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Drácula

Capítulos 27

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Drácula Capítulo XVII

DIÁRIO DO DR. SEWARD

(Continuação)

 

Quando chegamos ao Berkeley Hotel, Van Helsing encontrou um telegrama, que havia chegado em sua ausência:

“Chegarei por estrada de ferro. Importante notícia. MINA HARKER.” O professor ficou muito satisfeito.

- Madame Mina é uma pérola! — disse ele. — Mas não posso esperá-la. Deve ir recebê-

la na estação e levá-la para sua casa, amigo John.

Em seguida, deu-me cópias de um diário escrito por Jonathan Harker no estrangeiro e de um diário da Sra. Harker, em Whitby.

- Leia estes papéis e estude-os bem — disse-me ele. — Quando eu voltar, você estará bem a par desses assuntos e poderemos tomar as providências necessárias.

Cheguei à estação quinze minutos antes do trem chegar. Quando este chegou, fui reconhecido pela Sra. Harker, que fora avisada, em caminho, por telegrama, de que eu iria esperá-la na estação, em vez do professor Van Helsing.

- O senhor é o Dr. Seward, não é? perguntou-me. — Reconheci-o pela descrição feita pela pobre Lucy.

Corou, ao dizer aquilo, mas eu também corei e aquilo pareceu nos pôr mais à vontade, como uma resposta tácita a ela própria. Peguei sua bagagem, que incluía uma máquina de escrever.

Pouco depois, chegávamos ao hospício, onde eu mandara preparar um quarto e uma sala para a Sra. Harker.

DIÁRIO DE MINA HARKER

 

29 de setembro — Depois de ter me aprontado, fui ao gabinete do Dr. Seward. Parei, por um momento junto da porta, e o ouvi conversando com outra pessoa. Bati na porta e ele me mandou entrar.

Fiquei surpreendida ao encontrá-lo só. Na mesa, em frente dele, havia um aparelho que, pela descrição, vi se tratar de um fonógrafo, coisa que eu nunca vira antes.

- Estava fazendo meu diário — disse-me ele.

- Seu diário?

- Sim. Gravo nesta máquina.

Fiquei entusiasmada e pedi para ouvir alguma coisa. Muito embaraçado, ele murmurou:

- Meu diário é quase exclusivamente acerca de meus casos, de modo que... Para livrá-lo de seu embaraço, sugeri:

- O senhor assistiu à morte de Lucy. Ficar-lhe-ei muito grata por tudo que souber a seu respeito. Ela me era muito querida.

Fiquei surpreendida com a reação dele:

- Contar-lhe a morte dela? Por coisa alguma do mundo!

- Mas, por que não? — insisti.

Muito sem jeito, ele desculpou-se, dizendo que não conseguiria distinguir uma parte determinada de seu diário.

- Então, será melhor o senhor deixar que eu copie o diário a máquina — propus.

- Não, não! — protestou ele. — De maneira alguma! Não a deixaria ficar sabendo daquele caso horrível!

- O senhor não me conhece — repliquei. — Quando tiver lido meu diário e o do meu marido, que datilografei, há de me conhecer melhor.

Ele se pôs de pé e abriu uma gaveta, onde havia vários cilindros ocos, cobertos com cera escura.

- Tem razão — disse. — Não confiei na senhora porque não a conhecia, mas agora já a conheço. Leve estes cilindros e os escute.

Ele mesmo levou o fonógrafo para minha sala, onde o preparou para mim.

 

DIÁRIO DO DR. SEWARD

 

29 de setembro — Fiquei tão absorvido com a leitura do diário que nem percebi a passagem do tempo. Quando terminei a leitura e fui para a sala de jantar, a Sra. Harker tinha acabado de voltar. Estava triste e tinha os olhos vermelhos de chorar.

- Peço desculpas por ter-lhe aborrecido — exclamei.

- Não me aborreceu — disse ela. — Mas fiquei profundamente comovida com o pesar demonstrado pelo senhor. A sua voz cortava o coração. Por isso, resolvi copiar o diário a máquina, para que os outros possam lê-lo em vez de ouvi-lo. Naturalmente, o senhor me deixará ajudá-lo, não é mesmo? Eu e Jonathan estamos trabalhando, noite e dia, depois que estivemos com o professor Van Helsing. Não devemos ter segredos entre nós. Devemos trabalhar juntos e termos completa confiança uns nos outros.

