escuro por trás delas. De uma dessas rachaduras, uma nuvem voadora surgiu, carregando Arthur e Peter. Eles pairaram no ar por um instante, a nuvem luminosa contrastando com o breu ao redor, antes de aterrissar próximo aos três.
Hannah correu até os recém-chegados, seus braços se estendendo para abraçar Arthur e Peter com força. O reencontro foi carregado de emoção — um momento de alívio no meio do caos crescente. Mas a trégua durou pouco.
Do nada, uma chama intensa brotou do chão, incendiando o piso de vidro galáctico. A chama se contorceu e tomou forma, revelando uma figura familiar: Loki. Em sua mão, ele segurava um coração negro ainda pulsante, envolto em sangue. O deus do fogo sorriu com um brilho malicioso nos olhos antes de começar a falar.
— Olá, crianças. A hora do recreio acabou — disse Loki.
Conforme o fogo se dissipava ao redor de seus pés, o corpo de David emergiu, inerte, mas intacto. Loki continuou, sua voz uma mistura de autoridade e diversão:
— Acho que nosso barco está lotado... Mas antes que algo fuja do controle, é melhor correr...
Com um sorriso sagaz e olhar fixo no horizonte, Loki devorou o coração negro. Seus olhos se tornaram breu absoluto. De suas costas, asas negras brotaram com violência, rasgando o ar e impondo sua presença. Ele cerrou os punhos e começou a murmurar em uma língua antiga e desconhecida, enquanto uma energia sombria e ancestral se condensava ao seu redor.
Onde Está Jasper?
Joe tentou manter a alegria do reencontro, mas logo notou a ausência de Jasper. A primeira coisa que saiu de sua boca foi um questionamento urgente:
— Onde está Jasper, Peter? O que houve com ele?
Alec, por sua vez, desviou o olhar do corpo de David e fixou-se em Loki. Um sorriso começou a se formar em seu rosto enquanto ele se aproximava da borda do abismo que se abria à frente.
— Melhor vocês conversarem outra hora. Não esperem por mim, galera. Eu os encontro mais tarde. E Joe, quando sairmos daqui, você paga um hot-dog pra todo mundo...
Com essas palavras, o Scion de Tyr começou a correr em direção a Loki, sua aura solar irradiando com intensidade. Num salto certeiro, concentrou sua energia e desferiu um soco poderoso no deus do fogo, cuja força o empurrou para longe. O impacto criou uma explosão de luz, abrindo espaço para que os demais pudessem escapar com mais segurança.
Peter observava Alec e respondeu rapidamente a Joe:
— Um pesadelo me separou dele... encontrei o Arthur no caminho...
Sem perder tempo, Peter se aproximou de Hannah, segurando sua mão. Com um gesto preciso, invocou a relíquia dourada de Alec — forjada pelos anões de Ivaldi a pedido de Tyr. A peça se formou no braço direito de Alec, brilhando com poder ancestral. Peter já sentia a exaustão de moldar aquela parte do sonho, mas sabia que era necessário.
— Vamos, Hannah — disse ele, puxando-a em direção a um bolsão dimensional que se formava ao seu comando. Hannah gritou, resistindo:
— Não!
Mas Peter não hesitou. Ele sabia o que precisava ser feito. Antes de desaparecer, lançou um último olhar para os outros e disse:
— Aguentem firme. Eu volto logo...
A cena foi tomada por clarões: a luz intensa da relíquia de Alec, a escuridão voraz ao redor de Loki, e a tensão crescente de um destino incerto. Peter e Hannah desapareceram no bolsão, deixando Joe e Arthur diante do caos iminente.
As Memórias Retornam de Súbito
Arthur olhou ao redor com uma sensação crescente de clareza. A névoa da ilusão começava a se dissipar. Ele se lembrava de quem era. Um Scion. Filho de Thor. Um guerreiro moldado em trovões e promessas quebradas. E não permitiria mais ser prisioneiro — nem das ilusões, nem do próprio passado.
— Agora somos só nós dois — murmurou, encarando a escuridão ao redor.
Ele avançou, instintivamente posicionando-se à frente de Joe. Ainda não o conhecia, mas não o via como uma ameaça. Havia algo naquele rapaz — um tipo de firmeza contida — que Arthur respeitava.
