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Meu Tritão

Capítulos 10

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Meu Tritão Capítulo 2

A água ainda tremia ao redor de Athos, seu coração batia como um ritimado em seu peito, mas a presença de Carbius dominava seus sentidos. O tritão flutuava com facilidade, mantendo-se próximo, observando-o com aqueles olhos impossíveis de ignorar.
 
— Eu… vim explorar a ilha — Athos conseguiu dizer, mesmo que sua voz ainda estivesse fraca. — Sou cartógrafo. Faço mapas.
 
Carbius estreitou os olhos, analisando-o.
 
— Humanos e sua mania de desenhar as terras. — Seu tom era cheio de ironia. — Mas você não deveria estar aqui.
 
Athos franziu a testa.
 
— Por que não?
 
A expressão de Carbius mudou ligeiramente, como se houvesse algo que ele não pudesse dizer abertamente.
 
— Porque esta ilha não é um lugar para mortais — respondeu, sua voz mais baixa, quase um sussurro levado pelo vento. — Há segredos no oceano que deveriam permanecer intocados.
 
Athos sentiu um arrepio percorrer sua espinha, seu estômago se revirou.
 
— Que tipo de segredos?
 
Carbius não respondeu imediatamente. Em vez disso, seu olhar deslizou até o horizonte, onde o céu começava a se cobrir com nuvens carregadas. Seu maxilar se contraiu levemente antes de finalmente voltar a encarar Athos.
 
— Você deveria ir embora. O humano piscou, confuso.
 
— Ir embora? Eu quase morri! Meu barco pode ter sido destruído pela tempestade! — Ele gesticulou ao redor, ainda tentando se manter flutuando na água. — Eu não posso simplesmente sumir daqui sem nem entender o que está acontecendo!
 
Carbius suspirou, seu olhar carregado de algo que Athos não conseguiu decifrar.
 
— Humanos… sempre tão insistentes.
 
Então, sem aviso, ele se moveu. Sua cauda cortou a água com uma velocidade absurda, e antes que Athos pudesse reagir, sentiu-se ser agarrado e puxado para frente. Um grito morreu em seus lábios quando percebeu que Carbius o estava levando consigo.
 
O tritão o segurava firme, uma mão em sua cintura, a outra guiando o movimento ágil de sua cauda poderosa. A velocidade com que se moviam era impossível para qualquer humano. As águas se dividiam ao redor deles, como se obedecessem à presença da criatura.
 
O frio do mar queimava a pele de Athos, mas algo no toque de Carbius mantinha seu corpo aquecido. Ele não sabia se era a adrenalina, a energia que irradiava do tritão, ou algo que não conseguia explicar.
 
O que sabia era que, apesar do medo, não queria que ele o soltasse.
 
Quando finalmente emergiram, estavam próximos a uma caverna nas falésias. Carbius guiou Athos até uma rocha plana que se erguia levemente acima do nível da água.
 
— Fique aqui — ordenou, soltando-o com gentileza.
 
Athos subiu para a rocha, sentindo os músculos doerem pelo esforço. Ele se virou para Carbius, que agora o observava de uma distância segura.
 
— O que é esse lugar? — perguntou, ofegante.
 
— Um refúgio. — Carbius passou a mão pelos cabelos molhados, jogando-os para trás. — Se seu barco ainda existir, ficará do outro lado da ilha. Mas se não existir… terá que esperar até a tempestade passar.
 
Athos olhou para o céu, onde as nuvens estavam ficando mais escuras. Raios cortavam o horizonte. Ele engoliu em seco.
 
— E se eu precisar esperar? — Sua voz saiu hesitante. Carbius inclinou a cabeça de lado.
 
— Então… terá que confiar em mim.
 
O silêncio pairou entre os dois. Athos prendeu a respiração. Havia algo na maneira como Carbius o olhava… algo intenso, como se estivesse lutando contra pensamentos que não deveria ter.
 
Athos sentiu seu próprio corpo reagir a essa tensão, sua pele formigando sob o olhar do tritão.
 
E, pela primeira vez desde que tudo começou, ele percebeu o verdadeiro perigo daquela ilha.
Não eram apenas os segredos do oceano. Era o próprio Carbius.
 
Athos sentia o peso do olhar de Carbius sobre ele. O tritão permanecia parcialmente submerso na água, os braços apoiados na rocha, seus olhos brilhando na penumbra da caverna. O silêncio entre os dois era tenso, carregado de algo que Athos não conseguia explicar.
 
Ele não sabia se era o medo ou a fascinação que dominava seus sentidos.
 
— Você não parece um monstro. — As palavras escaparam antes que pudesse detê-las. Carbius ergueu uma sobrancelha, a sombra de um sorriso curvando seus lábios.
 
— E o que um monstro deveria parecer?
 
Athos hesitou. Ele tinha ouvido histórias sobre tritões, criaturas sedutoras e cruéis, capazes de afogar marinheiros apenas pelo prazer do caos. Mas Carbius… ele era diferente. Havia algo em seu olhar, em sua postura, que não combinava com a imagem de uma fera impiedosa.
 
— Eu não sei — admitiu, passando uma mão molhada pelos cabelos. — Mas, se quisesse me matar, já teria feito isso.
 
Carbius riu baixinho, o som reverberando pela caverna.
 
— Você é corajoso, humano. Ou tolo.
 
Athos apertou os lábios, sem saber o que responder. O silêncio voltou a se instalar entre eles, até que Carbius se moveu.
 
Com um impulso gracioso, ele subiu parcialmente na rocha, seu corpo musculoso emergindo mais da água. Suas escamas brilhavam com reflexos azulados, mas o que prendeu a atenção de Athos foi a pele lisa de seu peito e abdômen. Cada linha, cada músculo parecia esculpido como uma obra de arte.
 
Athos engoliu em seco. Carbius percebeu.
 
— Nunca viu um tritão antes? — A voz saiu arrastada, quase provocativa. Athos desviou o olhar rapidamente, sentindo o calor subir por seu rosto.
 
— Nunca estive tão perto de um, se é isso que quer saber.
 
— E o que acha? — Carbius inclinou a cabeça, claramente se divertindo com o desconforto de Athos.
O humano se forçou a manter a compostura, mas sua mente estava um caos. Ele não deveria estar sentindo o que estava sentindo. Não deveria estar tão… hipnotizado.
 
— Acho que você gosta de testar os limites dos outros. Carbius sorriu, dessa vez mais sincero.
 
— Talvez.
 
Athos soltou um suspiro exasperado e olhou para a tempestade lá fora. Relâmpagos iluminavam o céu, e as ondas batiam furiosas contra as pedras. Ele percebeu que estava preso ali, pelo menos até o mar se acalmar.
 
— Vou ter que passar a noite aqui? Carbius assentiu.
 
— O oceano não permitirá que você saia agora.
 
Athos cruzou os braços, tentando ignorar a sensação de vulnerabilidade. Ele estava molhado, exausto e sozinho com um tritão misterioso que parecia se divertir com seu desconforto.
 
— Ótimo. — Sua voz carregava ironia. — Preso em uma caverna com um tritão sedutor e cheio de segredos. Isso definitivamente não estava nos meus planos.
 
Carbius riu de novo, e dessa vez, Athos viu algo diferente nele. Não era apenas diversão. Havia um brilho de interesse em seus olhos.
— Talvez seja um destino melhor do que se afogar.
 
Athos respirou fundo, sentindo seu coração bater mais forte do que deveria.
 
Ele não sabia o que aquela noite traria, mas uma coisa era certa: a ilha escondia segredos. E Carbius era o maior deles.
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