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Fogo e Lua no Sonhar

Capítulos 10

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Fogo e Lua no Sonhar Capítulo 5

O Resgate de Jasper

Enquanto Joe segue em busca de seu irmão, Peter tem apenas um foco: salvar Jasper.

O mundo ao redor dele pulsa como um coração ansioso. O Sonhar se retorce, mostrando fragmentos de memórias, ecos distorcidos de risos e batalhas passadas. Cada passo que Peter dá corta o ar como uma flecha, sua mente cravada na certeza de que precisa tirar Jasper dali — agora.

“Eu sou mais que um visitante aqui,” Peter pensa. “Este é o meu campo.”

Ele sente a presença do amigo como uma âncora brilhando no escuro. Não é apenas uma sensação: é um fio invisível que o guia, pulsando através das camadas da realidade. Ele acelera, o coração batendo no ritmo frenético da urgência.

Quando finalmente avista Jasper, a cena é um choque. Ao lado dele, não está só Franco e Marco, os filhos de Éris — há também uma figura familiar demais: Joe. Ou melhor, uma sombra de Joe.

Peter reconhece imediatamente a falsidade. O sorriso desse Joe é torto demais, os olhos brilham como vidro rachado, e sua presença emana um vazio gelado. Era uma peça do Sonhar, um fantoche construído para enganar.

Franco e Marco avançam como predadores. Seus movimentos têm a precisão e o caos da discórdia em carne e osso. E Jasper… Jasper não vai aguentar muito mais.

Peter não é Loki. Ele não espera pelo jogo perfeito. Ele age.

Num salto quase impossível, Peter atravessa a barreira que separa realidades, sua mão pousando no ombro de Jasper com uma firmeza que queima. Ele puxa, e o espaço ao redor se dobra.

O mundo se rasga.

Eles caem juntos, arrastados para um bolsão onírico — um lugar onde o tempo para de existir, onde tudo é suspenso em um quase-nada. O ar aqui é grosso como mel, as cores desbotadas em tons de cinza pálido. As estrelas acima parecem congeladas, e o chão abaixo é um borrão indistinto.

Jasper, ofegante, tenta falar, mas a dor do golpe recebido lateja com violência. Sua cabeça pesa, os membros parecem feitos de chumbo. Ele olha ao redor, desorientado.

— J-Joe…? — ele murmura, os olhos semicerrados fixos na figura diante dele.

Mas não é Joe.

Peter se ajoelha ao lado dele, segurando-lhe a cabeça com cuidado.

— Jasper, sou eu. Peter. Eu vim te buscar. A gente vai sair daqui, eu prometo. — A voz dele é firme, mas por baixo dela vibra um medo sutil, uma urgência sufocada.

Jasper franze a testa, tentando focar. Ele sabe que reconhece essa voz… mas sua mente gira. Tudo parece errado. Como ele chegou aqui? Quem está lutando lá fora? E por que cada fibra do seu corpo grita que isso é só o começo?

Peter respira fundo, lutando contra a ansiedade. Ele sente no ar que Morfeu está próximo, que puxá-lo para esse bolsão foi apenas um pequeno atraso, uma bolha que não vai durar muito.

Ele aperta a mão de Jasper.

— Eu preciso que você confie em mim. Só por alguns minutos, ok? — Ele sorri suavemente, tentando acalmar o amigo, mas seus olhos brilham com tensão. — Eu sei que está confuso, mas vamos sair disso. Você não está sozinho.

Jasper tenta responder, mas só consegue soltar um som rouco, a garganta seca. Ele fecha os olhos, sentindo a mão de Peter como um fio à realidade.

Peter sente o espaço ao redor tremer. O bolsão não vai aguentar. Ele sabe que precisa agir rápido.

Mas antes de puxar Jasper de volta, ele faz algo que nunca imaginou fazer ali: ele fecha os olhos, pressiona a testa contra a de Jasper por um breve segundo e murmura:

— Desculpa por ter demorado, velho amigo. Eu não vou deixar você aqui.

O chão sob seus pés começa a rachar. O Sonhar ruge. Morfeu sente que algo está errado.

Peter se ergue, com Jasper nos braços.

Ele respira fundo.
Ele sorri com um fio de nervosismo.

— Vamos encarar esse caos juntos.

E salta.

A Intervenção Sombria

Jasper respirava com dificuldade, cada suspiro cortando sua garganta seca como vidro. A dor em seu corpo era pulsante, como se estivesse acorrentado por dentro. Ele piscava rápido, tentando focar — mas tudo ao seu redor tremeluzia, como um espelho rachado prestes a se estilhaçar.

Uma figura se aproximava. Ele reconhecia… e ao mesmo tempo não.
Peter. Era Peter, não era?
Os contornos estavam borrados, como se alguém tivesse pintado por cima de uma memória antiga.