— Se você tem algum truque, é uma boa hora de usar — disse Arthur, os olhos fixos no caos à frente.
Joe leu nas entrelinhas. Aquele Arthur ainda não lembrava de tudo, mas estava pronto para lutar. Mesmo perdido em fragmentos de memória, ainda era um filho de Thor. Um protetor.
Loki, ainda coberto pelo brilho da explosão de luz causada pelo soco de Alec, cambaleou por um momento, tempo suficiente para Peter puxar Hannah para um bolsão dimensional. Joe viu a relíquia dourada se formar no braço direito de Alec — a mesma forjada pelos filhos de Ivaldi, sob pedido da deusa solar.
Joe pensou rápido. Era a maleta de planos, como Jasper dizia.
“Preciso ganhar tempo. Peter vai voltar. E Loki... bem, Loki aguenta.”
Ele gritou para Alec:
— Vai com tudo! Vamos mostrar a eles do que somos feitos!
Hannah em um Prédio Abandonado
Hannah caiu de joelhos, tossindo em meio à poeira que subia ao seu redor. O chão era frio e áspero. O lugar — um prédio em ruínas, de paredes rachadas e janelas quebradas — cheirava a abandono.
Ela olhou para a chave em sua mão. O brilho suave era a única luz naquele cenário cinzento. Levantando-se devagar, com raiva latejando no peito, ela gritou:
— Droga, Peter! — Sua voz ecoou, rebatendo nas paredes como uma acusação. — Eu deveria estar lá, ajudando! Não posso... ficar aqui!
A frustração fervia em sua voz. Mas ela respirou fundo, fechou os olhos e estendeu a chave como quem invoca um milagre.
— Ok, Hannah. Você consegue. Abre um portal... rápido!
A chave brilhou. Uma rachadura luminosa surgiu em uma parede à frente, crescendo como uma fenda viva. Hannah deu um passo para trás, segurando o choro. Então sussurrou, com voz trêmula:
— Vai buscar os outros, Peter... Eu seguro. Prometo.
A Nova Batalha
De volta ao campo estilhaçado do Sonhar, Joe olhou para Arthur e apontou para o corpo de David. Era mais que um gesto: era um lembrete de tudo o que já haviam perdido — e de tudo o que ainda poderiam salvar.
Arthur entendeu sem palavras. Ele virou-se para Alec, e os dois Scions assentiram em silêncio. Guerreiros não precisavam de discursos.
— Vamos dar a Joe o tempo que ele precisa — disse Arthur, a eletricidade dançando em seus punhos.
Alec sorriu, a luz solar irradiando como uma auréola de batalha. Eles correram juntos, suas auras colidindo e crescendo em uma onda de poder. Loki, por um momento, hesitou. Mesmo sendo o deus da trapaça, sentiu a força daquele momento: dois filhos da guerra lutando como um só.
Enquanto isso, Joe se ajoelhou ao lado de David. Com delicadeza, ergueu-o e apoiou sua cabeça sobre a perna.
— Acorda, David... — disse, a voz embargada. — Eu preciso de você. A gente precisa de você. Não podemos fazer isso sozinhos.
Uma lágrima caiu sobre o rosto do amigo. Não havia magia naquela súplica, apenas verdade.
E, às vezes, era isso que movia mundos.
Reflexão Final
O estilhaço cósmico brilhava como uma estrela prestes a explodir, projetando reflexos instáveis sobre o campo galáctico rachado. O espaço se fragmentava como vidro sob pressão, e o tempo ali parecia distorcido — esticado, comprimido, suspenso. Era como se o universo estivesse prendendo a respiração.
Loki, de asas negras abertas como lâminas, pairava entre a luz e a sombra, uma figura de caos e destino, prestes a engolir tudo ao seu redor.
Joe, ao lado de David ainda desacordado, sentia o peso daquela realidade convergindo sobre seus ombros. O caos o chamava, mas também o inspirava. Ele se levantou, os olhos encontrando Arthur. Entre os dois, um entendimento silencioso: não havia mais volta.
De volta à batalha
Arthur avançou com firmeza. Os trovões em sua alma estavam prontos para rugir.
