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Drácula

Capítulos 27

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Drácula Capítulo XXIV

DIÁRIO FONOGRAFICO DO DR. SEWARD, FALADO POR VAN HELSING

 

Este recado é para Jonathan Harker.

Deve ficar com Madame Mina. Vamos sair para fazer novas investigações mas para você nada há de mais importante que ficar ao lado dela. Nosso inimigo voltou para o seu castelo na Transilvânia. Ele é muito esperto e sabia que seu jogo aqui estava terminado. Temos agora que descobrir o navio e persegui-lo. Pode ficar confiante. A batalha apenas começou e havemos de vencê-la.

VAN HELSING

 

DIÁRIO DE JONATHAN HARKER

 

4 de outubro — Quando li para Mina o recado que Van Helsing deixou no fonógrafo, ela ficou muito animada. O dia correu tão rapidamente que até estou custando a acreditar. Já são três horas.

 

DIÁRIO DE MINA HARKER

 

5 de outubro, 5 horas da tarde — Presentes: professor Van Helsing, Lord Godalming, Dr.

Seward, Sr. Quincey Morris, Jonathan Harker e Mina Harker.

O Dr. Van Helsing tomou a palavra:

- Como eu sabia que o Conde queria voltar à Transilvânia, deduzi que ele devia ir pela foz do Danúbio ou por algum porto do Mar Negro, caminho pelo qual veio. Assim, tratamos de saber que navios tinham partido para o Mar Negro e chegamos à conclusão de que se trata de uma escuna, a “Czarina Catherine”, que partiu para Varria do cais de Doolitle.

Dirigimo-nos àquele cais e ali um empregado nos deu todas as informações que desejávamos. Na véspera, ao anoitecer, um homem alto, magro e pálido, de nariz adunco, dentes muito brancos e olhos que pareciam. fosforescentes, aparecera, a embarcar um caixote para Varria. Tirara ele mesmo o caixote de uma carroça, demonstrando uma força prodigiosa, pois foram preciso vários homens para levá-lo para bordo. O homem insistiu muito sobre o lugar que a caixa devia ser colocada, a tal ponto que o capitão perdendo a paciência, mas, depois de praguejar em várias línguas, pois era poliglota, acabou dizendo que ele poderia voltar, se quisesse, para ver onde o caixote ia ficar. A escuna não pôde partir na hora esperada, pois um nevoeiro a envolveu. O capitão estava de muito mau humor, quando o homem magro apareceu de novo, pedindo para ver onde estava o caixote. O capitão mandou-o a todos os diabos, mas o homem não se ofendeu e foi, levado por um marinheiro, para ver onde estava a caixa. Ao voltar, parou no convés, coberto pelo nevoeiro. Ninguém reparou quando ele saiu. Na verdade, a tripulação não se preocupou muito com ele, pois, em breve, o nevoeiro se desfez e o barco pôde se preparar para partir.

Quando tivemos estas informações, a escuna já estava em alto-mar. Assim, cara Madame Mina, devemos agora descansar um pouco, pois nosso inimigo está no mar, com o nevoeiro à sua volta, a caminho da foz do Danúbio. Vamos cercá-lo, viajando por terra.

Nossa grande esperança é encontrá-lo na caixa entre o nascer e o pôr do sol, pois, então, ele não poderá lutar e poderemos atacá-lo. A caixa, segundo apuramos, deve ser desembarcada em Varria, e será recebida por um agente chamado Ristics.

Perguntei ao Dr. Van Helsing se tinha certeza de que o Conde estava a bordo do navio.

- Temos a melhor prova nesse sentido: suas próprias palavras, quando em transe hipnótico, hoje de manhã — respondeu.

