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O Monge de Cister

Capítulos 15

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O Monge de Cister: Tomo I IX - O CONCILIÂBULO

E ja nom posso chorar,
Cá ja chorand'ensandeçi.
CANC. DO COLÉGIO DOS NOBRES.

 

Havia poucos minutos que D. João de Ornelas se recolhera ao aposento que lhe destinara o reitor. Quem o visse passear de um para outro lado da estreita cela a passos largos, ora bracejando, ora rindo-se, ora carregando colérico o rosto, suspeitaria facilmente que o agitavam pensamentos encontrados e violentos; mas a suspeita se converteria em certeza, se pudesse ouvir o solilóquio em que o mui poderoso abade desafogava a violência das suas paixões, obrigado a escondê-las diante de Fr. Lourenço, cujas virtudes e respeitável carácter tinham constrangido o prelado a dar essas mostras de moderação.

 

O monge alcaide-mor escutara com sobrada indulgência a história do rapto de Beatriz, porque estava habituado a não considerar qualquer indivíduo dos que compõem a metade feminina do género humano senão como um pomo delicioso que a natureza pôs diante do homem para ele saborear e prosseguir no caminho da vida, sem de tal mais se lembrar. Mas, quando soube o nome do que o colhera e reflectiu em que para este se podia converter em lento veneno de infâmia e perdição, a sua alma rugiu de prazer; porque havia nessa ideia uma esperança lisonjeira de vingança satisfeita. Era meditando nisto que o reverendo abade parecia tão agitado, e fora por esse motivo que mandara chamar Fr. Vasco, com o intuito de ajuntar o seu ódio ao do mancebo e deste contacto fazer surgir um plano seguro de fulminar o comum inimigo, como do ferir do aço na pederneira se faz rebentar a chispa que, batendo nas folhas secas, vai incendiar a floresta.

 

Este ódio figadal de D. João de Ornelas contra Fernando Afonso procedia de acontecimentos que antecederam à época desta história, acontecimentos que se acham referidos pelos nossos cronistas civis e eclesiásticos. Foram eles as famosas dissensões entre o abade de Alcobaça e o arcebispo de Braga D. Lourenço. O que os historiadores, todavia, não relatam é que Fernando Afonso tivesse parte nessas dissensões, nem que entre ele e o arcebispo houvesse relações algumas. Nada sobre isso dizemos que não seja extraído do raríssimo manuscrito de que vamos tirando a substância desta narrativa. De tudo, porém, daremos uma breve ideia, quanto baste para o leitor perceber as causas ocultas que faziam tomar a D. João de Ornelas tão vivo interesse na punição de um crime de cujo género, porventura, mais de um lhe roía na consciência; pois que, segundo ele afirma em seu testamento, muitas vezes a carne o perduzia a usar de pecado, consentindo em tentaçt5es do diabo.

 

Os antigos abades de Alcobaça costumavam ser eleitos pelos seus monges ê confirmados pelo Mosteiro de Claraval em França; na eleição de D. João de Ornelas ocorrera, porém, uma circunstância extraordinária: o papa reservara para si o provimento da abadia e foi ele quem confirmou a eleição. Em consequência disto D. Lourenço, então co-leitor apostólico em Portugal, entendeu que devia exigir do novo abade a anata ou renda do primeiro ano do seu governo: mas, desgraçadamente, também D. João de Ornelas entendeu que não devia pagá-la. No mês de Fevereiro de 1385 o arcebispo foi buscar o refractário e chegou a Alcobaça com grande cópia de homens de armas. Entretanto o abade tinha-se acolhido ao castelo e fechara as portas do mosteiro. Ainda então não existia naqueles sítios, afora o castelo e o convento, senão a primeira igreja que os monges primitivos haviam edificado em tempo de D. Afonso Henriques. Aí se recolheu D. Lourenço e passou uma das mais aziagas noites da sua vida, cheio de fome e de frio, sem que pudesse obter do cercado o menor provimento ou conforto. Depois de porfiada luta, em que nenhum dos contendores chegou a recorrer às armas materiais, mas em que se não pouparam citações, apelações, excomunhões, protestos e mútuas injúrias, o arcebispo se retirou desbaratado para o Porto, onde continuou a demanda, que finalmente foi decidida em Roma a favor de D. João de Ornelas em 1390.

