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Drácula

Capítulos 27

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Drácula Capítulo X

CARTA DO DR. SEWARD A S. EXa. ARTHUR HOLYWOOD

 

6 de setembro

 

As notícias de hoje não são boas. Lucy não está passando bem. Mas há males que vêm para bem. Mrs. Westenra ficou aflita e consagrou-me como médico. Aproveitei a oportunidade e disse-lhe que meu velho mestre, o grande especialista Van Helsing vem me visitar e que eu o levaria para tratar de Lucy. Desse modo, não precisamos assustar a velha senhora.

Sempre seu amigo.

 

DIÁRIO DO DR. SEWARD

 

7 de setembro — A primeira coisa que Heiing disse, quando nos encontramos em Liverpool Street foi: Contou alguma coisa ao seu jovem amigo, namorado dela?

- Não — respondi. — Estava esperando sua chegada, como disse em meu telegrama. escrevi-lhe apenas dizendo que o senhor vinha, pois Miss Westenra não está passando muito em.

- Fez muito bem, meu amigo! — disse ele. — É preferível que ele saiba o mais tarde possível.

Quando descrevi os sintomas de Lucy — os mesmos de antes, porém muito mais acentuados — ele se mostrou muito sério, mas nada disse.

Quando chegamos, a Sra. Westenra veio receber-nos. Estava assustada, mas não tanto quanto eu esperava. A natureza, em sua sabedoria, determinou que mesmo a morte tivesse um antídoto para seu próprio terror. A pobre senhora está, ela própria, tão mal que não percebe a doença da filha.

Eu e Van Helsing fomos levados ao quarto de Lucy. Fiquei horrorizado com o seu aspecto. Estava de uma palidez mortal; a cor desaparecera mesmo de seus lábios e gengivas e os ossos da face pareciam querer furar a pele. Respirava com grande dificuldade. Van Helsing não escondeu sua profunda preocupação. Lucy estava sem forças para falar e assim por alguns momentos, ficamos todos em silêncio. Depois, Van Helsing me fez um sinal e saímos do quarto em silêncio.

- Temos de fazer uma transfusão de sangue imediatamente — anunciou, então. — Quem dará o sangue? Eu ou você?

- Sou mais moço e mais forte, professor. Devo ser eu.

- Então, prepare-se pois vou buscar minha valise. Já estou preparado.

Desci ao andar térreo com ele, e, quando caminhávamos, uma pancada forte soou na porta. Quando chegamos a criada tinha acabado de abrir a porta e Arthur entrou.

- Estou morrendo de aflição — disse-me ele. — Sua carta me assustou terrivelmente. Como meu pai melhorou um pouco, tomei o primeiro trem. Não é o Dr. Van Helsing? Sou- lhe muito grato por ter vindo, doutor.

- Chegou a tempo. Sua noiva está mal, muito mal.

Arthur empalideceu e sentou-se numa cadeira, quase desmaiado.

- Que devo fazer? — perguntou Arthur. — Minha vida lhe pertence e, por ela, darei, de boa vontade, até a última gota de meu sangue.

- Não lhe pedirei tanto — disse o professor. — Não precisaremos da última gota!

Venha. O senhor é um homem e é disso que precisamos.

Arthur pareceu intrigado e o professor tratou de explicar:

- A jovem está muito mal. Precisa de sangue, para não morrer. Eu e meu amigo John já íamos fazer uma transfusão de sangue, John tinha se oferecido para doar o seu, mas acho que o do senhor será muito melhor.

- Se soubesse quanto estou disposto a morrer por ela... — disse Arthur.

- Muito bem! — disse Van Helsing.

Aproximou-se, então, do leito de Lucy, tendo pedido a Arthur para não entrar no quarto.

Tirou, da valise, um pacotinho e colocou dentro de um copo d’água.

- Tome isto que lhe fará bem, disse a Lucy, jovialmente.

Ela conseguiu beber, com esforço. Foi espantoso o tempo que a droga levou para fazer efeito. Afinal, o narcótico fê-la adormecer. Van Helsing, então, chamou Arthur e mandou-o tirar o casaco. A transfusão foi feita sem dificuldade e as cores começaram a voltar rapidamente às faces de Lucy.

- Chega! — exclamou, de súbito, Van Helsing, que tinha os olhos no relógio. — Cuide dele, que tomarei conta dela.

Depois de ter feito o curativo, apalpou o travesseiro de Lucy. A tira de veludo preto que ela trazia no pescoço, presa por um broche de diamantes, presente de seu namorado, saiu do lugar, deixando ver um pequeno ferimento. Arthur não o notou, mas observei que Van Helsing respirou fundo, o que é um de seus modos de demonstrar emoção.

- Agora, leve para fora o valente namorado — disse-me ele. — Dê-lhe um cálice de vinho do Porto e faça-o deitar por algum tempo. Depois, ele deve ir para casa, e dormir bastante. Não deve ficar aqui.

Quando Arthur se retirou, voltei para o quarto. Lucy estava dormindo sossegada.

Perguntei ao professor, em voz muito baixa:

- Que acha daquele ferimento no pescoço?

- E você, que acha?

- Ainda não o examinei — respondi.

Tratei, então, de afrouxar a tira de veludo. Um pouquinho acima da veia jugular havia duas incisões, que não eram muito grandes, mas não tinham bom aspecto. Imaginei que talvez aquilo explicasse a perda de sangue, mas logo abandonei a idéia, pois toda a cama deveria estar vermelha, com a quantidade de sangue que a moça devia ter perdido, para estar tão pálida antes da transfusão.

