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Drácula

Capítulos 27

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Drácula Capítulo XIV

DIÁRIO DE MINA HARKER

 

23 de setembro — Jonathan está melhor, depois de ter passado mal a noite. Estou satisfeita porque ele tem bastante trabalho para fazer, de modo que pode se esquecer daquelas coisas terríveis. Vai ficar fora até tarde, pois me disse que não vai poder almoçar em casa. Já arrumei a casa, de maneira que vou poder fechar-me num quarto para ler o diário que escreveu no estrangeiro...

 

24 de setembro — Não tive ânimo de escrever ontem à noite. Aquelas coisas horríveis registradas por Jonathan me abalaram tanto! Coitado! Como deve ter sofrido, quer fosse verdade, quer fosse apenas imaginação! Não haverá alguma verdade em tudo isso? Aquele homem que ele viu ontem... Parecia ter certeza absoluta... Coitado! Acho que ficou muito nervoso com o enterro. Mas o fato é que acredita em tudo. Parece haver em tudo isso certa continuidade... Aquele horrível Conde pode ter vindo para Londres... Preciso estar preparada. Vou começar a copiar o diário à máquina imediatamente. Se Jonathan vencer o nervosismo, pode querer me contar tudo, e eu poderei lhe fazer perguntas e esclarecer muita coisa, e saber como posso confortá-lo.

 

CARTA DE VAN HELSING À SRa. HARKER

 

24 de setembro

(Confidencial)

Prezada Senhora:

Peço perdoar-me a liberdade que tomo de escrever-lhe, já tendo-lhe comunicado antes a triste notícia da morte de Míss Lucy Westenra. Por bondade de Lord Gadalming, li as cartas e documentos da mesma e estou muito preocupado com certas questões de importância vital. Imploro-lhe, Madame Mina, que me ajude, a fim de serem redimidos grandes males e evitadas muitas dificuldades. Poderei vê-Ia? Pode confiar em mim. Sou amigo do Dr. John, de Lord Godalming (que era o Arthur de Miss Lucy). Por enquanto, isso deve permanecer estritamente entre nós. Irei a Exeter para vê-la, imediatamente, se me permitir. Pelas, cartas de Lucy, sei quanto a senhora é boa e quanto seu marido sofre; peço-lhe, portando, se for possível, para não contar-lhe nada, a fim de não aborrecê-lo. Peço perdoar-me, mais uma vez.

VAN HELSING

 

TELEGRAMA DA SRa. HARKER A VAN HELSING

 

25 de setembro — Venha hoje, pelo trem de dez e um quarto, se puder tomá-lo. Posso vê-lo a qualquer hora que aparecer.

WILHELMINA HARKER

 

DIÁRIO DE MINA HARKER

 

25 de setembro — Espero ansiosa a visita do Dr. Van Helsing. Talvez ele possa esclarecer um pouco as tristes experiências de Jonathan; e, como assistiu aos últimos momentos da desventurada Lucy, poderá me falar a respeito dela. É por isso que vem. É porque está preocupado com Lucy e seu sonambulismo e não por causa de Jonathan.

Jonathan saiu hoje de manhã para passar todo o dia e a noite fora e é a primeira vez que se separa de mim, depois do casamento. Espero que nada lhe aconteça que possa fazê- lo ficar nervoso. São duas horas e o Dr. Van Helsing deve chegar dentro em pouco. Não vou lhe dizer nada sobre o diário de Jonathan, a não ser que ele me pergunte. Felizmente, datilografei meu próprio diário, e poderei mostrar-lhe, no caso dele perguntar por Lucy.

 

Mais tarde — Ele já veio e já se foi embora. Que encontro estranho! Sinto-me atordoada. Pareço estar sonhando. Se eu não tivesse lido o diário de Jonathan antes, não teria aceito esta possibilidade. Coitado de Jonathan, como deve ter sofrido!

O Dr. Van Helsing apareceu às duas e meia e disse-me que tinha vindo ver Mina Murray, a amiga de Lucy Westenra. Pediu-me para contar tudo que eu sabia a respeito de Lucy e respondi-lhe que escrevia um diária e que podia mostrá-lo, se quisesse. Ele o aceitou, agradecendo muito, depois perguntou por meu marido.