 

Considere o pio leitor a zanga, despeito, ódio, raiva, fúria e rancor que ficaria subsistindo entre os dois religiosos varões desde aquela memorável época. Que o abade muitas vezes acoimasse o arcebispo de injusto, violento e, até, de ladrão é mais que provável; que o arcebispo lhe retribuiu com dar-lhe o nome de desobediente, traidor, perjuro e cismático é histórico e certo. Além disso, este rancor, em vez de diminuir, devia crescer lavrando ocultamente; pois que, ligados ambos ao mesmo bando político, ambos cortesãos de D. João I, eram obrigados a mostrar, se não mútua amizade, ao menos mútuo respeito. E se fosse verdadeira a célebre carta do ruxoxó 21 escrita pelo arcebispo ao abade, deveríamos confessar que, não obstante a virtude que a história atribui a D. Lourenço, era impossível que D. João de Ornelas lhe levasse a melhoria em dissimulação.

 

O ódio recíproco dos dois ministros do Altíssimo estendeu-se, como era de esperar, aos clientes de ambos. Um dos de D. Lourenço foi o primeiro que se atreveu a guerrear abertamente o capitão do bando contrário.

 

Eis o caso:

 

Os habitantes de Turquel e de Évora, povoações que ficavam dentro dos coutos de Alcobaça, cansados de sofrer as vexações de D. João de Ornelas, tomaram a heróica resolução de recorrer a el-rei para que, como pai de seus vassalos, atalhasse a destruição que, semelhante à raposa em festa nocturna de capoeira bem povoada, neles fazia sua despótica e dissoluta reverendíssima, o mui honrado padre abade. Com este intuito, redigiram uns capítulos, cuja substância poremos aqui para edificação do leitor.

 

Queixavam-se os povos do couto de que o abade, quando eles lhe não obedeciam cegamente, mandava prender os juizes, oficiais de justiça e quaisquer outras pessoas e os fazia descer por cordas aos subterrâneos dos castelos de Alcobaça, onde não viam sol nem lua, até que aí cegavam; de que não lhes permitia, nem colher os frutos das próprias árvores, nem tirar a casca dos carvalhos para curtimentos, mister em que principalmente se ocupavam naquelas povoações, nem cortar madeira nos matos e florestas para edificarem suas moradas ou repararem as cubas de suas adegas; de que, em havendo nobres hóspedes no mosteiro, o abade mandava rapinar as vacas, porcos, galinhas e carneiros dos miseráveis e com isso banqueteava el-rei e os senhores, pagando tarde, mal ou nunca os objectos assim furtados; de que tirava os mesteirais (oficiais mecânicos) a quem os tinha assoldadados; de que ordenava aos homens livres lhe carreassem as madeiras cortadas nos pinhais da Pederneira e na mata de Maiorga, como se os moradores do couto fossem servos da gleba; de que, na conjuntura da batalha de Aljubarrota, tendo-se recolhido ao Castelo de Alcobaça e aos matos circunvizinhos as mulheres e filhos dos que pelejavam pela pátria, e havendo estes levado às suas famílias despojos que valiam cem mil libras, o abade lhes tomara tudo, mandando prender aqueles que para si reservavam alguma cousa; de que, para obrigar os povos a pagarem um imposto que por própria autoridade lançara, fora certo dia de madrugada pelas casas dos refractários e, pondo fora delas as mulheres e crianças nuas, fechara as portas e não deixara entrar ninguém, sem lhe pagarem quanto ele queria; de que, ao mesmo tempo em que lhes tomava para a guerra contra Castela cavalgaduras, dinheiro e mantimentos, os obrigava a trabalharem gratuitamente nos reparos dos seus castelos e até em serviços peculiares do mosteiro, prometendo, como grande benefício, descontar-lhes estes serviços nos impostos e fintas que segundo seu alvedrio lhes lançava; de que, finalmente, substituindo os juízes de eleição popular por outros da sua escolha, todas as queixas dos povos eram resolvidas a bel-prazer dele abade e não conforme os ditames da boa justiça.