- Tem razão — concordei. — Precisamos ser muito fortes, para executar a tarefa que temos pela frente. Mas, agora, venha jantar.

 

DIÁRIO DE MINA HARKER

29 de setembro — Depois do jantar, fui com o Dr. Seward para o seu escritório. Ele trouxe o fonógrafo e eu a máquina de escrever, e ele me deu as instruções necessárias.

Se eu não tivesse lido o diário de Jonathan na Transilvânia, não acreditaria nessa horrível história da morte de Lucy. Felizmente, não tenho propensão para desmaiar.

- Vou tratar de escrever tudo, para que esteja pronto, quando o Dr. Van Helsing chegar — disse, afinal, ao Dr. Seward. — Telegrafei a Jonathan, dizendo-lhe para vir para aqui, quando chegar a Londres, procedente de Whitby.

O Dr. Seward colocou o fonógrafo em pequena velocidade e comecei a copiar o diário,_a partir do começo do sétimo cilindro, tirando três cópias.

DIÁRIO DO DR. SEWARD

 

30 de setembro — O Sr. Harker chegou às nove horas. É muito inteligente e, a julgar por seu diário, muito enérgico, também. Ele conseguiu as cartas entre o consignatário dos caixotes em Whitby e o transportador de Londres que se encarregou de sua remessa.

É estranho eu nunca ter imaginado que a casa vizinha pudesse ser o esconderijo do Conde! Havia muitos indícios, pela conduta do internado Renfield. Se tivéssemos sabido mais cedo, poderíamos ter salvo a pobre Lucy.

Encontrei hoje Renfield sentado em seu quarto, com os braços cruzados, sorrindo.

Naquele momento, parecia tão sadio como qualquer um de nós. Sentei-me ao seu lado e conversei com ele sobre vários assuntos que abordou com muita facilidade. Depois, por sua própria iniciativa, falou em voltar para casa, assunto que, ao que eu saiba, jamais mencionou, desde que aqui se encontra. É estranho. Sei que as suas crises correspondiam à presença do Conde na propriedade vizinha. Que significará, agora, essa sua estranha calma? Desconfio dela. E, por precaução, determinei ao guarda vigiá-lo atentamente e ter uma camisa-de-força à mão.

 

DIÁRIO DE JONATHAN HARKER

 

9 de setembro, no trem, em viagem para Londres — Quando recebi a atenciosa carta do Sr. Billington, prontificando-se a me dar qualquer informação, pensei que o melhor era ir a Whitby. Meu primeiro objetivo é descobrir para onde foi a horrível carga do Conde. O Sr. Billington pôs à minha disposição todas as cartas relativas à consignação de caixotes. Tudo fora preparado com precisão. Vi a fatura: “Cinquenta caixotes de terra comum destinadas a experiências.” Vi e copiei a cópia da carta li Carter Paterson e a resposta. Depois, conversei com os funcionários da Alfândega e da Guarda Costeira, que me falaram sobre a estranha chegada do navio, e me puseram em contato com os homens que tinham recebido as caixas, mas nada mais sabiam, exceto que as caixas eram pesadíssimas.

30 de setembro — Depois de várias indagações, cheguei, pelo menos a uma conclusão: todas as caixas vindas pelo “Demeter” foram colocadas na velha capela de Carfax. Ali deve haver cinqüenta caixas, a não ser que alguma tenha sido removida, como receio, pelo que diz o diário do Dr. Seward.

Preciso procurar o transportador que levou as caixas de Carfax, quando Renfield atacou os homens.

DIÁRIO DE MINA HARKER


30 de setembro — Lord Godalming e o Sr. Morris chegaram mais cedo do que esperávamos. O Dr. Seward tinha saído, com Jonathan, de maneira que tive de recebê-los. Foi um encontro penoso, pela lembrança de Lucy. Dei a cada um deles uma cópia dos diários para lerem na biblioteca.

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