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A Mulher da Capa Preta

Capítulos 15

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Noites Sangrentas Capítulo 2

Ecos na Mata

O som do motor ressoava na estrada enquanto Carlos dirigia. A cidade se distanciava rapidamente, e o cenário começava a mudar. Os postes de luz foram substituídos pelas sombras densas da mata, e o ar parecia mais frio, mesmo com as janelas fechadas.

 

Jonathan estava no banco do passageiro, a prancheta equilibrada nos joelhos. Ele lia as anotações feitas na cena do crime, mas, de vez em quando, olhava para Carlos, como se tentasse decifrá-lo.

 

“Você acha que estamos lidando com um animal?” Jonathan finalmente perguntou.

 

Carlos manteve os olhos na estrada. “Talvez. Mas não um animal comum.”

 

Jonathan franziu a testa, recostando-se no banco. “Você tem alguma teoria?”

 

Carlos apertou levemente o volante. “Ainda não.”

 

A fazenda era grande, mas parecia abandonada. As cercas estavam caídas em alguns pontos, e o mato crescia desordenado, quase ocultando a entrada principal. Carlos estacionou o carro perto da varanda da casa principal, onde um dos vizinhos que relatara o ataque aguardava.

 

Era um homem magro, de cabelos grisalhos e rosto marcado pelo tempo. Ele segurava um chapéu nas mãos, apertando-o como se tentasse conter o nervosismo.

 

“Vocês chegaram rápido”, disse ele, a voz baixa.

 

“Fale conosco sobre o que viu”, Carlos disse, direto.

 

O homem olhou para os dois, hesitando. “Não sei o que era. Parecia grande. Mas era rápido. E os olhos... eram como tochas no escuro.”

 

— Eu... — Arthur começou, hesitante. — Eu vim procurar uma pessoa. Eu... eu estava com ela ontem à noite. Carol?

 

O rosto da mulher mudou instantaneamente. A hostilidade desapareceu, substituída por um olhar que misturava choque e dor.

 

— Carol? — Ela sussurrou, como se fosse um nome que não ouvira em muito tempo. — Mas... isso é impossível.

 

Arthur sentiu um calafrio correr por sua espinha.

 

— Ela me deu este endereço — insistiu, mostrando o pedaço de papel. — Pediu que eu a encontrasse aqui.

 

A mulher balançou a cabeça lentamente, um tremor perceptível em suas mãos.

 

— Carol morreu há mais de trinta anos, rapaz. — A voz dela era pesada de tristeza. — Ela era minha filha... morreu jovem, aos vinte e dois, de tuberculose. Você... deve estar enganado.

 

Arthur ficou mudo por um instante. Tudo parecia rodar. Ele queria dizer que a mulher estava errada, mas a realidade começou a se fragmentar em sua mente. Carol... morta?

 

— Isso é uma piada? — perguntou, sem saber se falava para ela ou para si mesmo. — Eu dancei com ela. Levei-a para o cemitério... ela estava... estava...

 

— Ela estava viva? — a senhora completou, a voz carregada de ironia amarga. — É o que todos dizem. Mas não... não era ela.

 

Antes que ele pudesse responder, a senhora abriu a porta um pouco mais, revelando um corredor escuro e empoeirado atrás de si. Os olhos dela estavam fixos nos dele, intensos e aflitos.

 

— Venha, você precisa ver uma coisa.

 

Arthur hesitou, mas algo no tom da mulher o fez avançar, passando pela soleira da porta e seguindo-a pelo corredor. O lugar cheirava a umidade e mofo, como se tivesse sido lacrado e esquecido por décadas. Paredes desbotadas e quadros antigos mostravam uma família que parecia ter desaparecido, engolida pelo tempo.

 

Jonathan trocou um olhar rápido com Carlos antes de perguntar: “Você tem certeza de que não era um animal selvagem? Uma onça, talvez?”

