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Fogo e Lua no Sonhar

Capítulos 10

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Fogo e Lua no Sonhar Capítulo 6

O Despertar do Filho de Thor

Arthur se ergueu triunfante em meio aos trovões que ressoavam pelo campo de batalha. Era um dia comum na escola… ou pelo menos deveria ser. Ao lado de Jasper, ele acabara de derrotar um golem, uma criatura que só imaginava existir nos mitos. Mas ali estava ele, sujo de sangue e suor, ouvindo o eco dos trovões que pareciam aplaudir sua vitória. E foi naquele instante, entre a adrenalina e o espanto, que ele descobriu: era um Scion.

Mas o que isso significava?

Arthur se virou bruscamente ao notar uma figura se aproximando entre a névoa. Instintivamente, ergueu os punhos, protegendo Jasper atrás de si.

Quem é você?rosnou, os músculos tensos, pronto para o combate. — Se quiser passar, vai ter que passar por mim.

Peter avançou lentamente, como quem pisa num campo de armadilhas invisíveis. Havia cautela em cada passo, a voz baixa e controlada.

Arthur… tudo isso é uma mentira. Você está preso. Eu vim tirar você daqui. Esse Jasper atrás de você… ele não é real. O verdadeiro está em outro lugar.

Arthur franziu a testa, confuso. Peter estendeu a mão direita. Com um gesto solene, a chuva que desabava congelou no ar — gotas suspensas como cristais cintilantes, refletindo os clarões dos trovões imóveis no céu. O tempo parecia conter o fôlego.

Arthur piscou várias vezes. Aquilo era um sonho? Um pesadelo? Ou uma armadilha?

Peter avançou mais um passo. Um halo de calma parecia cercá-lo, contrastando com a tempestade congelada ao redor.

Deixa eu te ajudar, Arthur. Confia em mim. O verdadeiro Jasper precisa de você… mas antes, você precisa despertar.

A Prova de um Mundo Falso

Arthur recuou, os punhos ainda erguidos, os olhos desconfiados cravados em Peter.

Por que eu confiaria? Nem sei quem você é! E a gente já venceu aqui! — rebateu, olhando para o corpo desfeito do golem.

Peter suspirou fundo.

A gente precisa de poder pra sair daqui, Arthur… Joe foi buscar Alec… mas a gente precisa de você também. Me segue… eu vou te mostrar.

Ele girou a mão no ar. Instantaneamente, Jasper começou a se desfazer em pó, a figura dele desintegrando-se na brisa silenciosa. As gotas congeladas caíram de volta, e o céu voltou a escurecer.

Arthur olhou, atônito, enquanto a realidade começava a ranger e dobrar-se ao redor, como vidro rachando.

Esse lugar é uma farsa, uma prisão. Meu pai e Loki vieram nos buscar, mas os pesadelos estão chegando… Mais por minha causa, o que… é detalhe. Quer resolver um problema? Eu te mostro um de verdade. Me ajuda a encontrar o Jasper. — a voz de Peter era grave, urgente. — Eu fui arrancado da cela dele. Caí aqui por acidente.

Arthur deu um passo à frente, os trovões ecoando junto ao seu coração acelerado.

O que você fez com ele? — rugiu, cerrando os punhos mais forte. — Traz ele de volta. Ou faço com você o mesmo que fiz com o bichão de pedra.

Peter não recuou. Apenas ergueu as mãos, pacífico.

Arthur, pensa. Se eu fosse seu inimigo… já teria feito pior. Jasper não está morto. Ele nunca esteve aqui. Isso tudo é uma ilusão feita pra te prender.

Arthur hesitou. As palavras de Peter batiam contra as certezas frágeis que sustentava.

Prova. Prova que não é mais uma mentira. — rosnou, vacilando.

Peter assentiu devagar.

Eu te levo até ele. Mas tem que confiar. Só assim.

Silêncio.

Os trovões pareciam se afastar. Arthur baixou os punhos, ainda desconfiado, mas deixando o medo abrir espaço para a esperança.

Tá… mas se for cilada, eu acabo contigo. Entendeu?

Peter sorriu levemente, exausto, mas aliviado.

Entendi, filho de Thor. Agora vamos acabar com essa mentira. — disse, estendendo a mão.

Arthur respirou fundo… e aceitou.

Enquanto caminhavam lado a lado, a realidade ao redor começava a ruir, como um teatro desmontando os cenários. Passos dados num mundo que não era real, mas onde cada decisão tinha o peso de um trovão.

