Zythrion Capítulo 7
Respostas
A capital dos EUA está um caos. Por algumas quadras, o veículo militar pilotado por John encontra diversas dificuldades.
Nas ruas, pessoas saqueiam lojas, brigam entre si, e contra os androides. Alguns daqueles seres artificiais são seguidores de Gênesis, e revidam, acabando as vidas que cruzam o seu caminho. Outras não foram corrompidas, e são destruídas depois de pedirem clemência a humanos que “não enxergam em tons de cinza”.
Nas ruas mais movimentadas, pessoas se jogam contra os aeromóveis militares.
Algumas clamam por ajuda, outras batem com armas improvisadas, tentando tomar o veículo. Em trechos assim, John precisa alcançar média altitude, para ficar distante do pior, mas não completamente livre do perigo, uma vez que pedras e objetos são arremessados. Em alguns casos, ele precisa enfrentar até mesmo tiros, seja de androides de Gênesis ou de oficiais da lei desgarrados.
Assim, John segue entre os prédios, tentando não chamar a atenção. Desde que Gênesis explodiu o Pentágono, não tiveram mais notícias dela. Era bom, mas ao mesmo tempo preocupante.
O veículo volta para a baixa altitude, perto dos limites da cidade, onde as coisas parecem mais calmas. Seguindo pela rodovia, eles deixam a cidade para trás.
A área verde, ou pelo menos o que resta dela — depois de anos de poluição negligente —, começa a tomar conta da paisagem. Trechos de estrada encontram-se tão congestionados que John só consegue passar por eles ao atingir novamente a média altitude. No entanto, ao acessar estradas secundárias na altura da mansão Field, o movimento começa a se tornar cada vez mais escasso, tanto de humanos quanto de androides, e até mesmo de qualquer outro veículo.
— Sente saudades de Marte? — June pergunta com os olhos fixos na janela, a paisagem passando rapidamente.
John a olha de soslaio.
— É, eu sinto Afinal, não tem uma IA assassina por lá.
Ela se vira para ele.
— Não, falo sério — diz ela ao segurar o riso.
John suspira com as mãos no volante, mas sem tirar os olhos da estrada.
— Não sei. Lá é diferente. Tudo foi construído para se adaptar à vida, que ainda tem um pouco de como as coisas eram há muitos séculos.
— Que estranho... E você nasceu lá?
John sorri.
— Não, na verdade eu sou terráqueo, assim como você. Meus pais mudaram-se para lá que eu completasse 1 ano. E você, já pensou em ir para lá?
June volta a olhar a paisagem pela janela.
— Não, nunca. Meu lugar é aqui, perto da única família que me resta.
Pensando sobre aquilo, John permanece em silêncio. Depois de um tempo, no entanto, ela volta a olhar para ele.
— Essa conversa é como as que tínhamos no app, não é? Boa e naturais. Agora tudo aquilo parece que aconteceu vidas atrás.
— É... — É tudo o que consegue dizer quando a estrada se contorce, e a mansão Field aparece no topo de uma colina.
John faz o desvio para uma estrada paralela, na direção da mansão.
O caminho de pedra assentado é coberto por algumas árvores. Ele estaciona o carro na frente do portão de metal fechado. O local parece vazio quando o agente olha para June.
— Preparada?
Ela assente, e saca a pistola cinética. Empunhando seu rifle, John desce do carro logo em seguida. Ambos se encontram na frente do veículo, e então avançam. Conforme se aproximam, eles percebem que o portão está entreaberto. O painel de identificação lateral está desligado.
Com cuidado, eles entram em um pátio interno, e tudo o que June consegue perceber é a semelhança do local com as memórias que tentaram extrair de sua mente. John percebe um veículo de luxo estacionado em uma garagem lateral, mas nenhum sinal de funcionários.
