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Fogo e Lua no Sonhar

Capítulos 10

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Fogo e Lua no Sonhar Capítulo 3

Resgate no Céu Cósmico

O tempo estava se esvaindo — e Loki sentia isso pulsar em cada fibra do Sonhar. Não havia mais espaço para truques ou enrolação. Com Joseph ao seu lado, a missão era clara: resgatar Peter antes que as portas do labirinto se fechassem para sempre.

As estrelas giravam ao redor deles, mas não como simples pontos de luz. Eram fios, teias vivas — cada uma conectada ao destino de Peter. Joseph olhava em silêncio, fascinado e, ao mesmo tempo, desconfortável. Aquilo não era apenas bonito... era esmagador.

— Ele sempre foi ligado ao céu — murmurou Loki, sem olhar para Joe. — A deusa da noite deixou sua marca nele. E quando Nótt toca alguém, é para sempre.

Joe não respondeu. Sentia o peso daquele espaço cósmico sobre seus ombros. Cada fio brilhante parecia sussurrar histórias que ele não entendia.

Então, lá estava Peter.

Flutuando, sereno, como se fizesse parte da própria constelação. Os olhos dele encontraram os de Loki antes mesmo que Joe percebesse.

Peter não era um prisioneiro comum. Ele sabia o que estava fazendo.

Sem palavras, ele cortou parte do laço de prata que o envolvia e amarrou uma ponta em si mesmo, a outra em Loki. Era mais do que um gesto — era uma declaração silenciosa de que estava pronto para atravessar o caos do sonho por conta própria.

Joe observava tudo tentando acompanhar, mas sentia-se deslocado, como alguém lendo um livro em outra língua.

— Ele sabe o que faz — disse Loki, com aquele sorriso que misturava orgulho e preocupação. — Mas o momento certo é tudo. Quando ele puxar a corda... ou quando eu puxar... não haverá espaço para erros.

Peter assentiu, os olhos brilhando com uma determinação fria. Ele já estava traçando o caminho pelo labirinto.

Foi quando Loki quebrou o silêncio, virando-se para Joe com aquele olhar travesso:

— E então, quem buscamos agora? Nosso barco está para zarpar em breve, e você tem a bússola.

Joe abriu a boca sem pensar.

Hannah.

A palavra saiu carregada — quase como um feitiço.

Antes que pudesse se arrepender, uma espiral de luz e sombra engoliu tudo.

O Jogo de Hannah

Joe caiu de joelhos. O chão era instável, como se o tempo estivesse derretendo sob seus pés. Quando ergueu o olhar, lá estava ela.

Hannah.

Segurando uma moeda, prestes a lançá-la ao ar, como se o destino fosse decidido em cara ou coroa.

O coração de Joe disparou. Ele tentou falar, mas sua voz parecia presa na garganta. Suas mãos... estavam envelhecidas. Não eram mais as dele.

Que porra é essa...”, pensou, lutando para entender o que estava acontecendo.

Memórias — que não eram suas — começaram a invadir sua mente. Escolhas que ele nunca fez. Um vida que ele nunca viveu.

Hannah se aproximou, o olhar profundo, carregado de algo que Joe não sabia se era compaixão ou desafio.

— Está pronto para apostar tudo de novo, Joe? — perguntou ela, com aquele sorriso que fazia o tempo parecer uma armadilha.

Ele sentiu o suor frio escorrer pela nuca. Queria negar, queria gritar que não entendia nada. Mas sabia que o tempo — maldito tempo — não lhe daria essa chance.

A moeda subiu.
Girou, refletindo uma luz que doía nos olhos.

Joe cerrou os punhos. Ele pensava em Peter. Pensava em como tudo aquilo parecia fora de controle. E pela primeira vez, sentiu medo não do inimigo... mas de si mesmo.

Quando a moeda caiu, ele não sabia se era vitória ou sentença.

Só sabia que, dali em diante, não haveria mais espaço para hesitação.

O Caminho para o Futuro

O som metálico ecoou — seco, definitivo.

Joe piscou, e o mundo mudou de novo. O céu cósmico estava de volta, mas diferente. Mais escuro. Mais denso.

Loki o esperava, braços cruzados e aquele olhar afiado.

