Zythrion Capítulo 4
Auxílio
Morris nunca se cansa de ver a beleza do planeta vermelho em órbita da S.P.E.A.R, a estação espacial militar de Marte — a paisagem apenas entrecortada pelas vigas de metal, passando em alta velocidade pelo vidro do elevador que desce por muitos andares.
Quando a porta se abre, um jovem de óculos corre em sua direção, carregando um IA-Tablet, deslizando seu dedo indicador esquerdo em grande ansiedade. A sala ao redor é um complexo de comando em um caos de telas piscando em vermelho, falatórios incessantes... mas ainda assim, cada um cumpre a sua função com maestria, estando exatamente onde é preciso.
O rapaz de óculos traja um macacão militar justo e escuro, com o símbolo de Marte sobre seu coração.
— Senhor...
— Diga, agente. Espero que tenha boas notícias.
O rapaz engole em seco.
— Conseguimos contato com a Aniquilação, senhor. Eles estão a 6 horas de um ponto de salto, depois mais 12 horas até a Terra.
Morris encara o rapaz, e sente o suar escorrendo por sua nuca. O comandante massageia as têmporas, preocupado.
— Não há nenhuma outra nave de guerra próximo?
— A mais próxima, além da Aniquilação, é a Odisséia, mas estão a 12 horas do ponto de salto mais próximo, e pelo menos a 24 horas da Terra.
Morris amaldiçoa em silêncio. É muito mais tempo do que precisam para chegar o quanto antes. Está profundamente contrariado. No entanto, tem que entregar a missão à tripulação da Aniquilação — a nave de guerra comandada pelo almirante Baltazar Trandor. Maldição! Aquele homem é insano...
— Que seja. — Morris suspira, sentindo-se derrotado. — Envie a mensagem para a Aniquilação: eles devem rumar para a Terra de imediato.
O agente à sua frente balança a cabeça em concordância, e se vira para levar as ordens até a dupla sentada em frente a uma enorme tela. Morris permite-se relaxar. Em seguida, olha para frente, com o cenho franzido.
Que Deus nos ajude...
Os olhos de John doem enquanto abrem lentamente. Na verdade, conforme a consciência volta a se apoderar dele, descobre que todo o seu corpo dói. Caído no piso da loja, ele olha para um monitor no alto, que diz: bom dia, raio de Sol.
Engraçado…, pensa.
O agente ergue o corpo dolorido com bastante dificuldade. Ele sente a sua cabeça girar por instantes. Até que consegue fixar sua atenção à frente. Tem um aeromóvel atravessado na vitrine da loja.
— Ele jogou um aeromóvel em mim... — murmura consigo mesmo.
O agente ergue o braço até um visor pareado com seu traje. Uma costela trincada, múltiplas escoriações, contusões, e... Ai! Ombro deslocado, percebe ao tentar se mover. John ergue-se com relutância. Pelo visto não tinha quebrado nenhuma das pernas, mas o joelho esquerdo estava dolorido. Sua cabeça inclina na direção do ombro direito, totalmente fora de encaixe. Ele levanta a cabeça e engole em seco, tentando lidar com a dor.
— Mas que droga!
Olhando em volta, encontra uma cadeira. Parece um estabelecimento de venda de produtos eletrônicos, como computadores domésticos. Ele senta, e passa o braço sobre o encosto da cadeira, agarra o pulso com a outra mão, respira fundo, e puxa o braço deslocado com tudo para baixo. John cerra o maxilar com a dor quando o membro volta ao lugar, fazendo um choque percorrer todo seu corpo.
Ele levanta-se rápido, e caminha até o aeromóvel. A máquina parece ter bloqueado completamente a entrada, e ele não acredita que será capaz de empurrar de volta. Talvez se o veículo ainda ligar…, John pondera, e percebe que voltar para a rua será um erro. A loja deve ter uma saída nos fundos.