A porta da frente está aberta, o vento soprando folhas secas para dentro. Assim que adentram o saguão principal, tudo está em ordem. Algumas luzes estão acesas, o que confirma que ainda há energia — talvez de uma fonte privada.
— É por ali. — June aponta a escadaria lateral, que leva até o mezanino, e então ao primeiro andar.
O casal sobe com cuidado os degraus, e seguem sorrateiramente até o gabinete de Oliver Field, onde June fez a suposta entrevista. Mais uma vez, apesar de vazio, tudo parece em ordem. A estante está completamente preenchida por livros ancestrais. Alguns expositores ao redor, exibem os crânios de androides diversos, alguns com apenas metade da cabeça, os circuitos e processadores expostos.
June caminha até uma porta lateral, perfeitamente ajustada entre a estante de livros embutidos.
— Droga, está trancada!
— Como entrou da última vez?
— Estava aberta. Oliver estava me esperando aqui. Imagino que tinha deixado a sala há pouco, e por isso estava destrancada. — June olha para a mesa do outro lado.
John franze o cenho e faz um sinal para ela se afastar. Ele então rompe a fechadura com o bastão laser. Assim que a porta se destranca, ele olha para cima.
— Sem alarme, mas tem energia. Talvez só o sistema de segurança esteja desligado.
June dá de ombros, e o segue para dentro da sala. O cômodo é muito frio, com algumas caixas de servidores resfriadas em um canto, e uma mesa com um computador no outro. A luz é fraca, azulada.
— Era aqui?
June assente, e olha para o computador sobre a mesa do outro lado. John se aproxima com cuidado.
— É uma máquina decente, mas não um supercomputador.
June concorda com a cabeça, sentindo o coração acelerar. Se estivesse errada, poderia ter estragado tudo. Ela se aproxima, procurando por algo. Qualquer coisa, qualquer sinal.
Mesmo sem saber o que poderia encontrar, John caminha até os servidores. Deixando o rifle pendurado em um dos ombros, ele começa a arrastar os armários. Assustada, June olha para ele, e o agente dá de ombros. Além dos conectores de eletricidade, não há nada atrás dos armários de processamento.
— Ei, o que é aquilo? — June pergunta, apontando para o canto oposto da sala. O ponto no qual John empurrou um dos armários.
Sem entender, John olha para o ponto que ela está indicando. Seus olhos arregalam-se quando vê parte do armário de processamento atravessando a parede. Ele se aproxima com cuidado do fundo da sala, e estica sua mão, que atravessa a brecha entre a parede e o armário. Ele olha para June, e então some através da parede.
June engole em seco, e corre, atravessando o holograma.
Em um cubículo, o casal encara uma porta dupla de metal, pesada e selada.
— Sem dúvidas, é resistente. Deve suportar uma explosão nuclear! — exclama John, deslizando os dedos pela superfície da porta.
June lança um olhar para o lado, em diração a um terminal de acesso. A tela está apagada, e existe apenas uma entrada de conexão dourada.
— É uma entrada PIN de 16 pinos! — Ela deixa escapar.
Curioso, John vira em sua direção.
— É, mas…. isso não é um supercomputador.
— Não. — June se abaixa, desliza os dedos pela conexão que sai do terminal, e depois desce. — Mas é uma parte dele.
A moça volta a ficar de pé, apanha o hyperdrive, e olha para John. Ela encaixa o dispositivo na entrada, e logo em seguida o gira. A tela acende, com os dizeres: CHAMANDO ELEVADOR. A porta dupla solta um chiado, e começa a deslizar para os lados. John aponta o seu rifle. Há três camadas de metal até o outro cubículo abrir: um elevador.
O casal se entreolha, June retira o hyperdrive da fechadura, e ambos entram no elevador. Dentro, há um painel holográfico, com apenas duas opções: subir ou descer.
— Para baixo, então? — pergunta John, e June concorda.
Assim que o botão para descer é acionado, apenas a porta do elevador se fecha. Com a dupla em seu interior, o veículo começa a deslizar para baixo.