— Bem-vindo de volta — disse o deus, com um tom que misturava ironia e... respeito?

Joe respirou fundo.
Sabia que tinha cruzado uma linha invisível. Algo dentro dele havia mudado — e ele ainda não sabia se era bom ou ruim.

O resgate de Peter já não era só uma missão.

Era o início de uma guerra silenciosa, onde cada escolha era uma armadilha disfarçada de caminho.

E o pior?
Joe sabia que ainda estava longe de entender as regras desse jogo.

Revelações no Abismo

— Você está pálido, Joe... — A voz de Hannah cortou o silêncio, carregada de preocupação. Ela deu um passo à frente, os olhos tentando decifrar mais do que ele dizia.

Joe tentou disfarçar, mas a respiração descompassada o entregava.

— Tô... bem... — respondeu, embora nem ele acreditasse nisso.

O chão parecia girar sob seus pés. Um calor estranho percorreu sua espinha, como se algo dentro dele estivesse... se rompendo.

Hannah estendeu a mão, hesitante.

— Joe, isso não é normal. A gente precisa—

Ela não terminou a frase.

As veias de Joe começaram a brilhar sob a pele, como rachaduras de luz prestes a explodir. Ele caiu de joelhos, engolido por uma onda de memórias que não eram só lembranças — eram vidas. Fragmentos de momentos com Hannah, sensações que ele mal conseguia reconhecer, invadiram sua mente como uma enxurrada.

— H-Hannah... — sussurrou, mas a voz dele já era outra.

A luz o envolveu. Branca, ofuscante, viva.

Hannah recuou, o coração disparado, os olhos arregalados.

Quando a claridade finalmente cedeu, o velho frágil havia sumido.
Ali estava Joe — jovem, forte, renovado. Mas havia algo mais... algo selvagem, indomável, brilhando nos olhos dele.

Joe ergueu a cabeça, ofegante, sentindo o peso do próprio corpo diferente. Ele abriu as mãos, encarando a pele rejuvenescida, os músculos repletos de energia.

— O que... foi isso? — murmurou, mais para si do que para Hannah.

Ela apenas o observava, atônita. Não havia tempo para respostas.

Ao longe, um som grave ecoou. Como páginas sendo arrancadas de um livro antigo — mas monstruosas.

Fuga na Biblioteca dos Pesadelos

A entrada na biblioteca foi como a travessia de uma fronteira invisível entre a sanidade e o pesadelo.

Assim que Joe cruzou a porta com Hannah, o ambiente reagiu — vivo e hostil.

As estantes estremeceram. Livros começaram a vibrar, como se respirassem. Em segundos, folhas rasgadas se lançaram no ar, formando criaturas deformadas de papel, com olhos desenhados e dentes feitos de palavras afiadas.

— Que merda é essa...? — Joe rosnou, puxando Hannah pelo braço.

Os sussurros começaram. Milhares de vozes sibilantes saíam das páginas abertas, contando histórias de medo, fracasso e morte.

O cheiro de papel queimado e mofo invadiu seus pulmões, enquanto a temperatura despencava — um frio cortante que grudava na pele.

— Sobe! — gritou Joe, apontando para a escada em espiral que parecia perder-se na escuridão acima.

Cada degrau rangia como se pudesse ceder a qualquer momento. Atrás deles, as criaturas de papel se lançavam em enxames, asas de páginas cortando o ar como lâminas.

No meio da subida, um estalo.

Do nada, um gárgula emergiu da parede — pedra viva, olhos vazios e garras estendidas.

Lanças dispararam das paredes, atravessando a criatura, mas o monstro sequer vacilou.

— Sério isso?! — Joe bufou, puxando Hannah sem olhar para trás.

O gárgula rugiu, mas ficou preso na emboscada de lanças, lutando contra o aço enquanto os dois avançavam.

No topo da escada, uma única lâmpada oscilava, lançando sombras dançantes nas paredes cobertas de livros rasgados.

Joe parou por um segundo, sentindo algo apertar em sua cintura.

A corda de prata.

Ele segurou o fio reluzente, sentindo o pulsar do poder lunar atravessando seus dedos. Um plano surgiu em sua mente — louco, perigoso, mas talvez a única saída.