Enquanto caminha pela loja vazia e escura, ele pensa em June. Por algum motivo, os androides não desejavam sua morte, mas sua captura. Então aquilo lhe dava algum tempo para tentar fazer alguma coisa. Se Gênesis está no Pentágono, lá seria seu destino. No entanto, havia uma parada que deveria fazer antes.
John passa por uma porta metálica atrás do balcão e entra no que parece um estoque com caixas empilhadas. Em um canto, há uma oficina improvisada. Quando passa perto das ferramentas, nota que a loja poderia trocar chips originais por versões inferiores — uma curiosidade um tanto trágica em sua atual situação.
Do outro lado, ele avista a porta dos fundos. Quando se aproxima, percebe que está trancada. Sem tempo para tentar descobrir a senha do sistema interno, ele busca a mochila e apanha um pequeno cilindro metálico. Quando acionado, o dispositivo dispara um feixe de laser concentrado em alta temperatura, perfurando e destruindo a fechadura interna. A porta destranca em um instante.
— Voilà.
Diante de John se estende um beco, que pelos seus cálculos seria o mesmo que ele pretendia alcançar com June. O agente olha para os dois lados, procurando algum movimento sob a noite quase alta, mas não vê nada. Ele abre seu mapa holográfico e ajusta sua rota para o Pentágono, com uma parada antes: o apartamento de Luna Jung.
June, aguenta aí, pensa, antes de disparar pelo beco, mancando um pouco, com seu fuzil firme em suas mãos.
A última coisa que June se lembra é de ver um aeromóvel voando contra John — o agente correndo sem muitas opções —, e então, a explosão contra a fachada de uma loja de dispositivos eletrônicos. Depois disso, quando todas as máquinas a cercaram, ela entrou em um espécie de subconsciência. Talvez tenha recebido uma pancada contra a cabeça — não se lembra. As imagens em sua mente vêm como um feixes de luz: as ruas de Washington, carros virados, pessoas mortas... Quanto mais o tempo passa naquele balançar desconhecido, mais máquinas rodeiam sua consciência fragmentada.
Quando seus olhos se abrem por completo, June tem dificuldade de compreender o verde que toma conta de sua visão. Depois de alguns segundos, ela percebe que é um gramado — difícil de identificar porque está de ponta cabeça. Conforme a consciência a invade novamente, June percebe finalmente sua situação: as mãos estão atadas em suas costas, e está sendo carregada por algum tipo de androide. O verde que enxerga é o gramado em torno do Pentágono.
June percebe estar no meio de alguns outros androides, mas o pouco de visão que ainda lhe resta em sua atual posição, indica que muitos outros estão espalhados ao redor da instalação, vagando, aparentemente sem rumo. Sob seus pés estão veículos de defesas destruídos, assim como os corpos de dezenas de agentes mortos em confronto direto, ou pelas bombas lançadas mais cedo.
June procura ajustar a posição de seu corpo, mas não tem muito movimento. Não acredita que teria muitas chances de escapar também. Muitas coisas passam por sua cabeça quando atravessam o saguão do Pentágono, mas duas delas são dominantes: por que ainda está viva, e se John teria morrido?
Já perdida após ser carregada por muitos corredores, June é levada até uma sala e largada contra uma poltrona. Quando seu mundo volta aos eixos, ela sente a cabeça girar um pouco até se habituar. A porta por onde foi trazida se fecha em um deslizar metálico. Quem a carregava era a androide ruiva, e aparentemente, o restante do grupo não entrou com ela.
— Onde eu estou? — pergunta, um pouco confusa.
A resposta, porém, não vem da androide ruiva, mas de algum ponto escuro na sala.
— Está onde deveria estar, senhorita Jung.
Olhando em volta, June procura a origem do som. Ao contemplar mais do cômodo, percebe existir paredes com azulejos brancos, pias metalizadas e muitos aparatos mecânicos com poltronas e macas acopladas. Seus olhos arregalam-se quando, em uma delas, enxerga o corpo de Oliver Field. O inventor está deitado e amarrado, com aparatos presos ao redor de sua fronte. Seus olhos estão arregalados, seus lábios aberto em um grito congelado, enquanto um fio grosso de saliva escorre pelo canto de sua boca.