Perguntei, ainda, se seria necessário perseguir o Conde, pois não queria que Jonathan se separasse de mim, e ele naturalmente, faria questão de ir, se os outros fossem. O Dr. Van Helsing respondeu, quase com raiva:

- É indispensável! Para seu próprio bem, em primeiro lugar, e para o bem da humanidade. Esse monstro já fez muito mal. Tem de ser exterminado! E Deus está conosco. Já nos permitiu redimir uma alma e agora, como os antigos Cruzados, iremos redimir outras. Como eles, viajaremos rumo ao nascente e, como eles, se cairmos, teremos caído em defesa de uma nobre causa!

Depois de uma discussão geral, ficou resolvido deixar a decisão definitiva para amanhã. Senti-me muito tranqüila, como se uma presença desagradável tivesse se afastado de mim. Mas não pude deixar de ver no espelho, a mancha vermelha em minha testa. Sei que ainda estou contaminada.

DIÁRIO DO DR. SEWARD

 

5 de outubro — Levantamo-nos todos muito cedo e o sono foi muito bom para todos nós.

Quando nos reunimos na refeição matinal, estávamos mais alegres do que acreditaríamos antes ser possível.

Ao sairmos da mesa, o professor me acompanhou ao meu gabinete.

- Amigo John — disse ele — há uma coisa que precisamos conversar a sós. Madame Mina está mudando. Com a triste experiência de Miss Lucy, devemos, desta vez, estar prevenidos, antes que as coisas cheguem muito longe. Já podem ser notados em seu rosto as características do vampiro. Ainda são muito leves, por enquanto; mas precisamos ter coragem de olhar sem preconceitos. Seus dentes estão mais aguçados e, às vezes, seu olhar se torna mais duro. Mas isso não é tudo: há os seus silêncios, como ocorria com Miss Lucy. O que receio é o seguinte: se ela pode, por nosso transe hipnótico, contar o que o Conde está vendo e ouvindo, não é verdade que ele a hipnotizou primeiro, que bebeu do sangue dela e fez com que ela bebesse do seu, poderá obrigar o espírito de Mina a dizer o que ela sabe? Se assim é, impedir que isso aconteça; deve que esconder dela o que tencionamos fazer e, ignorando nossas intenções, ela não poderá contar o que ignora. É uma tarefa penosa, mas indispensável. Quando nos reunirmos hoje, vou dizer-lhe que, por motivos que não podemos explicar-lhe, ela não tomará mais parte em nossas decisões, mas apenas será protegida por nós.

 

Mais tarde — Logo no começo da reunião geral, eu e Van Helsing tivemos um grande alívio, pois a Sra. Harker mandou um recado, pelo marido, dizendo que achava melhor não participar de nossas reuniões, para não nos embaraçar com a sua presença. Por minha parte, achei que, se a própria Sra. Harker percebia o perigo, muito aborrecimento e perigo poderiam ser evitados.

Van Helsing resumiu a situação em poucas palavras:

- O “Czarina Catherine” saiu do Tâmisa ontem de manhã, e deverá levar pelo menos três semanas para chegar a Varna, ao passo que nós, viajando por terra, poderemos chegar àquela cidade em três dias. Se admitirmos menos dois dias para a viagem do navio, devido às influências meteorológicas que sabemos que o Conde tem poderes para manobrar, e se contarmos com um dia e uma noite para os atrasos que possam ocorrer conosco, teremos uma vantagem de cerca de duas semanas. Assim, a fim de não corrermos nenhum risco, devemos partir daqui no dia 17, o mais tardar. Desse modo, chegaremos em Varna na véspera da chegada do navio, e poderemos tomar as providências necessárias.

Naturalmente, iremos armados com nossas armas materiais e espirituais.

- Sei que o Conde é de um país onde há muitos lobos — observou Quincey Morris. — Proponho, portanto que acrescentemos carabinas Winchester ao nosso armamento.

- Concordo plenamente — disse Van Helsing. — E outra coisa: acho que, presentemente, nada nos prende aqui. Creio que nenhum de nós conhece Varna e, por isso, talvez fosse mais interessante partirmos logo. Tanto adianta esperar aqui, como lá. Até amanhã, podemos preparar tudo e, então, se tudo correr bem, podemos, nós quatro, partir para a viagem.