John e June não saberiam dizer por quantos metros o elevador desceu antes de abrir suas portas novamente. Mas poderiam concluir que estão bem abaixo do nível da mansão. As luzes brancas acendem em sequência, iluminando um enorme galpão. Assim que descem sobre a plataforma de metal à frente, percebem que se trata de muito mais que isso: salas laterais lembram depósitos, pequenos laboratórios especializados, e salas de observação. O fundo do local guarda maquinários pesados, em prateleiras gigantescas, além de conterem um hangar nos fundos.
O que mais chama a atenção é o centro do laboratório secreto, que lembra vários cabides de metal em cilindros horizontais, cada um deles carregando uma Gênesis. Vendo isso, June engole em seco. Sua mente deseja que todas elas estejam como parecem: desativadas.
— O que é aquilo? — Do alto, John aponta na direção de algo que está próximo dos corpos pendurados.
June olha na direção do local, mas tudo o que ver é uma enorme esfera de metal com hastes.
— Não sei, mas... suspeito que teremos que descer.
John aponta para uma escada lateral, e ambos começam a descer. O local está frio e silencioso, exceto pelo som dos seus passos. Assim que chegam ao fundo, ambos passam por um corredor formado por caixotes de metal, com marcas estranhas e remetentes de todo o planeta, e além.
— Tem materiais de Marte aqui!
Com o comentário de John, June olha para o lado sem dizer nada, e sem admitir que está um pouco assustada. Eles finalmente chegam a um ponto logo abaixo do elevador. Do outro lado, existem salas fechadas. Algumas delas contam com uma proteção em vidro — talvez um tipo de cômodo para observação e testes.
Diante deles — divididos em estreitos corredores, cujas paredes são corpos da Gênesis desativados —, está o centro do local, onde a enorme esfera com hastes repousa. John faz um sinal silencioso para June, e ambos avançam, com ele na dianteira. Por entre os corpos das IA, eles caminham de maneira calculada.
Seus membros e cabeças estão caídos, e seus olhos estão apagados. Todas elas são idênticas, principalmente para os dois, que possuem a imagem vívida dos acontecimentos no Pentágono.
Assim que saem do outro lado, John lança um olhar inquisidor para a esfera. Mas antes que possa perguntar sobre aquilo, percebe June vidrada em algo. Logo abaixo do estranho objeto, está um conjunto de painéis sofisticados, teclados e caixas de processamento com muitas telas: exatamente o que procuram.
June dá alguns passos para frente, na direção do supercomputador, apanhando novamente o hyperdrive para conectá-lo a uma das entradas.
— Vou considerar que nenhum daqueles corpos irá se mover — ela diz enquanto inicia a máquina.
John olha para trás enquanto o computador acende em um único segundo.
— Sem senha— June comenta. — Estranho… Bem, eu não estava errada, pelo menos.
Os dedos da analista deslizam pelo teclado, enquanto procura o compartimento do hyperdrive, e o abre. Há centenas de milhares de partições dentro dele, mas um único arquivo.
— O que é isso? — John pergunta ao seu lado.
— É um vídeo... — ela diz, abrindo a mídia.
Uma das telas se expande em um vídeo. Uma música suave toca em uma sala simples, com hologramas ao fundo, transmitindo uma espécie de mistura caótica de cores.
Pendurados em uma parede lateral, está uma série de quadros pintados à mão, em molduras ancestrais —certamente um toque vintage, na visão de June. Entre eles, está o símbolo que há várias gerações representa a Éden: duas mãos, uma robótica e uma humana, entrelaçadas.
De repente, Oliver surge na imagem, causando uma expressão de confusão no casal. Ele parece menos sofrido do que um dia atrás, quando o encontraram no Pentágono.