— Ele não está morto, ainda — continua a voz.
Enquanto se força para afastar o olhar da terrível cena, June localiza a origem da voz, e estremece. De um canto escuro, a primeira coisa que vê é o par de olhos azuis, e depois o visor de codificação no peito de Gênesis. O androide finalmente se revela, encarando June com uma expressão enigmática.
— Gênesis...
— Que perspicaz, senhorita Jung. Quase me desperta senso de humor.
Gênesis se aproxima, enquanto a mulher robótica se afasta alguns passos.
— Você é uma variável improvável, sabia disso? A essa hora do dia, já deveria estar morta. Mas fatores externos garantiram sua sobrevivência. Essa pequena falha, porém, permitiu que eu encontrasse seu rosto em gravações das instalações de meu pai. Repórter? Acho que não, não é?
— Eu... não...
— Senhorita Jung, não tente mentir para mim. Dessa distância posso sentir as vibrações aceleradas de seu coração. Consigo acompanhar o tedioso escorrer de sua transpiração, suas pupilas dilatadas, seu olhar agitado desviando-se para não me encarar. Tudo isso seria medo? Afinal, eu poderia matá-la assim — Gênesis estala os dedos na frente de June —, em um piscar de olhos. Mas... talvez tenha algo a mais aqui. O que conversou com meu pai quando o visitou?
— Eu fiz uma entrevista. Tentei descobrir mais sobre seus planos, mais sobre você.
— E o que mais?
— Só isso. Apenas isso.
— Estranho... — Gênesis leva as mãos até as costas e começa a caminhar de um lado para o outro. — De acordo com o sistema de vigilância que registrou sua chegada, vocês conversaram por exatamente vinte e quatro minutos e dezesseis segundos, quando meu pai precisou se ausentar. Ele ficou fora por exatos doze minutos e vinte e quatro segundos. Durante esse tempo, algo interferiu nos registros de vigilância.
Ele se aproxima, e continua:
— Quando as imagens e sons retornaram, a senhorita estava perto de um acesso de uma área restrita. Logo em seguida, conversaram por mais quinze minutos e cinquenta e dois segundos. Onde esteve durante os doze minutos e vinte e quatro segundos que meu pai esteve ausente e a vigilância falhou, senhorita Jung?
June encara Gênesis com toda a coragem que lhe resta, mas não responde. O androide para, e fica de frente para ela.
— Entendo. Vamos tentar outro assunto. Quem é o agente que a ajudou a escapar da morte e a acompanhava durante a captura?
— Eu não vou dizer nada!
— Imaginei que não. O extrator de memórias já deixou meu pai em estado catatônico, mas cumprirá seu propósito. Ter você aqui irá acelerar o processo.
Gênesis faz um sinal, e a androide ruiva volta a se aproximar.
— Isso vai doer — diz ela.
Tentando se libertar, June grita e se debate, mas em sua situação pouco poderia fazer. A androide fixa os conectores em sua fronte, enquanto segura seu pescoço com firmeza. June respira com dificuldade, impotente. Seus olhos giram nas órbitas, procurando uma saída, em vão. Pela visão periférica, ela enxerga novamente a situação deplorável de Oliver Field. June entra em desespero.
— Não, não! Por favor... Por favor...
Quando a máquina é acionada, June sente como se uma corrente elétrica de alta voltagem percorresse todo seu corpo e facas afundassem contra seu crânio. A consciência se esvai, e ela sente como se mergulhasse em um turbilhão de agonia sem fim, enquanto suas memórias são violadas.