 

Estes capítulos, escritos com eloquente aranzel em um extenso rolo de pergaminho, foram apresentados a el-rei por mão de Fernando Afonso, que, ligado por amizade e parentesco com o arcebispo D. Lourenço e por isso, como dissemos, inimigo capital de D. João de Ornelas, se prestou de bom grado a ser procurador dos queixosos. Aproveitava assim a entrada e privança que tinha com el-rei para com mostras de generoso descobrir o mau procedimento do abade e diminuir a sua influência. Todavia, o terrível prelado era demasiado poderoso e o seu poder pesava demasiado na balança das questões políticas, internas e externas, que agitavam o reino, para não ser refreado e punido em obséquio da justiça. Posto que na época de D. João I o povo fosse ainda uma cousa grande e forte, porque a vida municipal, garantia única possível de verdadeira liberdade, não era ainda convertida em comédia pela monarquia absoluta, para esta a legar, transformada em farsa de títeres, às hexarquias ministeriais que aceitamos benevolamente como governos representativos; posto que, dizemos, o grito popular de angústia ou de cólera soasse ainda tremendo nos ouvidos dos poderosos, a voz dos pequenos municípios de Turquel e de Évora era mui débil e não podia só per si sobrelevar ao tumulto da guerra de independência e fazer pospor as considerações a que, para levar esta a bom termo, era necessário atender. Assim, as queixas esqueceram-se, o clamor dos vassalos de Alcobaça soou debalde aos pés do trono, e os habitantes de Turquel e de Évora tiveram de contentar-se com aquele desafogo inútil.

 

Não perdeu, todavia, Fernando Afonso o seu trabalho. D. João de Ornelas soubera de tudo e jurara vingar-se. O cavaleiro devera tê-lo percebido; porque a primeira vez que o reverendo abade viera à corte tinha-o tratado com desusada afabilidade e carinho.

 

Era por isso que, ora exultando de prazer, ora recordando-se colérico da ofensa que recebera, o abade de Alcobaça, agitado por pensamentos diversos, esperava ansioso a chegada de Fr. Vasco.

 

Benedicite, domine! – disse uma voz trémula, que soou à porta da cela.

 

– Entrai, irmão – respondeu o abade.

 

A porta rangeu nos gonzos. Fr. Vasco, em pé, com os braços cruzados e a cabeça baixa, estava diante de D. João de Ornelas.

 

– Assentai-vos!.– disse este, apontando para um tamborete dos que se viam enfileirados ao longo das paredes.

 

– Senhor!... – replicou Fr. Vasco duvidoso.

 

– Assentai-vos!

 

O mancebo obedeceu. D. João de Ornelas arredou outro tamborete e assentou-se defronte dele.

 

– Agora escutai-me e respondei sinceramente às minhas perguntas.

 

Fez uma pausa, fitou no mancebo o seu olhar de milhafre e prosseguiu:

 

– Há um homem nobre, rico e poderoso que derramou sobre vosso nome a infâmia, que assassinou vosso pai, que converteu vossa irmã em uma barregã miserável e depois a abandonou. Houve um tempo em que vós, na flor da mocidade, fidalgo, valente e cavaleiro, vos poderíeis ter desafrontado, chamando-o ao juízo de Deus na estacada do combate. Hoje sois um pobre monge, que trocou a armadura e as esporas douradas pela cogula e sandálias, a espada e a lança pelo bordão de peregrino, o orgulho da fidalguia pela submissão monástica, o valor de soldado pelos pensamentos e terrores da morte. Nada, pois, vos resta, senão resignar-vos na infâmia, na abnegação da vingança, no esquecimento do passado. Pela santa obediência que deveis, dizei-me a verdade, a verdade nua: estais resolvido a assim o cumprir?