- Nós quatro? — perguntou Harker.

- Sim — apressou-se em dizer o Professor. — Você deve ficar, para tomar conta de sua mulher.

Harker ficou em silêncio durante algum tempo, depois disse, com voz abafada:

- Falaremos sobre isto amanhã cedo. Preciso conversar com Mina.

Achei que era hora de Van Helsing avisá-lo para não contar nossos planos à sua esposa.

Como ele não tomasse a iniciativa, olhei-o de modo significativo e tossi. Mas ele, em resposta, levou um dedo aos lábios; dormindo profundamente. Van Helsing me fez um sinal para que o acompanhasse, e saímos do quarto. Fomos para seu quarto, onde chegavam, pouco depois, Lord Godalming, o Dr. Seward e o Sr. Morris. O professor contou-lhes o que Mina lhe dissera e acrescentou:

- De manhã, partiremos para Varria. Temos de contar, agora, com um novo fator: Madame Mina. Não podemos perder nenhuma oportunidade e, em Varria, devemos estar prontos para agir, quando o navio chegar.

- Que devemos fazer? — perguntou o Sr. Morris, laconicamente.

- Em primeiro lugar, devemos entrar a bordo daquele navio — respondeu o professor, depois de refletir um pouco. — Depois, quando tivermos identificado a caixa, colocaremos em cima dela um ramo de rosa-silvestre. Desse modo, ninguém poderá sair de dentro da caixa.

- Eu não aguardarei tal oportunidade — exclamou Morris. — Quando vir a caixa, tratarei de abri-la e destruir o monstro, mesmo que milhares de pessoas estejam me olhando e que eu seja exterminado no momento seguinte!

- Você é um rapaz valente e abnegado, meu filho! — exclamou Van Helsing. — Deus o abençoe por isso. Mas, na verdade, não poderemos afirmar o que vamos fazer. Muitas coisas podem ainda acontecer e, até o momento exato, nada podemos dizer. Devemos estar armados e dispostos e, quando chegar o momento decisivo, nossa coragem não pode faltar. E, agora, tratemos de tomar as providências necessárias, inclusive as passagens.

Não havia necessidade de se dizer mais nada, e separamo-nos. Mais tarde — Todas as providências foram tomadas; fiz meu testamento. Mina, se continuar viva, será minha única herdeira, Em caso contrário, serão os outros, que têm sido tão bons para nós.

Tenho de escrever tudo no diário, pois minha querida Mina não Pode sabe-las agora; mas futuramente saberá.

DIÁRIO DE JONATHAN HARKER

 

5 de outubro, de tarde — O rumo que as coisas estão tomando me intriga. Achei esquisita a resolução de Mina de não participaria reunião. Também a maneira com que os outros receberam o fato me intriga; da última vez que conversamos sobre o assunto, tínhamos resolvido que nada mais se ocultaria entre nós. Mina está dormindo como uma criança. Graças a Deus.

 

Mais tarde — É estranho. Fiquei contemplando o sono de Mina e me senti quase feliz, apesar de tudo. De repente, ela abriu os olhos e, encarando-me ternamente, disse-me:

- Jonathan, quero que me prometa uma coisa, sob palavra de honra. Uma promessa para ser cumprida, mesmo que eu me ajoelhasse a seus pés e lhe pedisse, chorando, que a quebrasse. Prometa-me imediatamente.

- Não posso fazer uma promessa desta imediatamente, Mina — retruquei. — não tenho o direito de fazê-la.

- Mas sou eu que desejo, querido e não é para mim mesma. Pode perguntar ao Dr. Van Helsing se não tenho razão; você pode fazer o que quiser. E mais ainda: se vocês todos concordarem, você poderá deixar de cumprir a promessa.

- Prometo! — disse eu.

E, durante um momento, Mina pareceu muito feliz, embora para mim, toda a felicidade lhe fosse negada pelo sinal vermelho da testa.