— Hannah... — disse, com um sorriso que lembrava mais Loki do que ele gostaria de admitir. — Confia em mim?

— Como assim, "confia em mim"? — ela rebateu, ofegante, os olhos arregalados pela fuga e pela confusão.

Joe não respondeu. Estava concentrado demais no que precisava fazer.

O som das páginas afiadas se aproximava. A biblioteca inteira parecia querer devorá-los.

Hannah olhou para o abismo escuro à frente e depois para Joe, sentindo o estômago revirar.

— Você tem mesmo um plano... ou vai improvisar como sempre?

Joe apenas sorriu.
Porque, no fundo, nem ele sabia a resposta.

Mas uma coisa era certa:
Ficar ali não era uma opção.

A Queda na Realidade

Com um movimento instintivo, Joe desatou a corda de prata da cintura e, sem aviso, amarrou-a no braço de Hannah.

— Joe, o que você tá... — começou ela, mas a voz se perdeu quando uma onda de luz percorreu seu corpo.

De repente, tudo ficou claro. Não o presente, mas o passado — o verdadeiro.

Fragmentos de memórias explodiram na mente de Hannah:
Portais cintilantes... a Chave Bifröst em sua mão... uma lança sagrada fendendo a escuridão... a sensação de vigiar, proteger, observar tudo.

Ela ofegou, dando um passo atrás, enquanto as lembranças se alinhavam.

— Eu sou... — sussurrou, sentindo o peso do nome. — Filha de Heimdall.

A revelação era um soco na alma.
A jornalista curiosa sempre fora mais do que imaginava. Agora, não havia mais como negar: seu sangue carregava o destino dos deuses.

Mas o choque foi interrompido quando Joe a empurrou.

— O quê...? — mal teve tempo de reagir.

O mundo desabou ao seu redor.
Ela viu Joe despencando — e o gárgula avançando como uma sombra faminta.

O pânico agarrou sua garganta.
A queda parecia interminável.

Então, um tranco.

A corda de prata tensionou, puxando-a de volta à realidade antes que o abismo a engolisse por completo.

Hannah rolou no chão, o coração batendo como um tambor furioso. Ela estava viva — mas Joe...?

Antes que pudesse sequer se levantar, sentiu a corda puxá-la de novo.

O Encontro com Loki

Hannah foi arrastada pelo fio prateado e, num piscar de olhos, caiu direto nos braços de Loki.

— Mas o quê...?! — exclamou, confusa e ofegante.

O deus do fogo a segurou com facilidade, um sorriso sutil brincando nos lábios — mas os olhos traíam a preocupação.

— Onde está o Joe?! — disparou ela, tentando se soltar.

— Arrumando confusão. Como sempre — respondeu Loki, com aquela calma irritante de quem sabe mais do que diz.

Hannah estreitou os olhos, a respiração ainda descompassada.

— Isso aqui era pra ser um resgate ou um teste de sanidade?

Loki ignorou a provocação. Sua mente já trabalhava a mil — possibilidades, riscos, caminhos ocultos. Ele era mestre em sair de enrascadas, mas até para ele, o caos estava maior do que o previsto.

Com um gesto rápido, levou o dedo aos lábios, pedindo silêncio.

De dentro do casaco, tirou um relógio de bolso incomum, com números que dançavam como se fossem feitos de fumaça.

— Estamos sem tempo. — Seus olhos brilharam com aquela mistura de genialidade e loucura. — Vamos saltar.

— Saltar...? — Hannah mal terminou a pergunta.

Loki já havia se lançado no vazio, puxando-a pela corda.

O vento cortante os envolveu enquanto o universo se desdobrava ao redor — estrelas pulsavam, constelações se quebravam e refaziam em padrões impossíveis.

Hannah segurava firme, o estômago revirando pela vertigem, mas havia algo estranho naquela queda: uma sensação de que estavam cruzando não só espaço, mas destinos.

À frente, Loki parecia imperturbável — como se o abismo fosse apenas mais uma estrada no mapa caótico de sua vida.

Hannah respirou fundo.

O desconhecido era assustador.
Mas, com Loki ao seu lado, ela sabia que enfrentar o impossível era apenas o começo.

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