 

“Não era onça”, respondeu o homem, firme. “Já vi onça antes. Isso era diferente.”

 

Carlos estreitou os olhos, mas não respondeu. Virou-se para a entrada da mata, onde o rastro ainda era visível. Pegadas profundas e irregulares cortavam o terreno, desaparecendo entre as árvores.

 

“Por quanto tempo viu isso?” Carlos perguntou.

 

“Alguns segundos. Ela passou correndo, mas... parecia me olhar, como se soubesse que eu estava ali.”

 

Jonathan engoliu em seco, mas Carlos apenas assentiu. “Vamos verificar o rastro.”

 

Dentro da mata, a luz do sol lutava para atravessar as copas das árvores. O chão estava coberto de folhas úmidas, e o ar tinha um cheiro metálico, quase imperceptível. Carlos caminhava na frente, seus passos firmes e silenciosos.

 

Jonathan seguia atrás, com a lanterna em mãos, mesmo que a luz natural ainda fosse suficiente. “Você sente isso?” perguntou ele, quebrando o silêncio.

 

Carlos parou por um momento, inalando profundamente. Ele não sabia explicar, mas havia algo na mata que o fazia sentir-se desconfortável.

 

“Sim”, respondeu ele, finalmente. “Algo está errado.”

 

Eles continuaram seguindo o rastro, que se tornava mais evidente a cada passo. Os galhos estavam quebrados em ângulos estranhos, como se algo muito pesado tivesse passado por ali.

 

“Essas pegadas”, disse Jonathan, apontando para o chão. “Elas parecem humanas, mas... maiores.”

 

Carlos inclinou-se para examinar mais de perto. Passou os dedos pela borda de uma das marcas, sentindo a textura da terra comprimida. Havia algo familiar naquilo, mas ele não conseguia lembrar o que.

 

“Vamos continuar”, disse ele, levantando-se.

 

Mais adiante, chegaram a uma pequena clareira. No centro, havia algo que fez Jonathan prender a respiração.

 

“Isso é... um ninho?” perguntou ele, sua voz tremendo.

 

No chão, havia um amontoado de galhos, folhas e ossos. Alguns eram claramente de animais, mas outros...

 

Carlos abaixou-se, pegando um dos ossos menores. Ele estava limpo, como se algo tivesse raspado toda a carne. Olhou ao redor, examinando o local com mais atenção.

 

“Não é um ninho”, disse ele, finalmente. “É um lugar de alimentação.”

 

Jonathan deu um passo para trás, apertando a lanterna com mais força. “Você está dizendo que... aquilo trouxe suas presas aqui?”

 

Carlos assentiu, mas antes que pudesse responder, algo chamou sua atenção. Perto do centro do amontoado, havia um objeto pequeno e metálico. Ele o pegou e limpou com um pano.

 

Era uma cápsula, semelhante à que encontrariam mais tarde na cabana.

 

“O que é isso?” perguntou Jonathan, aproximando-se.

 

“Não sei”, respondeu Carlos, girando o objeto entre os dedos. Uma pontada de dor na cabeça o atingiu, como um flash de algo indefinido. Por um momento, ele ouviu vozes indistintas, mas desapareceram tão rápido quanto surgiram.

 

“Carlos?” Jonathan chamou, trazendo-o de volta.

 

“Estou bem”, disse ele, guardando a cápsula no bolso. “Vamos sair daqui.”

 

De volta ao carro, Jonathan observava Carlos em silêncio. Ele parecia mais cansado, como se o tempo na mata tivesse drenado suas forças. Jonathan pensou em comentar, mas decidiu guardar seus pensamentos.

 

“Você está bem?” perguntou ele, finalmente.

 

Carlos não respondeu imediatamente. Ele olhou pelo retrovisor, fixando-se na mata que desaparecia ao longe.

 

“Sim”, respondeu ele, curto. Mas havia algo em seu tom que não convenceria Jonathan.

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