- Prometa-me — disse ela — que você não me contará coisa alguma dos planos organizados para a campanha contra o Conde, e nem ao menos dará a entender qualquer coisa sobre os mesmos, enquanto isto estiver em mim!

E apontou para a mancha vermelha.

- Prometo! — exclamei.

E tive a impressão de que, naquele momento, uma porta se fechara entre nós.

 

6 de outubro, pela manhã — Outra surpresa. Mina acordou cedo, quase na mesma hora de ontem, e pediu-me para chamar o Dr. Van Helsing. Pensei que ela queria ser hipnotizada de novo e, sem nada perguntar, fui chamar o professor. Ele devia estar esperando o chamado, pois estava vestido e a porta do seu quarto entreaberta.

Quando chegou ao nosso quarto. Mina lhe disse:

- O senhor deve me levar em sua companhia na viagem.

O Dr. Van Helsing ficou tão espantado quanto eu e perguntou, depois de um pequeno silêncio:

- Por quê?

- Deve me levar. Estarei mais segura com o senhor e o senhor estará mais seguro comigo.

- Mas por quê, Madame Mina? Sabe que sua segurança constitui para nós um dever sagrado. Vamos enfrentar perigos que para a senhora, em vista das circunstâncias...

E o professor parou, embaraçado.

- Eu sei — disse Mina, apontando para sua testa. — É por isto que preciso ir. Posso dizer-lhe agora, enquanto o sol está nascendo; talvez não possa dizer-lhe de novo. Sei que, quando o Conde quiser, terei de ir. Sei que se ele me disser para ir escondida, irei, lançando mão de todas as astúcias, iludindo até mesmo Jonathan.

Apenas consegui apertar-lhe a mão; não pude falar e minha emoção era demasiadamente grande, mesmo para se expandir em lágrimas.

- Vocês são fortes e bravos — continuou Mina. — Além disso, posso ser útil, pois o senhor poderá me hipnotizar e ficar sabendo o que até eu mesma não sei.

- Tem razão, como sempre, Madame Mina — replicou Van Helsing, gravemente. — Deve vir conosco. Juntos, faremos o que temos que fazer.

Como Mina não dissesse mais nada, olhei para ela. Tinha tornado a se deitar e estava dormindo profundamente. Van Helsing me fez um sinal para que o acompanhasse, e saímos do quarto. Fomos para seu quarto, chegavam, pouco depois, Lord Godalming, o Dr. Seward e o Sr. Morris. O professor contou-lhes o que Mina lhe dissera e acrescentou:

- De manhã, partiremos para Varna. Temos de contar, agora, com um novo fator: Madame Mina. Não podemos perder nenhuma oportunidade e, em Varna, devemos estar prontos para agir, quando o navio chegar.

- Que devemos fazer? — perguntou o Sr. Morris, laconicamente.

- Em primeiro lugar, devemos entrar a bordo daquele navio — respondeu o professor, depois de refletir um pouco. — Depois, quando tivermos identificado a caixa, colocaremos em cima dela um ramo de rosa-silvestre. Desse modo, ninguém poderá sair de dentro da caixa.

- Você é um rapaz valente e abnegado, meu filho! — exclamou Van Helsing. — Deus o abençoe por isso. Mas, na verdade, não poderemos afirmar o que vamos fazer. Muitas coisas podem ainda acontecer e, até o momento exato, nada podemos dizer. Devemos estar armados e dispostos e, quando chegar o momento decisivo, nossa coragem não pode faltar. E, agora, tratemos de tomar as providências necessárias, inclusive as passagens.

Não havia necessidade de se dizer mais nada, e separamo-nos.

 

Mais tarde — Todas as providências foram tomadas; fiz meu testamento. Mina, se continuar viva, será minha única herdeira. Em caso contrário, serão os outros, que têm sido tão bons para nós.

Tenho de escrever tudo no diário, pois minha querida Mina não pode sabê-las agora; mas futuramente saberá.

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