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A Mulher da Capa Preta

Capítulos 15

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Noites Sangrentas Capítulo 12

O Limite da Escuridão

A mata estava mais fechada, como se a própria escuridão estivesse se fechando ao redor deles, apertando, criando uma sensação sufocante. O vento frio fazia as folhas sussurrarem entre si, e a névoa rastejava pelo chão, como se tentasse agarrar os pés de Carlos e Jonathan a cada passo. A sensação de estar sendo observado era constante, sufocante, e começava a deixar Jonathan à beira do pânico.

 

“Isso não está certo,” murmurou Jonathan, segurando a arma com mais força. Ele olhou para Carlos, que andava alguns passos à frente. “Carlos, a gente está andando em círculos. Eu tenho certeza.”

 

Carlos não parou. Seus passos eram firmes, quase apressados, mas algo em sua postura parecia... errado. “Não estamos em círculos. Ela está nos levando para algum lugar.”

 

Jonathan franziu o cenho, o estômago apertado. “Ela? Você está falando dela de novo. Carlos, como você pode saber disso? Você fala como se... como se entendesse essa coisa!”

 

Carlos parou abruptamente. Por um segundo, o silêncio se fez absoluto, tão denso que parecia ter peso. Ele virou-se lentamente para encarar Jonathan, e seu olhar era vazio, perdido. “Eu só... sei. Não me pergunte como.”

 

Jonathan deu um passo para trás, um arrepio percorrendo sua espinha. “Isso não é normal. Nada disso é normal. Você não está bem, Carlos. E eu quero saber o que está acontecendo com você.”

 

Carlos fechou os olhos, respirando fundo, e quando voltou a abri-los, sua expressão estava mais controlada, mas havia algo estranhamente frio nela. “Estou cansado, Jonathan. Só isso.” Sua voz soou baixa, quase como um rosnado, mas ele virou-se novamente e continuou caminhando.

 

Jonathan ficou parado por um momento, o coração acelerado, sentindo um nó no estômago. Algo estava errado, muito errado. Carlos não era mais o mesmo. Ou talvez... nunca tivesse sido.

 

A caminhada continuou em silêncio, interrompida apenas pelos sons da mata — galhos estalando, folhas se movendo, o vento carregando sussurros invisíveis. Jonathan não sabia mais se aqueles ruídos eram reais ou coisa da sua cabeça.

 

Carlos seguia em frente como se estivesse sendo guiado por algo que apenas ele podia sentir. Às vezes, Jonathan observava seus movimentos: a respiração irregular, as mãos fechadas em punhos tensos, o olhar fixo no vazio. Carlos parecia ouvir ou ver algo que Jonathan não conseguia perceber.

 

Subitamente, um uivo cortou o silêncio da noite, tão perto que fez Jonathan parar com um sobressalto. Ele apontou a lanterna para os lados, procurando qualquer sinal da criatura.

 

“Ela está aqui,” sussurrou Jonathan, a voz trêmula, o medo percorrendo suas veias.

 

Carlos parou também, mas ao contrário de Jonathan, ele não parecia assustado. Seus ombros relaxaram, e ele respirou fundo, quase como se estivesse... aliviado.

 

Jonathan viu aquilo e sentiu o estômago revirar. “Carlos, o que foi isso? Por que você está tão calmo?”

 

Carlos não respondeu. Ele apenas olhou para a escuridão entre as árvores, os olhos brilhando levemente sob o reflexo da lanterna.

 

“Carlos?” insistiu Jonathan, aproximando-se com cuidado, o pânico crescendo no fundo da garganta.

 

De repente, o som de galhos quebrando veio da direita. Algo estava se movendo — rápido, pesado. Jonathan engatilhou a arma e girou na direção do barulho. “Fique alerta!”

 

A coisa passou por eles como um vulto, rápida demais para ser vista, mas perto o suficiente para que o vento do movimento os atingisse. Jonathan quase tropeçou, girando a lanterna para tentar acompanhar.

 

“Você viu isso?!” gritou ele, ofegante, os olhos arregalados com a adrenalina.

 

Carlos não se moveu. Ele ficou parado, olhando fixamente para o lugar onde a criatura desaparecera. Seu rosto estava sereno demais, e isso fez Jonathan sentir um frio na espinha.

 

“Carlos!” gritou Jonathan, puxando-o pelo ombro. “Você está me ouvindo? O que diabos está acontecendo com você?!”

 

Carlos piscou, como se voltasse à realidade. Ele olhou para Jonathan, os olhos escuros e opacos. “Estou bem. Precisamos seguir.”

 

Jonathan soltou o ombro dele lentamente, os olhos cheios de desconfiança, seu coração batendo acelerado. “Você não está bem, Carlos. Eu não sei o que está acontecendo com você, mas se você não me contar agora, eu vou...”

 

Antes que pudesse terminar a frase, o uivo veio novamente, mais alto, mais próximo, reverberando pela mata como uma força viva. Carlos fechou os olhos, inclinando a cabeça levemente, como se estivesse ouvindo uma melodia distante.

 

Jonathan o observou, horrorizado. “Por que você está fazendo isso? Parece até que... você gosta desse som.”

 

Carlos abriu os olhos, a respiração acelerada, e olhou para Jonathan. Por um momento, ele parecia prestes a dizer algo, mas se conteve.

 

“Eu não espero que você entenda,” disse ele, finalmente, sua voz baixa e rouca.

 

Jonathan arregalou os olhos. “Entender o quê? O que você não está me dizendo, Carlos?”

 

Carlos ignorou a pergunta e virou-se, começando a andar mais rápido agora, quase correndo pela mata. Jonathan hesitou por um momento antes de segui-lo, o coração martelando no peito.

 

A floresta parecia fechar-se ao redor deles conforme corriam, os sons dos galhos quebrando e da respiração deles ecoando entre as árvores. Jonathan tentava acompanhar Carlos, mas ele estava rápido demais, movendo-se com uma agilidade quase desumana.

 

“Carlos, espera!” gritou Jonathan, mas Carlos não parou.

 

Finalmente, Carlos chegou a uma clareira. Ele parou no centro, ofegante, enquanto a luz da lua cheia banhava o espaço aberto. A mata ao redor estava silenciosa demais, como se até os animais soubessem que algo perigoso estava prestes a acontecer.

 

Jonathan entrou logo atrás, segurando a arma, e apontou a lanterna para Carlos. “O que você está fazendo?! Por que você está correndo assim?”

 

Carlos virou-se lentamente para encará-lo, o rosto iluminado pela lanterna. Seu olhar era vazio, mas ao mesmo tempo... predatório.

 

Antes que pudesse responder, o uivo veio novamente — dessa vez tão alto que parecia vir de dentro da clareira. Jonathan girou o corpo, procurando a origem do som, mas não havia nada ali.

 

Quando ele voltou o olhar para Carlos, algo estava diferente. As sombras ao redor pareciam se dobrar sobre ele, e seus olhos, por um breve segundo, refletiram um brilho animalesco.

 

Jonathan deu um passo para trás, a arma trêmula em sua mão. “Carlos... o que está acontecendo com você?”

 

Carlos não respondeu. Ele apenas olhou para a lua, imóvel, enquanto o som do uivo ainda reverberava pela floresta.

 

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