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Meu Tritão Capítulo 5
O sol começava a descer no horizonte, tingindo o céu com tons dourados e alaranjados. A caverna parecia mais apertada, sufocante, como se soubesse do peso que recaía sobre Carbius e Athos. O tritão permanecia na entrada da caverna, seu olhar fixo no mar que em breve não poderia mais chamar de lar.
Athos estava próximo, tentando absorver a magnitude da escolha de Carbius. Ele sabia que o tritão perderia tudo por ele. O oceano era seu mundo, seu refúgio, e agora ele estava disposto a trocá-lo por um futuro incerto ao lado de um humano.
— Tem certeza disso? — perguntou Athos, sua voz carregada de hesitação. — Você ainda tem tempo para voltar.
Carbius virou-se para ele, sua expressão impenetrável, mas seus olhos... Ah, seus olhos estavam cheios de uma intensidade que queimava como brasas no coração de Athos.
— O que é um lar sem a pessoa que você deseja ao seu lado? — Carbius respondeu com sua voz grave e firme. — O oceano sempre foi minha casa, mas agora... você é minha casa.
Athos sentiu a respiração falhar. Ele nunca havia sido o centro do mundo de alguém. E agora, um ser tão magnífico como Carbius estava disposto a abandonar tudo por ele.
O humano desviou o olhar por um instante, sentindo um peso esmagador no peito.
— E se eu não for o suficiente? — sua voz soou quebradiça.
Carbius se aproximou, seus dedos frios roçando a pele de Athos, um contraste com o calor que irradiava de seus corpos.
— Você é mais do que suficiente.
Um silêncio pesado se formou entre eles, carregado de tudo que não era dito em palavras. Athos engoliu em seco, sabendo que não podia mais negar a verdade que ardia dentro dele. Ele também não queria que Carbius fosse embora.
Lentamente, ele levantou a mão e a pousou sobre o peito do tritão, sentindo a batida firme de seu coração.
— Então me deixe ser seu refúgio também.
Os lábios de Carbius curvaram-se em um sorriso leve antes de ele puxar Athos para um beijo. Não havia mais medo, não havia mais hesitação. Apenas o desejo intenso e a certeza de que, independentemente do que viesse, eles estariam juntos.
***
Nas profundezas, em uma câmara esculpida em corais antigos e adornada com conchas brilhantes, o Conselho dos Anciões reunia-se em um círculo solene. A luz azulada das algas luminescentes lançava sombras dançantes sobre as paredes, enquanto cânticos ancestrais ecoavam no salão.
Carbius nadava lentamente até o centro da câmara, sua cauda ondulando em movimentos firmes, mas seu coração estava acelerado. Ele sabia que aquele momento definiria seu destino para sempre. Ao seu lado, Athos mantinha-se de pé em uma plataforma submersa, sua respiração contida. Humanos não eram bem-vindos ali, e a tensão no ar era palpável.
O mais velho dos anciões, Thalassor, ergueu seu tridente ornamentado com pérolas negras e fitou Carbius com um olhar severo.
— Carbius, filho das marés, foste convocado para este ritual não apenas por tua transgressão, mas pelo vínculo proibido que formaste com este humano. — Sua voz era grave, reverberando como o próprio oceano. — Ainda há tempo para recuar. Renuncie a ele e retorne ao seu povo, ou aceite o exílio eterno das águas.
Carbius endireitou-se, sua expressão determinada.
— Eu escolho ficar ao lado de Athos. Meu coração pertence a ele tanto quanto pertence ao oceano. Se este é o preço a pagar, eu o aceito.
Um murmúrio percorreu os anciões e os espectadores que se reuniam nas sombras. Alguns mostravam desgosto, outros apenas incredulidade. Nereia, uma das anciãs mais respeitadas, deslizou até Thalassor e sussurrou algo em seu ouvido antes de virar seu olhar cortante para Carbius.
— Se essa é tua escolha, então que assim seja. O Ritual do Destino será realizado agora. — Ela ergueu os braços e as algas luminescentes começaram a pulsar, como se o próprio oceano estivesse prendendo a respiração.
Os anciões começaram a entoar um cântico antigo, suas vozes se misturando ao som das correntes submarinas. No centro do círculo, um redemoinho se formou, brilhando com energia pura. Carbius sabia o que aquilo significava: a conexão que ele tinha com o oceano seria cortada. Ele jamais sentiria as correntes o carregando, jamais se comunicaria com as criaturas marinhas, jamais retornaria à sua forma completa dentro d’água. Ele seria um exilado, um estrangeiro no próprio mar.
Athos observava tudo com o coração apertado. Ele queria dizer algo, queria impedir aquilo, mas sabia que era tarde demais. Quando Carbius olhou para ele, seus olhos tinham uma certeza inabalável.
— Estou pronto — disse Carbius.
Thalassor golpeou o centro do redemoinho com seu tridente, e uma rajada de energia azulada envolveu Carbius. Ele sentiu seu corpo se contorcer, uma dor intensa irradiando por suas escamas. Sua cauda começou a se desfazer em fragmentos de luz, e em seu lugar, pernas começaram a se formar.
Athos correu para ele, segurando-o antes que Carbius caísse na plataforma. Seu peito subia e descia com dificuldade, gotas de água salgada escorrendo de sua pele como se o próprio oceano chorasse por sua perda.
Thalassor abaixou o tridente, sua expressão impassível.
— O vínculo foi rompido. Você não é mais um filho das marés. De agora em diante, caminhas entre os humanos, sem direito de retornar às águas profundas.
Carbius respirava com dificuldade, tentando se acostumar com a sensação de suas novas pernas. Athos o segurava firme, seus olhos cheios de promessas silenciosas.
— Você não está sozinho — Athos sussurrou, segurando seu rosto. — Eu estou aqui.
Os anciões voltaram-se e dispersaram-se, e o salão foi tomado pelo silêncio. O oceano não mais reconhecia Carbius como seu filho. Mas naquele momento, ao lado de Athos, ele sabia que havia encontrado um novo lar.
E assim, sob as luzes trêmulas das profundezas, o destino de Carbius foi selado para sempre.
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