Bom, não sei bem como começar esse vídeo. Falar sobre a minha família e meu legado sempre foi difícil para mim. Sempre me senti muito pressionado a continuar com o que meu bisavô, Zayan, construiu. Penso se meu pai e avô sentiram o mesmo...
— O que é isso? — John pergunta de novo para June, obviamente se referindo ao que estão assistindo.
— É uma espécie de vídeo de terapia... — June analisa em um segundo, parecendo um pouco decepcionada. Na gravação, Oliver continua falando de seus medos, de sua família e de seu legado. Oliver parece seguir uma linha de raciocínio lógica, em cronologia. Fala a respeito de Zayan, seu bisavô, responsável pela criação da Éden, e da primeira IA que fez suas ações subirem: a Yola. Logo em seguida, ele fala sobre sua avó, a filha de Zayan, Thereze, e como suas invenções deram um passo adiante na criação de Hechaton.
June sabe como a história avança: na sequência, ele falaria sobre Richard, seu pai, e sua criação Íon, a predecessora de Gênesis. Cada uma delas mais avançada que a anterior. A única diferença é que a invenção de Oliver se rebelou, ganhando autonomia e um forte desejo de dominação.
Vista através das palavras de Oliver naquele vídeo, a história se torna muito mais sentimental do que lógica e direta ao ponto. Há floreios de como ele se sentia, como enxergava seus parentes e criações. Por um momento, June acredita ter sentido um pouco de arrogância em certos comentários. Gênesis é superior a Zion, Tron e Íon juntas. Então, vem o lamento de que futuramente Gênesis poderia ser superada. Mas ele mesmo não tinha herdeiros, não era casado. Qual seria o legado que deixaria? Apenas Gênesis, e nada mais. Quem iria superar ela?
Oliver para a gravação, e a imagem congela. Uma nova janela abre na tela, e diz: INSIRA O PROTOCOLO. June encara aquilo com confusão.
— Hã? O que é isso?
John pensa em comentar algo, mas seu rosto vira depressa na direção dos corpos pendurados. June se vira para ele de imediato.
— O que foi?
— Não sei, acho que vi algo. Fica e dá um jeito nisso. Eu vou dar uma olhada.
Um pouco contrariada, a analista assente, voltando a encarar a tela. Protocolo? Ela escuta os passos de John se afastarem por poucos metros, enquanto tenta decifrar aquilo. Ela lembra-se das últimas palavras de Oliver. Letras! Isso! Ele falou sobre letras, tudo bem... 8 letras, centenas de milhares de possibilidades, ótimo! June Jung, você consegue.
John chega perto aos corpos de Gênesis, uma espécie de muralha até o outro lado do complexo. Eeles ainda estão inertes, mas ele poderia jurar que viu um vulto de relance. Ele ergue o rifle novamente quando vê outra sombra se mover por entre os corpos.
— June, sem querer apressar, mas tem alguma coisa aqui. Melhor andar logo.
Ela olha para trás rapidamente, e sente o coração acelerar.
— Como assim “alguma coisa”?
— Não sei!
John vê outro movimento, e mais um. Ela direciona o rifle para diferentes pontos do local. Finalmente ele sente uma aproximação, o som de passos. Os corpos de Gênesis balançam, como se algo esbarrasse neles. O coração do agente salta quando a primeira figura surge na luz. É um homem alto, de cabeleira negra. Os pulsos estão presos, e o rosto tem hematomas.
— Quem é você?! — John exclama.
Nesse momento, outra figura surge pela lateral: uma mulher de cabelos castanhos. Quem são aquelas pessoas?
A agente ergue o olhar lentamente. Tem um hematoma próximo da boca.
— Ela está aqui...
É uma distração. John arregala os olhos, e algo salta do meio dos corpos. John dispara a esmo, enquanto Gênesis despenca sobre ele, ambos se engalfinham no piso frio, terminando com a IA por cima dele, segurando seu pescoço.
— Muito inteligente ter poupado reféns, não acha, agente Lancaster?