 

– Reverendo e mui venerável abade – respondeu Fr. Vasco, cujas palavras, ora rápidas, ora lentas, bem mostravam a tempestade da sua alma –, há oito horas que eu tenho provado quantas dores de espírito é possível padecer na vida: duas dessas horas passei-as sozinho a clamar ao Senhor que minorasse a minha angústia; mas o Senhor não me ouviu. Então, desesperado, invoquei o demónio e rolei-me furioso pelo pavimento da minha cela, que humedeci com o suor da fronte, não com lágrimas, porque estes olhos já não podem chorar. Daria nesse momento a vida – mais que a vida, a salvação – por vingar-me e vingar a minha pobre Beatriz, que, filha e irmã de cavaleiros, creu que nenhum neste mundo podia ser desleal: por vingar minha irmã inocente e que tanto tempo julguei culpada daria o corpo ao patíbulo, a Satanás a alma! Padre abade, quebrai, se é possível, os meus votos, lançai-me como um homem perdido fora desta santa morada e dai-me uma acha de armas, um montante, um punhal!... Eu irei arrancar Fernando Afonso, se preciso for, do paço, dos degraus do trono, da câmara do próprio D. João I. Um ferro!... e arrastá-lo-ei a Restelo, aos pés de Beatriz e far-lheei pedir perdão com lágrimas de sangue, e ela lhe perdoará talvez, e esse perdão será inútil!... Mas isto é um sonho, venerável abade! – prosseguiu o moço cisterciense com voz afogada. – Que posso eu fazer! Apelar para a justiça d'el-rei, com a esperança da qual o bom Fr. Lourenço pensou que me confortava! Quisestes que eu vos dissesse quais eram as minhas intenções: fiz mais; contei-vos a infernal história do meu coração... Agora – acrescentou com um sorriso doloroso –, esperarei resignado pela justiça d'el-rei.

 

– E se eu vos ordenar que, no caso de D. João I não castigar o criminoso, perdoeis a este todo o mal que vos causou?

 

– Padre abade – replicou o mancebo com o acento da desesperação –, não vos obedecerei.

 

– Mas vós sabeis que no Mosteiro de Alcobaça há um cárcere, e nos fundamentos do seu castelo masmorras onde não entra o sol.

 

– E que importa ao coração em trevas que os olhos vejam o dia? Que importa ao espírito cativo na estreita regra do claustro que o corpo esteja comprimido entre as paredes de um calabouço? Não, padre abade, não!... A minha alma não se manchará com o pensamento insensato do perdão. O meu ódio é o último tesouro que me resta de tudo o que deixei no mundo: está muito dentro para vós haverdes de roubar-mo. Não creio que o minorasse ver cumprida essa pena que a lei impõe aos sedutores; pena mesquinha, porque não foi feita por homem que, como eu, tivesse recebido uma grande e imperdoável afronta. Mas as vossas palavras provam-me que não devo ter nem essa miserável esperança! Guardarei pois o meu rancor inteiro e, se quiserdes, amanhã mesmo parto para o cárcere de Alcobaça. Aqui ou lá, pouco me importa onde é que tem de escoar-se o resto dos meus dias. Fr. Lourenço cá fica para acudir com as suas esmolas à minha pobre Beatriz.

 

D. João de Ornelas olhava para Fr. Vasco com um sorriso que mal lhe despontava nos lábios, e quando o frade acabou de falar, estendeu para ele a mão:

 

– À fé, que encontrei finalmente um homem debaixo da estamenha monástica!

 

O mancebo pensou por um momento que o mui reverendo abade escarnecia dele; mas breve se desenganou.

