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Drácula

Capítulos 27

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Drácula Capítulo V

CARTA DE MISS MINA MURRAY A MISS LUCY WESTENRA

9 de maio

Querida Lucy:

 

Peço-lhe perdão por ter custado tanto a lhe escrever, mas é que estou assoberbada de trabalho. A vida de uma professora assistente é muito trabalhosa. Estou ansiosa para encontrar-me contigo à beira-mar, onde poderemos conversar à vontade e fazermos nossos castelos no ar. Tenho treinado muito taquigrafia, pois, assim, poderei ajudar a Jonathan, quando nos casarmos. Ele, às vezes, escreve-me cartas estenografadas, para eu treinar, e sei que também taquigrafa. suas notas de viagem. Quando estiver com você, vou escrever um diário, também taquigrafado, que será ótimo para exercitar-me.

Jonathan só me escreveu alguma linhas da Transilvânia. Está passando bem e regressará dentro de uma semana, mais ou menos.

Estou aflita para ouvir todas as novidades que ele tem para contar. Deve ser tão bom conhecer países estrangeiros!... Mas o relógio está batendo dez horas. Adeus.

Afetuosamente.

MINA

P.S. — Dê-me notícias completas, quando escrever. Há muito tempo que nada me conta. Ouvi certos boatos, em particular sobre um rapaz alto, moreno, de cabelos encaracolados...

 

CARTA DE LUCY WESTENRA A MINA MURRAY

 

7 Chatman Street Quarta-feira

Minha querida Mina:

 

Não tem razão de censurar-me. Já lhe escrevi duas vezes e, além de tudo, nada tenho para lhe contar. A vida na cidade está correndo de maneira muito agradável e temos ido bastante às galerias de pintura e passeado a pé e de carro no parque. Quanto ao rapaz alto, de cabelos encaracolados, trata-se de Mr. Holmwood. Ele nos visita com freqüência e se dá muito bem com mamãe. Conhecemos um rapaz que seria excelente partido para você, se já não fosse noiva do Jonathan. É um ótimo partido, bonito e de boa família e, além disso médico de muito futuro. Imagine! Tem 29 anos, dirige um imenso hospício! Mr. Holmwood apresentou-o a mim e ele veio nos fazer uma visita, e tem vindo muitas vezes depois. Creio que é o homem mais resoluto que já vi e, no entanto, é muito calmo. Parece imperturbável. Imagino que maravilhoso poder deve ter sobre seus doentes. Tem o hábito curioso de encarar a gente bem no rosto como se estivesse querendo ler os pensamentos. Diz ele que eu lhe ofereço um curioso estudo psicológico. Como você sabe, não me interesso muito por vestidos, para poder lhe descrever as novas modas. A moda é tão cacete... Lá vem gíria outra vez, mas não faz mal. Arthur diz isto todo o dia. AI está, tenho que dizer... Não

adivinha, Mina? Eu o amo. Sinto-me envergonhada de escrever isto, pois, embora ache que me ame, ele não declarou por palavras. Mas eu o amo, Mina. Queria estar junto de você, querida, para dizer-lhe o que sinto. Não sei como estou escrevendo isto, mesmo para você. Preciso parar. Adeus, Mina. Reze por mim, reze pela minha felicidade.

LUCY

P.S. — Não é preciso dizer que isto é segredo L.

 

CARTA DE LUCY WESTENRA A MINA MURRAY

 

24 de maio

Minha querida Mina:

 

Muitas vezes obrigada pela sua amável carta. Foi tão agradável recebê-la!

Minha querida, imagine que eu, que vou fazer vinte anos em setembro, e nunca fora pedida em casamento, fui agora pedida três vezes! Imagine! Três vezes, no mesmo dia.

Sinto-me tão feliz, Mina, que nem sei o que fazer! Três pedidos. Mas, por favor, não conte às outras moças, senão vão fazer as idéias mais extravagantes. Há moças tão fúteis! Eu e você, Mina, estamos noivas e podemos desprezar a vaidade.