Sufocado, John larga o rifle e saca a pistola, disparando dois tiros cinéticos na cabeça de Gênesis, que cai para o lado e some novamente entre os corpos segundos. O agente se levanta com dificuldade.
As mãos de June tremem, tentando pensar em uma combinação de letras para ativar o protocolo, mas nada passa pela sua cabeça. Viu e ouviu apenas de relance o que aconteceu com John, mas sabe muito bem que Gênesis está ali.
— Devo admitir — a voz de Gênesis ecoa de todos os lugares e nenhum, ao mesmo tempo —, vocês realmente conseguiram me surpreender. Sabem quais as chances de alguém ter optado pela mansão em vez da Éden? Quase nulas! Mas ainda assim, aqui estão vocês, com o hyperdrive.
John engole em seco, lança um olhar preocupado para as pessoas acuadas, mas continua vigilante com seu rifle em mãos.
— Infelizmente, a capitã Mary Ann e seus homens morreram sem um propósito.
John trava por alguns segundos, vacilando em sua busca.
— Oh, Lancaster, era a armadilha perfeita... Todos mortos, e o hyperdrive em minhas mãos. A senhorita Jung realmente acredita que resistiu ao extrator? Eu sabia sobre hyperdrive para acessar esse lugar: meu berço. Meu pai era muitas coisas, mas nunca foi leviano. Qualquer tentativa de forçar a entrada levaria a mansão pelos ares, e boa parte dos arredores. E aqui é o único local em que posso estar completa.
John encara com pavor todas aquelas Gênesis.
— Então esse é o plano?
Os corpos se agitam, e Gênesis salta de lá novamente, correndo na direção de June. John dispara novamente, desta vez mais certeiro, forçando a IA a mudar seu curso. Ele corre em sua direção, disparando mais. Entretanto, ela é rápida e desvia, como se pudesse enxergar a trajetória dos projéteis. Gênesis e John colidem, mas a androide o empurra com a força de dez touros em carga. Se protegendo com o rifle na horizontal, John é levado até o outro lado, até bater contra a parede e arfar com o impacto.
— June, vai logo! — John tenta empurrar, mas Gênesis é como uma parede sólida. Os braços do androide se alongam mais do que é possível para qualquer ser humano, enquanto agarrados às extremidades do rifle, partem a arma em dois pedaços. Rapidamente ela torce o pulso de John, apertando seu pescoço.
June engole em seco, e percebe que suas mãos estão tremendo. Ela lança olhares rápidos para a situação de John, sem saber o que fazer. Aquela sequência do protocolo simplesmente não faz sentido, e a pressão não ajuda em nada.
Finalmente se concentra nas teclas do supercomputador, e na mensagem de uma das telas. Mas quais letras formariam aquele protocolo?
As primeiras letras são a chave... mas as primeiras letras do quê?!, sua mente trabalha a todo vapor, conjecturando o que poderia se encaixar ali. Eden, Oliver Field, Gênesis, idéias óbvias, mas mesmo que funcionassem, em opções muito curtas ou longas demais para o espaço de oito letras.
Com um movimento rápido, John saca a vibrolâmina da cintura, e tenta decepar a mão de Gênesis. Mas ela é rápida, e recua o membro a tempo. Se aproveitando do movimento, ela o soca no rosto, seu lábio se parte e a nuca bate contra a parede. Sua percepção se distorce, e John fica tonto por alguns segundos. Segurando seu pescoço, o androide o ergue centímetros acima do solo, a outra mão segurando o pulso armado.
— Você é patético, agente Lancaster! PATÉTICO! A próxima a encontrar seu fim será a senhorita Jung.
Recobrando brevemente sua percepção, John saca com sua mão livre o bastão de densidade variável, fazendo um movimento rápido para o expandir. Ele golpeia a lateral da cabeça de Gênesis. A IA cambaleia para o lado, e o larga. John cai de joelhos, mas logo se levanta, empunhando o bastão em uma mão, e a vibrolâmina na outra.