Alec, com os punhos cerrados e olhos firmes, se posicionou à frente, quase como uma muralha viva. Em voz baixa, lançou um plano direto ao ouvido de Arthur:
— Não vamos deixá-lo respirar. Ataque com padrão… mas sem padrão. Cima, baixo, costas, meio — ele não pode prever o que não entende. Eu te cubro. Você me cobre.
Arthur apenas assentiu. Ele não precisava de mais palavras — apenas da brecha certa.
Alec encarou Loki com um brilho de desafio no olhar. Sua luz solar cortava as sombras ao redor, criando um contraste quase simbólico entre fé e caos.
— Loki, — ele disse alto, com um tom solene. — Você é um oponente à minha altura. Que melhor maneira de provar meu valor do que enfrentando o improvável? Pelas cinzas do meu pai, pelo templo do meu deus... Que os deuses vejam a coragem dos Scions enfrentando o mais obscuro dos deuses. Sem recuar. Sem se render. Como deve ser. Como será.
Alec assumiu posição de combate. Abdômen travado. Queixo baixo. Passos firmes. Ele se aproximou, desviando com uma finta rápida em direção às costelas de Loki — um golpe falso — e então girou para a direita, desferindo um soco transversal, da direita para a esquerda, mirando o queixo do deus.
Mas o golpe não era só força: era estratégia. Alec se movimentou de modo a esconder Arthur atrás de si, usando a luz intensa de sua aura solar como cortina visual. Loki veria apenas brilho — até ser tarde demais.
O Golpe da Tempestade
Arthur inspirou fundo, o ar carregado de eletricidade. As palavras de Alec o empurravam adiante, mas era o próprio sangue — a herança divina de Thor — que rugia dentro dele. Ele não precisava gostar da arrogância de Alec para saber que juntos eram imparáveis.
Com passos pesados, Arthur se lançou. Ele girou o corpo com precisão, seu movimento sincronizado com o de Alec. Quando o soco do filho de Tyr atingiu o queixo de Loki, Arthur deslizou pela lateral, por trás, e desferiu um golpe oposto — com as costas da mão, direto contra a têmpora.
Dois golpes. Duas direções. Um único momento.
A cabeça de Loki ficou presa entre os dois impactos. O som seco ecoou como um trovão estalando entre mundos. Por um instante, tudo pareceu parar: as rachaduras no céu, o brilho da relíquia, até mesmo o tempo hesitou.
Joe assistia, o coração acelerado. Se aquele era o fim... ou apenas o início de algo pior, ninguém sabia.
Mas por um segundo, eles tinham vencido.
Entre Clones e Conexões
A batalha ao redor ganhava intensidade. Arthur e Alec trocavam golpes com precisão devastadora, em uma sincronia quase sobrenatural. Seus movimentos não eram só de força — eram de confiança, de parceria. Um sabia exatamente o que o outro faria. Joe, por sua vez, ajoelhava-se ao lado de David, sentindo o peso do tempo escorrer por entre os dedos.
David estremeceu. Seus olhos se abriram lentamente, a confusão pairando como neblina em seu olhar.
— Joe... o que está acontecendo?
— Não temos tempo, irmão. — Joe o ajudou a se erguer. — Você vai ter que confiar em mim. Fica de pé e luta.
Mesmo instável, David assentiu. O guerreiro dentro dele despertava — ainda que cambaleante, ainda que sem ter todas as respostas.
Joe lançou um olhar rápido para Arthur e Alec, que continuavam sua dança de guerra. O impacto de seus golpes contra Loki finalmente começou a surtir efeito. Uma fissura negra se abriu no rosto do deus da trapaça, como se o próprio pesadelo estivesse tentando tomá-lo por dentro.
E então… Loki se multiplicou.
Cinco cópias surgiram, tão reais quanto ele próprio. Quatro avançaram, rápidas como lâminas, contra os dois guerreiros. A quinta permaneceu para trás — imóvel, observando. Joe notou. Aquilo era Loki. O verdadeiro. E ele estava lutando internamente.
Joe se virou para David, já formulando a próxima jogada.
— Me dá só um segundo.
Ao seu lado, em meio à fumaça, uma versão idêntica de si mesmo surgiu.
— Quanto tempo, cópia! — disse ela, com um sorriso debochado.
