Noites Sangrentas Capítulo 10
A Revelação das Sombras
A noite parecia se arrastar sem fim, como se o tempo tivesse parado naquele pedaço esquecido de mata. Carlos seguia à frente, movendo-se com um propósito que Jonathan não compreendia. A lanterna em sua mão iluminava pouco: a luz parecia engolida pela escuridão densa, como se o próprio ambiente se fechasse ao redor deles.
— Carlos — Jonathan quebrou o silêncio, a voz carregada de dúvida. — Você tem alguma ideia de onde está indo?
Carlos não respondeu de imediato. O olhar estava fixo, como se enxergasse algo invisível. Quando falou, a voz saiu distante, quase em transe:
— Ela está próxima. Eu posso sentir.
Jonathan parou, o estômago revirando.
— Sentir? Isso não faz sentido.
Carlos se virou, o rosto sombrio sob a lanterna.
— Você não entende. Precisamos acabar com isso.
O tom frio fez Jonathan recuar um passo.
— Carlos… você está me assustando.
Carlos balançou a cabeça, como quem tenta expulsar uma lembrança.
— Estou bem. Vamos continuar.
Mas Jonathan sabia que não estava.
A trilha os levou até uma clareira sufocante. No centro, um tronco caído, queimado em parte, coberto de marcas de garras. Símbolos gravados ao redor, com precisão brutal.
Jonathan iluminou os desenhos, a voz trêmula:
— É o mesmo padrão… mas parece mais recente.
Carlos se agachou. Os dedos roçaram as linhas. Um formigamento percorreu-lhe o braço, subindo como uma descarga invisível. O coração disparou, a garganta fechou com náusea.
Flashes: mãos deformadas em garras. Uma sombra sob a lua. Gritos cortando a noite.
Ele recuou, arfando.
— Carlos? — Jonathan se aproximou. — Você parece… em outro lugar.
Carlos se levantou bruscamente.
— Não vi nada. Pare de falar besteira.
Jonathan engoliu em seco.
— Não é besteira. Você está agindo como se soubesse mais do que fala.
Carlos desviou o olhar e seguiu pela mata.
— Temos que continuar.
O vento aumentou, trazendo um cheiro metálico. Jonathan prendeu a respiração.
— Você não sente isso?
Carlos inalou fundo. O odor de sangue fresco explodiu em seus sentidos, preenchendo-lhe a boca com o gosto de ferro. Os músculos enrijeceram, e por um instante, quis correr em direção àquele cheiro.
— É sangue… — murmurou, sem perceber.
— Como pode ter certeza? — Jonathan o encarou, assustado. — Não estamos perto o suficiente.
Carlos se recompôs rápido.
— Intuição. Vamos.
Pouco adiante, encontraram um corpo. Um homem, o rosto desfigurado, o peito aberto num rasgo grotesco. O sangue ainda escorria, formando poças escuras no solo.
Jonathan engasgou.
— Isso não foi um animal. Isso é pior.
Carlos se aproximou. O cheiro invadiu suas narinas como um convite. A respiração acelerou. As mãos tremiam sem controle. O coração batia em ritmo primal.
— Carlos? — Jonathan chamou.
Carlos piscou, despertando do transe. A voz saiu rouca:
— Precisamos encontrar essa coisa. Agora.
— Você não parece preocupado… — Jonathan encarou, perplexo. — É como se estivesse acostumado.
Carlos não respondeu. Virou-se e retomou o caminho.
— Carlos, espera. — Jonathan o deteve, firme. — Você sente o cheiro antes de mim. Fala como se previsse os movimentos dessa coisa. E agora… nem parece surpreso diante de um corpo dilacerado.
Carlos fechou os punhos, em silêncio.
— Eu não sei se posso confiar em você — Jonathan concluiu, baixo, mas com peso de sentença.
Carlos se virou lentamente. À luz da lanterna, seus olhos refletiram frios, quase vítreos.
— Você está cansado, Jonathan. — A voz saiu controlada, baixa, mas cortante. — Pare de pensar demais.
Jonathan não respondeu. Mas, no fundo, uma certeza crescia: havia algo em Carlos que não era mais humano.
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