Noites Sangrentas Capítulo 8
Os Ecos da Verdade
A lua estava alta quando Carlos e Jonathan decidiram pausar. Haviam avançado por horas, mas o tempo parecia suspenso dentro da mata. O ar era úmido, denso, como se a floresta respirasse junto deles.
Jonathan sentou-se em um tronco caído, a arma no colo. As mãos tremiam levemente, e ele apertava o cabo como quem tenta provar a si mesmo que ainda estava no controle.
— Isso não faz sentido. Por que ela recuou? Podia ter acabado com a gente ali mesmo.
Carlos permaneceu em pé, encostado a uma árvore, olhos fixos na escuridão.
— Não foi medo. O círculo a afastou. É isso que precisamos entender.
Jonathan balançou a cabeça.
— Não sei o que é pior: ser um monstro… ou alguém estar controlando essa coisa.
Carlos finalmente o olhou. Os olhos pareciam distantes, carregando uma estranha convicção.
— Pode ser ambos.
Um estalo de galhos interrompeu a conversa. Jonathan ergueu a arma, dedo já no gatilho, mas Carlos levantou a mão, firme.
— Não dispare ainda.
A figura que surgiu não era a criatura. Era um homem. Sujo, roupas rasgadas, olhar esvaziado de razão.
— Ajude… ajude-me… — murmurou, antes de desabar no chão.
Jonathan correu, verificando o pulso.
— Vivo, mas exausto. Parece que fugiu de algo.
Carlos se ajoelhou.
— O que você viu? Quem te persegue?
O homem balbuciava, os lábios secos:
— Luz… olhos… sangue… eles observam…
Então ergueu os olhos, fixando-os em Carlos.
— Você…
Jonathan gelou. O dedo se moveu sozinho no gatilho. Por um instante, ele pensou em atirar.
— Está delirando — disse Carlos, desviando o olhar. — Vamos deixá-lo em segurança e seguir.
Jonathan hesitou. A arma pesava. Baixou lentamente, mas o olhar de desconfiança não saiu do parceiro.
Mais tarde, avançaram novamente. A sensação de estarem sendo seguidos era constante.
— Ela está nos testando — murmurou Carlos.
— Testando? — Jonathan o encarou.
— Não quer nos matar… ainda. Quer ver até onde conseguimos ir.
Jonathan segurou a resposta. O que o incomodava não era apenas a criatura, mas o tom de Carlos. Era como se ele falasse com conhecimento de causa.
Chegaram a uma clareira menor. Galhos quebrados, marcas de garras, pegadas fundas. Jonathan iluminou uma delas.
— São humanas?
Carlos passou os dedos pelo tronco arranhado. O padrão irregular parecia quase familiar.
— Não sei.
Mas por dentro, algo nele sabia.
Jonathan afastou-se, esfregando os cabelos.
— Isso não tem lógica. Nada disso.
Carlos respondeu com calma perturbadora:
— Talvez não seja lógica. Talvez seja outra coisa. Algo que você precisa aceitar para entender.
Jonathan o encarou por alguns segundos. E se ele não estiver só caçando o monstro?
Um suspiro profundo ecoou da mata, como uma respiração invisível. Jonathan ergueu a lanterna, mas nada se revelou.
— Você ouviu?
— Sim. Estamos próximos.
— Próximos do quê? — Jonathan insistiu.
Carlos não respondeu. Seguiu em frente, como se soubesse exatamente para onde estava indo. Jonathan o acompanhou, mas agora carregava um medo novo: talvez não da criatura, mas de quem caminhava à sua frente.
-
Na Literaz, a leitura gratuita é possível graças à exibição de anúncios.
-
Ao continuar lendo, você apoia os autores e a literatura independente.
-
Obrigado por fazer parte dessa jornada!