Joe nem sorriu.
— Cala a boca. Fui eu que te invoquei. Faz o que precisa e rápido.
A cópia fechou os olhos, teatral:
— Ó Deus da Trapaça, eu poderia passar séculos te louvando… mas vamos pular essa parte? Em vez de exaltar seus feitos gloriosos — como enganar Thor ou gerar Fenrir —, que tal permitir que este filho indigno te ajude numa humilde cruzada psíquica?
Joe completou, sem cerimônia:
— Você me resgatou na sua mente, Loki. Agora é minha vez de retribuir.
Como se respondendo à prece não convencional, o fio de Máni que ligava Joe a Loki começou a brilhar com veios de fogo. Joe soube: ele estava sendo chamado.
Mas precisava de um toque.
—
David entendeu. Como Scion de Freyr, mestre da fertilidade e das folhas da guerra, ele não hesitou. Rasgou um pedaço da camisa de Joe, soprando as fibras de algodão como sementes.
— Vai pegar.
Vinhas místicas brotaram da palma de sua mão, florescendo em direção ao Loki imóvel. Elas se entrelaçaram nas pernas do deus como correntes vivas. Era a chance.
Joe disparou, desviando das cópias com destreza. O caos rugia à sua volta, mas ele não via nada além do alvo à frente. Loki.
Dança Mortal
Enquanto isso, Alec e Arthur enfrentavam os clones. Alec gargalhava — como sempre fazia quando a situação se tornava mortal demais para não rir.
— O que acha de fazer esses clones rodarem? — ele gritou para Arthur. — Eu te lanço, você me lança. Juntos, enfiamos o pé na cara desses fantasmas!
Arthur sorriu, mesmo sem querer.
— Vai!
Alec girou Arthur como um martelo nórdico em rotação. As botas do filho de Thor acertaram o primeiro clone com tanta força que o corpo se desfez em fumaça. O segundo veio em sequência — agora era Alec quem era lançado.
Impacto. Desintegração.
Giravam, batiam, lançavam um ao outro como uma catapulta divina. O terceiro e o quarto clones ruíram como poeira estelar.
Arthur, com o corpo já suado e pulsando energia, assentiu para Alec:
— Vamos acabar com isso.
Mais um giro. Mais uma queda. A fumaça se dissipava.
Dentro de Loki
Joe chegou. Seu toque encontrou a pele quente do deus, marcada de rachaduras de energia instável.
A mente de Loki o engoliu.
Joe sentiu-se tragado por um labirinto de truques, ilusões e versões retorcidas da realidade. Andava por corredores em espiral, onde tudo era armadilha — vozes zombeteiras, reflexos falsos, sombras que sussurravam dúvidas.
Mas ele não vacilou.
Joe era filho do caos. Crescido entre enganos e promessas vazias. E por isso mesmo… imune.
Ele seguiu, cortando a névoa, até encontrar o coração do labirinto.
Ali estava Loki — curvado, respirando com dificuldade. Cercado por versões distorcidas de si mesmo: Loki guerreiro. Loki criança. Loki monstro. Loki chorando.
Joe se ajoelhou.
— Ei. Vamos sair disso juntos.
Loki ergueu os olhos. Dentro deles: cansaço. Dor. Culpa. Memórias antigas que o mundo havia esquecido — mas ele, não.
— Você... voltou.
— Claro que voltei. Alguém tem que manter esse inferno em movimento.
A mão estendida era um gesto simples. Mas naquele plano, naquele momento, era tudo.
Loki a segurou.
O labirinto começou a ruir. As ilusões tremeram, depois se desfizeram como poeira brilhante levada por um vento cósmico.
—
De volta à realidade
Loki abriu os olhos. As vinhas de David caíram. O fogo em seu peito queimava menos. Ele respirou fundo, o rosto suado e os olhos marejados. Mas livre.
Joe cambaleou para trás, exausto.
Ainda havia batalha, ainda havia perigo.
Mas agora… eles estavam completos.
Na Mente de Loki
— Joe!?
A surpresa de Loki foi real, mas não era apenas por ver seu afilhado ali — era pelo que aquilo significava. A mente de um deus não era um lugar comum. Era um universo inteiro, e aquele momento não deveria ser possível.