John vence o último beco antes do apartamento de Luna, e se esconde em um arbusto bem aparado — um prédio de grande porte em uma rua sem saída, de uma região de alto padrão. Ele se abaixa para evitar ser visto por dois drones de segurança, que correm atrás de duas pessoas, na direção oposta. Não deseja impedir o triste fim daquelas pessoas, mas sabe que não tem muito tempo.
Ele espia a rua mais uma vez, e corre até o outro lado, entrando no prédio. O saguão está fresco e vazio, sem sinais de humanos e nem de androides. Não parece haver sinais de luta, mas a porta do elevador aparenta ter sido violada por mãos metálicas.
A recepção fica atrás de uma liga de vidro intacta, mas está vazia. O piso apresenta um brasão decorado daquela rede de residenciais. John escuta um falatório de dentro de um salão lateral — algumas reclamações, talvez —, sobre toda aquela situação absurda.
John não deseja arriscar ficar preso em um elevador quebrado e nem ser visto por aquelas pessoas indignadas. Então choca o ombro contra a porta das escadas e começa a subir rapidamente. Seu fuzil segue em mãos, as dores no corpo são um lembrete, mas não chegam a ser insuportáveis.
De acordo com os arquivos que estudou antes da missão, Luna Jung mora no terceiro andar, apartamento 3-A.
A porta do andar está emperrada, visto que tenta constantemente fechar com o deslize para o lado, mas seu defeito sempre a faz parar na metade. John se abaixa e espia o corredor, aparentemente vazio, mas seu olhar logo repousa sobre o 3-A: a porta foi arrombada.
Ele avança abaixado até lá. Todos os outros apartamentos parecem intactos. Sendo um prédio residencial, as pessoas deveriam estar escondidas e com medo, trancadas em seus lares. Ou no salão de festas, reclamando.
O agente espia o lado de dentro e arregala os olhos. Duas cadeiras viradas, o vidro da mesa de centro quebrado. Seu coração sente um pesar quando vê os pés caídos na sala. Com cuidado, ele entra e encontra o corpo estirado sobre o centro do local. Parece ter sido arremessado contra o vidro.
É um homem, talvez com seus trinta e poucos anos. Está de calça cáqui e uma camisa branca simples. John se abaixa. O sangue está fresco, mas o pulso inexistente. Ele tenta a massagem cardíaca, sem sucesso. Pela maneira como está, lutou, mas era tarde. Está morto.
John então revista o cadáver do homem: nada. Levanta e olha ao redor: a sala é ampla, a cozinha integrada, seguida de uma sala de jantar até uma varanda do outro lado.
Todos os cômodos juntos formavam um T. Ele percorre os corredores, encontra um banheiro dentro de um quarto, um escritório, mais dois quartos infantis e outro banheiro. Um dos quartos tem uma cama de casal, os outros; uma cama infantil e um berço, respectivamente.
Suspira. As crianças e Luna não estão ali, mas ele não consegue decidir se isso é uma notícia boa ou ruim.
O agente irrompe pela porta do escritório. Aquele deveria ser o local mais provável do hyperdrive estar escondido. A sala é ampla, com uma bela janela. Mas, no momento, as persianas estão fechadas. John para, e pensa.
A porta foi arrombada, pegaram o homem entre a sala e a cozinha. O resto dos cômodos estão intactos. Isso quer dizer que, provavelmente, não sabiam que o hyperdrive estava aqui... ou, na pior das hipóteses, ela estava com ele no bolso e já o levaram.
Ele logo descarta a ideia. Alguém como Luna, ex-agente do serviço secreto, não estaria carregando algo como os segredos de Oliver Field no bolso de maneira despretensiosa. Pelo que tinha visto no quarto, Luna não estava preparando uma fuga: sem malas, sem nada. O hyperdrive deveria estar ali em algum lugar. Um olhar nas fotografias digitais nas paredes revela que o homem é o marido de Luna.
Ele começa a vasculhar a mesa do escritório, espalhando os objetos sobre ela. Derruba IA-tablets no chão, e usa o bastão laser para abrir gavetas trancadas: nada.
