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Fogo e Lua no Sonhar

Capítulos 10

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Fogo e Lua no Sonhar Capítulo 4

A Queda

Joe despencava no abismo cósmico, engolido por uma tempestade de cores distorcidas e formas que se desmanchavam no ar. A gravidade parecia ter desaparecido — ou pior, puxava sua mente junto com o corpo. Cada segundo era uma eternidade suspensa entre o medo e a vertigem.

Fragmentos de memórias explodiam em sua cabeça: rostos, lugares, decisões que ele não lembrava de ter tomado. O passado e o presente se embaralhavam como se o próprio Sonhar estivesse brincando com sua identidade.

Ele sentiu o estômago revirar. O vazio ao redor era sufocante, mas no fundo da confusão, uma fagulha resistia — não era hora de desistir.

— Vamos, Joe... — murmurou para si mesmo, como se a própria voz pudesse afastar a escuridão.

E então, o impacto.

Mas não foi o fim.

O Resgate na Nuvem Mágica

Em vez de ser esmagado, Joe afundou suavemente em algo... macio.

— Sério...? — resmungou, abrindo os olhos devagar.

Estava deitado sobre uma nuvem prateada, flutuando no meio do nada. O vento gelado cortava o silêncio, e o brilho das estrelas parecia zombar da situação surreal.

Uma sombra familiar surgiu ao lado.

— Cuidado aí, sonhador — disse Peter, estendendo a mão com um sorriso tranquilo. — Quedas por aqui costumam ser longas demais.

Joe aceitou a ajuda e se pôs de pé, ainda zonzo.

— Tinha que ser você... — disse, ajeitando a roupa e olhando ao redor. — Me diz que você sabe como sair desse show de horrores cósmico.

Peter deu de ombros, os olhos fixos na imensidão.

— Estava procurando a Anna, mas sem sucesso. Sinto Jasper por perto... Os outros estão longe. Loki deixou claro: o tempo está acabando. E, depois da sua queda, aposto que ele já percebeu que estamos despertando demais pra agradar Morfeu.

Joe franziu a testa.

— Morfeu… sempre ele.

Peter tirou uma linha de prata do bolso e amarrou no pulso de Joe com habilidade naval.

— Nó de marinheiro. Não solta fácil... — disse com um sorriso de canto, soprando a ponta  para que a linha ganhasse vida. — Você sabe o que fazer: amarra em quem quiser trazer de volta. Antes que o Sonhar decida engolir mais alguém.

Joe observou a linha fria deslizar por seus dedos. Percebia que Peter dominava aquele espaço mais do que deixava transparecer.

— Certo... vou atrás de alguém que não vejo há tempos. Meu... primo, Alec.

Peter arqueou a sobrancelha.

— Primo? — Ele estreitou os olhos. — Você quis dizer... irmão, não é?

O silêncio que se seguiu foi pesado. Joe hesitou por um segundo, sentindo a cabeça latejar com uma mistura estranha de lembranças.

Ele forçou um sorriso, desviando o olhar.

— É... irmão. Claro.

Peter não insistiu, mas a dúvida ficou no ar.

Joe respirou fundo e, tentando quebrar o clima, soltou:

— Bora lá... e vê se não dorme no ponto. — Ele piscou, esperando que o trocadilho aliviasse a tensão.

Peter apenas balançou a cabeça com um sorriso cansado.

— Você não tem jeito, Joe.

Sem mais palavras, cada um seguiam seu rumo — o tempo e os sonhos não esperavam por ninguém.

O Mergulho na Memória

Peter tocou a testa de Joe, com aquele sorriso sereno de quem queria falar mais, mas sabia que não era o momento, prioridades eram impostas.

— Pensa nele... uma memória forte. Eu te jogo direto lá. E lembra: se topar com uma sombra sua, finge que não viu. Atrai coisa pior do que quedas.

— Espera, como assim "joga"...? — Joe começou sua pergunta, mas foi empurrado antes da resposta.

A sensação foi como despencar da cama — e, de repente, mergulhar em água gelada.

Joe emergiu ofegante de uma piscina, tossindo e tentando entender onde estava. O ar tinha um cheiro estranho, quase doce demais, e o céu acima parecia... errado, como uma pintura derretida.

Então viu ela.

Uma figura esguia, usando uma máscara de raposa, arrastava dois corpos para fora da piscina — e um deles era... ele mesmo.

Joe congelou.

A mulher mascarada parou por um segundo, encarando-o por trás da máscara. A tensão era quase palpável. Sem uma palavra, ela girou nos calcanhares e saltou para o telhado, desaparecendo como uma sombra fugidia.

Joe olhou para a versão inconsciente de si mesmo, envolta em sombras, sentindo um arrepio percorrer a espinha.

— Ok, Peter... isso não estava no combinado — murmurou, apertando o pulso onde a corda de prata pulsava, como se dissesse: fica esperto.

O cenário ao redor parecia uma lembrança distorcida — familiar, mas errado. Tudo sussurrava que ele estava em território inimigo.

Antes que pudesse pensar demais, ouviu um gemido.

O Reencontro com Alec

Alec estava acordando, apoiando-se no chão molhado, com a expressão típica de quem tinha sido arrancado de um sonho estranho — ou de um pesadelo.

Joe forçou um sorriso, tentando aliviar a tensão que roía por dentro.

— Bom dia, dorminhoco. Dizem que beber muita água faz bem... mas acho que você exagerou um pouco.

Alec ergueu uma sobrancelha, sem humor, enquanto tirava do bolso um celular encharcado. Arrancou o chip com calma, como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo.

Joe percebeu o olhar distante do primo — ou seria irmão? A dúvida latejou de novo, mas ele empurrou o pensamento para longe.