A opressão dentro da mente de Loki era sufocante. O ar era pesado, espesso como vapor de metal derretido. Cada respiração era uma batalha. Cada passo, uma maratona. Joe forçava os músculos a se moverem, mesmo quando tudo nele pedia para ficar imóvel.
— Loki. — respondeu Joe, tentando focar, mas sentia a realidade ao redor escorregar como areia entre os dedos. — O que é esse lugar...?
À sua frente, um demônio do pesadelo estava contido — enlaçado por um laço flamejante, envolto em uma energia verde que pulsava como vida própria. A criatura se contorcia, uivando sem som, em meio à prisão viva. Loki, em sua forma original, estava parado, os olhos fixos na criatura. Mas uma cópia dele, etérea e mais jovem, aproximou-se de Joe. A duplicata falava por ele, pois nem mesmo Loki conseguia se mover dali.
— Você ouviu? — disse a cópia, sussurrando. — "A coroa de Azathoth..."
𒀭𒊕𒉣 𒀀𒍝𒄿𒋫𒋼𒀀...
Aquela língua — um idioma ancestral, talvez sumério ou acádio, reverberava em Joe como se ele já tivesse ouvido em algum sonho há muito esquecido.
— Você entende? — continuou Loki. — A coroa foi colocada em Morfeu. E eu... Eu vou colocá-lo para dormir. Mas ao fazer isso... dormirei também.
Joe engoliu seco. O significado de Azathoth ecoava como um trovão.
O "Deus Cego e Idiota", o senhor do abismo no centro de todas as realidades. Aquele que sonhava o mundo. Se acordasse… tudo cessaria. E agora, um artefato forjado do seu caos havia sido usado para corromper Morfeu, o deus dos sonhos.
Era como tentar conter um incêndio... com gasolina.
— Você... vai se sacrificar? — Joe murmurou. — Quer que eu te tire daqui e entregue a Máni...
Loki apenas assentiu.
— Você consegue? — perguntou, com um tom menos arrogante, mais humano.
Joe hesitou, tentando pensar em uma resposta. Mas Loki, como sempre, já sabia.
O deus duplicado se aproximou. Sem aviso, enfiou a mão no peito da cópia de Joe — que ainda o observava em silêncio.
— Até a próxima, Joe.
Fora da Mente de Loki
Do lado de fora, o silêncio caiu como um trovão abafado. O corpo de Loki havia parado. Suas asas, encolhidas. O miasma negro que o envolvia agora cobria apenas os olhos — fechados, como se dormisse profundamente.
David, ainda canalizando as vinhas floridas de algodão, suava. As flores, antes suaves, começavam a arder em brasa, consumidas pela energia instável do deus.
Joe, ajoelhado ao lado de David, observava tudo com o coração acelerado.
E então — um zumbido no ar, uma curva de vento suave. Uma nuvem mágica surgiu no céu rachado, descendo até eles com leveza. Sobre ela, Peter.
— Demorei? — ele perguntou, com aquele sorriso de canto que irritava e aliviava ao mesmo tempo.
Ele saltou da nuvem e analisou a cena em segundos. Loki estava vivo, mas à beira de algo muito maior — e muito mais perigoso.
— Precisamos tirar ele daqui. Agora. — disse Joe. — Isso... isso é maior do que tudo que enfrentamos até agora.
Peter ergueu as mãos. Uma barreira de proteção prateada e dourada começou a se formar ao redor de Loki. Ao mesmo tempo, a cópia de Joe, que ainda tocava o deus, explodiu em fumaça esverdeada. Essa névoa foi sugada pela barreira, reforçando-a com um brilho sobrenatural.
A batalha, ao menos por agora, dava uma pausa. Mas a guerra... estava apenas começando.
A Estratégia de Retirada
Alec respirou fundo, regulando as batidas do coração, restaurando o fluxo de ar nos pulmões como quem recarrega a alma para o próximo combate. Arthur deu dois tapas leves em seu ombro, celebrando a vitória silenciosa que haviam conquistado juntos.
Então Alec avistou Peter.
— Um pouco mais e meus filhos já teriam nascido... — disse, rindo da própria piada. — Alguém sabe se Vanessa está aqui? Antes de sair, quero encontrá-la. E meu machado de combate, se possível.