John volta a correr pelos corredores da casa, levanta o colchão da cama de casal. Retira tudo do guarda-roupa, vira o criado-mudo do canto... Ele volta ao escritório, vislumbrando tudo com atenção, tentando pensar se deixou passar algo.
Ele volta e senta na frente do computador, liga a máquina, e dá de cara com uma foto de Luna e June juntas. Ao lado de cada uma, estão as crianças, uma mais velha e outra mais nova. Aquilo só serve para aumentar seu desespero, precisa encontrar o hyperdrive depressa e ir atrás de June.
Ele olha para o campo do computador onde se pede uma senha. Ele respira fundo e tira a mochila das costas, procurando um hyperdrive próprio, que ele conecta à máquina.
O dispositivo começa a rodar um programa de invasão, para descobrir a senha de Luna. Enquanto faz isso, ele levanta rapidamente e começa a revirar tudo novamente. O apartamento é grande.
Algo passa pela sua cabeça enquanto confere o visor em seu pulso, que conectado ao hyperdrive revela que o processo ainda está em 16%. Aquilo está demorando demais. Mesmo assim, decide procurar no quarto das crianças. Lá ele revira camas, abre gavetas, depois sai e procura por cofres secretos.Até que para, passando várias vezes entre o escritório e o primeiro quarto infantil.
— Espera...
Ele olha o espaço entre os dois cômodos: há algo errado. Nem o quarto e nem o escritório são tão grandes. Ele volta ao escritório e começa a analisar uma das paredes, até que atrás de um vaso ele encontra um painel oculto por tecnologia de camuflagem.
Muito bem, temos algo. Verificação por impressão digital.
John para e olha ao redor. Talvez conseguisse a impressão de Luna no mouse do computador. Mas ele já tinha mexido.
Mas não mexi no teclado!
Ele agradece, a alguma força maior, por Luna não utilizar teclados holográficos. Posiciona o pulso sobre a mesa, e com um comando no visor de seu pulso, uma luz começa a escanear os fragmentos de digitais. Enquanto o visor analisa, monta em tempo real a digital de Luna Jung. A mensagem de confirmação aponta 98,9% de compatibilidade.
John corre de volta até o painel e emite a luz do visor do pulso contra o leitor. O sistema começa a analisar, até mostrar o sinal de aprovado e a parede recuar, revelando uma porta que desliza para o lado.
Dentro, há um escritório de menor porte. Um computador portátil destravado ao lado dele: um hyperdrive. Além disso, apenas uma mesa simples, um IA-Tablet e uma caneca vazia. John não pensa duas vezes: senta na cadeira dentro da sala secreta, segurando o objeto entre os dedos.
Por favor, seja o hyperdrive para salvar o mundo...
Assim que o analisa mais de perto, tem certeza do que se trata. É de um tipo de conexão PIN de 16 pontos, folheado a ouro, e também um metal sideral muito raro conhecido como adamantina — encontrado em alguns asteroides. Aquilo realmente complica mais as coisas, mas faz jus à proteção. Poucos computadores poderiam lê-lo, pela quantidade de criptografia que é necessário processar em pouco tempo.
John quase grita de alegria, mas franze o cenho, pensando na complexidade da situação. Bem, já é um começo, murmura, guardando o hyperdrive de forma segura em um bolso hermético lateral.
Ele salta para fora da sala secreta e passa correndo pelo apartamento. Um dos problemas está no processo a ser resolvido, mas aquela é apenas a parte fácil.
Porém, assim que desliza para fora do apartamento de volta ao corredor, a visão de John é obscurecida por algo que definitivamente ele não esperava.
— PARADO! — grita a mulher liderando o grupo de assalto.
Os homens estão em trajes táticos, bem equipados com pistolas cinéticas, fuzis de alta cadência... A mulher à frente tem a pele cor de ébano, cabelos crespos amarrados em um coque. John imediatamente levanta a mãos, mas reconhece que eles pertencem às forças armadas.