- Ele ficou muito chocado com a morte do Sr. Hawkins — respondi.

- Eu sei — disse Van Helsing. — Li suas duas últimas cartas.

- Acho que isso o perturbou muito, pois quando estávamos na cidade, quinta-feira passada, teve uma espécie de choque — acrescentei.

- Um choque, tão pouco tempo depois de uma febre cerebral! Não é bom. Que espécie de choque foi.

- Ele achou que vira alguém que lhe fazia lembrar uma coisa terrível, uma coisa que provocara sua febre cerebral.

Nesse momento, senti que tudo aquilo era demais para mim. A pena que sentia de Jonathan, o horror que experimentara, o mistério do seu diário e o pavor que aquilo me provocava, tudo me dominou em tumulto. Lancei-me de joelhos e implorei ao médico que pusesse meu marido bom de novo.

Ele me acalmou, dizendo-me que eu precisava comer, pois Jonathan não gostaria de me encontrar tão pálida. Disse que ficaria em Exeter esta noite, pois queria refletir sobre o que eu lhe dissera e, depois fazer-me algumas perguntas.

Depois do almoço, quando voltamos à sala de visitas, ele me disse:

- Agora, conte-me tudo a respeito do seu marido.

- Dr. Van Helsing — disse-lhe eu, antes de começar — o que tenho de lhe contar é tão esquisito que receio que o senhor ria de mim ou de meu marido. O senhor deve se mostrar tolerante para comigo e não pensar que acreditei nestas coisas estranhas.

- Se a senhora soubesse como é estranho o que me traz aqui, então seria a sua vez de rir — replicou ele. — Aprendi a não fazer pouco de qualquer crença, por mais absurda que pareça.

- Agradeço-lhe mil vezes! — exclamei. — O senhor tirou um peso de minha consciência.

Se me permitir, vou lhe dar o diário de Jonathan para ler. É comprido, mas eu o datilografei. Depois de ler, o senhor poderá ter a bondade de dar sua opinião.

Ele prometeu, e saiu levando os papéis, ficando de almoçar conosco amanhã.

 

CARTA DE VAN HELSING A SR. HARKER

 

25 de setembro, 6 horas. Prezada Madame Mina:

 

Li o formidável diário de seu marido. Pode dormir sabendo que, por mais estranho e terrível que pareça, é verdade! Pode ser pior para outros; mas para ele e a senhora nada há a temer. Posso lhe afirmar que o que ele fez, fugindo do castelo, não seria feito por um homem suscetível de ficar definitivamente inutilizado por um choque. Seu cérebro e seu coração estão perfeitos.

Atenciosamente ABRAHAM VAN HELSING

CARTA DA SR. a HARKER A VAN HELSING

 

25 de setembro, 6:30 da tarde.

Prezado Dr. Van Helsing.

Mil vezes agradecida por sua carta, que me livrou de uma grande preocupação. Mas, se for verdade, que coisa horrível aquele monstro estar realmente em Londres! Recebi um telegrama de Jonathan, dizendo que estará aqui às 10:18 da noite de hoje. Assim, em vez de vir almoçar, não poderá o senhor vir tomar café conosco, às 8 da manhã, se não for muito cedo? Se estiver com pressa, poderá partir pelo trem de dez e meia.

Muito grata, MINA HARKER

DIÁRIO DE JONATHAN HARKER

 

26 de setembro — Pensei que nunca mais iria escrever este diário de novo, mas a vez chegou. Ontem, depois que cheguei e que ceamos, Mina me falou sobre a visita de Van Helsing e disse-me que havia lhe dado os dois diários copiados e manifestado sua apreensão a meu respeito. Mostrou-me uma carta do médico, dizendo que tudo que escrevi era verdade. Agora que sei, não tenho medo, mesmo do Conde. Ele conseguiu chegar a Londres e está mais jovem, mas não importa. Van Helsing será capaz de desmascará-lo e persegui-lo, se é como Mina diz.

Ele pareceu surpreendido quando me viu.

