Noites Sangrentas Capítulo 12
O Limite da Escuridão
A mata se fechava ao redor deles, sufocante. A névoa rastejava pelo chão, prendendo-se nos pés a cada passo. O vento frio trazia sussurros entre as folhas, mas Jonathan já não sabia se eram da floresta ou da própria mente.
— Estamos andando em círculos — murmurou, apertando a arma. — Eu tenho certeza.
Carlos seguia à frente, passos firmes, quase apressados.
— Não estamos em círculos. Ela está nos guiando.
Jonathan gelou. — Você disse ela de novo. Como pode falar disso como se entendesse?
Carlos parou. O silêncio se tornou espesso. Virou-se devagar, o olhar vazio, distante.
— Eu só sei. Não me pergunte como.
Um arrepio percorreu Jonathan. — Você não está bem. Eu quero saber o que está acontecendo com você.
Carlos fechou os olhos, respirou fundo. Quando os abriu, havia algo frio em sua expressão.
— Estou cansado, só isso. — A voz saiu baixa, quase um rosnado.
Jonathan recuou um passo, o coração disparado. Ele não é mais o mesmo. Ou talvez nunca tenha sido.
Avançaram em silêncio. Carlos parecia guiado por algo invisível. Jonathan observava: a respiração irregular, os punhos cerrados, o olhar fixo no nada. É como se ele ouvisse sinais que eu não posso ouvir.
Um UIVO explodiu de repente, tão próximo que fez Jonathan erguer a arma de sobressalto.
— Está aqui… — a voz falhou.
Carlos, porém, relaxou os ombros. Inspirou fundo. Quase aliviado.
Jonathan estremeceu. — Por que você parece calmo? Por que… parece gostar disso?
Carlos não respondeu. A lanterna refletiu em seus olhos — um brilho que não era só humano.
Um estalo de galhos à direita. Algo passou como um vulto, rápido, pesado. O vento do movimento roçou-lhes a pele. Jonathan girou a luz em vão.
— Você viu isso?!
Carlos permaneceu parado, fixo no ponto onde a criatura sumira. Sereno demais.
Jonathan agarrou o ombro dele. — O que diabos está acontecendo com você?!
Carlos piscou, voltando como de um transe.
— Estou bem. Precisamos seguir.
Jonathan soltou devagar. Mas o olhar de desconfiança queimava em seus olhos.
Outro UIVO. Mais alto. Mais próximo. Carlos inclinou a cabeça, como se ouvisse uma melodia distante.
Jonathan sentiu o estômago revirar. — Parece que você gosta desse som…
Carlos abriu a boca para responder, mas se conteve. Apenas avançou. Rápido. Quase correndo.
Jonathan tentou acompanhar, mas Carlos se movia com agilidade inquietante. Quase desumana.
— Carlos, espera!
Ele não parou até alcançar a clareira. Parou no centro, ofegante. A lua cheia iluminava o espaço. A floresta mergulhou em silêncio.
Jonathan entrou logo atrás, apontando a lanterna. — Por que você está correndo assim? O que está acontecendo?
Carlos virou-se. O olhar vazio. Predatório. As sombras pareciam se dobrar sobre ele. Por um instante, os olhos refletiram um brilho animalesco.
Jonathan ergueu a arma, mão trêmula. — Carlos… o que está acontecendo com você?
Carlos não respondeu. Apenas ergueu o rosto para a lua, imóvel, enquanto o UIVO reverberava por toda a floresta.
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