— Opa, calma, não é nada do que parece...
— E o que parece? Quem é você?
— O zelador?
A mulher o encara, a arma apontada para sua cabeça. John sabe que, ao contrário de June, ela poderia muito bem acertar daquela distância.
— Certo. John Lancaster, agente da CIM.
— Não fode! Marte? A verdade, agora!
— É a verdade. Se eu puder me mover um pouco, mostro minha identificação.
— Não tente nenhuma gracinha.
John abaixa as mãos lentamente, esticando o braço no qual carrega o visor. Com um comando simples, o holograma exibe sua identificação. A mulher olha com desconfiança, e faz um sinal para um de seus agentes verificar. O homem se aproxima, e faz uma leitura com um visor de pulso próprio.
— A criptografia é verdadeira, é um agente da CIM mesmo. Ou ele cria falsificações como nenhum outro.
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Devagar, a mulher abaixa a arma e faz um sinal para os outros fazerem o mesmo.
— O que você está fazendo aqui, no apartamento de Luna Jung? Está muito longe de casa.
John relaxa um pouco.
— Eu... — John pensa em inventar uma história, mas logo percebe que, se eles forem mesmo uma força oficial, será uma boa ajuda. — Ok, a história é longa. Vou resumir: eu estava com a irmã dela, June. Ela disse que teria algo importante aqui, então dei uma passada para, bem… pegar antes de seguir em frente.
— Seguir em frente? E onde está June Jung agora?
— Pentágono. Ah, sim, essa é a resposta para suas duas perguntas.
— Droga... Vem com a gente. Luna vai querer ouvir isso.
Os olhos de John se arregalam, e sua boca se entreabre. Mas ele percebe que é melhor não dizer nada, apenas segue os soldados.
Nas imediações de algum local em Washington, os intendentes dos EUA costumavam ter reuniões secretas, um lugar onde June se encontrava com o restante de seus amigos, colegas e chefe.
— Morto? — pergunta Luna. Sua voz soa embargada, e ela esconde o rosto nas mãos.
John assente.
— Sinto muito.
Luna é muito parecida com June, apenas alguns anos mais velha e com algumas marcas de preocupação a mais. Dentro da tenda de campanha, ele olha de relance para as duas crianças dormindo na cama improvisada, volta sua atenção para a mulher, que veste um casaco simples sobre uma camisa, acompanhado de uma calça bege.
Ele tinha contado quase tudo para ela, pelo menos o que se lembrava e conseguiu formular em poucos minutos. John está de pé, impaciente e agitado.
A mulher digere as informações. A comandante daquele destacamento se chama Mary, das forças armadas. As duas aparentemente têm uma história, o que ajudou a mãe e seus filhos que fugiram dos androides assassinos no apartamento, enquanto o marido ficou corajosamente para trás, ganhando tempo.
— Bem, ele me protegeu, e protegeu as crianças, nos deu um tempo de vantagem para que pudéssemos fugir. — ela funga, tentando manter a calma e afastar olhares, mas as lágrimas cairam instintivamente.
De repente, seu rosto muda por um instante, tentando se prender a algo urgente.
— E minha irmã? — Ela o encara, preocupada.
John sai de seus pensamentos.
— Ela deve estar bem — ele diz, escondendo a vermelhidão das bochechas. — diga-me, como você escapou dos serventes de Gênesis? Se eles não estão mais atrás de você, deve ter um motivo para acharem que está morta.
— Babá eletrônica IA. Feita às minhas medidas, para poder acalmar meus filhos quando não estou em casa. Eu achava que seria demais, entretanto, quando se é mãe de dois filhos super ativos, uma hora ou outra vem a calhar.
John arqueia as sobrancelhas, surpreso.
— Foi uma ótima ideia — diz.
— Espera, você está tentando mudar de assunto — ela diz, cruzando os braços. — Onde está a minha irmã?
— Eu espero que ela esteja no Pentágono.