E a verdadeira luta… estava apenas começando.

As Memórias de Arthur

Peter viu o olhar de Arthur suavizar, ainda relutante, mas aberto. Com um gesto firme, puxou da cintura o fio de prata, que brilhou como uma estrela sussurrante no meio da escuridão.

Vamos salvar David… e Jasper. — disse Peter, a voz carregada de propósito.

Ele se aproximou de Arthur, enrolando o fio ao redor do punho dele com cuidado quase cerimonial. À medida que o laço se fechava, espelhos flutuantes surgiram no ar, um círculo de reflexos rodeando Arthur como memórias presas entre o passado e o presente.

Arthur Hawke: O Filho de Thor

O ronco dos motores do F-22 Raptor ecoou como trovões. Arthur, dentro da cabine, prendia a respiração — não por medo da altitude, mas pelo peso invisível da culpa. Aos 27 anos, já carregava mais cicatrizes do que poderia contar.

A primeira memória flamejou no espelho diante dele: Alyssa. Seu nome parecia um eco longínquo. O rosto dela… o sorriso dela… a filha que ele nunca pôde segurar. Uma filha nascida de um amor adolescente, separada dele antes que pudesse conhecê-la. Os pais da garota haviam se empenhado em afastá-lo, protegendo a filha da imaturidade de um jovem Arthur. Agora, tudo o que tinha era o vazio da ausência.

Alyssa desapareceu no espelho, como névoa levada pelo vento. Outro reflexo tomou seu lugar.

James. O filho com Samantha. Um raio de esperança… e ao mesmo tempo, o lembrete da traição. O casamento fragilizado. Os olhares duros de Samantha nos cafés da manhã silenciosos. O peso de tentar ser bom… e sempre falhar.

Arthur fechou os olhos, engolindo seco.

Outro espelho acendeu. David. Seu irmão. Seu oposto. O filho adotivo de Frey, carregando a magia da natureza no sangue, enquanto ele herdava as tempestades de Thor. David sempre fora um farol. Um contraste suave para sua própria fúria. A mão estendida quando o trovão o derrubava.

Arthur quase sorriu ao vê-lo, mas o sorriso não durou.

Os espelhos se multiplicaram. Viu-se voando entre nuvens escuras, lançando relâmpagos, lutando contra criaturas feitas de sombra e poeira de estrelas. A força dentro dele era inegável — mas indomada, selvagem, como a própria tempestade. O Raptor nos céus não era apenas uma máquina: era sua fuga. Era onde podia controlar a força… ou pelo menos tentar.

 

A Jornada

As imagens rodopiavam como um carrossel desgovernado. Alyssa. James. Samantha. David. O Raptor. As missões. As explosões. Cada memória golpeava como um raio.

Até que tudo parou.

Arthur ficou cercado pelos espelhos. Cada um mostrava um pedaço dele — um homem dividido entre amor e raiva, coragem e medo, poder e impotência.

Ele virou-se lentamente para Peter, os olhos carregados não apenas de lembranças… mas de perguntas.

Se eu falhei com tanta gente… o que garante que eu possa ajudar alguém? — disse, a voz rouca. — O que me torna importante pra você… ou pros deuses? Eu não sou digno nem das pessoas que escolhi amar.

Peter não hesitou.

Talvez seja hora de provar que é digno. — respondeu com simplicidade, mas com uma profundidade que ressoou como um trovão abafado.

Arthur baixou a cabeça. Olhou uma última vez para o espelho de Alyssa, onde a criança sorria, segurando um brinquedo que ele nunca vira. Um sorriso para um pai que nunca conhecera.

Ele fechou os olhos, e as imagens desapareceram.

Peter puxou o fio de prata, que se dissolveu no ar como poeira de estrelas.

Se segura. — disse ele, com um sorriso torto, a leveza quase quebrando o peso do momento.

Arthur ergueu os olhos, confuso.

Segurar onde…?

Mas a nuvem sob seus pés afundou bruscamente, quebrando a parede de espelhos ao redor. Um rugido ecoou. A realidade se rasgou, revelando um novo horizonte brilhando além da fenda.

E juntos, eles caíram no desconhecido.

A Intervenção de Loki

Enquanto Loki e Hannah despencavam pelo vazio surreal do Sonhar, ele desviava sua atenção da queda, atento ao campo de batalha etéreo que se desenrolava abaixo: Peter enfrentava o pesadelo.

Uma luta que ele não podia ignorar.