— Você vem ou vai ficar filosofando? — Alec disse, já se levantando e pegando uma roupa qualquer.

— Depende... Pra onde você acha que tá indo desse jeito? — Joe perguntou, seguindo Alec com o olhar atento.

Alec respondeu sem olhar para trás:

— Tenho que resolver umas coisas. A Alyssa me espera no cemitério. Mas antes, preciso passar na Nyssa.

Joe suspirou, massageando as têmporas.

— Sempre direto ao ponto, né? — murmurou. — Uma coisa de cada vez, gênio. Deixa eu pegar meu celular antes que o mundo desabe mais do que já desabou.

Enquanto Alec ajeitava a roupa, Joe sentia o peso invisível do tempo escorrendo. Ele sabia que aquela realidade onírica era traiçoeira, e cada decisão mal calculada podia custar caro.

Mas, como sempre, Alec parecia ignorar o caos à sua volta — como se o mundo pudesse esperar por ele.

Joe, por outro lado, sabia que o Sonhar não era tão paciente assim.

A Revelação

Joe mal teve tempo de reagir após a troca rápida de palavras com Alec. A tensão pairava no ar como uma tempestade prestes a desabar. Foi então que algo inesperado aconteceu — uma presença familiar, mas impossível, surgiu.

O jovem Joe — ou melhor, sua versão adormecida e distorcida — despertou.

Antes que qualquer explicação pudesse ser dada, Alec agiu. Em um movimento rápido e preciso, acertou um soco no rosto de Joe, derrubando-o, e já o imobilizou com um mata-leão.

— Quem diabos é você?! — rosnou Alec, apertando o suficiente para mostrar que não estava brincando.

Joe, mesmo sufocado, esboçou um sorriso provocador.

— Tá amassando minha roupa... — sussurrou, com a calma irritante que só ele sabia ter.

Do outro lado do quarto, a janela se escancarou com um baque seco. Vassilas, um seguidor leal, ágil como sempre, trouxe o jovem Joe para dentro. A cena era surreal: duas versões de Joe, um Alec furioso e um guardião silencioso observando tudo.

O jovem Joe arregalou os olhos, confuso e desconfiado.

— Como você consegue...? — começou, mas sua própria mente parecia recusar a resposta óbvia.

Joe, ainda se recompondo do ataque de Alec, respirou fundo.

— Pergunta errada, Joseph. A certa seria: por que estou aqui?

Alec, desconcertado pela estranha sensação de ter obedecido uma voz em sua cabeça — uma voz que ele reconhecia como sendo de Apolo, deus do sol —, recuou um passo, o olhar oscilando entre desconfiança e fascínio.

— Apolo falou pra eu te soltar... Como se você fosse... aliado — disse, a voz carregada de dúvida.

Joe se aproximou, sério desta vez.

— Confie em Apolo. Eu sou o que ele diz que sou. E você sabe que Rhitta não erra quando entrega uma mensagem no submundo.

Essas palavras atingiram Alec como um raio. O nome de Rhitta e a lembrança do submundo acenderam algo dentro dele.

O jovem Joe ainda tentava entender o cenário, mas já percebia que não era o foco principal ali.

— Então... você não está aqui por mim, está? — questionou o jovem, encarando a si mesmo com um misto de frustração e curiosidade.

Joe assentiu, lançando um olhar firme para Alec.

— Vim por ele. — E já desenrolava a corda prateada da cintura. — Hora de lembrar quem você é de verdade.

Antes que Alec pudesse protestar, o laço de prata se lançou como uma serpente viva, envolvendo seu braço. A conexão foi imediata — e brutal.

Alec cambaleou, levando a mão à cabeça. Suas pernas fraquejaram, e ele caiu sentado na cama, o rosto pálido.

Os flashes começaram.

 

Memórias Perdidas: O Fantasma do Amanhecer

Areia. Sangue. O cheiro metálico da morte.

Quatorze homens cobertos pela poeira do deserto, movendo-se como espectros entre os corpos caídos dos companheiros. Cada passo era uma dança silenciosa com a morte, cada golpe, pura sobrevivência.

Alec viu — sentiu — a fúria da batalha. O hospital ao longe, a missão desesperada. Lâminas substituindo balas. Mãos nuas substituindo armas.

E então, só restava ele.

A aurora surgiu, e com ela, a lenda do Fantasma do Amanhecer.

No leito do hospital, a figura imponente de um homem de olhos severos — Tyr — lhe oferecia uma prótese dourada, forjada com o brilho das estrelas e a essência do próprio sol.

— Que a justiça e a luz guiem seu caminho — disse o deus da guerra, antes de desaparecer como um sonho.

De Volta ao Sonhar

Alec arfava, as mãos tremendo. Quando ergueu o olhar para Joe, seus olhos já não eram os mesmos — havia neles a chama da lembrança e da determinação.

Joe sorriu, satisfeito.

— Bem-vindo de volta, Alec.

Alec se levantou devagar, testando a firmeza das próprias pernas, enquanto sentia o peso — e o poder — da memória restaurada.

— Agora entendo... E estou pronto — disse, com um brilho desafiador no olhar. — Vamos acabar com isso.

Joe enrolou novamente o laço prateado na cintura, lançando um último olhar para sua versão mais jovem, que observava tudo em silêncio, com respeito e inquietação.

— Hora de sair desse pesadelo — disse Joe, abrindo caminho para o próximo salto no Sonhar.

O cenário ao redor começou a se distorcer, sinais de que o tempo deles naquele fragmento estava acabando.

E assim, juntos, Joe e Alec avançaram — não mais como peças perdidas, mas como guerreiros conscientes de quem eram e do que precisavam enfrentar.

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