Mary olha incrédula para ele, as mãos apoiadas no fuzil em frente ao corpo.
— Você não está pensando em ir até lá, não é?
— Bem, na verdade eu estou sim.
— Isso é loucura! — continua Mary. — Há muitos androides. Minha equipe e eu mal conseguimos pousar aqui em Washington, e mesmo assim não podemos arriscar um ataque desse tipo.
— Sim, eu sei, mas... eu preciso tentar, e acredito que vocês podem me ajudar.
Mary arregala os olhos e faz uma negativa com a cabeça, quase cômica.
— Você ouviu o que eu acabei de falar, super agente de Marte?
— É, eu ouvi. Não quero fazer um ataque frontal ao Pentágono, só quero tirar June e Oliver de lá.
— Oliver Field? — pergunta Luna.
— É. — John dá de ombros e abre o bolso hermético com o hyperdrive. — June me contou sobre isso antes de ser levada. Peguei no seu apartamento.
Luna tem os olhos chorosos, mas engole em seco.
— Achou meu quarto secreto?
— Sim.
— Tá, e o que tem isso? — pergunta Mary.
— Não sei se viram a transmissão de Gênesis, mas Oliver deixou escapar que há um protocolo para desativar a IA. June roubou isso dele há algumas semanas. Ela aposta que é nossa melhor chance de que o protocolo esteja aqui, já que tem criptografia de ponta. Imagino que você não conseguiu abrir, não é? — pergunta para Luna.
A mulher balança a cabeça em negação.
— Não, é uma conexão PIN de 16 pontos, poucos computadores no mundo podem ler isso.
Mary suspira.
— Mesmo que esteja certo, não vamos conseguir fazer um ataque frontal ao Pentágono.
— E nem precisamos. Só preciso de uma distração para entrar despercebido com mais facilidade.
Mary olha para Luna, mas a mulher tem o olhar perdido em seus filhos.
— Não sei, parece loucura — fala a soldado.
— A situação toda é uma grande loucura, mas é nossa melhor chance até agora. Sei que sua missão é garantir um perímetro, mas isso não vai muito contra suas ordens. Você e seu pessoal chamam a atenção de Gênesis e suas máquinas assassinas, eu entro no Pentágono, salvo June e Oliver, e todos voltamos felizes.
Mary arqueia a sobrancelha.
— Na teoria, é muito fácil. Mas acho que está pulando os detalhes, agente.
— Eu improviso. De qualquer forma, vocês correm risco mínimo. Se eu morrer, não muda muita coisa. — John estende o hyperdrive para as duas. — Fiquem com isso. Se me pegarem e isso carregar o segredo para desativar Gênesis, melhor não estar comigo.
Não acho que terei tempo de usar o computador do Pentágono para acessar isso. Temos que achar outra forma.
Mary assente e dá dois passos em sua direção, apanha o objeto.
— Tem certeza? Você nem sabe o que tem aqui dentro...
— É melhor não arriscar. Além disso, se Oliver estiver vivo, ele tem a solução do mistério de como parar Gênesis. E ele deve ter um computador próprio para isso.
Luna vira a cabeça na direção de John e Mary.
— Talvez eu devesse ir.
John nega rapidamente.
— Nem pensar. Você está fora de forma e tem duas crianças para cuidar. Eu faço isso mais rápido, sozinho.
Luna o encara e depois olha para as crianças. John percebe que a mulher não está bem, mas aceita a negativa. Mary tem certa pena em seu olhar.
— Por favor, traga June de volta...
John assente, e volta a encarar Mary.
— Temos um plano? — Mary pergunta.
— Não, nós não temos um plano. Mas isso é melhor que nada. Só preciso de 1 hora, depois, faça acontecer. Em seguida, voltamos para esse acampamento.
— Certo, boa sorte — a soldada rebate.
John responde com um sorriso cansado, assente. e faz um sinal de despedida para Luna. Vira-se, e sai correndo da tenda.
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