— Jasper, você já confiou em mim antes… — Peter sussurrava, ajoelhado perto dele, o olhar cheio de urgência, de promessa. — Por favor… volta comigo.

Jasper tentou abrir a boca para responder, mas antes que pudesse emitir qualquer som, um arrepio gelado percorreu suas costas. Um vento denso, como se o próprio ar tivesse se tornado pesado.

Peter congelou.
A mão estendida de repente tremeu.

Jasper, mesmo atordoado, viu: uma sombra negra, não como um vulto comum, mas algo que parecia feito de ausência, de vazio condensado. Asas se abriram atrás de Peter — vastas, afiadas, com penas que não refletiam luz, apenas a devoravam. Cada batida das asas enviava rajadas cortantes que faziam o próprio tecido do Sonhar ranger.

Peter girou a cabeça, os olhos arregalados de choque.

— Não… — ele sussurrou, baixo demais para Jasper ouvir, mas alto o suficiente para que o medo impregnasse o ar.

Antes que pudesse reagir, garras negras surgiram das sombras, agarrando-o pelos ombros, cravando-se com uma força brutal. A respiração de Peter ficou presa na garganta enquanto era levantado do chão como um boneco frágil. Ele lutava, os pés se debatendo no ar, as mãos tentando alcançar Jasper — mas a sombra era implacável.

— Jasper! NÃO! — a voz de Peter ecoou como um último raio de luz atravessando um eclipse.

Jasper tentou levantar o braço, mesmo sob a dor latejante, mesmo quando os músculos falharam — mas era tarde demais. Peter foi puxado para trás, devorado pela escuridão.

O espaço ao redor tremeu. O bolsão onírico que Peter havia criado vacilava, rachando, como uma bolha prestes a explodir. As cores já desbotadas agora sangravam em preto e cinza, drenadas pela ausência. O chão sob Jasper vibrava, e o som que o cercava era o de um vazio crescente — um silêncio que doía nos ouvidos.

Ele fechou os olhos, apertando-os com força.
Por um instante, quis ceder.
Quis afundar.

Mas então, no meio do caos, ele ouviu:
Sua própria voz.
Do passado.

“Você nunca desiste, Jasper. Nunca.”

Ele abriu os olhos, arfando. O ar parecia mais denso, como se cada inspiração fosse um ato de resistência. O medo, o desespero, a culpa — tudo estava ali, misturado à dor. Ele sabia que não estava apenas preso no ambiente: estava preso dentro de si mesmo.

A escuridão ao redor começava a tomar forma, espirais negras girando devagar. Delas, olhos surgiram — olhos que Jasper conhecia.

Os olhos eram dele mesmo.
Ou melhor, do reflexo distorcido que ele tentava esquecer.

O verdadeiro inimigo não era apenas a sombra que levara Peter.
Era o que Jasper escondia dentro de si.

Ele sussurrou, quase sem voz:
— Peter… eu não vou te deixar preso… mas primeiro, eu preciso lutar aqui… comigo mesmo.

Ele rangeu os dentes, fechou os punhos — sentindo a dor irradiar pelos braços — e se empurrou, cambaleando até ficar de joelhos. A escuridão pulsava, e as sombras se aproximavam, sussurrando velhas mentiras e medos.

Jasper levantou a cabeça devagar, os olhos semicerrados, encarando as cópias distorcidas de si mesmo que surgiam da fumaça.

Ele não tinha escolha.
Ou enfrentava aquilo agora…
Ou perderia tudo.

A Batalha Onírica de Peter

Peter foi arremessado como um míssil contra a parede da realidade onírica.
O impacto foi devastador.

Ele sentiu cada camada invisível se estilhaçando em sua pele, como vidro quebrando sob pressão: a primeira camada rangeu; a segunda explodiu em luz; a terceira gritou em ecos distantes, até a quarta desabar como um castelo de cartas. Cada golpe reverberava até seus ossos, e por um instante, Peter não sabia se ainda tinha forma humana ou se havia se tornado puro pensamento.

Quando finalmente parou, flutuando no limiar do espaço onírico, ofegante e tonto, ele avistou a criatura.
Um pesadelo encarnado.

Asas negras como a ausência de estrelas, olhos que queimavam em brasas, e uma boca que se abria em mais bocas menores, todas sussurrando palavras antigas. O vento gerado pelos batimentos das asas rasgava o ar ao redor, cortando Peter como lâminas invisíveis.

Ele rangeu os dentes.
Ele sabia. Bater de frente seria suicídio.

Com os olhos semicerrados, Peter reuniu energia. Suas mãos brilharam com um fulgor azul-prateado enquanto ele manipulava o tecido do Sonhar. Um vórtice, pequeno no começo, começou a crescer entre suas palmas. O ar estalava ao redor — estava carregado, pulsante, como se estivesse prestes a rasgar.

— Isso deve te segurar por alguns segundos… — murmurou Peter, mais para si mesmo.