- Madame Mina me disse que o senhor estava muito mal! — exclamou, reparando muito em mim.

Era engraçado, ouvir aquele velho robusto e de fisionornia bondosa chamar minha mulher de “Madame Mina”.

- Estive doente, mas já estou curado — respondi-lhe. — A carta que o senhor escreveu para Mina curou-me.

- Poderei pedir-lhe alguma ajuda — disse ele. — Pode me contar o que houve com o senhor ir à Transilvânia? Mais tarde, poderei pedir nova ajuda e de espécie diferente. Mas, por enquanto é só isto.

- Isso tem relação com o Conde? Respondeu afirmativamente e retruquei:

- Então estou com o senhor, de corpo e alma. Como o senhor vai viajar no trem de dez e meia, não terá tempo de ler estes papéis, mas vou fazer um embrulho com eles e o senhor os lerá no trem.

DIÁRIO DO DR. SEWARD

26 de setembro — Recebi uma carta de Arthur, de domingo, que mostra que ele está reagindo otimamente. Quíncey também me escreveu e me disse que Arthur já recuperou uma parte de seu ânimo. Infelizmente, contudo, as feridas que a pobre Lucy deixou em mim não se cicatrizaram. Hoje, Van Helsing, que estava em Exeter, entrou no meu gabinete, quase correndo, às cinco e meia, e entregou-me o número da “Westminster Gazette” de ontem.

- Que me diz a isto? — perguntou.

Li uma notícia sobre o desaparecimento, durante a noite, de criancinhas, em Hampstead. Não me interessou muito, até que cheguei ao parágrafo que falava a respeito de pequenos ferimentos no pescoço. Estremeci.

- É como a pobre Lucy! — exclamei.

- E que deduz daí?

- Que há uma causa comum para os dois.

- Isto é verdade, indireta, mas não diretamente.

- Que está querendo dizer, professor? — perguntei. — Não sei o que pensar.

- Está querendo dizer, amigo John, que não desconfia do que a desventurada Lucy morreu?

- Foi em conseqüência de uma prostração nervosa, produzida por grande perda de sangue.

- E a perda de sangue por que foi causada? Você é inteligente, mas tem muitos preconceitos. Não acha que existem coisas que não podemos compreender, mas que existem? Que algumas pessoas vêem coisas que os outros não podem ver? Existem coisas velhas e novas que não podem ser contempladas pelos olhos dos homens, porque eles conhecem algumas coisas que os outros lhes disseram. Nossa ciência não pode explicá-las e, então, diz que não há nada a explicar. Creio que você não acredita na materialização, nem na transmissão de pensamento, nem no hipnotismo...

O hipnotismo foi perfeitamente provado por Charcot — observei.

- Quer dizer que acredita nele — disse Van Helsing sorrindo. — Mas, então por que não acredita na transmissão de pensamento? Vivemos rodeados de mistérios. Quero lembrar- lhe que existem coisas feitas hoje pela ciência da eletricidade que teriam sido consideradas absurdas pelos próprios homens que descobriram a eletricidade e que, por sua vez, teriam sido, outrora, queimados como feiticeiros. Ninguém descobriu ainda o mistério da vida e da morte. Você poderá dizer por que a tartaruga vive mais que gerações de homens e que o papagaio não morre, a não ser por mordida de cão ou gato ou coisa semelhante? Nós todos sabemos que tem havido sapos que viveram em rochedos durante milhares de anos. Quero que você acredite em coisas que não pode acreditar. Um americano deu a seguinte definição de fé: “a faculdade que nos permite acreditar em coisas que sabemos, não serem verdadeiras.” Quero que você compreenda o que estou querendo dizer. E, agora, diga-me

uma coisa: acha que os pequenos ferimentos no pescoço das crianças foram feitos peio mesmo que produziu os ferimentos em Miss Lucy?

- Suponho que sim.

- Então, está redondamente enganado. Antes fosse isso. Mas é muito pior.

- Em nome de Deus, professor! O que está querendo dizer?

Com um gesto de desespero, escondendo o rosto com as mãos, ele respondeu:

- Foram feitos por Miss Lucy!

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