
Noites Sangrentas Registro Extra I
A Dama do Cemitério
Arthur chegou à velha casa com passos trêmulos, apertando o pedaço de papel nas mãos. O endereço fora dado por Carol, a jovem com quem havia dançado na noite anterior. Os olhos dela ainda queimavam em sua memória, vivos, intensos… impossíveis de esquecer.
A porta se abriu lentamente. Uma senhora de rosto abatido o encarava, surpresa com a visita inesperada.
— Estou procurando Carol — disse Arthur, hesitante. — Ela me pediu para encontrá-la aqui.
O semblante da mulher mudou de imediato. O choque atravessou seu olhar, que logo se encheu de dor.
— Carol? — sua voz saiu como um sussurro quebrado. — Você deve estar enganado. Minha filha morreu há mais de trinta anos… tuberculose.
Arthur sentiu o chão sumir debaixo dos pés.
— Isso não é possível. Eu dancei com ela. Levei-a até o cemitério. Ela estava viva.
A senhora balançou a cabeça, amarga.
— Muitos dizem o mesmo. Que ainda a veem… Mas não é ela.
Arthur recuou um passo, a respiração presa. Antes que pudesse reagir, a mulher abriu mais a porta, revelando um corredor escuro e úmido, cheirando a mofo e abandono.
— Venha — disse, quase implorando. — Precisa ver com seus próprios olhos.
Os quadros nas paredes mostravam uma família engolida pelo tempo, rostos desbotados que pareciam observá-lo em silêncio. Arthur atravessou o corredor, o coração batendo descompassado.
No fim, sobre uma cômoda coberta de poeira, estava um retrato. Nele, a mesma jovem com quem dançara na noite anterior — o mesmo sorriso, o mesmo vestido. Só que a fotografia estava amarelada, gasta nas bordas, quase apagada pelo tempo, como se tivesse sido feita em outra vida.
Arthur deixou escapar um sussurro rouco:
— Então… com quem eu estive?
Um vento frio percorreu o corredor, fazendo a chama da lamparina tremer. A senhora fechou os olhos, como quem revive uma dor antiga.
— A maldição não descansa, rapaz. Quem vê Carol… já está marcado.
O som de passos leves ecoou atrás deles, vindo do vazio da casa. Arthur virou-se de súbito, mas o corredor estava deserto. Apenas o vento… e um leve rastro de perfume, doce e impossível de estar ali.
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Obrigado por fazer parte dessa jornada!
Jandiara Fernanda Silva de Paiva
O capítulo está bem interessante. Curiosa sobre carlos e Carol.
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