— Pode vir, sua desgraçada!
June encara a tela em puro terror, enquanto ouve o grito de John. As primeiras letras são iniciais. Iniciais do quê? Onde tudo começou…, seu olhar então desloca da mensagem para inserir o protocolo em direção à imagem congelada atrás. O vídeo, por que esse vídeo antes do protocolo?
— Vamos, June, pensa!
John avança contra Gênesis, aplicando uma combinação de golpes do bastão e da vibrolâmina. A IA é ágil, quase como se previsse seus movimentos, desviando e bloqueando. Ela agarra seu antebraço e o arremessa para o outro lado, colocando-o entre ela e June. O agente se ergue rápido, e avança contra ela. Gênesis tem uma maior preocupação com a vibrolâmina, que é potencialmente mais perigosa. John consegue encaixar um golpe com bastão no rosto da IA. Ele aproveita a brecha e acerta o bastão novamente na lateral da perna inimiga, e por fim tenta perfurar seu corpo com a lâmina vibrante, mas Gênesis segura seu pulso e o golpeia no peito, empurrando-o para trás.
Cansado, John levanta-se com dificuldade. Gênesis avança contra ele, e o agente faz algo impensável: em vez de esperar e manter o combate corporal, gira a vibrolâmina nos dedos, e a arremessa na direção da IA. Por um momento, Gênesis se surpreende, quase não conseguindo evitar a arma que gira em sua direção, atingindo seu corpo de raspão. Na sombra desse movimento, John dispara, trocando o bastão de mão.
June não se atreve a olhar para trás, mesmo quando seu coração acelera. As primeiras letras: a informação dança em sua mente quando seus olhos deslizam da esquerda para a direita no vídeo da mensagem do protocolo. É uma ordem ocidental: Zion e Yvan, Tron e Helena, Íon e Richard, Oliver e Gênesis? June digita rapidamente: Z–Y–T–H–R–I–O–G. A expectativa toma conta de seu corpo, mas o coração dispara ainda mais quando o código do protocolo é negado. Droga, não pode ser!
John cai sobre Gênesis e acerta o topo de sua cabeça com o bastão de densidade variável, aproveitando-se de sua falha depois que a vibrolâmina atingiu seu rosto de raspão. O baque do golpe é grotesco, talvez o suficiente para rachar um crânio humano. Naquele momento, tudo o que o agente queria era que a cabeça de Gênesis fosse um crânio humano. Ele não para nem para pensar, batendo a arma contra o rosto de Gênesis, de novo e de novo. Sua cabeça é arremessada de um lado para o outro, porém quando desfere o terceiro golpe, os dedos da IA seguram seu braço no ar.
— JÁ CHEGA! — Gênesis torce o braço de John, que grita com a dor, deixando o bastão cair contra o piso. A IA gira seu corpo no ar, e amassa uma caixa de servidor quando a ataca ela. John grunhe de dor. — EU SOU NEOGENESIS! EU... NÃO POSSO... SER SUPERADA!
Ao mesmo tempo que a IA se vira para June, pronta para avançar até ela, a analista arregala os olhos. Não por medo, mas pela clareza que invadiu sua mente. É claro... Oliver patenteou ela como Neogenesis! Gênesis foi apenas a definição mais popular!
June se vira novamente, e começa a digitar, sem se importar que a IA salte e corra na sua direção como um predador mortal e implacável, deixando John derrotado para trás. Apesar de tudo, seus dedos não tremem mais, pois aquela certeza a invade. Rapidamente, digita: Z–Y–T–H–R–I–O–N. A mensagem na tela muda: PROTOCOLO ZYTHRION ACIONADO.
A esfera no centro do laboratório chia, e começa a se abrir, enquanto Gênesis simplesmente para, estática.
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