Não posso quebrar essa promessa. Não com Peter. — murmurou, ajustando a direção da queda.

Ele olhou para Hannah, a jovem ainda presa ao fio de prata. O olhar dela misturava medo e confiança. Loki sorriu, malicioso e determinado.

Ei, garota arco-íris, vou encontrar uma saída. Estamos aqui há tempo demais. Se eu falhar… avisa ao Joe. — disse, em tom leve, mas carregado de significado.

Sem hesitar, empurrou Hannah para longe, lançando-a em direção a uma zona mais segura. Ela desapareceu entre brilhos cintilantes, como um fragmento de aurora dissolvendo-se no vento.

Loki girou no ar, mergulhando diretamente em direção ao pesadelo.

O Sonhar se torcia ao seu redor. O tempo ali não obedecia lógica alguma: quinze minutos poderiam ser quinze anos, ou quinze anos um suspiro. E era nesse caos que Loki prosperava.

Força bruta aqui não vale nada… mas astúcia… ah, isso eu tenho de sobra. — pensou, sorrindo.

Enquanto voava, sentia as correntes da ilusão ondulando, como fios de seda prontos para serem puxados. A energia do Sonhar pulsava em seu corpo, moldando-se à sua vontade.

O pesadelo rugiu à distância, gigantesco, uma massa informe de escuridão viva.

Eu sou a ilusão. Eu sou a mentira… e a verdade atrás da cortina. — sussurrou Loki para si mesmo.

Suas mãos se acenderam com uma luz dourada incandescente. E ele mergulhou.

A Reunião de Hannah com Joe

Enquanto Joe e Alec observavam o tapete cósmico ondulante, um brilho cortou o ar, e Hannah pousou à frente deles.

Joe mal teve tempo de reagir.

Seu idiota! — gritou Hannah, os olhos brilhando de raiva e alívio.

Ela atravessou o espaço entre eles numa explosão de movimento, e um tapa ecoou pelo ambiente, alto e estalado. Joe sentiu a ardência no rosto, mas não disse nada.

Seu idiota! Seu idiota! Seu idiota! — ela repetia, os punhos fechados batendo contra o peito dele, cada golpe carregado de mágoa, saudade, fúria.

Os olhos de Hannah transbordaram. As palavras se quebravam em soluços. As mãos que o golpeavam agarraram sua camisa, desabando contra ele.

Joe permaneceu imóvel. Deixou que ela extravasasse. Sentiu o peso de cada batida, não no corpo, mas na alma.

Você sumiu… nos deixou… você… — a voz dela fraquejou. O corpo inteiro estremeceu antes de cair de joelhos, soluçando desamparada.

Alec, a uma distância respeitosa, assistia em silêncio. Compreendia. Mais do que imaginava.

Joe se ajoelhou lentamente ao lado dela. Estendeu a mão, hesitante.

Hannah… eu… — tentou dizer. Mas não havia palavras suficientes.

Ela se jogou contra ele, abraçando-o com força, enterrando o rosto em seu peito. Joe fechou os braços ao redor dela, apertando-a, tentando passar com o gesto o que a fala não conseguia.

Alec desviou o olhar, respirando fundo. Uma memória quente e incômoda surgiu: Vanessa. Nyssa. O hospital. A psicóloga que o ajudara a voltar do inferno. O amor que ele deixara para trás.

Por um instante, invejou Joe e Hannah. Não pela dor, mas por terem alguém para onde voltar.

Joe, ainda segurando Hannah, murmurou:

Não espero que me entenda agora… há coisas que não pude explicar. Os olhos do destino… estão em todos nós. Mas você está salva. Isso é o que importa.

Por dentro, pensava, silencioso: — Por enquanto…

Hannah se afastou devagar, enxugando as lágrimas com a manga. Virou-se para Alec, e abraçou-o.

Alec ficou surpreso, mas retribuiu. Forte. Protetor.

Você está bem? — perguntou ele, sua voz mais suave que o habitual, lançando a Joe um olhar significativo.

Hannah assentiu, respirando fundo.

Agora estou… graças a vocês. E ao Loki.

Os três ficaram ali, por um instante, um pequeno trio no meio do cosmos incompreensível.

Acima deles, o tapete cósmico brilhava, vibrando, como uma bênção silenciosa.

Sabiam que as batalhas estavam longe de terminar. Mas naquele breve respiro, sentiram-se inteiros. Sentiram-se vivos.

E a esperança, mesmo tênue, ainda os acompanhava.

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