- E então? — insistiu Van Helsing.

- Não compreendo.

- Tenho de voltar para Amsterdam hoje à noite — disse o professor. — Preciso de certos livros e outras coisas. Você deve ficar aqui a noite toda, sem perdê-la de vista.

- Não acha bom chamar uma enfermeira? — sugeri.

- Eu e você somos melhores que enfermeiras. Providencie para que ela se alimente bem e ninguém a importune. Regressarei em breve e começaremos o tratamento. E então, podemos começar.

- Podemos começar? Que quer dizer isto?

- Você verá. Lembre-se de minhas recomendações. Se você abandoná-la e surgir alguma coisa de mal, irá ter muito remorso!

DIÁRIO DO DR. SEWARD

(continuação)

 

8 de setembro — Fiquei sentado a noite inteira ao lado de Lucy. Ela acordou naturalmente e seu estado é inteiramente diferente do que era antes. A Sra. Westenra não concordou com as instruções do Dr. Van Helsing, mas eu me mostrei muito firme.

De manhã cedo, chegou a criada e vim para casa. Telegrafei a Van Helsing e a Arthur, comunicando o excelente resultado da transfusão. Durante o jantar recebi um telegrama de Van Helsing, dizendo-me para ir a Hillingham esta noite, e comunicando que ele partiria à noite e de manhã estaria comigo.

 

9 de setembro — Estava muito cansado quando cheguei a Hillingliam, pois há duas noites que não durmo. Lucy estava muito bem disposta e insistiu comigo para não ficar acordado.

- Já estou bem de novo — disse ela, mostrando-me um quarto contíguo ao seu. — Fique ali naquele sofá e se eu precisar de qualquer coisa, chamarei.

Cansado como estou, e diante de tal promessa, não pude deixar de concordar.

 

10 de setembro — Acordei com a mão do professor na minha cabeça.

- E a nossa doente? — perguntou ele.

- Estava bem, quando nos separamos ontem.

Mas, quando chegamos ao quarto de Lucy, encontramos a pobre moça mais pálida e abatida que jamais.

- Depressa! — exclamou Van Helsing. — Traga a aguardente.

Quando eu trouxe a garrafa, ele colocou algumas gotas nos lábios de Lucy e, depois de alguns momentos de angústia, exclamou:

- Não é tarde demais. O coração ainda está batendo, embora fracamente. Temos de começar tudo de novo. Desta vez, terei de apelar para você mesmo, amigo John.

Não havia nem tempo nem necessidade de soporífero. Foi com um sentimento de orgulho pessoal que vi as cores voltarem, de leve, às faces de Lucy.

Terminada a transfusão, Van Helsing recomendou-me que descansasse e comesse bem.

Ele passaria a noite com Lucy.

11 de setembro — À tarde, fui a Hillingham. Encontrei Van Helsing bem-humorado e Lucy muito melhor... Pouco depois, chegou uma encomenda procedente do estrangeiro e destinada ao professor. Ele abriu o embrulho e tirou de dentro um galho de flores.

- É para a senhorita, Miss Lucy — disse ele.

- Para mim, Dr. Van Helsing?

- É, sim, mas não é para se distrair. É um remédio. Não precisa fazer caretas, que prometo que não terá de beber coisa alguma. Com estas flores, farei uma guirlanda, para colocar em torno de seu pescoço. Sim! São como as flores de lótus, que afastam os males.

- O senhor está brincando — disse Lucy, depois de cheirar as flores e atirá-las para um lado, entre risonha e decepcionada. — Não passam de flores de alho.

- Não costumo brincar! — retrucou Van Helsing, com um modo que me causou surpresa. — Tem de me acreditar, quando digo que estas flores terão, sobre sua saúde, um efeito benéfico. Eu mesmo vou fazer a guirlanda e, além disso, espalharei as flores pelo quarto. Tive muita sorte de conseguir arranjar estas flores agora, nesta estação. Venha, amigo John, me ajudar a colocar as flores de alho, que a propósito, vieram todas de Haarlen, onde meu amigo as cultiva em estufas durante todo o ano.

Entramos no quarto, levando as flores conosco. A atitude do professor foi muito estranha, sem dúvida. Fechou cuidadosamente, as janelas e esfregou as flores em todos os caixilhos, a fim de que o ar que entrasse no aposento ficasse impregnado com seu cheiro. Fez a mesma coisa na porta e na lareira.

- Sei que tem motivo para fazer o que está fazendo, mas isso não deixa de me intrigar —  observei. — Dir-se-ia que o senhor está querendo afastar algum mau espírito.

- Talvez esteja! — respondeu ele, enquanto começava a fazer o colar que Lucy deveria usar durante a noite.

Esperamos que Lucy fizesse sua toilette e, quando ela se deitou, o próprio Van Helsing colocou a guirlanda de flores de alho, em torno do seu pescoço. As últimas palavras que ele disse foram:

- Tenha cuidado de não atrapalhá-la; e mesmo se o quarto parecer abafado, não abra a janela nem a porta.

- Prometo — disse Lucy — e agradeço-lhe mil vezes por sua bondade comigo!

- Esta noite, posso dormir tranqüilo — disse Van Helsing, quando nós entramos. — Procure-me amanhã cedo, para irmos ver a moça.

Talvez lembrando-me da confiança que eu próprio sentira duas noites antes, sua confiança não me tranqüilizou de todo.

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