 

– Um homem, sim! – prosseguiu D. João de Ornelas –, porque só merece este nome quem não sabe vergar debaixo do peso das afrontas. Mancebo, eu quis experimentar-te: quis conhecer se eras como qualquer desses monges vilíssimos que julgam dever, ao cruzar o umbral de uma portaria, renegar da honra e aceitar opressões e injúrias, como se fossem benefícios e mercês. Tu não és como eles; a tua alma é grande e altiva como a de D. João de Ornelas, cujo ódio é indestrutível e fatal. A diferença entre ti e ele consiste em que o monge nada pode, e o abade pode muito; pode tudo. Mas tu poderás também; porque eu te erguerei da terra. Alegra-te, Fr. Vasco! O teu inimigo primeiramente o foi meu. Como tu lhe votaste ódio imenso, inflexível, perpétuo, assim lho votei eu. Vingar-nos-emos ambos, e o abade de Alcobaça, o senhor de catorze vilas, o alcaide de dois castelos, o cavaleiro cujo pendão se ergue na guerra sobre as cabeças de centenares de homens de armas vai consagrar à tua vingança, que é sua, quanto vale e quanto pode. Irmão, amigo, ser-te-á D. João de Ornelas. Façamos uma liança de ódio: cavaleiro, aperta esta mão de cavaleiro. Juro ser-te fiel como a acha de armas ao braço robusto do pelejador: jura-me também tu que serás meu na vida e na morte que para ti não haverá nem hesitação, nem remorsos!

 

Com um movimento convulso Fr. Vasco apertou a mão do abade, e com voz rouca e lenta respondeu:

 

– Alma e corpo, padre abade, dou-vos tudo nesta vida: que na outra.., a minha alma pertence aos demónios!

 

– Outra vida! outra vida! – interrompeu o monge alcaide-mor com um sorriso. – Quem sabe lá nada da outra vida? Viste já tu o demónio? Não. Nem eu. É impossível que Deus queira que o homem, o rei da criação, em cujo seio gravou o sentimento da própria nobreza, o valor que contrasta os perigos e o engenho que domina a terra, seja um ente vil e covarde. Os teólogos dir-vos-ão: Deus fez o homem à sua imagem e semelhança: depois lembrar-vos-ão como ele vinga as injúrias que lhe fazemos, e concluirão, por fim, recomendando-vos o perdão das que vós recebeis! Boa dialéctica será essa, mas não para D. João de Ornelas. Mais forte que o amor, que a ambição, que tudo é a sede de justa vingança: neste sentimento, que não em outro qualquer, reconheço eu a origem divina do homem. O que sofre e se abraça com a cruz será, talvez, um ente sublime; mas o próprio S. Paulo chamou a isto loucura.

 

O frade mentia e blasfemava; mas as suas blasfémias calavam no coração de Fr. Vasco como um bálsamo suave; porque o último trago de infâmia que bebera o fizera chegar à meta da desesperação; e o desgraçado, vendo tardar a justiça divina, renegara inteiramente de Deus!

 

D. João de Ornelas contou então ao moço cisterciense a história das suas dissensões com o arcebispo de Braga; mencionou as antigas relações que existiam entre o primaz e Fernando Afonso, e como este, incitado, talvez, ocultamente por D. Lourenço, ousara apresentar a el-rei, acompanhando esse acto com sugestões malévolas, os capítulos dados contra ele pelos seus súbditos rebeldes de Turquel e de Évora. O abade concluiu por declarar o seu firme propósito de tirar amplo desagravo da danada ousadia do moço escudeiro e de tomar a seu cargo a defensão de uma causa tão justa qual era a de Fr. Vasco, de um homem que, como ele, vestia o hábito de S. Bernardo.

 

Depois disto, D. João e o moço frade aproximaram-se mais um do outro e falaram muito tempo em voz baixa, como se receassem que as paredes da acanhada cela pudessem vir a revelar alguma parte dos seus intentos. Com as faces incendidas e os olhos banhados em alegria feroz, os dois monges, conversando assim juntos à luz avermelhada das tochas com que se alumiava esta cena, formavam um quadro semelhante àquelas visões fantásticas, repugnantes e dolorosas que passam em nossa alma, quando por noite de febre nos aperta o coração longo e aflitivo pesadelo. O mistério de ódio implacável que aí se passou ficará patente aos olhos do leitor, se tiver paciência bastante para seguir connosco a série dos sucessos derramados nos seguintes capítulos. 

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