Mas deixe-me falar sobre os três pedidos. O primeiro pretendente, que veio antes do almoço, é o Dr. John Seward, diretor do hospício, sobre o qual já lhe falei. Parecia muito calmo, mas, na verdade, estava nervoso. Tinha, sem dúvida, pensado, antes, em inúmeros detalhes, mas quase sentou em cima de sua cartola, o que os homens em geral não fazem, quando estão calmos, e ficou o tempo todo brincando com uma lanceta, quase me fazendo dar um grito. Falou-me diretamente. Disse-me quão cara eu lhe era, embora me conhecesse tão pouco. Estava dizendo como seria infeliz se eu não me interessasse por ele, mas, vendo- me chorar, exclamou que era um bruto e não iria aumentar minha perturbação. Depois, perguntou-me se poderia amá-lo algum dia. Sacudi a cabeça e suas mãos ficaram trêmulas e, depois de hesitar um pouco, perguntou-me se eu gostava de outro. Achei que devia lhe dizer sim. Apenas lhe disse isso e ele me disse que desejava que eu fosse feliz e que, se precisasse de um amigo, devia contar com ele. Não posso deixar de chorar, Mina; peço desculpas por esta carta toda manchada. Paro aqui, pois me sinto tão triste, no meio de minha félicidade!...

 

À noite

Arthur acaba de sair e encontro-me num estado de espírito melhor do que quando interrompi a carta, por isso vou continuar a contar o que se passou durante o dia.

O número dois apareceu depois do almoço. É um rapaz muito simpático, americano do Texas, e parece tão jovem que custa a acreditar que tenha estado em tanto lugares e vivido tantas aventuras. Mr. QuinCey. Morris encontrou-me sozinha. Parece que um rapaz

sempre encontra a gente sozinha, mas não é, pois Arthur procurou duas vezes a oportunidade e eu sempre o ajudando o mais que podia; não me envergonho de contar. Mas, como ia dizendo, Mr. Morris sentou-se a meu lado, segurou-me a mão e disse:

- Miss Lucy, não sou digno de desatar-lhe os sapatos, mas, para encontrar um homem que seja digno da senhora, talvez tenha de esperar muito tempo. Na falta de outro melhor, não se contentaria com um marido imperfeito?

Parecia tão bem-humorado, que me foi muito menos difícil responder-lhe negativamente do que ao pobre Dr. Seward. Assim, disse-lhe, tão despreocupadamente quanto pude, que não sentia pressa de me casar. Ele retrucou, então, que esperava que, se tivesse falado de modo que nem parecera leviano para uma ocasião tão séria, eu lhe perdoaria. E acabou, realmente, falando com seriedade. Fiquei nervosa, e ele percebeu minha agitação.

- Sim — confessei-lhe. — Realmente, amo outro, embora ele ainda não tenha me dito que me ama.

- A senhora é uma moça leal — disse ele. — Se já gosta de outro, só me resta resignar- me, mas pode crer que serei sempre seu amigo dedicado.

Tudo isso me agitou muito, querida, e não posso descrever agora minha felicidade, depois de lhe haver contado tudo isso.

Sua afetuosa amiga LUCY

P.S. — Não há necessidade de dizer o nome do número Três, que você já deve ter adivinhado. E tudo aconteceu tão rapidamente! Ele entrou e abraçou-me. Sinto-me transbordante de alegria. Tudo que me resta no futuro é mostrar que não sou ingrata para com Deus por me dar esta felicidade, este apaixonado, marido e amigo. Adeus.

 

DIÁRIO DO DR. SEWARD

(Gravado em fonógrafo)

 

25 de maio — No abatimento em que me encontro, depois da recusa que sofri, creio que o melhor remédio é o trabalho. Escolhi um doente que promete um estudo muito interessante.

Interroguei-o demoradamente, a fim de compreender as razões de sua alucinação.

R. M. Renfield, idade, 59. — Temperamento sanguíneo; grande força física; períodos de depressão, terminando com alguma idéia fixa. Possivelmente homem perigoso, provavelmente perigoso não sendo egoísta. Os homens egoístas são menos perigosos, por terem cuidado consigo.

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