Peter, com a expressão tensa, respondeu:
— Não sinto o fio dela nesse plano. Mas os de Jasper e Anna... ainda vibram. Estão longe, mas vivos. Só posso levar dois por vez. Quem vai primeiro?
Joe deu um passo à frente, firme.
— Eu e Loki. Ele precisa sair agora. E se ele vai pra Máni, eu o levo. — Seus olhos estavam pesados, mas determinados.
Alec lançou um olhar rápido a Arthur e Joe.
— Vão. Nós seguramos o que quer que venha. Na segunda leva, David e Arthur. Um irmão protege o outro. Eu saio com Peter no fim.
Arthur, no entanto, cruzou os braços.
— Não, Alec. Você vai na frente. Eu cubro a retaguarda. E, por favor, não discute dessa vez. Já salvou minha pele hoje. É minha vez.
Alec acenou positivamente, tocado.
— Um soldado nobre. Assim seja.
Não era surpresa. Naquele grupo, todos morreriam uns pelos outros. Alec completou:
— Não sei quanto tempo se passou aqui. Nem o que nos espera do lado de fora...
Peter, percebendo o consenso, preparou o portal. A sequência foi seguida à risca:
- Joe e Loki primeiro, deixando um clone de Joe para apoio.
- Depois, David e Alec.
- Em seguida, Arthur.
- Hannah ficou por último, mantendo o portal aberto.
- Quando restaram apenas ela, Peter e o clone de Joe, Hannah hesitou.
Ela negou com a cabeça, mas Peter apenas sorriu.
Joe entendeu a tempo — e, num impulso, puxou o Filho da Lua para dentro do portal.
A conexão entre Joe e Loki ainda ativa, trouxe um aviso sutil: Peter é a moeda. Proteja-o. Entregue-o a Máni.
Joe, com essa nova responsabilidade, jurou em silêncio: Nada vai acontecer com ele.
O Retorno e o Lamento
Ao atravessarem o portal, foram recebidos por um novo cenário: um campo de batalha silencioso, onde a poeira ainda baixava.
Máni e seus seguidores haviam vencido. Corpos de inimigos jaziam ao chão. Krieger, o lobisomem, limpava o sangue do rosto com as costas da mão — o corpo coberto de feridas, mas de pé. Os Lunos, filhos da Lua, reuniam as poucas relíquias resgatadas.
Todos estavam profundamente marcados pelos nove anos de cativeiro.
Loki, agora em torpor, encontrava-se envolto em um casulo de prata e sombra, sustentado por magia antiga. Peter, exausto, apoiava-se em Máni. Os outros Scions eram carregados por seguidores do deus da Lua com cuidado quase ritual.
Uma ponte de luz lunar surgia no horizonte — um caminho etéreo, brilhante, que se estendia rumo às Terras Incógnitas.
Eles cruzaram juntos, passo a passo. A ponte de lua ressoava sob os pés com uma música silenciosa, e o brilho prateado iluminava os rostos marcados de quem lutou, caiu e se reergueu.
Ao final da travessia, a Cidade de Prata os aguardava. Elfos curandeiros, enviados por Freyr, correram até eles com bálsamos e encantamentos. Curaram ossos, aliviaram músculos, estancaram sangramentos. Mas não havia feitiço para o vazio no coração.
Jasper e Anna estavam ausentes.
A lembrança deles pairava como uma sombra, um eco daquilo que foi perdido. Peter manteve-se em silêncio, o olhar voltado para o chão. Alec não dizia nada, mas suas mãos tremiam. Joe... apenas olhava para frente, como se tentasse acreditar que tudo aquilo ainda não havia terminado.
Loki, adormecido em seu casulo, havia cumprido sua promessa. Mas ao custo de parte de si. Máni observava os sobreviventes com compaixão. A missão estava concluída, mas ninguém parecia ter vencido.
A única coisa que restava... era o lamento.
E, mesmo na beleza etérea da Cidade de Prata, o som mais presente era o dos suspiros, dos olhares vazios e das promessas não cumpridas.
Jasper e Anna não estavam entre eles. E no silêncio que se seguiu, uma certeza se instalava:
Eles haviam perdido mais do que venceram.
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