No momento exato em que a criatura avançou, ele lançou o vórtice como uma lança giratória.

O monstro foi sugado, asas batendo freneticamente, rugindo em uma língua que fazia o espaço ao redor gemer. O vórtice tremeu e estalou sob a pressão. Peter sabia que tinha apenas momentos.

— Agora!

Ele se jogou da nuvem, despencando em direção ao solo em queda livre.
O cenário distorceu-se, derretendo em camadas de realidade quebrada — como atravessar espelhos líquidos — até ele aterrissar com um baque seco em um novo ambiente.

Frio.
Escuro.
Sufocante.

Peter arfou, se levantando com dificuldade. Suas mãos tremiam, mas ele precisava manter a mente afiada. As sombras ao redor não eram normais — elas pulsavam, vibravam, assistiam. Ele respirou fundo, os olhos vasculhando cada canto da cela.

— Quem está aqui? — ele sussurrou.

Algo lhe dizia que encontrar os outros não era apenas uma missão: era questão de sobrevivência.

O Campo de Escolhas de Peter

A nuvem mágica deslizou sob seus pés, amortecendo sua queda final. O chão abaixo era de terra úmida, e o cheiro de folhas apodrecidas subia forte no ar. Um véu de neblina cobria tudo, transformando cada passo em um mergulho no desconhecido.

Peter inspirou fundo, sentindo os pulmões queimarem com o ar frio e denso.
Ele olhou ao redor, tentando captar algo, quando uma figura surgiu correndo: David, o irmão de Arthur.

Peter começou a avançar, mas parou abruptamente.
Algo estava errado.

A figura de David tremeluzia, contorcia-se como um holograma defeituoso. Não era real — era uma memória presa, uma sombra do que fora. Peter fechou os olhos, expandindo seus sentidos. Ele sentiu a textura do Sonhar ao seu redor, filtrando as ilusões como quem separa areia de ouro.

Ali.
Um fio de energia verdadeira.

Ele seguiu, concentrado, até se deparar com uma cena intensa.
Arthur, o Filho de Thor, estava em combate.
Ele e Jasper, lado a lado.

O cenário era brutal: a chuva caía pesada, transformando o campo em um mar de lama.
O som do trovão ecoava ao fundo enquanto um golem de pedra desferia golpes violentos, o solo tremendo a cada impacto.

Peter parou por um momento, observando.
Arthur, com os músculos tensionados, fazia chover marteladas elétricas sobre o monstro. Jasper, ainda recuperando o equilíbrio, atacava as pernas do golem, tentando derrubá-lo.

Peter sabia: avançar agora, no momento errado, poderia atrapalhar mais do que ajudar.
Ele precisava esperar.
Esperar pelo momento exato.

O coração batia forte, os olhos fixos na luta.
Ele sabia que logo a escolha surgiria:
Ficar nas sombras… ou saltar para a linha de frente.

E no Sonhar, cada escolha moldava não apenas o presente, mas também o que viria depois.

O Último Empurrão

Ele rangeu os dentes, fechou os punhos — sentindo a dor irradiar pelos braços — e se empurrou, cambaleando até ficar de joelhos.
A escuridão pulsava, viva ao redor.
As sombras se fechavam, sussurrando velhas mentiras e medos.

Jasper levantou a cabeça devagar, os olhos semicerrados, encarando as cópias distorcidas de si mesmo que surgiam da fumaça.
Figuras de um passado que ele mal conseguia lembrar.
Eram erros ou apenas ecos vazios?
Ele já não sabia.

Não havia mais escolha.
Ou enfrentava aquilo…
Ou se perdia de vez.

Com o pouco de força que lhe restava, Jasper deu um passo — e mais um — e então… caiu de novo.
O peso do mundo, do sonho, das memórias esmagava suas costas.
Ele estava vencendo?
Ou simplesmente sendo arrastado para um final sem som?

Foi quando a viu.

Uma figura.
Atravessando o nevoeiro.
Suave, luminosa, com aquele andar que ele sempre reconheceria — em qualquer vida, em qualquer versão.
Anna.

Ou seria Lux?

Ou seria apenas o Sonhar brincando cruelmente com seu coração?

Jasper sorriu, cansado.
Um sorriso triste, que não alcançava os olhos.
Ele estendeu a mão — um gesto involuntário, quase infantil — mas os dedos tremeram e fraquejaram.

A figura caminhava até ele.
Cada passo parecia quebrar a distância, mas ao mesmo tempo… não.
Era como se ela estivesse sempre um pouco além, como se o próprio ar dobrasse ao redor.

Quando os joelhos de Jasper cederam de vez, ele sentiu o frio da escuridão se fechando.
Os olhos dele se semicerraram, o mundo se tornando um borrão.
A última coisa que viu foi o contorno delicado dela, inclinando-se na direção dele.

E então —

Nada.

Silêncio.

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